A sala de estar da mansão Sakamaki parecia estar encoberta em seu próprio silêncio comunal, mas que se tornava irritante a cada segundo que se passava. Sentados no sofá ou até mesmo de pé, os habitantes da mansão estavam imersos em seus pensamentos, apenas desejando que aquele momento desagradável de tédio fosse disperso pela notícia que aguardavam há algumas horas.

─ Não estou aguentando esse tédio. Estamos esperando isso há horas e até agora não temos informação alguma. ─ resmungou Ayato, se esparramando no sofá e colocando seus pés sobre uma mesinha de madeira.

─ Ayato... ─ iniciou Reiji, lançando-lhe um olhar reprovador e ajeitando o aro de seus óculos. ─ Quantas vezes devo dizer? Tenha modos! Faça isso em seus aposentos. ─ repreendeu, mantendo o tom de voz ríspido.

─ Heh, Reiji. Não seja tão chato. ─ Ayato respondeu, revirando os olhos. Mesmo a contragosto, obedeceu a seu irmão mais velho.

─ Oe, até quando iremos esperar? Essa droga é cansativa. Tsk, eu deveria estar dormindo. ─ Subaru indagou retoricamente para si mesmo, com uma expressão irritada e cansada no olhar. Não era para menos, estavam esperando ali há quantas horas? Cinco? Talvez seis?

─ Subaru... ─ soprou Shuu, entreabrindo os olhos. ─ Seja paciente e mais silencioso, se

não percebeu, estou tentando dormir.

─ Para o Subaru é impossível ter alguma dessas características. ─ Ayato riu, jogando sua cabeça para trás.

─ Ayato... S-seu desgraçado. ─ Subaru trincou os dentes, cerrando o maxilar. O ruivo tinha um olhar de atrevimento no olhar e continuaria provocando o albino, caso aquilo evoluísse para algo maior.

─ Nee, Ayato-kun~ Não fique provocando o Subaru-kun, não queremos ter que pagar pelo conserto da parede novamente, não é? ─ a voz de Laito se fez presente no ambiente. ─ E Subaru-kun, convenhamos que o que o Ayato-kun disse é verdade, sendo honesto. ─ uma risadinha de escárnio foi ouvida pelos irmãos. O albino comprimiu os lábios em plena raiva e se limitou a cruzar os braços ao escutar o que o Sakamaki pervertido tinha a dizer.

─ Good grief, vocês não conseguem se calar por um mísero segundo? ─ Reiji referiu-se a seus irmãos mais novos, cogitando a possibilidade de mandá-los para uma escola de etiqueta. ─ Realmente, eu deveria mandá-los para alguma escola de etiqueta, para que possam aprender bons modos. ─ relatou.

─ Por quê? ─ perguntou o ruivo mais novo, colocando seus pés na mesinha novamente. ─ Você está claramente vendo como sou bem educado e tenho bons modos. ─ sorriu irônico.

─ A sua total falta de disciplina é repugnante. Gostaria que isso fosse resolvido há algum tempo atrás, mas infelizmente não foi possível. ─ Reiji comentou, alternando o olhar entre seus irmãos.

─ Sim, "infelizmente" não foi possível. ─ retrucou, dando um suspiro impaciente. Por que raios aquilo estava demorando tanto?

─ Kanato, onde você estava? ─ o jovem moreno de cabelos negros, virou-se para uma figura de cabelo arroxeado e com olheiras, que segurava seu tão querido e amado ursinho Teddy nos braços.

─ Eu estava cuidado das minhas lindas bonecas de cera, nee Teddy? ─ respondeu, olhando ternamente para seu ursinho. ─ Elas mereciam uma atenção especial da minha parte. Além de que se o bebê ainda não nasceu, não preciso ficar esperando, certo? ─ sorriu inocentemente, com um brilho macabro nos olhos.

─ A questão é que... ─ Reiji se interrompeu ao ouvir alguns gritos, um pouco abafados pela distância entre cômodos, de dor que se seguiram continuamente, um atrás do outro.

─ Se ficar esperando era irritante o bastante, agora tenho que suportar isso. Tsk, a convivência nessa mansão ficará cada vez pior. ─ Subaru expôs, balançando a cabeça negativamente, quase chegando ao limite de sua irritabilidade.

─ Realmente, isso é um tanto quanto incômodo. Não irei conseguir dormir com esses gritos azucrinantes. ─ Shuu concordou, franzindo as sobrancelhas ao escutar os sons que outrora seriam agradáveis aos seus ouvidos, porém devido à ocasião, se tornavam chatos.

─ Quietos! ─ ordenou Ayato, com uma expressão neutra no semblante e a voz um pouco baixa. ─ Não consigo nem escutar meus próprios pensamentos. ─ fechou os olhos, respirando lentamente e tentando se acalmar interiormente.

Mas como ele se acalmaria? Sentia a ponta de seus dedos formigarem, tamanha a força que depositava em segurar o braço da poltrona vermelha em que estava sentado. Um turbilhão de pensamentos e antigas memórias passavam pela sua mente, fazendo-o ficar cada vez mais nervoso.

No vocabulário dos Sakamaki, pai era sinônimo de desprezo, nojo e ódio. Estes adjetivos seriam a melhor coisa para definir aquela pessoa, cujo eles tanto odiavam. Cada um tinha seus próprios motivos e razões pessoais para que Karl Heinz fosse seu objeto de desgosto. O rei dos vampiros poderia ser definido como um pai ausente, indecente e rígido; não tinha grandes aproximações ou participações com seus filhos, há não ser, claro, que o momento exigisse. Tal como aplicar alguns castigos ─ vide, como exemplo, Shuu, Ayato e Laito ─, ou o ato de poder instabilizar o psicólogo de outros, como o que aconteceu com Subaru após sua mãe ter sido forçada a "casar-se" com o Karl e disto surgir o nascimento do albino.

Então, como ele próprio seria pai sem sequer tiver tido um? Eis a dúvida. E permanecia a questão: ele seria um bom pai? Como iria reagir?

─ Nee, nee, é tão engraçado ver o Ayato-kun nervoso por causa de uma criança~ ─ Laito adotou uma pitada de deboche na voz. ─ Vamos, uma criança não pode ser tão ruim assim.

─ Ah, claro, claro. Gostaria de ver como o titio Laito agiria daqui a alguns meses. ~ ─ Ayato forçou a voz a ficar mais fina, uma tentativa em vão de imitar seu irmão mais velho.

O silêncio reinou entre os irmãos, que apenas trocavam olhares entre si, apenas os gritos de dor da noiva de Ayato eram escutados do quarto em que ela se encontrava. Algumas das noivas, a de Shuu e de Kanato, provavelmente deveriam estar lá, auxiliando-a para que tudo ocorresse certo. As restantes estavam dispersas entre os móveis da mansão, cada qual com seu hobby ou afazer.

─Bakarayo*, não aguento mais isso, que porra. ─ xingou Subaru, contendo-se para não explodir ali mesmo.

─ Você não é obrigado a ficar aqui, se não quiser. ─ Reiji se pronunciou, cautelosamente neutro, para não demonstrar a felicidade em não ter que aturar mais um de seus meio irmãos insuportáveis.

O Sakamaki mais novo deu de ombros. Em um segundo, estava no conforto de seu caixão, tranquilo na escuridão e na calmaria de seu quarto, sem nada que o incomodasse.

Os gritos cessaram e um ruivo de olhos verdes sentiu a ansiedade vir com mais intensidade. Torceu para o que bebê ainda não tivesse nascido e, assim, ele poderia adiar o momento por mais alguns minutos.

─ Ei, Ayato!─ chamou a noiva de Kanato, gesticulando com as mãos e com um sorriso de orelha a orelha.─ O bebê já nasceu, venha cá ver!─ e na mesma velocidade que apareceu, sumiu no corredor.

Ayato engoliu em seco. Demorou o máximo que podia para se levantar e ter de seguir para o quarto. Os olhares de seus irmãos o seguiram por todo o percurso visível, analisando os traços de nervosismo que começavam a ficar presentes nas expressões do ruivo.

As ondas de ansiedade ficaram mais fortes quando ele parou em frente a uma porta de madeira. Reuniu coragem e girou a maçaneta, escutando o choro de um bebê a poucos passos de distância de onde ele estava.

Continua...