Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 5
Capítulo 5 — Completamente Envergonhada


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal!

Não esperavam outro capítulo tão rápido, né? :). Como eu disse anteriormente, só vou postar antes das duas semanas caso consiga terminar de escrever algum capítulo pra não atrapalhar no meu planejamento de postagem. Como consegui, aqui vai mais um.

Reviews são sempre muito bem-vindos. Respondo sempre a todos! Amo saber o que vocês estão achando da história, ver a reação de vocês, saber o que estão esperando do que estar por vir. Sintam-se sempre a vontade para comentar na caixinha lá embaixo. Me faz bastante feliz ler os comentários de vocês, e espero que a história faça vocês felizes por lerem.

Um grande obrigada a todos que dedicaram um tempo especial para comentar no capítulo passado, vocês são demais ♥

No mais, boa leitura!



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7 de janeiro de 2012





Para Quinn,



Eu estou há horas observando esta folha em branco, sem ter a mínima noção de como deveria iniciar esta carta. Estou completamente envergonhada pelo que escrevi na anterior. Juro que isso não acontece com frequência, e espero que não vá arruinar a relação que estamos construindo. Eu realmente deveria ter olhado para o copo antes de beber. Meu Deus. É uma coisa boa que você não possa ver meu rosto agora, porque eu acho que nunca fiquei tão vermelha em toda a minha vida. Essa certamente é uma lição para ficar longe do álcool. Não que eu tivesse alguma inclinação para bebidas; nem pensar!, elas prejudicam as cordas vocais, e jamais faria alguma coisa que pudesse colocar meu futuro em risco. Portanto, peço minhas sinceras desculpas pelo meu comportamento. Foi completamente inadequado, e não vai se repetir.

Sei que disse algumas coisas um tanto quanto… Bem, pessoais demais. Ou pessoais além da conta, já que desde nossa primeira comunicação, tenho revelado muito sobre mim mesma. Minha história de vida, minha personalidade, e, agora, minha sexualidade. Espero que isso não a afaste de mim. Não acredito que vá — você não me parece esse tipo de pessoa; além do que, você disse que admirava a estrutura da minha família, o que me leva a acreditar que você é uma mulher de mente aberta. É só que… Não sei… Ainda fico um pouco na dúvida, porque até hoje ninguém jamais aceitou isso sobre mim. A não ser meus pais, é claro. E seria um tanto hipócrita deles se não aceitassem, você sabe, sendo gays e tudo.

Oh. Meu. Deus. As piadas. Elas foram péssimas, eu sei. Se você não quiser parar de se corresponder comigo por eu ser lésbica, provavelmente vai querer distância por causa do meu senso de humor estranho. Nem acredito que fiz piada com o nome de sua amiga. Espero que ela não tenha lido; e, se tiver, espero que não esteja com raiva de mim. Não foi intencional. Prometo. Normalmente, eu não faria uma coisa dessas. Eu sei como é ter as pessoas zombando de você, portanto, nunca faria isso a ninguém, não de propósito.

Também sinto muito por ter despejado todo o meu drama escolar sobre você — como se o familiar não fosse o bastante. Sei que pode parecer muito, e realmente é, mas acontece que já me acostumei, sabe? Não é algo que começou agora. É algo que vem ocorrendo desde que me mudei de volta para Lima. As pessoas sempre me trataram assim. Nunca na frente dos meus pais, óbvio, mas quando eles não estão por perto, as coisas mudam de figura. Até porque, se você visse Leroy, também não se arriscaria a dizer uma coisa sobre mim na frente dele. O cara é quase do tamanho de um armário. Ele pode não ser meu pai biológico, mas me vê como uma filha — a única que tem —, e moveria céu e terra para me defender. Eu o amo por isso. Por ser esse cara protetor, que só quer o meu bem. Eu acho que tirei a sorte grande, sabe? Quero dizer, tudo em minha vida pode ser uma verdadeira confusão, mas não isso. Eu tenho, sem dúvida, os dois melhores pais do mundo. Mamãe também gostava dele. Não conte a ninguém, só que, apesar de ter o tamanho e a força de um gigante, por dentro, ele é completamente mole. Adora musicais, como eu, e sempre assiste comigo quando eles passam na televisão. O seu favorito é Mamma Mia. Ele conhece todas as músicas e todas as falas do filme. Não posso culpá-lo. Eu também conheço as de Funny Girl (o meu musical favorito, seguido por West Side Story).

De forma que, você vê?, não é tão ruim. E como eu disse, esse é meu último ano do ensino médio. Só mais alguns meses, e tudo isso vai chegar ao fim. Poucos meses, na verdade. Caramba. Acho que nunca percebi o quanto o fim está próximo. Quero dizer, tenho esperado por esse momento desde que pisei nessa cidade pela primeira vez — o dia em que poderei, enfim, ir embora —, mas nunca parei muito para pensar no que aconteceria depois. E se eu não conseguir uma vaga em NYADA? (Academia de Artes Dramáticas de NY). Eu tenho outras opções, claro, mas nenhuma delas se compara a melhor escola de Artes Dramáticas do país. Eles só aceitam vinte alunos por ano. Sem brincadeira. E há tanta pessoas talentosas por aí… Será que vai ser o suficiente? Será que tenho praticado o bastante? Não sei se vou suportar uma rejeição. Não sei se vou suportar a ideia de ficar presa em Lima para sempre. Seria como arrancar parte de mim. Essa parte importante que me faz ser quem sou. A que me torna diferente. Sem isso, eu seria apenas mais outro desses perdedores de Lima que não conseguem fazer nada de suas vidas. Eu não quero ser essa pessoa, Quinn. Eu não posso ser essa pessoa. Mas e se, no final, for o que me sobrar?

A situação no clube do coral não anda muito boa, também. Uma garota, Tina, começou a ameaçar sair do clube se não ganhar um solo na próxima competição. E ela ainda tem mais um ano de colegial pela frente! Essa é a minha vez. É o meu futuro que está em jogo! Será que ela se importa com isso? Não, provavelmente não. Você sabe, o nosso professor, Will Schuester, gosta de fingir que somos todos uma grande família. Ele tem feito isso há três anos. Só que a realidade não poderia ser mais diferente. Claro, ter Finn Hudson — o gigante — conosco mudou algumas coisas, já que ele é popular, e tudo. Finn trouxe consigo alguns jogares e algumas líderes de torcida, e eles comandam o clube desde então. Eu tenho que lutar pelos meus solos. E eles me deixam tê-los porque sou a melhor cantora do grupo. A única vez que não me permitiram cantar foi no nosso primeiro ano juntos. Perder os ensinou uma lição. Não tentaram mais me tirar do posto de cantora principal; embora, claro, sempre haja reclamações.

O que me preocupa é que o senhor Schuester dê a Tina o que ela quer. Eles gostam dela. A mim, eles apenas aturam, por causa de minha voz. E essas competições são importantes para mim. Eu preciso delas para o meu currículo. Preciso delas para mostrar que sou uma vencedora — embora a realidade não seja exatamente essa. Ao menos não aqui.

Deus… Eu só queria que fosse mais fácil. Não é pedir muito, ou é? Mas aqui estou eu de novo, despejando tudo em cima de você. Honestamente, Q., não sei como você ainda não se cansou de mim. Às vezes, até eu canso de mim mesma.

Acho que vou parar por aqui. Não há muito mais a ser dito. E eu preciso de um tempo. Talvez cantar me acalme. Embora, ultimamente, nem mesmo a música tenha servido para me tranquilizar. É como eu disse na primeira carta; a diferença entre certo e errado parece borrada, agora. Não sei até onde vai meu sonho, e até onde vivo a realidade. Não que faça a menor diferença. Estou começando a achar que nada faz.

Novamente, peço desculpas pelo meu comportamento.

Até a próxima.

Da garota cheia de incertezas,

Rachel Berry.

~x~

15 de janeiro de 2012

Para Rachel,



Era uma vez uma garotinha.

Ela era tão linda quanto qualquer garotinha de dois anos pode ser. Seus pais a achavam muito quieta para alguém de sua idade. Talvez um tanto quanto solitária. Acharam, então, que ter um irmãozinho ou irmãzinha poderia mudar isso. Ela não saberia dizer, à época, se eles estavam certos ou não. Ela nem ao menos sabia que a família ia ganhar um novo membro — ao menos, não até o dia em que seus pais apareceram em casa carregando-o no colo. A reação comum de uma garotinha de dois anos seria, inicialmente, a curiosidade; e, depois, o ciúmes, por toda a atenção estar voltada para o intruso. Alguém que, vejam só!, nem ao menos tinha cabelo. Alguém que acordava no meio da noite, aos berros, porque estava com fome. Ela não era assim. Ela era diferente. E, por ser diferente, ela não sentiu ciúmes. Hoje, se você a perguntar do que ela se lembra de quando tinha dois anos, a única coisa que ela vai lhe responder é isto:

A garotinha se lembra da primeira vez que o viu, ainda nos braços de sua mãe. Ela se lembra com perfeita clareza, como se tivesse sido ontem, quando ele abriu os olhos — tão azuis quanto o céu —, e sorriu para ela, um sorriso sem dentes, esticando sua mãozinha gorducha para tentar tocá-la. Ela se lembra de ter rido muito, e ter segurado a mão do garotinho, sem querer mais soltar. Ela o amou a partir daquele momento, quando sequer compreendia o que amar significava, quando nem ao menos sabia quantos fardos e alegrias o tal do amor podia trazer. Ela simplesmente entregou seu coração, com a facilidade com que se entrega um copo de água, tendo consciência, com a sabedoria dos seus dois anos de idade, que isso mudaria absolutamente tudo. E ela queria essas mudanças. Talvez até mesmo precisasse delas, embora não soubesse. Até mesmo a sabedoria da garotinha tinha seus limites.

À medida que foi crescendo, ela aprendeu mais sobre “o tal do amor”. Ela descobriu que, às vezes, ele faz seu coração doer; e que, às vezes, ele machuca. Ela descobriu sobre outras emoções, também. Sentimentos que ela já havia tido, em algum momento de sua vida, mas nunca soubera como nomeá-los. Conheceu, principalmente, sobre a tristeza e a decepção. Sobre a raiva e a impotência. Sobre o medo e o pânico. Mas a garotinha conheceu, também, o sentimento de proteção. Algo tão forte e tão grande que a fazia tentar impedir que o garotinho se machucasse de qualquer maneira que fosse — física ou emocional. Ela não queria que ele tivesse medo, ficasse triste, ou estivesse sozinho. Ela queria segurar sua mão, da mesma forma que o fez quando ele tinha pouco tempo de vida, e nunca mais soltá-la. Ela queria abraçá-lo e protegê-lo de toda a dor que ela estava sentindo. Da dor que rasgava seu coração em dois; da dor que a mantinha acordada, durante a noite, chorando pela perda das outras duas pessoas que ela amou. Pessoas a quem ela se entregou seu coração, e quem entregaram seus corações a ela, incondicionalmente.

Só que a garotinha percebeu que não poderia proteger o garotinho de tudo. Ele também sentiu dor. Ele também chorou. Ele também não conseguia entender o motivo pelo qual ele nunca mais veria seus pais. E ela não sabia como ajudá-lo. Não sabia como ajudar a si mesma. Foram tempos difíceis. Tempos em que pesadelos eram costumeiros; tempos que gritos no meio da noite não eram anormais; tempos em que ambos chamavam o nome dos pais, sem jamais ouvir uma resposta. Tempos que testaram sua força e sua fé. Tempos que lhes apresentaram medo, e levaram consigo algumas de suas esperanças. Tempos que implantaram as dúvidas em suas mentes e em seus corações. Tempos em que eles só queriam desaparecer.

Se você a perguntar, hoje, ela ainda vai se lembrar do dia exato em que aconteceu. De como todas as crianças estavam agitadas, na sala de aula, tentando descobrir o que estava acontecendo. De como algumas estavam até mesmo chorando, apenas três palavras reconhecíeis em sua lamentação. “World Trade Center”. As crianças cujos pais trabalhavam lá. As crianças que, do dia para noite, haviam se tornado órfãs. E ela era uma dessas crianças. Mas, ao contrário da maioria, não era apenas o seu pai, ou apenas a sua mãe, que estavam nas Torres Gêmeas. Eram os dois. Juntos. No mesmo andar. O andar que foi atingido pelo avião. Ela só soube disso algum tempo depois, quando seu tio a explicou, naquele noite, o que havia acontecido. Quando ele disse que era hora de ser forte. Só que ela não queria ser forte. Ela queria seus pais. Ela queria suas histórias antes de dormir, seus beijos de boa noite, seus abraços e sorrisos. Ela os queria. Só isso. Tudo isso. Mas ela jamais os teria novamente.

E como acontece com todas as garotinhas, ela cresceu. Só que, ao contrário de quando era mais nova (e mais ingênua para as crueldades do mundo), sua inocência foi embora. Roubada, como seus pais haviam sido. Levada para longe, até um ponto inalcançável. Um ponto ao qual ela só poderia observar. Ela cresceu com medo. Assustada. Distante. Procurando se manter longe de tudo aquilo que poderia machucá-la; procurando nunca mais sentir seu coração sendo despedaçado novamente. Ela se fechou para o mundo. Não se permitiu vivê-lo. Não se permitiu senti-lo. Não se permitiu sonhar.

Se alguém lhe perguntar, hoje, como ela se sente, a garotinha (que não é mais uma garotinha) vai dizer que é feliz. Ela vai colocar um sorriso no rosto, que muito provavelmente não será verdadeiro, e vai dizer aquilo que as pessoas gostam de ouvir. Ela vai fingir que sabe o que está fazendo, e que gosta do que faz porque pode ajudar pessoas. Mas a verdade — a que ela procura veementemente negar — é que ela procurou a saída mais fácil. Ela sabe o que tem que fazer quando está onde está. Ela sabe o que é esperado dela. Ela sabe (na maioria das vezes) quais são as atitudes certas a serem tomadas. Ela sabe que se escolher seus adversários, então ela não precisa lutar contra todo mundo. Ela sabe que se souber quem deve temer, então ela não precisa temer tudo, o tempo todo.

E, se ela fosse sincera consigo mesma, ela admitiria outra verdade. A na qual ela nem ousa pensar. A que é assustadora demais, vergonhosa demais, para que ela possa dizer em voz alta. Se ela fosse honesta consigo mesma, admitiria que está fugindo. Mas ela não é sincera. Por isso, ela continua fingindo.



Querida Rachel,

Não seja essa garotinha.

Da mulher que um dia foi uma,

Quinn Fabray.


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Notas finais do capítulo

Esse é um dos capítulos de que escrevi até agora que mais gosto. Possivelmente meu favorito. Quinn falando sobre a história dela... Muito triste, não acham? De partir o coração :(

É isso, pessoal. Espero que tenham gostado.

Até o próximo :)