The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 48
Capítulo 48


Notas iniciais do capítulo

Olá, caros leitores...vocês ainda estão aqui? Espero que sim!
Devem estar se comentando o quão eu sou tremendamente cara de pau de aparecer com atualização da fic após meses, sendo que tenho dado continuidade (relativamente) aos meus outros projetos (sejam eles literários ou não). Eu peço um milhão de desculpas pela imensa demora em atualizar, são coisa de mais de 6 meses, nunca antes eu demorei tanto para atualizar a fic e sinto muita vergonha por isso.
Mas é que esses últimos tempos estão sendo tão corridos, tão cheios de coisas que eu realmente não estou conseguindo dar conta de fazer tudo e muitos dos meus projetos estão se acumulando. Isso é estranho porque, na pandemia, tendo mais tempo em casa, era para o serviço render, não? Mas acho que justamente por causa da pandemia, ele não flui como eu queria e deveria. Juntando a isso, tem o fato de que eu me encontro com um bloqueio criativo grotesco para essa fic justamente em seus capítulos finais.
Isso se deve ao fato de que, desde que comecei a fic anos atrás, eu não me preocupei muito em fazer um planejamento dela (coisa que faço com a fic de pokémon) e por conta dos leitores, a história acabou se estendendo muito mais do que eu imaginava. Mas, isso me serviu de ensinamento pra muita coisa que estou aplicando nas minhas outras obras.
Enfim, quero agradecer a todos que continuam acompanhando esta história e que não desistiram dela. Obrigada por fazerem isso, pois seus comentários, clicando nos Favoritos sempre me são um grande incentivo. Espero não decepcioná-los, mesmo que a história já tenha se tornado um fardo para mim e está sendo muito difícil conseguir escrevê-la, mas continuarei dando o meu melhor por ela até o fim!
Enfim, boa leitura e fiquem á vontade para deixar comentários!



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~*~


— Eu vim...fazer o que devia ter feito há anos!
   Nenhum dos presentes entendeu o significado daquela frase proferido pela bela mulher com um taco de beisebol em mãos. Mas tanto Cruello quanto Igraine perceberam que, pela expressão de Scarlet, não viria dali uma atitude boa. Mas, quando ela segurou o cabo do taco com ambas mãos e o moveu como se estivesse prestes a rebater algo enquanto avançava pela sala, Cruello percebeu o perigo iminente: e que não era dirigido á ele.
— MERRI, DESVIA!
  O ruivo barbado tirou a atenção da coisas que verificava sobre a mesa e encarou Cruello, que acenava assustado por cima do ombro dele. E ao fazer isso, Merri contemplou, em frações de segundos, momentos de sua vida passando diante de seus olhos enquanto via a mulher de olhos carregados de ódio direcionando o taco de beisebol em sua cabeça.
  Mas, como que por instinto de sobrevivência, ele conseguiu desviar do golpe nos últimos momentos, virando-se para o lado e o taco de beisebol atingiu o chão com força, seguindo por um tombo de joelhos de Scarlet, que havia colocado toda a sua energia no golpe e, não tendo acertado o alvo, perdeu o equilíbrio. Mas ela prontamente se recuperou e ainda ajoelhada no chão, tentou acertar um golpe com o taco de beisebol nas penas de Merri, que saltou para trás e caiu sentado no sofá. Isso deu tempo para que Scarlet, com um olhar desvairado, se colocasse de pé e fizesse com que o grande homem barbado gritasse quando ela empunhou o taco de beisebol acima da própria cabeça prestes a desferir o golpe final.
— Scarlet, não, não nãaaaaaaaaaao!
  Foi por uma intervenção quase divina que a sala de Igraine não se tornou palco de um homicídio e a poltrona e tapete dela não ficasse repleto de sangue e miolos. A bem da verdade, no primeiro momento, Igraine acreditou que havia tido uma visão, de sua mente criando cenas fictícias, mas percebeu que era real. Cruello havia avançado para frente, detido o taco de beisebol pouco antes que atingisse Merri, Ele puxou o taco com força, conseguindo arrancá-lo da mão de Scarlet que gritou furiosa, mas com destreza, Cruello aplicou algum tipo de golpe com a mão estendida na horizontal, na nuca de Scarlet que foi perdendo a consciência e cairia no chão se Cruello não a segurasse.
  A sala mergulhou em um silêncio momentâneo e foi Merri quem quebrou o silêncio.
— Obri...obrigado...eu pensei que ela iria...
— Iria sim. – Cruello respondeu, seco.
— Eu não entendo porque a Scarlet está com tanto ódio de mim! Já se passaram anos desde a última vez que nos vimos e eu pensei que estava tudo bem entre a gente!
  Cruello encarou o homem com um cinismo e irritação no olhar.
— Olha cara. Se eu fosse você, pegava as tralhas e partia agora para ir apagar o fogo do matagal porque se Scarlet acordar, eu não vou deter ela, não!
— Mas você acabou de detê-la...
— Eu detive pra cobrar a dívida da vez que você me defendeu lá no rolê punk quando eu ia tomar uma garrafada na cara lançada por aquele metaleiro neanderthal. Você salvou meu rosto de uma cicatriz pra vida toda e eu acabei de salvar sua cabeça de ser rachada!
— Minha nossa, mas que mocinha violenta! – Amber se aproximou, parecendo preocupada. – Porém, deter violência com violência não é a solução!
— Não é porque você não viu o que essa mulher pode fazer quando está movida pelo ódio por alguém!
— Não podemos deixar Scarlet aqui. – Igraine se aproximou. – Ela...está bem, não está?
— Claro. Daqui AP ouço ela acorda. - Cruello se virou para Merri. – E se você tem amor á ao que tem no meio das tuas pernas, tá na hora de vazar. Igraine, onde eu posso colocar essa doida?
— Hãn...no meu quarto, vamos pro meu quarto. Ela pode ficar lá!
  Os dois subiram em direção ao quarto, sob o olhar e cochichos dos demais presentes no local.

~*~

   A jovem vestida toda de preto chorava copiosamente na poltrona. Ela tentava secar os olhos com os lenços de papel, mas eles saíam pretos, pelo tanto que suas lágrimas faziam com que a maquiagem escura em volta de seus olhos saísse e escorresse por sua face, lhe deixando com uma aparência péssima. Do seu lado, um jovem Cruello de moicano, com uma fita métrica jogada nos ombros, parecia nervoso sem saber como agir para consolar a amiga. Nunca a vira assim. Scarlet era uma garota forte, debochada e agressiva, como uma “gótica clichê” então vê-la ali chorando fragilizada era algo anormal.
— Vamos, Scarlet. Pare com isso! Ele não merece suas lágrimas!
— Aquele canalha! Desgraçado! Esquerdomacho maldito! – ela assou o nariz. – Como ele pôde?! Depois de ter se declarado pra mim, de termos ido pra cama, de ter falado que queria que eu fosse mãe dos filhos dele...ele me apronta uma dessas?!
— ...o que ele disse mesmo...?
— Que não estava preparado para assumir um compromisso sério! Que ele ouviu qualquer baboseira como  “chamado da existência”, “chamado da natureza” ou qualquer merda assim!
— Bom, o Merri sempre teve esse lado mais natureba e libertário...lembra da vez que ele largou o colégio por seis meses e foi para um retiro meio budista no meio da floresta ao ponto de meditar embaixo da cachoeira? E teve aquela vez que ele...
— Ele não quer compromisso algum exceto “lutar pelo futuro do planeta para seus descendentes”!  Mas ele mesmo admitiu que não imagina tendo responsabilidade para cuidar e se firmar com ninguém! Que ele é a porra de um espírito livre em busca da elevação! Você tem noção disso?! – ela gritou. – Aquele broxa desgraçado, saiu pela porta dizendo “Eu sou um espírito livre! Não me siga!”
   Cruello suspirou, tocando o ombro de Scarlet em forma de solidariedade. Não sabia como era levar um “fora” de alguém, pelo menos não de alguém com quem tivera algum envolvimento sério. Nunca tivera nenhum envolvimento sério do tipo e pretendia continuar assim. Até porque...a única pessoa que havia lhe despertado interesse de algo concreto, decidira não lhe ligar.
  E lembrar-se daquilo o irritou. Por que aquela caipira não ligou para ele? Havia registrado seu número no celular dela, e a garota havia ficado obviamente e claramente interessada nele. Havia até feito uma proposta para ela quando se encontrassem, estava disposto a arriscar uma loucura e abrir mão de todo o legado social Devil. Mas, pelo visto, esse não era mesmo o seu destino.
   A porta foi aberta como se um furacão irrompesse no local e ambos viraram-se com um sobressalto. Cruella Devil surgiu, trajando um escandaloso vestido repleto de plumas acompanhado por um casaco de peles e uma bota de salto e cano longo de fazerem inveja a drags. Havia tanta maquiagem no rosto dela que mais parecia uma boneca de cera e seus cabelos estavam presos em um complexo arranjo. Ela mantinha uma piteira em uma das mãos, dando uma tragada e espalhando fumaça pela boca e nariz.
  Logo atrás dela, vinha um rapaz cabisbaixo de cabeça quase inteiramente raspada em estilo militar, metido em um terno. No primeiro momento, Cruello e Scarlet pensaram que o homem era um dos vários serviçais que Cruella Devil tinha. Mas quando perceberam, apenas arregalaram os olhos.
  Aquele não era um serviçal. Era Alfred. Cruella Devil conseguira raspar os cabelos dele e metê-lo em um terno. Quando ele olhou para os dois amigos, estes souberam que era melhor não dizer nada por enquanto.
— O que você está fazendo ai parado, Christian?! – ralhou Cruella avançando para o sobrinho. – Já terminei de bordar as pedrarias no vestido que te mandei?
— E-eu...
— VÁ LOGO E... – ela recuou em um misto de surpresa e nojo ao ver Scarlet. – Mas que situação deplorável é essa?!
  Scarlet mantinha os olhos borrados e arregalados, sentada encolhida na poltrona e apertando um lenço, parecia um panda.
— Que horror! Por que está desse jeito?! É um imenso mau-gosto! Olha essa maquiagem! Até uma criança de cinco anos se maquia melhor!
— T-tia...a Scarlet...ela está...chorando...
— Chorando?! Chorando por quê?
  Scarlet não conseguia falar, ainda mais com o olhar inquisidor de Cruella DeVil. Percebendo que se demorasse muito para Scarlet falar ela certamente levaria um tapa (pois se tinha algo que Cruella DeVil não admitia era ficar sem resposta quando fazia uma pergunta direta), Cruello se prontificou e contou, de forma rápida e resumida, o acontecido. Ao final de seu relato, Scarlet permaneceu cabisbaixa enquanto Cruella encarava a garota com o rosto tão expressivo quanto uma estátua.
  E então o tapa veio. Não um, mas uma sequência de chacoalhões. Chacoalhões que Cruella desferia em Scarlet que no primeiro momento não entendia o que estava acontecendo mas logo tentou se proteger como podia, mas sentada ali e incapaz de se levantar, não conseguia se proteger de forma muito efetiva.
— Ti-tia o que está fazendo?!
— Pare com isso, menina! Te orienta! Ficar chorando por peguete?! E daí que o peguete te largou?! Foi livramento! Entendeu?! LI-VRA-MEN-TO! Agora toma vergonha nessa cara, está com a maquiagem borrada, um horror! Te deixa pior ainda, parece um amontoado de derrota!
— Tia, a senhora está pegando muito pesado com ela...
— E calado você também! Tá mais do que na hora de você tomar uma atitude e agir como o Devil herdeiro que precisa ser! Onde já se viu, ficar criando expectativas por uma garota simplória que mal conheceu?!
— Do que você esta falando?!
— Não se faça de sonso!
  Cruella largou Scarlet e atravessou a sala até a mesa repleta de papéis e canetas. Vasculhou ali e pegou uma pequena caderneta nas mãos, a mostrando como se fosse a prova de um crime.
— Aqui! Nessa sua caderneta, eu vi!
  Ela folheou a caderneta de forma agressiva, mostrando o que parecia ser um retrato de uma pessoa feito a lápis.
— Fica perdendo tempo pensando em uma garota qualquer! Onde já se viu?! Um Devil apaixonado! Amor é a morte do dever, seu palerma!
  Ela lançou a caderneta contra Cruello, o atingindo em cheio no nariz.
— Você quer gostar de alguém além de si mesmo? Pessoas como nós não podem se deixar levar por sentimentos levianos porque assim pessoas oportunistas podem se aproveitar de nossas posses e nos adestrar!
— E-eu...eu não estou apaixonado!
— Mas  está perto de estar! E eu não vou permitir isso! Não agora que você está sendo o herdeiro da Devil’s! Mas nem morta!
  Cruello fechou os punhos com força e tomou coragem para falar.
— Tia, você pode me controlar na questão profissional, na questão da herança, mas da minha vida pesso...
— Você quer mesmo falar isso e arcar com as consequências?
  Um silêncio sombrio pairou no recinto quando Cruella fez aquela pergunta, não da forma agressiva e alterada que vinha falando até então. Era de uma forma que soava não apenas ameaçadora como homicida.
— Você será o único Devil da primeira linhagem da família que irá sobrar quando eu me for. NÃO VOU deixar que você manche ou abdique a Família!!!
— Eu não...
— Calado! Eu falo e você escuta! Veja! – ela apontou acusadoramente para Scarlet sentada na poltrona. – É desse jeito que você quer acabar ficando?! Chorando feito uma criatura derrotada por causa de um amor falido?! Quer ser traído e ficar se lamentando pelos cantos? Ser enganado e afogar as mágoas em comidas gordurosas? Que tenha um rebento e precise pagar uma pensão caríssima e ainda obrigações, ainda que mínimas com a cria?! Um dia, obviamente, precisará ter um herdeiro, mas não agora e não em um futuro próximo e eu vou garantir que esse deslize você não cometa com nenhuma meretriz golpista!
  O rapaz instintivamente levou a mão em sua intimidade, como se a protegesse. O que Cruella Devil faria era uma pergunta que ele até tinha medo de fazer e saber a resposta.
  Cruella  apagou a bituca do cigarro no cinzeiro e prontamente acendeu outro. Tossiu algumas vezes antes de dar a primeira tragada e liberar a fumaça pela boca e nariz.
— Parece que vou ter trabalho em dobro com vocês. Não poderei obter resultados perfeitamente satisfatórios profissionalmente com vocês sem consertar os desvios de personalidade e ideais que possuem. Tudo bem. Este é mais um trabalho que terei que arcar. E se eu terei que despender meu precioso tempo endireitando vocês nos moldes corretos de pessoas da alta elite londrina, eu farei! Os três, lado á lado na minha frente...AGORA!
   Eles prontamente obedeceram. Cruella observou cada um com olhar reprovador.
— Vou treiná-los, digo, ensiná-los a serem pessoas respeitáveis e invejadas. Para você. – ela falou, apontando para Alfred. – Você, que não tem vontade de aprender a fazer nada, vai aprender a fazer tudo com perfeição! Um verdadeiro “pau pra toda obra”!
  Ela olhou para Scarlet, que tentava limpar a maquiagem borrada do rosto com um lenço.
— Você, eu irei transformar em uma mulher empoderada. Não tanto quanto eu, obviamente, mas será uma mulher toda fabricada para causar inveja nas outras, exalando autoconfiança para usar os machos e tirar deles o que for útil. Vai trabalhar na Devil’s e ser uma workaholic e uma empresária altamente feroz capaz de andar o dia inteiro com salto 15 sem perder a pose! E engole esse choro!
  Cruella parou diante do sobrinho, olhando-o em silêncio de cima a baixo por alguns segundos que pareceram ao rapaz como se estivesse sendo avaliado por um jurado de concurso.
— Você será um Devil da mais alta qualidade. Não profissionais medíocres como seus pais, mas um vencedor como eu, como sua avó, como os antepassados mais importantes que estão na árvore genealógica principal da família Devil! Com talento, capacidade, beleza, requintado, classe, orgulho, soberba, liderança, agressividade e sem essas babaquices sentimentalóides de “amor” por camponesa com tranças de ordenhadora de vacas! Você vai ter amor pelas suas criações, pela Devil’s, pela linhagem da sua família, pelo seu trabalho e principalmente para si próprio! – ela agarrou o rosto dele. – Essa beleza toda, com os melhores genes Devil precisa ser enaltecida, precisa ser invejada, precisa ser exibida! O legado da divosidade Devil precisa ser mantido. E eu farei com que seja exatamente o que quero que seja, entendeu?!
  Os três apenas concordaram, ainda que de forma receosa.

~*~

— Pronto, coloca ela aqui na cama.
  Igraine tirou as almofadas e bichos de pelúcia que estavam sob sua cama, colocando-os na poltrona ao lado. Cruello depositou uma Scarlet adormecida, aproveitando para cobri-la um pouco com o edredom.
— Não seria melhor acordarmos ela? – Igraine sussurrou, preocupada. – Posso pegar um pouco de água com açúcar e você acorda ela. Mas nada de estapear ou chacoalhar! E acho que devo pegar uma pomada para passar na nuca dela também e...
— Calma, raposinha. A Scarlet está bem. Não precisamos acordar ela, logo ela acorda. Mas por enquanto é bom que ela descanse um pouco. O melhor mesmo é garantir que o Merri e o resto daqueles ativistas imbecis lá vão embora antes de ela acordar.
  Cruello lembrou que entre os ativistas estavam os pais dela. Mas como se Igraine percebesse que ele havia se lembrado, ela tratou de adiantar.
— Tudo bem. Apesar de achar errado a generalização que você faz sobre os ativistas, em se tratando de extremos como os meus pais, não tenho como negar.  – ela suspirou. – Bom, o que fazemos agora?
— Vou ligar para o Alfred vir buscar essa doida aí. – ele indicou Scarlet.
  Enquanto Cruello fazia a ligação, Igraine observou a mulher adormecida, se recordando do que havia acontecido há poucos minutos em sua sala. Sabia que Scarlet era uma pessoa agressiva e assustadora, vira isso naquela vez em que fora com ela para resgatar Cruello das garras da ninfomaníaca da Charlene. Mas chegar ao ponto de quase matar um ex era algo bem...assustador. Mas também, o término deveria ter sido bem traumático.

  “Assim como o Cruello, Scarlet também esconde muito do que realmente sente e canaliza isso em forma de raiva ou pitis...Acho que os dois precisam de uma terapia.”

 Igraine suspirou. Por que, em poucos meses, sua vida havia se tornado tão caótica? Bom, ela sabia bem o motivo. E estava tentando expor isso com Cruello quando foram impedidos pela chegada de seus pais e toda aquela cambada de ativistas. Olhou para DoisTons que estava na caminha protegendo um pequeno Fofucho adormecido. A vida para os animais eram muito mais fáceis.
   Se bem que...não entendia como DoisTons poderia ter engravidado sendo que sempre tomara muito cuidado quando ela entrava no cio e só não a castrara porque pretendia, quando fosse o momento, apresentar um possível companheiro para ela. Como uma coisa daquelas podia ter acontecido?
— Pronto, já pedi que Alfred viesse imediatamente. Logo ele deve estar aqui pra levar Scarlet.
— Levá-la para onde?
— Ainda vou pensar. – Cruello colocou ambas mãos na cintura. – Não sei se é uma boa ideia deixar ela sozinha na casa dela, talvez eu mande o Alfred levar ela pro meu apartamento e aí a gente fica por lá pra garantir que ela não saia perseguindo o Merri.
— O que aconteceu entre eles?
— História enrolada. Ele foi um babaca com ela, mas a Scarlet foi uma tola também, na época. Jovens...todos nós fazemos nossas burradas.
— Você certamente fez muitas.
— Com certeza. Mas valeu a pena, foi experiência de vida, afinal. – ele suspirou. -  Mas Igraine, voltando ao assunto que estávamos...
  Igraine fez um sinal com a mão para que ele se calasse.
— Agora não. Scarlet está desmaiada aqui e eu preciso ficar lá embaixo porque preciso ficar de olho na bagunça que eles estão fazendo.
— Vou com você.
— Não acho que seja prudente deixar Scarlet sozinha...
Ouviram um gemido e olharam para trás.
Scarlet Medusa abriu os olhos devagar e olhou ao redor, procurando voltar aos poucos a consciência e tentar entender onde estava. “Um quarto de adolescente?”  e por um momento chegou a pensar que ainda era ela uma adolescente e aquelas lembranças haviam sido recentes.
  Mas logo percebeu que não eram lembranças recentes, tampouco estava em seu quarto ao ver o tanto de tranqueiras de aparência fofa nas prateleiras,  almofadas, um guarda-roupa com adesivos colados, bichinhos de pelúcia e uma decoração delicada e aconchegante. Ah e havia a colcha em que estava deitada, em um tom rosa que parecia pertencer a uma menina princesinha. Ela fora o oposta na sua adolescência: a gótica esquisita que tinha caveiras no lugar de ursinhos de pelúcia e estátuas bizarras no lugar de brinquedos Disney.
  Ouviu um barulho esquisito e olhou ao redor. Ouviu novamente o grunhido e se inclinou um pouco para baixo, notando em um canto próximo da cama, uma caminha de cachorro onde um filhotinho curioso a olhava de volta.
— Ah, que bom que acordou, Scarlet! – o rapaz começou. – Mas o que diabos deu em você?
— Não enche... – ela esfregou a nuca. – Me diga que eu consegui estourar a cabeça dele.
— Credo, Scarlet! Como pode querer tirar uma vida assim?
  Ela lançou um olhar mortífero para Igraine, mas a resposta de Cruello a impediu de responder.
— Não conseguiu porque eu te impedi.
— Porque fez isso, seu besta?! Você sabe da minha história com aquele energúmeno!
— Não vale a pena você perder seu réu primário com ele, criatura. Guarde isso para um momento mais importante! Tipo, como eliminar alguu desafeto que tente prejudicar a Devil’s.
— Mas eu não posso simplesmente deixar isso pra lá!
— Scarlet você...ama o Merri?
— NÃO! – a morena respondeu de imediato á pergunta de Igraine. – Deuses me livrem, estou livre dessa maldição há uma década! – ela suspirou. – Mas o fato de eu já não querer mais nada de relacionamento com o Merri, não significa que eu não queira puni-lo! Madame Cruella DeVil me ensinou a não me deixar ficar na fossa por nenhum paspalho e me vingar deles de forma violenta assim que eu tiver oportunidade!
   Batidas na porta e em seguida Nanny surgiu, com o semblante preocupado.
— Igraine...desculpem incomodar vocês mas...está um tremendo alvoroço lá embaixo, é muita gente e eu não dou conta de pedir que eles façam silêncio até porque seus pais são os que fazem mais barulho e justamente eles é que estão sendo os organizadores de todo aquele pessoal lá! E bom, acho melhor você ir falar com eles.
— Nanny, você sabe que meus pais não ouvem ninguém além deles mesmos! E me ouvir é algo que eles nunca fizeram e não é agora que começarão a fazer!
— Mesmo assim é bom que você faça alguma coisa...querendo ou não essa casa é muito mais sua do que deles. - Nanny colocou as mãos na cintura. – E já é noite, daqui a pouco aquela fofoqueira da casa da frente pode acabar ligando pra polícia dizendo que estamos com barulho excessivo e essa mania de seus pais andarem pra lá e pra cá com um monte de ervas supostamente medicinais pode acabar nos colocando em uma tremenda encrenca!
   Igraine suspirou em um misto de raiva e cansaço.
— Eu não tenho um minuto de paz nesse carralho!
  Saiu do quarto e os três puderam ouvir os passos pesados dela descendo as escadas, trocando olhares entre si em seguida.
— Eu vou lá embaixo. – avisou Nanny, pois sabia que quando Igraine falava palavrão era porque estava muito nervosa e isso era algo raro.
  Estando sozinhos no quarto, Cruello e Scarlet ficaram em silêncio, observando o pequeno Fofucho mamar gulosamente nas tetas da dálmata DoisTons.
— ...é esse bicho que você ajudou a parir e que Igraine alega que você é o padrinho?
— Sim...digo, não! Eu acabei ajudando no parto, mas eu, padrinho de nicho? Jamais. Essa coisinha aí só sabe chorar, comer e cagar.
— Eu não sou muito chegada a bicho, mas ele até que é bonitinho. E parece que está começando a nascer manchinhas...
— Onde?
  Cruello se aproximou para ver, mas logo se afastou.
— Chega! – falou para si mesmo. – Eu não vou ficar perdendo meu tempo com isso! Vou descer e a senhorita trate de ficar aqui! Não tente fazer mais nada por impulso!
— Desde quando eu fiz algo por impulso na minha vida?
  Cruello encarou Scarlet com deboche de obviedade.
— Tá me tirando, né? Enfim, fica aí descansando.  Não quero te trancar aqui como aquela vez no closet do meu apartamento. Volto já!
  Assim que ele saiu, fechando a porta atrás de si, Scarlet suspirou irritada e olhou ao redor. Precisava urgentemente se focar em qualquer outra coisa senão desceria ali para tentar terminar o serviço que viera fazer. Caso contrário, pegaria qualquer objeto por ali que pudesse servir como arma para descer as escadas e agredir não apenas ele, mas qualquer pessoa que a tentasse impedir de agredi-lo.

~*~

  Quando voltou a sala, Cruello percebeu que todos os ativistas presentes pareciam apressados e levemente alterados. Notou Merri ajeitando sua enorme mochila de viagem, a expressão transtornada no rosto. Braun conversava com ele, colocando a mão em seu ombro, parecendo pedir que ele se acalmasse e pensasse melhor, mas o grande ruivo dizia que não e era melhor partir.
  As demais pessoas conversavam entre si em uma velocidade e concentração sobre o que deveria fazer e levar e Javier estava entre eles, mas quando viu Cruello e Igraine descendo as escadas, cutucou Amber e os dois se aproximaram do casal.
— O que vocês fizeram com aquela mulher?
— Colocamos ela no meu quarto. Ela está bem.
— Oh... – Amber pareceu forçadamente apreensiva. – Estava comentando com todos aqui e ficamos realmente muito chocados com tamanha demonstração de ódio e violência vindo daquela mulher. Ela queria realmente matar o Merri!
— Ah matar, não. – Cruello fez um sinal de desdém com a mão. - Só feri-lo de forma violenta com danos irreversíveis.
  Amber olhou horrorizada.
— Mas violência nunca é a solução para se lidar com as coisas!
— Não vamos começar com esse tipo de assunto, por favor! – Igraine se colocou entre os dois. – Temos coisas mais importantes para...
— Sim, obviamente. Estava eu aqui conversando com Javier e os demais membros do nosso grupo acerca do que quase aconteceu com nosso querido Merri. – Amber falava de forma pausada, como se explicasse algo a uma criança. – Ele está muito abalado com o que aconteceu e está querendo partir imediatamente. Estamos tentando acalmá-lo e tranquilizá-lo que ele não precisa tomar essa atitude tão súbita e que no momento certo iremos partir todos juntos para nossa missão de proteger a floresta amazônica, mas ele está irredutível! Seu pai está conversando com ele, mas o Merri é uma pessoa muito sensível e está realmente querendo ir embora imediatamente por sentir-se culpado e com medo.
— É plausível. Estranho seria se não estivesse... – Cruello sussurrou.
— Igraine, fale com ele. – Amber pegou as mãos da filha entre as suas em tom de súplica. - Diga para ele se acalmar, convença-o a ficar aqui conosco até a hora de partimos. Precisamos estar todos juntos quando chegarmos na Amazônia para ajudar a aplacar o incêndio, fazer os resgates e protestar contra os fazendeiros!
  Cruello revirou os olhos e se afastou. Ter que ouvir toda a ladainha dos pais de Igraine para provar seus argumentos supostamente irrefutáveis (na opinião deles) era exaustivo demais. Olhou o celular, acompanhando o caminho que Alfred estava percorrendo e quantos minutos levaria até chegar á casa. Olhou para Igraine que continuava ouvindo o que sua mãe dissertava daquela forma irritantemente calma. Era incrível como ela aguentava aquele falatório de alguém irredutível nas próprias convicções. Se fosse ele já teria mandado aqueles dois de volta pro meio da savana africana.
  Observou Igraine ouvir a mãe, mas mantendo os braços cruzados junto ao corpo. Ela não estava nada confortável com aquela situação – também pudera – ninguém minimamente normal estaria. Mas tinha de admitir que Igraine possuía uma incrível capacidade de vestir uma máscara em determinadas situações estressantes. E ela ficava bonita também daquele jeito, a fazia parecer...mais madura.
  Bem diferente da caipira que havia conhecido há mais de dez anos atrás.
— É incrível, fenomenal, raro!
  “Sim, com certeza ela é...mas quem...?”
  Saiu de seus devaneios e olhou para trás, notando que cerca de três ativistas (um deles sendo Javier) pareciam muito interessados em um determinado ponto da parede. Apurando melhor a visão, Cruello percebeu que eles murmuravam entre si para o que parecia ser uma espécie de mosquito
— Incrível! Sem dúvidas é um espécime raro!
— Com certeza, não parece com os mosquitos nativos aqui do país. Ainda mais se tratando de uma região urbana como a que nós estamos!
  Uma revista enrolada em forma de canudo surgiu subitamente e acertou em cheio o mosquito na parede, deixando os três em choque. Encararam Cruello, que mantinha-se altivo, a revista em mãos.
— O que foi? Era só um mosquito! Raro, coisa nenhuma, poderia até ser transmissor de doenças tipo dengue!
— Você... – Javier começou. – Estávamos debatendo sobre que tipo ele era e você destruiu o espécime! Sabia que poderia ter causado um colapso no ambiente?
— Quem está dando colapso no ambiente dessa casa são todos vocês fazendo alvoroço aqui e agindo como se esse lugar fosse o bunker ecológico de vocês!
— Estamos aqui para nos reunir a fim de partimos em uma importante...
— Não me interessa! Estão é há tempos demais nesta casa, xô!
— Você não é o proprietário daqui!
— Mas eu namoro com a proprietária e tenho muito mais autoridade do que qualquer um de vocês!
— Como pode destruir uma criatura dessa forma?
— Era só um mosquito!
— Cruello Devil. – começou Javier. – Como pode ser uma pessoa tão cruel, tão..
— Cruel sim, com muito orgulho. Sou um Devil! – ele apontou a revista enrolada em forma de canudo para Javier. – E pensa bem antes de falar seu...metrossexual ousado e talarico metido a ambientalista!
    A campainha tocou, mas foi ignorada nas duas primeiras vezes, afinal todos ali estavam muito ocupados. Mas a campainha tocava tão insistentemente que foi Cruello quem se adiantou e abriu a porta com violência. E ao ver quem estava ali, ele fez uma cara de entojo.
— Cruello Devil?
— Patrick Star.
  O jornalista ajeitou os óculos de armação roxa com uma das mãos, pois a outra segurava um pacote de ração de cachorro. Atrás dele estava o dálmata Romeu, parecendo acanhado.
— Era só o que me faltava! – Cruello colocou uma mão na cintura enquanto com a outra segurava a maçaneta. – Tá vindo aqui por causa do barraco?
— Barraco? Não estou sabendo de nada! – ele espichou o pescoço para ver o que acontecia na sala. – É impressão minha ou está rolando uma romaria aí?
— Só se for a romaria dos ativistas malucos. Mas o que diabos você quer?
— Preciso falar com sua namorada. Isso é, se ela ainda está se sujeitando a relacionar-se com você.
  Cruello estreitou os olhos.
— Não há nada de útil vindo de você para que Igraine precise ouvir! Ou acha que eu não sei que você tentou envenenar a Igraine contra mim naquela vez do ensaio da Devil’s?!
— Não sei do que está falando.
— Mas é mesmo muito hipócrita!
— Hipócrita é você, seu estilista mimado! Se acha o tal só porque comanda uma empresa estabilizada há anos por Cruella Devil e seus sócios acionistas. Nunca precisou conquistar nada por seu esforço próprio, ganhou tudo de herança.
— Se eu estou no comando da Devil’s é porque EU MERECI!
— O que está acontecendo aqui?
— Apenas mais um motivo para estresse. Apenas bata a porta e ignore.
  Igraine ignorou Cruello e se aproximou, estranhando ao ver Patrick.
— O que está fazendo aqui?
— Não dê trela para ele. – resmungou Cruello.
— Olá, senhorita Igraine. Eu estou aqui junto com o Romeu porque tenho um assunto muito sério para tratar contigo.
— Sobre o quê?
— Acho que já estamos tratando de coisas demais no momento. – Cruello se interpôs. – Quando Igraine estiver desocupada e sem nada melhor pra fazer, entraremos em contato com você.
  Ele tencionou fechar a porta mas Patrick colocou o pacote de ração na frente, impedindo-o.
— O assunto que tenho a tratar com ela e não com você! E diz respeito á cadela dela.
— Está chamando Igraine de cadela?!
— Não, seu beócio! Estou falando da cachorra que ela tem! E do rebento que ela pariu!
— Era só o que me faltava! Primeiro vivia me perseguindo, agora  além de ficar monitorando a vida da Igraine, quer monitorar a vida dos bichos dela?! Não tem mais o que fazer, não?
— Tenho sim e arco com responsabilidades que me são devidas! Ao contrário de você!
— Parem de discutir na porta, vocês dois! Estão chamando a atenção dos vizinhos!
  Mesmo a contragosto de Cruello, Igraine cedeu passagem para que Patrick entrasse, puxando seu dálmata Romeu pela coleira.
— O que é esse tanto de gente na sua sala?
— Longa história...muito bem, o que você quer?
— Precisamos conversar seriamente sobre a paternidade do filhote. E estou aqui me disponibilizando, como avô de pet, a arcar com uma pequena pensão.
—....hãn...? Do que você está falando?
— Como bem sabe, eu sou um jornalista extremamente renomado e um pai de pet muito responsável. – ele ajeitou a gravata borboleta que usava. – E obviamente não iria ignorar as responsabilidades que devo ter.
— Olha, eu confesso que não estou entendendo o que você...
— Meu cachorro engravidou a sua cadela!
  Patrick falara aquilo como se estivesse revelando a fofoca da semana do mundo dos famosos.
— Como é que é?!
  Diante da expressão surpresa do casal, Patrick puxou o celular do bolso, acionando algumas coisas.
— Eu tenho uma câmera de vigilância no meu quintal por segurança em caso de rivais e inimigos – ele olhou rapidamente para Cruello. – Que podem tentar me prejudicar invadindo minha casa e me fazendo de refém por eu ser um jornalista inteiramente comprometido com a busca pela verdade e disseminar informações e provas irrefutáveis. Enfim...ontem mesmo, verificando as gravações das minhas câmeras de vigilância, algo que faço de tempos em tempos antes de apagar caso não tenha nenhum registro relevante, me deparei com isto aqui, ocorrido há alguns meses atrás. E nele está sua cadela, Dois Tons flertando com o meu Romeu e em seguida ambos partem para o coito!
— O quê? Minha DoisTons? Ela é uma cachorra casta, pura e pudica!
— Ah, não é não. – Cruello interveio. – Se fosse, não teria parido um filhote.
— Não foi dessa forma que eu me referi!
— Se tem dúvidas, posso lhe mostrar as provas em vídeo! – Patrick sacou um celular do bolso.
— Espere, Merri! Não vá embora!
  A voz trovejante de Braun fez todos olharem em sua direção. Ali no meio da sala, Merri estava em pé o braço esticado na direção do grande ruivo, que já colocava a grande mochila nas costas.
— Não posso ficar aqui, mestre. Não quero que minha presença se torne um incômodo e desperte sentimentos tão ferozes e selvagens em outras pessoas. Sou alguém que busca a paz e não quero que a paz de um ambiente e de pessoas por quem tenho uma grande estima, sejam prejudicadas pela minha existência falha.
— ..minha nossa, esse cara usou umas drogas, não?
— Nem. – Cruello respondeu ao comentário de Patrick. – Isso é ele ao natural.
  Merri respirou profundamente, diante da apreensão de todos seus colegas, seus irmãos de alma. Passou por Cruello, Igraine e Patrick e saiu da casa. Mas, assim que desceu o pequeno lance de degraus, ele olhou para cima e exclamou, os braços abertos.
— SCARLET!!! Peço perdão por ter lhe despertado sentimentos e rancores tão negativos! Meu desejo sempre foi a sua felicidade e eu, ser humano falho como sou, não consegui suprir as expectativas e necessidades que você exigia de mim! Sempre irei levar em meu coração e em minha memória, as doces lembranças de nossa juventude que nem mesmo uma tentativa de homicídio pode abalar! Mas agora, em prol de proteger a natureza deste mundo para o futuro de nossos futuros filhos, eu irei partir!
  Um vaso de plantas voou da janela e por pouco não atingiu Merri. O vaso se espatifou no chão e, da janela, surgiu Scarlet.
— VÁ PRO RAIO QUE O PARTA!
— Mas, Scarlet...
   Outro vaso foi lançado em sua direção e ele desviou por um triz.
— Pare de jogar as minhas plantas pela janela! – gritou Igraine indo até a calçada.
  Scarlet já tinha outro vaso em mãos, mas ao ver Igraine se deteve.
— Manda esse daí ir embora senão eu vou usar todos os vasos aqui como munição! Se ele gosta tanto da natureza, vou enfiar natureza nele! E não estou blefando!

~*~

   No fim das contas, Merri partiu antes que a polícia civil fosse acionada pelos vizinhos devido a perturbação da paz que estava ocorrendo ali na rua. Os demais amigos (ou, como diziam Braun,  “irmãos de alma” haviam partido junto com Merri, a fim de adiantarem o que quer que eles estivessem precisando adiantar antes da partida. Cruello julgava que na certa tentariam viajar de clandestinos, mas achou melhor não comentar sobre o caso, até porque os pais de Igraine continuavam lá na casa.
  E não apenas eles: ainda havia Patrick Star ali na sala, observando tudo e na certa obtendo diversas informações para fazer mais alguma de suas matérias sensacionalistas de fofoca e pior: agora alegando que tinha alguma responsabilidade no filhote da cadela de Igraine. Como se quisesse criar qualquer tipo de motivo para que pudesse se enfurnar na sua vida através disso.
  E claro, ainda tinha uma Scarlet visivelmente estressada na qual qualquer movimento brusco ou palavra mal dita poderia desencandear nela um novo rompante, de modo que ele achou mais prudente mantê-la no quarto de Igraine. Enquanto Scarlet ficasse ali no celular espalhando discórdia em grupos nas redes sociais, estaria tudo bem até que Alfred chegasse. Aliás, Alfred estava demorando mais do que o normal, já era para ele estar ali.
  Cruello puxou o celular para verificar no aplicativo. Porque diabos Alfred estava nas proximidades da ONG?
  Suspirou, voltando a guardar o celular no bolso no momento que as notificações começaram a pipocar em sua tela. Emails, mensagens das redes sociais, cobranças, pedidos... provavelmente passaria a noite e boa parte da madrugada tentando responder tudo. Isso sem falar dos desenhos que precisava começar a desenvolver para aquela coleção comemorativa, bem como os trajes que teria que costurar e modelar para só então passar ao resto da equipe de estilistas.
  Haveria muito trabalho a ser feito, muita coisa que em breve tomariam um bom tempo. De modo que tinha de resolver o que precisava logo pois se deixasse para depois, seria não apenas mais demorado quanto mais arriscado.
   Precisava fazer alguma coisa. Mas o quê?
  “ O que minha tia faria numa situação dessas?”
  Desistiu. Não...Cruella Devil NUNCA ficaria em uma situação minimamente parecida com a dele.
 Viu Igraine dizer a Patrick Star que iria pegar algo na cozinha e aproveitou para segui-la.
— Igraine, precisamos conversar.
  A jovem parou de colocar água na jarra e o encarou, visivelmente cansada e emburrada.
— Ah, Cruello. Agora e de novo?
— Não acho que terminamos a conversa que tivemos horas atrás no seu quarto.
— Mas eu acho que sim. Mesmo tendo sido interrompidos acontece que... – ela suspirou.-. Olha só tudo o que está acontecendo hoje! Minha cabeça vai explodir e eu também.
— Peraí! O fato de seus pais malucos estarem aqui com um monte de gente, inclusive o Javier, não tem nada á ver comigo!
— E a Scarlet vindo aqui e quase cometendo um homicídio na minha sala?!
— E eu lá ia imaginar que a Scarlet ia tentar matar o Merri e que o Merri estaria na sua casa?! E que até o Patrick Star ia aparecer dizendo que o cachorro dele é pai do filhote da tua cadela!
  Igraine tentou retrucar, mas desistiu. 
— Certo, se você quer continuar a conversa, vamos lá. Não tá dando mais para continuarmos com esse relacionamento não porque eu não gosto mais de você mas é que...olha bem! Além das nossas diferenças, a gente não consegue ter momentos como um casal minimamente normal!
— Se a gente não está tendo é porque não estamos tendo tempo!
— E por que será que não estamos tendo tempo, hein?
— Ora, porque toda hora é alguma interrupção!
  Calaram-se.
— Minha vida sempre foi movimentada e agitada. – Cruello continuou. – Mesmo antes, quando eu era Devs. E aumentou depois que me tornei Cruello Devil, porque obviamente...
  Igraine o encarou com o cenho franzido. Por que diabos eles ás vezes ficava se referindo como se fosse outra pessoa?
— Eu não tenho como evitar isso porque sou  a figura principal da Devil’s. Namorar comigo é ter que arcar com o fato de que haverá sempre algumas interrupções.
— Algumas? Cruello, desde que começamos a namorar não tivemos quase nenhum momento de paz. É sempre alguém se intrometendo na nossa vida! Se intrometendo na minha vida, na sua vida, alguma coisa que precisa acontecer, alguma coisa que precisa fazer...é gente dizendo que há uma prioridade a ser resolvida, um problema a ser solucionado, você querendo priorizar sempre a si próprio...
— Ah não, Igraine. Não comece com isso. – ele levou ambas mãos para tapar os ouvidos. – Eu já tenho responsabilidades e pressão demais na minha vida! Não é fácil...
— Pare de bancar o drama king!
  Ele bufou, irritado. Começou a andar pela cozinha como um animal enjaulado e Igraine controlou a vontade de esganá-lo pelo pescoço. Nem ela mesma entendia o motivo de estar tão irritada. Se era por causa de Cruello, por causa de Scarlet, por causa de Patrick Star, se era pela talaricagem de Javier, por causa de seus pais que faziam o furacão quando chegavam, se era por causa de  ou se era um pouco de cada coisa. Sua vida saíra do eixo pacato e até monótono que tinha desde que viera morar em Londres para se tornar uma constante confusão caótica de um universo de pessoas surtadas do cotidiano agitado e polêmico de Cruello Devil.
   Tão absorta em seus pensamentos, ela só percebeu a proximidade de Cruello quando ele lhe envolveu a cintura com um dos braços, aproximando os lábios de seu pescoço. Pensou que ele iria beijá-la e do jeito que estava, Igraine nem iria reagir, mesmo que devesse. Mas em vez do beijo, o ouviu sussurrar.
— Tá á fim de arriscar e cometer uma loucura?

~*~


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Notas finais do capítulo

Ufa, finalmente terminei esse capítulo! Nunca demorei tanto para poder escrever um capítulo de fic. Realmente, essa fanfic já deu o que tinha que dar na minha disposição para ela! Quem é mais próximo de mim sabe o quanto já desabafei, choraminguei e reclamei sobre o bloqueio criativo que passei com ela nessa pandemia. Ás vezes eu ficava tão nervosa de não estar conseguindo escrevê-la e atualizá-la e me preocupava tanto com os leitores que acompanhariam a história e ela estivesse inacabada que tinha vontade até de sumir com ela das redes. Mas enfim, sigo aqui firme e forte e espero conseguir finalizá-la em breve. Por isso, muito obrigada novamente a você que está lendo e acompanhando essa história, favoritando e comentando. Isso me ajuda muito a não desistir e ir ate o fim!
Quero dedicar esse capítulo a minha querida Hime, amiga valiosa e maior apoiadora do Cruello e desta fic. Miga, sinta-se abraçada.
Enfim pessoal, é isso. Deixem seus comentários, sugestões, etc etc. Procurei fazer o meu melhor e espero conseguir não demorar tanto pra atualizar novamente. Me desejem sorte e inspiração!



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