The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 14
Capítulo 14 - Protegida




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Dito e feito: fui chamada à diretoria em questão de dois dias. Na verdade, eu estava preparada para ter sido chamada bem antes. Não que faça diferença.
Corline tentava manter sua expressão zangada, enquanto eu a encarava com um olhar divertido no rosto. Seus relógios do arco da velha (relíquias, ela dizia) tiquetaqueavam na parede e um cuco assustou à nós duas quando entrou e saiu pela portinhola, avisando-nos de que eram meio dia.
– Do que fui acusada dessa vez? - perguntei virando a cabeça de lado.
– Alegam ter visto você tendo relações indecorosas dentro de sala de aula - ela respondeu me olhando de rabo de olho.
– Michele alega - corrigi frisando o nome.
– Está confirmando o fato? - ela franziu o cenho.
Dei de ombros.
– Defina relação indecorosa - pedi apoiando a boxexa na mesa fria de madeira antiga.
– Algo que não é decoroso - ela respondeu escrevendo algo numa folha e grapeando.
Pensei que fosse mais uma advertência e que ela entregaria a mim, mas ela simplesmente guardou na gaveta e arregaçou as mangas da blusa, como se estivesse diante de um problema e não fosse sossegar até resolver.
– O que é decoroso? - perguntei sabendo que ela estava buscando paciência de seu âmago.
Ela suspirou.
– Indecoroso é algo que agride a moral, que é indecente. - respondeu ela enfim, me fazendo sorrir.
Mas eu já sabia o que significava.
– Não fiz nada de indecoroso - respondi.
– E porque houve queixa? - ela perguntou desconfiada.
– Você é minha tia, deveria saber que não faria algo indecoroso - eu continuei repetindo a palavra e soando ofendida.
Ela foi pega de surpresa. Abriu a boca e fechou de novo e achei engraçada a sua expressão, embora o sentimento de culpa cutucasse o meu cérebro.
– Não fiz nada, Coraline - respondi séria por fim - Seth resolveu prestar mais atenção em mim do que deveria e foi só isso.
Cruzei os braços a desafiando a duvidar de mim. Ela me analisou cuidadosamente procurando quaisquer pistas de mentira e eu revirei os olhos. Me arrependi de ter enrolado para ficar ali e perder a aula de Cálculo.
– Certo - ela disse então, ainda desconfiada.
– Posso ir agora? - perguntei soando irritada.
Ela assentiu e carimbou um papel, entregando-o a mim. Guardei-o na mochila que havia levado comigo e me levantei, mas me lembrava de uma coisa.
Voltei a me sentar segurando a respiração, hesitante. Coraline me olhou intrigada. Eu havia decidido falar com ela sobre um assunto específico.
– Minha mãe apareceu na escola alguns dias atrás - comecei.
Ela me olhou surpresa e interessada. Até irritada com o próprio interesse.
– Ela estava estranha - eu completei nervosa.
– Quão estranha? - ela arqueou uma sobrancelha e quase sorri. Havia puxado aquilo dela.
– Tipo congelante - respondi.
Ela pareceu entender o sentido por tras daquela frase e no momento em que ela expirou, percebi que não era a única a segurar a respiração.
– Adalind - ela rosnou decepcionada.
Coraline passou as mãos no rosto, frustrada. Era a minha deixa. Sempre que a via frustrada, coisas ruins ao redor aconteciam e eu não gostaria de estar por perto no momento.
– Então, já estou indo - anunciei ansiosa.
Mas ela segurou meu pulso. Reparei em como as mãos dela eram macias e quentes, ao contrário das mãos frias de ferro da minha mãe. A encarei confusa e ela estava com expressão preocupada no rosto. Coraline nunca ficava realmente preocupada com nada. Não se importava com minhas encrencas na escola, apenas fazia seu papel de diretora. Mas agora era diferente. Ela estava não só realmente preocupada, como misteriosa e assustadora.
– Tome cuidado, Selene - ela disse me olhando nos olhos - cuidado para não descobrir coisas demais. Eu estou aqui pra proteger você, mas não posso fazer muito.
Me livrei de suas mãos e assenti, engolindo em seco. O que ela quis dizer com "proteger você"?
– Mas infelizmente, descobrir as coisas parece ser meu ponto forte - eu lhe dei um sorriso amarelo, e ela retribuiu com um tristonho.
Saí daquela sala abafada e cheia de relógios que me encaravam enquanto eu fechava a porta. Aquela devia ser a primeira vez que eu sentia medo. Parecia ser a primeira vez que eu me dava conta da situação em que estava me colocando. Mas também pela primeira vez, não desejei que tudo voltasse ao... normal.
– Parece que viu um fantasma - zombou Seth.
Ele desencostou da parede e veio em minha direção sem seu habitual sorriso presunçoso ou malicioso. Fiquei tentada a ignorá-lo e seguir em frente, mas resisti e esperei para ouvir o que quer que ele tivesse a dizer. Agarrei a alça da mochila com impaciência. Mas ele não dizia nada, só continuava lá parado.
Bufei e comecei a caminha pelo corredor. Se ele não tinha nada a dizer, não devia estar tomando meu tempo assim.
Quando cheguei ao estacionamento, ele me deteve e me arrastou em direção à um Camaro preto que nunca vi antes.
– Qual é o seu problema? - perguntei tentando me soltar sem sucesso.
– Estou tentando te dar carona - ele explicou pacientemente.
– Eu não quero carona - pisquei confusa quase conseguindo me soltar.
Ele suspirou pesadamente.
– Selene, apenas obedeça - ele disse de olhos fechados.
– Desculpe se minha personalidade não permite isso - exasperei.
Ele deu uma risada sarcástica.
– Definitivamente não permite - disse Seth - mas mesmo assim, entre. Não vou te queimar, raptar, matar, morder ou me transformar na sua frente, nem nada do tipo.
O encarei aturdida. Aquelas coisas não tinham passado nem mesmo na minha imaginação fértil, como ele havia pensado em tudo aquilo em tão pouco tempo?
Seth achou graça da minha expressão.
– Posso ir à pé pra casa - eu afirmei - pego um atalho pela floresta.
Consegui me soltar.
– A floresta? - ele perguntou surpreso e irritado.
– Sim, algo a ver com um amontoado de árvores, mato, terra e animais morando em conjunto nesse ambiente - eu respondi revirando os olhos.
– Eu sei o que é uma floresta, mas por que você anda por lá? - ele perguntou exasperado - AQUELA floresta não é lugar pra você estar sozinha. Daniel sabe disso?
O encarei irritada. Não, eu estava mais do que irritada. Dragões eram a fonte disso.
– Sim, Daniel parece saber cada movimento meu em minha vida! - exasperei e fui pra casa batendo os pés, deixando pra tras um Seth furioso por ser ignorado em seu ato generoso de dar carona.
Eu não precisava de generosidade. Nem de gente me protegendo. Precisava de comida e meu estômago concordou com um ronco entusiasmado.


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Notas finais do capítulo

Todos de olho no que a Selene faz...



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