Lágrimas Secas escrita por TalesFernandes


Capítulo 10
Capítulo Final


Notas iniciais do capítulo

Então esse é o último capítulo.
Obrigado a todos.



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A última coisa que lembro antes de finalmente apagar, fora a explosão da bomba indo em nossa direção levando apenas alguns segundos, e eu empurrando Júlia ferozmente contra uma barraca próxima e tentando ficar o mais agachado possível e escondido. A bomba atômica acertou em cheio o local, e todo o meu corpo estremeceu e recebeu ondas sônicas da radiação concentrada, até que finalmente meu cérebro entrou em confusão e eu desmaiei.

&&&&&&

Estou com uma dor de cabeça terrível, e todo o meu corpo parece que está pegando fogo. Tento me mexer para dar alguma reação, mas meus sentidos não funcionam. Tenho vários vislumbres de toda a minha vida, e imagino que eu já esteja no céu.

Essa teoria logo se desfaz quando sinto meus sentidos voltado e as pálpebras dos meus olhos lentamente se descolando, e finalmente consigo abrir os olhos. Minha visão ficou desfocada por vários minutos, até que finalmente viro a cara contra aquela forte luz que certamente era o sol.

Me levanto com dificuldade, mancando, com todos os músculos do meu corpo gritando e protestando. Dou uma rápida analisada no local, mesmo que minha mente esteja fraca que não consiga pensar direito, estava parecido com o sentimento de estar bêbado, só que duas vezes mais confuso. Parece que a transmissão dos neurônios no meu cérebro foram perturbados, e não conseguia pensar direito. Sinto uma dor que supera todas na medula espinhal, mas a ignoro.

Dou uma olhada em volta, e minha visão finalmente se foca para que eu possa ver com clareza a situação em que estou. Pelo o que eu sei, estou em uma cabana que vendia salgados toda acabada. As paredes tinham vários furos enormes e com pouco intervalo de espaço, e o teto não existe mais, fora arrancado pelas ondas de radiação.

Então, meu coração para por um minuto. Onde está Júlia? Esta cruel dúvida surge em meu coração e sem nem perceber já estava procurando por ela freneticamente. Quando percebo, ela estava no mesmo local que eu, só que num canto bem mais afastado onde a escuridão estava densa. Vou até ela e percebo que ela está desacordada, e por desespero começo a sacudir ela ferozmente.

– Júlia! – berro, juntando nessa palavra com apenas duas sílabas, mas que passou a significar muito para mim, todas as minhas forças foram postas nela. Começo a chamar seu nome cada vez mais baixo, dando agora tapas na sua cara de desespero, quando ouço o barulho de vários carros andando seguido pelo o som de uma ambulância.

Me levanto freneticamente, e pego a Júlia no colo de um modo desajeitado, e saio aos tropeços daquela pequena cabana de salgados toda acabada, e paro no meio da estrada, e deixo meus joelhos vacilarem e se espatifarem no chão.

O som dos carros fica cada vez mais alto, quando vejo uma forte luz no horizonte, umas luzes de mistura com vermelho e azul, e a julgar pelo meu cansaço e desespero, desmaio naquele chão duro e áspero do asfalto. “Que belo modo de morrer” penso alguns segundos antes de cair de cara no chão duro e áspero.

&&&&&&

Desta vez nenhuma parte do meu corpo está doendo, apenas sinto várias mãos me tocando bem na parte do meu tórax, seguido por algumas agulhadas. Tenho várias imagens do rosto de Júlia, que estavam guardadas no meu subconsciente. Quando finalmente as mãos param de me tocar, sonho que estou sendo atacado por uma forte onda de fogo e levanto num pulo da cama.

Essa minha reação precipitada deixam os médicos que estão me curando com uma cara assustada, e dou uma analisada no local, desta vez com mais calma.

Olho melhor para a sala, e vejo que estou numa sala média, com as paredes brancas e várias ferramentas e máquinas para a realização de cirurgias.

– Calme, Sr. Frank. – um dos médicos diz, e percebo que ele tem uma barba longa e branca, e cabelos grisalhos.

– Onde está Júlia? – pergunto e várias lágrimas escorrem por mim.

– Senhor, acalme-se. – o médico repete desta vez com a voz mais séria e elevada, e decido que o melhor a fazer era me acalmar. Ele me aplica uma injeção, mas a agulhada não me causou nem um ponto de dor.

– Agora pode se levantar. – o médico diz, mas desta vez era a voz de uma mulher, e por um momento penso que é Júlia.

– Júlia? – digo levantando ás pressas.

– Não, Senhor, sou a médica Hazel. – ela fala essas palavras com calma, e apenas dou de ombros.

– Aonde estou? – pergunto curioso.

– Bom, o senhor está no Centro de Cura do Alojamento Marco II. – o médico barbudo fala isso, como se eu fosse entender.

– E Júlia? – pergunto.

Percebo uma tensão na sala de imediato, e o médico se levanta e vai até uma das mesinhas que ficava bem no canto da sala, feita de madeira simples, cheia de papeladas espalhadas. Ele revira os papéis e pega um com uma coloração beije.

– Bom Senhor, a Srta. Júlia, veio a óbito pois as radiações da explosão foram demais para ela. – o médico solta uma pequena lágrima.

– NÃÃÃÃO! – sem nem perceber solto um grito que leva todas as minhas forças, e começo a encharcar o local onde estava deitado. Os médicos me olham assustados.

– E o Senhor terá de ser forte, pois, devido as radiações, o Senhor está com um tumor maligno na medula óssea. – o médico diz e sai da sala, e recomenda a todos os médicos fazerem isso.

Meu mundo literalmente vira de cabeça para baixo, e começo a gritar e chorar desesperadamente. Iria morrer, mas ao mesmo tempo não poderia ver Júlia.

Ao julgar pelos meus choros, minhas forças foram acabando, e quando deitei na maca rapidamente adormeci, mas continuando chorando no meu subconsciente.

&&&&&&

– Acorde, Frank. – diz a voz da médica Helena, e lentamente abro os olhos. Estava na mesma sala de antes, e eu percebo o vazio no meu coração, seguido por uma dor tremenda na minha medula. Desta vez mais controlado, cambaleando, sento na maca e não derramo nenhuma lágrima, mesmo por dentro eu esteja fazendo isso.

– O senhor quer dar uma volta? Se quiser pode visitar alguns locais fora da reserva, mas não vá muito longe. – a médica friza esta parte.

– Obrigado, preciso refrescar minha cabeça. – falo numa voz rouca e antes de esperar resposta saio da sala.

O frio quase me fez tremer, mas o calor do meu corpo por conta dos meus choros e dores, não me fez sentir algum tipo de frio. Percebo que esse alojamento na verdade só ficava depois das duas outras montanhas, de modo que agora eu podia ver elas de costas.

Decido fazer algo maluco, eu vou subir aquelas montanhas.

Vou andando, mesmo estando com o corpo doendo e não poder fazer esforços, acho uma pequena e precária trilha coberta de neve pelas montanhas, e começo a subir. A montanha era gigante, e demorou duas horas para terminar o percurso, no final cheguei encharcado de suor, com a respiração mais ofegante do que nunca, e coloco um pouco de neve na boca para virar água.

Chego bem no topo da grande montanha, e começo a olhar fixamente para o horizonte enquanto observo o pequeno sol fraco da manhã iluminando a paisagem com seus raios amarelados.

Rapidamente, o cansaço do esforço vai se esvaziando, e finalmente me dou por descansado. Me levanto e vou para mais na borda da montanha, até que me sento tão perto que meus pés ficam do lado de fora, e fico balançando eles por um momento.

Penso em tudo que passei e como será minha morte, no modo que Júlia morreu, e sem saber o porque da explosão da bomba. Também pensei sobre meu câncer que obviamente me mataria, pois um tumor maligno ainda mais na medula, não é algo normal.

Esses pensamentos me ocupam por um grande tempo, e nem sei quanto tempo fiquei naquele local, e o frio não me castigava, pois minha mente não estava concentrada nisso, apenas no meu silencioso mas forte sentimento de dor que estava sentindo por dentro.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto, mas o ar frio das montanhas geladas faz a pequena e cristalina gota se secar rapidamente.

Lá se vai uma Lágrima Seca.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que acompanharam, esse foi.
A Lágrima Seca.



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