Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy


Capítulo 10
Ser pai


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenham gostado da fic até aqui. E dessa vez nem demorei muito a postar, vamos la, sem reclamações. Bricando, espero que gostem.



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Segundo arco

Posso dizer que em um primeiro momento as gargalhadas dela estavam me irritando, mas posso afirmar com toda certeza do mundo que depois de alguns minutos comecei a sentir vergonha.

Veronica era o tipo de mulher decidida e corajosa, mas não o tipo de mulher que eu quisesse ter um filho. Definitivamente agora enquanto ela ria e batia na mesa do pequeno café que entramos, tive mais certeza ainda.

– Eu gostaria muito de ver a cara de Paulo Coélio enquanto fugia as pressas de dois gays safados – ela debochou com um sorriso gigantesco no rosto. As pessoas nos olhavam de rabo de olho e comentava baixinho.

Coloquei minha mão sobre a dela e falei em um sussurro – não precisa estampar na capa da G Magazine.

Ela secou uma lagrima que não existia do canto do olho e aos poucos sua crise de riso diminuiu.

Depois de fugir da casa de Frederico eu havia ido pra casa. Tirei um cochilo de algumas horas e liguei para Veronica. Algumas coisas nós escolhemos para o futuro, mas às vezes o destino resolve pra você. Eu não queria ter um filho, não mesmo sabe, mas se não tinha outra escolha era melhor ter um bom relacionamento com a mãe da pobre criança.

– Então você entende por que eu estou irritado? – Perguntei finalmente.

Ela bebeu um pouco de agua antes de me responder, sua expressão tomou um ar estranhamente sério no processo – quer saber o que eu acho? – Fiz uma careta pra ela que dizia “isso era obvio não?” – você nunca esteve apaixonado por esse cara.

– Mas como assim caramba, se aquilo não foi estar apaixonado eu não sei mais o que pode ser – a interrompi falando quase de forma desesperada.

Ela colocou o dedo na boca e fez um careta pra mim – Paulo, você acha que se fosse amor você teria fugido da casa do cara como você sempre faz?

– Mas ele era afeminado e... – novamente ela fez a mesma cara pra mim, então uni a ponta do meu dedão e do indicador e passei no contorno dos meus lábios fechados.

Ela suspirou como se estivesse juntando paciência para falar – quando você gostar de alguém, de verdade não só uma queda, você vai sentir como se o chão de baixo dos seus pés não fosse firme. Vai se sentir angustiado quando ela for embora e você vai pensar nela cada minuto depois disso. – Ela colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiou o rosto sobre as mãos – amor de verdade Paulo, é a coisa mais valiosa que existe.

A encarei um pouco, tentando assimilar o que ela dizia. Os olhos dela brilharam a cada palavra dita e isso deveria significar alguma coisa, mas – você esta louca, isso é labirintite. Se a pessoa sentir essas coisas ela precisa se um medico.

– Viu só, caso perdido – ela comentou dando de ombros. – Bom, eu vou ligar para o advogado mais tarde e cancelar o processo judicial se você concordar em ser bonzinho.

Confirmei com a cabeça fazendo uma cara de garoto inocente, que eu não tinha – mas acho melhor fazermos uma visitinha a um advogado um pouco antes de a criança nascer pra estipularmos pensão e deixar a guarda com você.

Ela concordou depois de ficar um pouco pensativa e terminamos nosso café, calados. Depois que saímos do café fomos dar uma volta no parque. Era um lugar muito extenso, sempre cheio de muitas crianças correndo e gritando, sob a sombra das dezenas de arvores espalhadas pelos gramados.

Passamos por um carrinho de picolé e compramos dois de limão. Por fim, depois de darmos algumas voltas nos sentamos em um banco de pedra acinzentada sob uma arvore com flores rosa.

– Você deveria ter me levado pra algo assim antes – Veronica comentou com um sorriso debochado no rosto, enquanto mordia o picolé.

Dei um pequeno soco no ombro dela e fiz uma careta – ei, caso não se lembre naquela noite do bar foi você quem deu em cima de mim.

Ela deu de ombros e mordeu novamente o picolé – tenho uma confissão a fazer.

– Conte-me – respondi curioso.

– Eu namorava um italiano naquela época. Nós brigamos e pra descontar a raiva fui aquele bar e transei com o primeiro que apareceu – disse ela naturalmente. Creio que se fosse outra pessoa teria ficado chocada ou revoltada. A questão é que, bom, era eu ali.

Algumas gotas meladas de limão caíram sobre minha calça jeans então depois de amaldiçoar o picolé finalmente respondi – eu sei que é meio obvia a pergunta, mas você não tentou dizer que ele é o pai?

Ela balançou a cabeça negativamente e lambeu os lábios – ele era estéreo. Quando disse que estava gravida ele riu na minha cara e me contou.

– E o que você disse? – Perguntei mais curioso ainda.

– Ué, dei de ombros e disse, é um milagre – Ela respondeu. Aquela resposta me tirou uma risada que infelizmente não teve como esconder – não ria seu cretino – ordenou ela me dando um tapa na cocha – eu realmente gostava dele, gosto sabe. Ele disse que até poderia perdoar a traição algum dia, mas nunca aceitaria a criança de outro cara.

– Eu não o culpo – respondi meio sem graça.

– Nem eu – ela respondeu.

Ouvimos risadas infantis e logo em seguida, em nossa frente, dois gêmeos passaram correndo. Os dois estavam vestidos com roupas iguais e seus cabelos loiros e olhos azuis eram de dar inveja.

A mãe deles, uma mulher meio gordinha vinha caminhando logo atrás deles com uma enorme bolsa de bebê azul pendura sobre seu ombro direito e uma garrafa de agua na mão esquerda.

Ela chamou pelo nome dos dois quando eles começaram a se afastar muito, então descobrimos que se chamavam Miguel e Gabriel. Clichê em minha opinião, caso meus filhos fossem gêmeos iriam se vestir diferente e ter nomes com sonoridades diferentes para que desde cedo criassem sua própria personalidade.

Me dei conta de que aquela era a primeira vez na vida que parava pra pensar em como seria ter filhos. De repente não consegui esconder um leve sorriso. Essa sensação mesmo misturada a um pequeno frio na minha barriga, era nova e de certa forma, boa.

Meu celular estava no silencioso, mas acabei me deparando com varias ligações de Frederico durante o dia, pois minha mania de celular na mão não ajudava em nada o fato de eu estar querendo evita-lo.

Fomos para o medico especialista em ver bebês por volta de três e meia da tarde. Sim, eu esqueci o nome do medico. Bom, chegando lá encontramos alguns casais na nossa frente.

Algumas mulheres já muito barrigudas seguravam e alisavam suas barrigas, então fiquei curioso – você já tem barriga? – Perguntei a Veronica que estava distraída, pois havia acabado de encontrar um monte de revistas em uma cesta.

Ela me olhou horrorizada e voltou a falar quase gritando – estou quase no quarto mês, você achou que minha barriga era desse tamanho normalmente seu insensível?

Vi algumas mulheres balançando a cabeça negativamente em um ato repreensivo coletivo. Senti minhas bochechas corarem – sua blusa Veronica, ela é larga, eu não reparei nada.

Ela bufou como uma locomotiva e me senti na plataforma 9¾ indo pra Hogwarts. Droga, era melhor permanecer calado.

Demorou bastante, mas quando finalmente chegou nossa vez eu desejei que ainda houvesse mais um dez casais na nossa frente. Uma enfermeira que parecia ter por volta de vinte anos nos chamou para dentro da sala com uma voz meio esganiçada, provavelmente devia ter com dor de garganta ou algo assim.

A sala do medico era muito branca como todas as outras que já visitei. Havia meio que uma maca parecida com aquelas de dentista no meio, uma TV grudada à parede próxima a cama e alguns aparelhos espalhados pela parede. Sentei-me no único banco lá dentro enquanto a enfermeira posicionava Veronica.

O medico estava de costas mexendo em alguma coisa lá para trás, perto de uma janela coberta. Que a principio não me chamou atenção, mas como a vida gosta de me zoar.

Ele estava usando uma mascara como a enfermeira, jaleco tradicionalmente branco e óculos. Talvez seja por isso que não o reconheci, mas ele me reconheceu.

Primeiro ele cumprimentou Veronica e disse uma daquelas frases também clichês “como vai à nova mamãe?”, depois quando veio me cumprimentar vi suas sobrancelhas arquearem e sob a mascara um sorriso brotar.

– Paulo, não sabia que você seria pai? – Minha barriga congelou, senti que minhas pernas tremerem e vi a mesma expressão de surpresa brotar no rosto de Veronica. Temi por um segundo que fosse algum caso da minha época de ninfomaníaco, mas quando o cara abaixou a mascara tudo sumiu.

Sorri de volta e apertei sua mão – Geraldinho, como vai a Rosa? Esse é o nome dela? – Perguntei sem graça, mas de certa forma aliviado.

– Isso mesmo, ótima – ele respondeu ainda sorrindo, mas depois coçou a sobrancelha e sua feição mudou – depois de pedir divorcio e ter entrado com um processo pra levar nosso apartamento.

Fiquei meio sem reação, mas pera – eu vi vocês dois ontem, eu não estou entendendo.

– Aparentemente quando te acertei com a porta do carro eu a estava deixando na porta do advogado – ele respondeu com uma expressão normal, no fundo sinceramente eu acredito que ele não estivesse sofrendo ou algo assim – aquela vadia era mais esperta do que eu pensei.

­– Doutor – a enfermeira o chamou. Na verdade ela estava chamando a atenção dele para o tipo de palavreado que estava usando ou algo assim.

Geraldinho fez um gesto com a mão e depois deu de ombros – bom, a sempre males que vem pra bem. Olha só você por exemplo, pai, casado e feliz! – Ele comentou voltando para perto de Veronica.

Sem sarcasmo, eu e Veronica rimos juntos com o comentário, então ela respondeu quando viu a cara de duvida que Geraldinho havia feito – não somos casados e hoje é o segundo dia que conseguimos conversar sem brigar desde ele me engravidou, depois de me conhecer em um bar.

A enfermeira se engasgou com algo e Geraldinho ergueu a sobrancelha me encarando curioso – bom... – tenho certeza que ele gostaria de dizer algo legal, mas não saiu – vamos começar o procedimento?

Veronica tirou a camisa e ficou apenas com um Top bege sem graça, a enfermeira aplicou um gel transparente na barriga dela e depois de um minuto ou dois Geraldinho começou.

Encarei a tela que a principio só tinha formas acinzentadas, então quando Geraldinho encostou-o na barriga de Veronica formas irregulares começaram a surgir. Em meio a um circulo cinza surgiu uma pequena forma encolhida. A cabeça pequena junto a bracinhos juntos ao corpo e perninhas encolhidas.

A enfermeira segurou o aparelho na posição que estava e com uma caneta diferente ele caminhou até a tela e começou a desenhar os contornas na tela pra gente. Eu não consegui, tive de me levantar e me aproximar mais.

Já estava lá meu bebê, ele era pequenininho, mas tinha já os bracinhos, as perninhas e um cabeção – aparentemente seu bebê esta com vergonha, como ele esta com as pernas cruzadas não da pra saber o sexo.

– Não é meu – disse rindo e vi o rosto de Veronica se abrir em um largo sorriso e seus olhos ficarem molhados, ela sabia o que eu ia dizer – filho meu não sente vergonha de nudeza.

Foi uma mistura tão grande de emoções. Medo por ser pai e forte por que eu teria de ser. Me senti triste pela criança não crescer com pais casados e feliz porque eu poderia leva-lo a escolinha de futebol e quem sabe ele não fosse o jogador que nunca fui, ou leva-la a uma escolinha de bale e ela ia ser minha princesinha.

Me senti ansioso e temeroso, irritado por estar sentindo aquilo tudo e caramba, não dava pra definir.

Coloquei a mão na tela, sobre o pequeno corpinho e escutei o choro de Veronica começando a cair. E eu entendia agora por que as pessoas choravam. Mesmo que a criança não seja planejada, caramba é mais uma pessoa se criando, uma pessoinha sua, pequena e frágil. Sorridente e provavelmente chorona. Alguém pra você cuidar e que vai te amar incondicionalmente só por você ser você.

E talvez nem que seja um pouco eu tenha entendido o que Veronica quis dizer com “a coisa mais valiosa que existe”.

– E ai, como é ver o filho ou filha pela primeira vez? – Geraldinho me perguntou.

Dei alguns passos para trás e cai propositalmente sentado na cadeira que ficava encostada na parede – preciso de uma cerveja.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, nunca escrevi nada assim antes então nao sei se me sai bem.
De sua opinião, pra mim é muito importante!



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