Viúvas Negras escrita por Estressada Além da Conta


Capítulo 4
Arquivo 4: Um mar esquecido por Deus


Notas iniciais do capítulo

.... Okay, eu sei, eu sei... Um ano sem nada... Não tenho desculpas, e mesmo que tivesse, não seriam dignas de seus perdão. Porém tenho algo que devo dizer, esse ano sem escrever não foi cruél como imaginei. Posso dizer que amadureci, ou simplesmente mudei. Ou talvez agora eu finalmente seja eu mesma. Peço perdão. Posso talvez não merecê-lo.

— Clara Parlato



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— Como você enxerga nessa neblina?

As palavras de Bou-san pareciam quietas, como se abafadas por algodão. A neblina expessa parecia feita de nuvens prontas para chover, a água estava tão parada que refletia graças ao pouco luar que em nada ajudava a enxergar. As pequenas ondulações causadas pelo suave balançar do barco lembravam dobras no setin. A sensação de estar perdido no nada era companhia persistente. Um mar esquecido por Deus.

— Não enxergo.

Veio a resposta rouca, acompanhada de sorriso pontiagudo. A barqueira continuou prostada no fim do barco, mãos apoiadas na bengala. Nenhum remo à vista, nem um motor roncando. Como se moviam era um mistério que ninguém estava muito disposto a desvendar.

— Como assim você não enxerga? - Ayako questionou, surpresa... Era aquilo medo em sua voz?

— O Mar me diz para onde ir. A neblina me aponta onde já estive. Neste exato momento, meus olhos são tão inúteis quanto essa oração que murmura entre seus lábios, senhor padre.

— Me ouviu?

— De que me serviriam meus ouvidos, quando Lua travessa me dá seus segredos para guardar?

— Barqueira, por favor. - Kyo censurou - Chega de poemas sombrios e enigmas problemáticos.

— Poemas nos fazem, pois posso-lhe fazer em alguns poucos versos. O problema não é o enigma, mas a solução.

— Barqueira...

— É claro, posso sempre calar-me e lhes deixar no silêncio solene. Lua e Mar não precisam de palavras para se amar.

E, novamente, o silêncio caiu sobre eles. Calado, parado, quase tão sólido que parecia rachar a cada respiração mais alta. A neblina parecia pesar-lhes os ombros, a Lua ria de suas pequenas e efêmeras tentativas de se sentirem confortáveis. A água refletia o pouco de luar ao redor do barco, parecia ter duas luzes iluminando o grupo. Uma gozava de seu medo do inesperado, outra tentava acalmar aquelas pobres almas vivas. Vãs tentativas. Pois os mortos são mais tormentadores que tormentados.

— Sabe... - Sussurrou Yasuhara, com medo de estilhaçar o silêncio - Acho que prefiro te ouvir recitando poemas...

— Não há tempo, não há hora. Chegamos já, veja só. - E apontou, com seus dedos finos e unhas pontiagudas, a grande sombra que se aproximava.

A mansão Carmesí era, no mínimo, medonha. Reinava sobre um bosque azedo e cinzento. A neblina parecia uma criança, afastava-se do mar, mas não chegava muito perto da mansão. Lembrava muito um castelo, com certeza fora feita para parecer um, como muitas outras construções góticas. As paredes de pedra escura pareciam guardar mais que confissões apressadas e fofocas açucaradas. As duas torres, eram três?, apontavam para o astro ofensivo. Um caminho de pedras abria a passagem por entre bosque fechado, levando o que estivesse naquela casa assombrosa ao píer que surgiu subitamente por dentre a névoa.

— É aqui que os deixo, senhoritas e senhores. - Fez-se ouvir a voz da mulher - Desçam, desçam, não há medo. O Mar é mais dócil que sua amante.

E, realmente, nem uma vez o barco sacudiu mais do que devia, nem uma vez alguém teve de se preocupar se água turva os tragaria para as profundezas.

— E você? - Mai questionou, fitando a grande mulher, pelo menos 1,80m, que ainda se empoleirava na parte de trás do bote... Espera, não era esse bote maior? Agora parecia poder carregar apenas duas pessoas.

— Nunca mais, senhorita.

— Perdão? - Naru voltou para a ponta do píer, se posicionando ao lado de sua assistente - Não temos tempo para outros enigmas.

— Então não resolverá o caso.

— Oi, oi, vamos logo! Esse lugar me dá medo. - Ah, sim, Ayako, uma informação bem útil, gritada da outra ponta do píer, no começo da estrada de pedra.

— Não virá conosco? - Questionou Mai. Um aceno negativo de cabeça e o barco começou a deslizar de volta pelo caminho que veio. Novamente, sem remo, nem vela, nem motor, nem esforço. Como se o próprio mar o estivesse movendo. As últimas palavras da barqueira retumbaram, voz rouca de veludo dobrando a escuridão.

— "And my soul from out that shadow that lies floating on the floor/Shall be lifted..."

E o barco e sua barqueira desapareceram completamente, deixando apenas um sussurro para trás.

— "Nevermore..."

 


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Notas finais do capítulo

Poema de Edgar Allan Poe, "The Raven", versão original em inglês.
"E a minha alma de fora da sombra que está flutuando no chão / Será levantada ...
Nunca mais..." - Uma tradução bruta feita por mim.

Mansão: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/4b/62/e7/4b62e738013910939bd56841a8725c0f.jpg



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