Surpreendentemente, é amor! escrita por Escritora de botequim


Capítulo 4
Será que é amor?


Notas iniciais do capítulo

Quando amamos alguém e tentamos demonstrar o contrário, sempre acabam surgindo situações que nos forçam a assumir justamente aquilo que tanto queremos esconder.



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"Prefiro não dar um nome a isso. Prefiro não confundir as coisas. Na verdade eu prefiro não sentir, mas já que sinto, é melhor eu ter certeza."

Eu li essa frase em algum lugar, não me lembro onde. Ela é aquele tipo de frase que em uma linha resume tudo que você sente. Parece que meu lema não é mais pego mais não me apego. Eu não sei o que está acontecendo comigo. Nunca senti nada do tipo e nem sei o que eu estou sentindo pra dizer a verdade. Preciso da certeza, mas não faço ideia de como consegui-lá. Preciso de uma confirmação, para saber qual caminho seguir.

~ ~ ♥ ~ ~

Ninguém ficava em casa. Alguns estavam na praia, outros, vagando pela cidade. Eu geralmente optava por ficar em casa.

A casa estava silenciosa, pensei comigo: "Não deve haver ninguém em casa." Fui para a cozinha comer algo, depois fui para a sala ver um pouco de televisão. Manuela estava lá, e assim que me viu, veio em minha direção.

– Vamos sair, porque não vem conosco? Você parece meio abatido, um pouco de ar vai te fazer bem. - Novamente ela sorriu e aquela dor no estômago voltou. É, acho que devem ser reais aquelas tão famosas 'borboletas no estômago'.

– Ok. Só vou trocar de roupa, é rápido. - Em menos de 10 minutos eu estava de volta á sala.

– Parece que só a ideia de sair já te fez melhor. Já está até coradinho! - Ela riu. Manuela era péssima em perceber as coisas. Se alguma coisa me fez ficar corado, essa coisa era ela e não a ideia de sair. Ah cara, já estou até admitindo as coisas. Isso é péssimo!

Ela estava muito bonita. Mas não era a roupa que a fazia ficar assim, era outra coisa. Talvez os olhos, ou o sorriso. Ou tudo junto, que acabava por fazer uma bela sintonia, não sei ao certo.

Íamos ao cinema assistir uma comédia romântica. Parecia que havíamos comprado refrigerante e pipoca pro cinema inteiro, porque era demais para apenas quatro pessoas. Sentou-se eu, Manuela, Alice e Arthur. Estava na cara que aquilo era um encontro de casais, apesar de só haver um casal ali presente.

Logo no começo do filme, Manuela apoiou o braço na divisória entre a minha cadeira e a dela. Depois de lutar muito contra meus pensamentos, coloquei minha mão sobre a dela. Automaticamente a mão dela se ajeitou e seus dedos se entrelaçaram aos meus. Até parecia que foram feitas uma para a outra, porque se encaixavam perfeitamente. Eu a olhei, ela retribuiu o olhar. Lentamente fomos nos aproximando um do outro, lentamente. Olhos nos olhos. A dor no estômago de novo. É, acho que agora eu sei o que e como são as tais borboletas. Finalmente nossos lábios se tocaram. Naquele momento foi como se meu coração houvesse saído de meu peito e ido de encontro ao dela. Eles batiam como um só. Nós éramos como um só. É nessas horas que você percebe que está amando. Quando tudo que você diz se torna meloso desse jeito.

Após o beijo, ela olhava fixamente nossas mãos, ainda entrelaçadas. Com o polegar eu acariciei sua mão e com a outra ergui seu rosto, a fazendo me olhar. Ela estava completamente corada. Eu provavelmente estava da mesma cor.

Talvez aquele tenha sido um dos melhores dias da minha vida. Talvez. Passamos o resto do dia nos olhando, timidamente e disfarçando, ambos ainda tímidos pelo que havia ocorrido entre nós.

~ ~ ♥ ~ ~

Na manhã seguinte, tudo se seguiu como todos os outros dias. Não nos falamos, mas pelo modo de agir eu dei a entender que aquele beijo não havia significado nada. Mentira, havia significado sim. Talvez tenha sido o melhor de minha vida. Mas óbvio que não ia dizer isso á ela.

A questão é, ela havia entendido muito bem que aquilo fora apenas um beijo e que não voltaria á acontecer. Ela até parecia ter entendido que eu nunca seria dela.

Mas como assim, eu nunca seria dela? Eu já sou dela. Não, não sou. Claro que não. Para de ser idiota Matheus, você não a ama, é só... atração.

Ah meu Deus, já estou mais bipolar do que ela! Como isso é possível eu não faço a mínima ideia. Só pode ser de tanto reparar... quer dizer, conviver com ela.

Resumindo, o lado bom é que ela entendeu que aquele foi só um beijo. Mas o pior é que ela pensa que o beijo não significou nada para mim, quando na verdade significou tudo. Ou não.

Naquela semana eu havia me aproximado mais de Arthur. Acho que pela primeira vez desde que ele nasceu eu estava me entendendo com ele. Iriamos fazer maratonas de filmes de terror. Quando eu soube da programação da noite, lembrei daquela tarde onde toda essa bagunça dentro de mim começou.

Estávamos todos no sofá. A mesa de centro lotada de coisas para comer e uma pilha de filmes ao lado da Alice. Não faltava nada, até que eu percebi...

– Cade a Manuela? - Tentei perguntar da maneira menos interessada possível.

– Hmmm tá sentindo saudade da namorada? - Perguntou Arthur, tirando sarro da minha cara.

– E se eu estiver? - O encarei.

– É o amoor! - Ele sempre cantou muito mal.

– Fala logo Arthur! - Alterei o tom da voz, já estava ficando irritado.

– Saiu.

– Com quem? Pra onde? - Tarde demais pra não demonstrar algo.

– Com o Fernando. Só não fica com ciúmes tá? - Então o Arthur começou a rir que nem idiota. Porque eu fui falar pra ele sobre meu sonho? Minha fúria foi ao extremo. O encarei. Se eu tivesse visão de calor, faria torrada de Arthur. Sim, eu sei, eu me irrito fácil demais.

– Legal. Coloca o filme logo. - Eu estava furioso e frustrado. Onde é que a Manuela estava? Com quem? Fazendo o que? E não, eu não estava com ciúme. Bom, talvez um pouco. Mas só um pouco.

– Ah, o amor é lindo mesmo!

– Falar que o amor é lindo é fácil, quando não é o seu coração que está despedaçado! - Eu disse tão baixo que provavelmente ninguém ouviu. Eu e meus clichês retirados de livros.

Eu não prestei atenção em filme algum, fiquei apenas perdido em meus pensamentos.

Quando estávamos no segundo ou terceiro filme, ela chegou.

– Ainda bem que chegou, seu namorado já estava com ciúme por você sair sem falar nada. - Nessa hora peguei uma almofada e acertei bem no rosto do Arthur. Eu sei, péssimo jeito de dizer que eu não me importava com ela. Mas e daí? Eu me importava mesmo. Manuela começou a rir e eu fiquei sem saber onde me esconder.

– Calma gente, eu só estava no meu quarto. Porque não me chamaram? - Ela se sentou no braço do sofá em que eu estava deitado. Eu a encarei. Ela nem reparou. Só estava no seu quarto? Custava dar um sinal de vida pela casa? Precisava te chamar? Você não ouviu o barulho que estava aqui? Nossa, ainda bem que ela não pode ler mentes, porque né...

Se eu dissesse á ela tudo que estava pensando, provavelmente discutiríamos e eu acabaria assumindo aquilo de que tinha tanto medo. Acabaria assumindo que a amo. Minha mente estava um caos naquele momento.

Eu me sentei e ela ocupou a outra metade do sofá. Colocaram um filme qualquer lá que eu também não prestei atenção. Na metade do filme eu saí.

A melhor coisa que eu podia fazer depois daquele quase ataque de ciúme era deitar e dormir. Eu sei que fui infantil, mas e daí? Eu me importo com ela mesmo e assumo que sinto ciúme dela. E não, isso não é amor. Não sei o que é, mas não é amor. Não pode ser amor. Eu não sinto amor.


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