Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy


Capítulo 11
Culpa


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Eu me senti meio estranho escrevendo isso porque Paulo esta muito confuso. É como escrever sobre alguem que esta paranoico, ele simplesmente tem que se mostrar irritado e fechado, esse é o escudo dele.



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Acordei pensando em Frederico, claro que em parte porque foi uma ligação dele que me acordou. Eu não o atendi pra variar, mas já acordei com um frio na barriga. Coloquei as duas mãos no rosto e gritei, com o quarto ainda escuro pelas persianas fechadas.

Eu estava tão confuso, queria o Marcelo aqui. Ele sempre sabia o que eu estava sentindo, antes mesmo de eu saber que estava sentindo. E estava difícil continuar mentindo pra mim mesmo dizendo que eu não me sentia culpado pela morte dele. Eu me sentia.

Foi tanta coisa uma atrás da outra. Eu fui só sendo levado pelo mar de fatos e nem se quer curti o luto. Queria ter ficado em casa com janelas fechadas por um mês. Ter chorado vendo “Gost do outro lado da vida”. Queria ter comido um pote de sorvete inteiro enquanto chorava vendo Titanic, mas eu não fiz isso, nem se quer isso.

Então peguei o celular e me surpreendi quando percebi que estava mesmo ligando para Marcio. Ele atendeu depois de quatro toques, gritou com alguém do outro lado da linha e depois finalmente disse – fala Coélio, a que devo a ilustre ligação? – E voltou a gritar comandos para a pessoa.

Por um segundo ou dois me arrependi de ter ligado pra ele, mas ou era ele, ou Douglas que eu ainda estava me acostumando a não odiar. Veronica que é a senhorita sarcasmo e por fim havia o Geraldinho. Que eu não conhecia e não queria envolver em meus casos amorosos – cara quer tomar uma cerveja? – Perguntei depois de refletir um pouco sobre isso.

– Então, eu gostaria muito, mas como pode ver são dez da manha e eu nem almocei ainda – ele comentou rindo, então tentei rir para acompanha-lo, mesmo sem ter achado um pingo de graça – sério, estou no trabalho, se quiser me ligar à noite topo.

Suspirei longamente, é claro que eu sou o único atoa da face da terra que acorda a esse horário. Ainda tinha mais dois meses de seguro, no fim desse mês finalmente eu deveria voltar para o trabalho – te ligo mais tarde – disse desligando.

Não liguei, só pra constar.

Mas o infeliz me ligou.

Bom, eu estava me sentindo tão cansado. Deveria ser cansaço mental, era a única explicação. Arrependido do que fiz com Frederico e arrependido por ter saído da casa dele assim. Ansioso pra entender o que eu realmente sentia em relação a ele, melancólico com a vinda do bebê e com medo de ser pai.

Eu sentia tanta falta de Marcelo, então resolvi fazer isso. Sai do jeito que estava, apenas coloquei um short social preto e coloquei uma camisa bem alegre, tipo amarelo gritante e sai de casa, com o rosto meio inchado ainda pelo sono.

Dirigi durante algum tempo, parei em um posto de gasolina e comprei uma garrava de tequila barata. Sei que não demorei muito a chegar ao cemitério depois disso.

Entrei pelo portão de metal e segui de carro passando pelo monte de plaquinhas com nomes e datas. Dezenas de pessoas que tiveram uma historia, que amaram, que sofreram, que tiveram orgasmos. Todas elas ali debaixo de sete palmos de terra, sendo esquecidas. Eu não queria isso, definitivamente.

Quando vi a arvore cuja qual escolhi para marcar onde Marcelo estava parei o carro, mesmo não estando próximo. Peguei a sacolinha branca onde a garrafa estava e caminhei entre as plaquinhas até finalmente encontrar a do meu melhor amigo.

A grama colocada ali estava verde como as outras. Desta vez já completamente unida, como se finalmente Marcelo já fizesse parte do lugar. Me sentei no chão em frente a plaquinha, em cima de onde esteve o peito dele um dia e o cumprimentei.

Uma brisa quente correu e eu imaginei que seria o sopro da porta do inferno se abrindo e Marcelo vindo me ver por ela. Não é uma coisa horrível de se dizer, eu não quero ir para céu. Penso que por toda tortura que tenha lá embaixo, ainda sim será mais interessante que a chatice do céu.

– Eu queria ter vindo antes – comentei como se ele estivesse me olhando com um ar repreendedor – mas não pensei muito em vocês esses dias. – Puxei a garrafa da sacola e destampei-a com o dente – só agora me lembrei que da ultima vez trouxe tequila também, mas imagino que onde você esteja variedade não importa.

Derramei um bom bocado sobre a grama e depois dei uma longa golada na bebida, que queimou enquanto descia. Fechei a garrafa e deixei meu corpo cair de costas na grama – eu vi meu filho sabia? Ainda não da pra saber se é menino ou menina.

Uma nuvem escura tampou o sol fazendo uma enorme sobra que cobriu quase todo o cemitério. Achei que me sentiria melhor vindo aqui e falando com Marcelo, mas a verdade é que eu não sentia mais ele ali. Eu esperava... não sei o que esperava. Estava me sentindo um idiota.

Peguei meu celular e retornei para o ultimo numero que havia me ligado. Frederico atendeu no sexto toque com uma voz fria – oi – disse simplesmente.

– Oi – respondi sem saber o que dizer ao certo – como você esta?

Escutei enquanto a respiração parecia ficar ofegante e esperei até que ele gritasse nervoso – você dorme comigo e depois some completamente por um dia e tem a cara de me perguntar como eu estou, como se estivesse tudo normal?

Rolei até ficar deitado de lado na grama e respondi o mais calmamente que consegui – eu sou um ex viciado em sexo em tratamento, meu melhor amigo esta morto e eu estou deitado sobre o tumulo dele agora. Uma mulher que dormi uma única vez esta gravida de mim e seus amigos me viram nu saindo do seu quarto pela manha. Não, também não estou bem, obrigado por perguntar – terminei de dizer sem folego.

Ele tentou dizer alguma coisa, que imagino ser xingamentos, mas depois de hesitar finalmente ele disse – eu não sabia, só dos meus amigos quero dizer.

– Eu sei, não te disse nada ainda.

– Fugir de mim não vai resolver os seus problemas – ele afirmou com convicção na voz.

– Não, mas vai me livrar de um deles – respondi e só depois de dizer percebi o quão grosseiro soou – eu prometi a esse amigo que terminaria meu tratamento antes de me envolver com mais alguém.

Frederico ficou mudo durante algum tempo, talvez avaliando o que deveria dizer – eu gostei de te conhecer, eu não quero que terminemos assim – ele exclamou.

Eu estava de novo com vontade de gritar, odiava esse tipo de situação. Eu simplesmente não sabia me portar. Havia dito meia centena de vezes pras pessoas que “não da mais”, mas eu não queria magoar o vendedor de livros. O DASA me ensinou a evitar ao máximo o rancor dos outros.

– Desculpa – disse quanto achei que ele estivesse tempo de mais calado do outro lado da linha.

Ele murmurou algo baixinho e depois disse – bom, espero que você fique bem.

Me senti um pouco mais aliviado – vou ficar.

– Eu sinto muito pelo seu amigo e droga, – ele explodiu – eu estava começando a me apaixonar por você.

Tentei não suspirar para não demonstrar minha reação – eu não queria fazer isso por telefone, mas eu só me sentiria pior te dizendo isso frente e afrente – e ele desligou. Dei um soco no chão e logo em seguida me desculpei com Marcelo.

Pela primeira vez eu senti o que todos disseram que eu sentiria. Culpa. Talvez meu tratamento estivesse mesmo funcionando. Eu estava morrendo de ansiedade, queria chorar. Eu estava me sentindo um idiota.

Um idiota por ter matado meu melhor amigo e por ter terminado o que nem tinha com o melhor cara que conheci até hoje. Que tipo de pessoa eu era?

Peguei a garrafa de tequila e entornei o resto sobre a plaquinha com o nome de Marcelo e voltei para o carro. Peguei meu telefone e liguei pra Douglas – você ainda faz reuniões durante a semana – perguntei assim que ele atendeu o telefone.

Douglas demorou um pouco pra responder e por fim depois de digerir minha perguntou respondeu – sim, mas só três ou quatro membros diferentes costumam comparecer.

– Que horas? – O interrompi.

Ele suspirou se sentindo meio frustrado e respondeu – temos uma as dezesseis e outra as vinte e trinta. – Desliguei, mas juro por Deus que pude ouvi-lo me xingando quando notou do outro lado da linha, fosse lá onde fosse.

Eu detestava admitir, mas só o DASA colocaria minha cabeça no lugar agora.


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Notas finais do capítulo

Bom pessoal só preciso avisar que voltei e acertei os erros dos capitulos passados e que de agora em diante as falas não ficaram mais em negrito. Ja alterei o texto por completo. Algum comentario, dica? Sou legal, converse comigoooo!



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