Orihime encarava aquele rapaz ruivo à sua porta com um medo nunca visto mas também com uma sensação que já o tinha visto antes. Simplesmente não sabia.

O que ela fez para esquecer Ichigo foi algo até fácil e experimental. Urarara garantiu que ela não esqueceria sobre seus poderes e sobre seus amigos da escola, sobre Ishida e Sado e muito menos de Tatsuki. Ela queria que ele a fizesse esquecer do sentimento que teve por Ichigo, já que isso lhe deixava muito enciumada, mas não que nunca mais se lembrasse dele. Entretanto, algo tinha dado errado e tudo tinha sido apagado e claro que sem Ichigo e sem a mera lembrança dele, os poderes dela não poderiam se manifestar. A “medica” da turma se tornara apenas uma garota normal, esquecendo completamente do que era Soul Society, dos tempos em que fora refém e até mesmo do ataque de seu irmão hollificado.

Era um vazio sem precedentes, mas sem dor alguma, o que não deixaria de ser vantajoso para a ruiva que nunca experimentou um momento de paz em sua vida.

A garota até parecia satisfeita com aquilo, mas não deixava de se questionar o que aquele garoto estava fazendo esbravejando em sua porta, mas não sentia nada de errado nele, então o chamou para entrar.

“Entre, fique à vontade. Você ainda não me disse o seu nome.” disse a ruiva com doçura.

“Inoue, do que você está falando? Como assim você não sabe o meu nome? Sou eu o Ichigo, ou melhor, o Kurosaki-kun.”

“Desculpe-me, mas eu não lembro de ninguém com esse nome. Provavelmente se eu o conhecesse me lembraria, é complicado vermos gente ruiva aqui no Japão, não? Você também teve problemas na escola por causa disso? Eu sempre tive. Que coisa. Mas você quer um chá, uma água, um soda limonada com sabor mel?”

“Você não se lembra de nada? Nada sobre mim? Sobre as lutas da Soul Society? Hueco Mundo?”

Quando a garota ouviu Hueco Mundo, sentiu uma dor aguda no peito e perdeu a cor, ficou lívida. Sabia que o nome a tinha feito sofrer, que uma dor imensa lhe tinha sido infligida, mas não se lembrava do motivo.

“Eu..eu..eu não me lembro. Talvez a minha participação nesses eventos não tenha sido muito importante, Kurosaki-kun, é esse o seu nome?”

Ichigo viu como a garota ficou assustada, mas mesmo assim não se lembrou. Será que era um bloqueio? E se fosse, porque ela tinha esquecido dele também? Será que ele a fazia sofrer? Se bem que a culpa de tudo aquilo era dele. Os poderes dela surgiram para ajudá-lo, porque ele estava por perto e agora aquela reação tão tardia.

Percebeu como ela ficou triste quando ele tinha resolvido ficar na Soul Society e ela infelizmente não pode ficar. Impressionou-se quando soube que ela tinha pedido pra ficar ali. Claro, Sado também tinha pedido, mas eles tinham uma promessa. Ichigo sabia que Sado não sobreviveria sem ele e por mais que doesse no ruivo, ele também precisava do grandão. Mas Inoue não. Ela sempre foi muito dócil com ele, sempre ali, solícita. Lutava da maneira como lhe era possível, nunca o deixou sem assistência. Enfrentava tudo por ele, mesmo não sendo de sua natureza e agora ela o tinha esquecido.

O garoto sabia que algo estava errado, mas não tinha mais coragem de querer que ela se lembrasse dele. O que era uma ironia absurda, agora que tinha se dado conta da falta que ela lhe fazia, que tinha sentido muitas saudades e queria algo diferente. Agora, depois de todo esse tempo, ela tinha esquecido. Esqueceu ele de vez.

O sofrimento deve ter sido muito grande, mas por mais que Ichigo fosse um cavaleiro da armadura, pelo menos conforme suas ações, ele iria pelo menos fazer algo, levantou-se e começou a falar:

“Provavelmente você esqueceu porque era o melhor a ser feito. O que você passou em minha companhia, ninguém passaria, muito menos com um sorriso no rosto como foi o seu caso. Eu não percebi os seus sentimentos por mim. Eu não sabia. Eu realmente ignorava e como eu estava confuso com outras coisas e eu tinha certeza que você permaneceria ao meu lado de qualquer maneira, eu sabia que não precisava definir nada. Você sempre estaria comigo, mesmo não estando. Eu sempre tive essa certeza. Mas a ironia é que eu agora correspondo os seus sentimentos. Percebi na Soul Society como eu te vejo diferente das minhas outras amigas e não é pela sua aura praticamente divina, mas pela pessoa maravilhosa que é e como sempre me aceitou, nunca exigiu que eu fosse diferente e foi me amando do jeito que eu era, mesmo quando eu não era mais eu mesmo. Me perdoe Inoue, ou melhor, Orihime. Me perdoe por ser tão cabeça dura e você ter precisado me esquecer.”

Depois desse discurso, ele a beijou nos lábios docemente e saiu sem olhar para trás.