Abro os olhos lentamente, com dificuldade. A claridade que vejo é imensa, mas some após algum tempo. Olho para o lado, tentando entender onde estou. As paredes são azuis, e uma pequena televisão está ligada no canal de esportes. Estou deitado em uma cama não muito confortável, e vejo pessoas entrando e saindo do quarto diversas vezes.

Uma garota está sentada ao lado da cama, olhando para mim fixamente. Seu cabelo está na altura do queixo, e seus olhos estão vermelhos. Não importa o quanto ela mude, eu sempre a reconhecerei em qualquer lugar. Aperto sua mão para mostrar que sei quem ela é.

– Addie... – digo, quase não ouvindo minha própria voz.

– Você acordou – sussurra ela, sorrindo e passando as mãos pelo meu rosto. – Sabia que ia conseguir.

– Onde estou? – pergunto, olhando com dificuldade ao redor. – Por que vim parar aqui?

– Está no hospital. Parece que sofreu um acidente pela madrugada, não sei direito. Estava bêbado, Stuart?

– O quê? Não... - sussurro cada vez mais baixo. Não tenho forças para mexer um músculo sequer. – É uma longa história. Posso contar para você qualquer dia desses se quiser ouvir.

– Sempre vou querer ouvir você – ela se levanta e dá um beijo no meu rosto.

– Aonde vai? – pergunto enquanto ela se aproxima cada vez mais da porta. – Não me deixe aqui, por favor...

– Não vou deixá-lo. Irei avisar a todos que você está bem. Volto em um minuto.

A todos? Então muitas pessoas estão preocupadas comigo? Pelo menos uma vez na vida eu estava tendo atenção, e isso era esquisito.

Alguns minutos depois, Addie volta com Gracie, meu padrasto, minha irmã e um garoto que não reconheço. Todos entram em silêncio, olhando para mim com toda atenção, examinando-me de cima a baixo.

– Stuart, o que você fez? – pergunta May, aproximando-se preocupadamente. – Parece exausto!

– Eu sei, é só... Me desculpe – sussurro para ela, não tendo coragem de encará-la nos olhos. – Olá, mãe.

Olho para Gracie. Ela soluça baixinho, parecendo preocupada. Seus lábios se movem, mas ela não diz nada. Gracie sai correndo, sendo seguida por meu padrasto e por May, que anda devagar para segurar a barriga com cuidado.

O garoto olha para mim. Ele abraça Addie com força, um gesto que o faz parecer ser bem próximo dela.

– Sinto muito por tudo, Stuart – diz ele, acariciando os braços de Addie.

– Quem é você? – pergunto, mais precisamente olhando para Addie.

– Stuart, esse é Harry Thomaz – responde ela, olhando para os próprios pés. – Meu noivo.

Não tive reação ao ouvir aquilo. Addie estava noiva de Harry Thomaz. Como isso foi acontecer? As coisas entre eles estavam tão próximas desse jeito para que eles se tornassem NOIVOS?

E então, me lembrei de quando Tiffany e eu conversávamos. Addie me dissera algo do tipo, e apenas agora as palavras me atingiram com força. Apenas quatro anos depois.

– Sabe, Harry Thomaz veio falar comigo semana passada.

– Hum.

– E ele me pediu em namoro.

– Hum.

– E eu aceitei.

– Ah.

Apenas agora essas palavras me atingiram com a força que deveriam ter atingido antes. Eles estavam namorando há quatro anos. Era um tempo recorde, porque os namoros de Harry nunca duravam mais do que uma semana. Como o relacionamento deles havia durado tanto tempo? Senti inveja, porque o relacionamento deles durava quatro anos enquanto o meu relacionamento com qualquer outra garota não passava de algumas horas. Eu sempre fui inútil, mas apenas percebi isso agora.

Addie olhou para Harry. Ele balançou a cabeça e saiu do quarto, fazendo com que Addie e eu ficássemos sozinhos novamente.

– Noivos? – perguntei, querendo revelar a decepção na minha voz.

– É, eu sei que é muito estranho, mas acabou dando certo.

– Vocês nunca terminaram desde aquele dia? – perguntei, lembrando-me mais uma vez do diálogo e das minhas respostas inúteis.

– Tivemos algumas brigas, mas tudo se encaixava depois. Eu me sinto feliz com Harry. Ele faz com que eu me sinta... Diferente.

Ela deu um pequeno risinho pelo canto dos lábios e sorriu. Peguei sua mão novamente e olhei em seus olhos.

– Fico feliz por você.

– Sério?

– Sério – concordei, não sabendo ao certo se isso era verdade. – Percebi que estou apaixonado por você, mas eu perdi essa guerra há muito tempo. Sei que não tenho mais chances, então tenho que deixar você ir. Minha vida vai se ajeitar de algum jeito, e sei que ainda podemos ser amigos. Eu amo você, e devemos deixar quem amamos partir, porque essa é a prova de um amor de verdade.

Dizer aquelas palavras estava acabando comigo. Eu não queria deixá-la ir embora, mas eu tinha que fazer isso. As coisas poderiam ter sido diferentes antes, mas não foram. Essa é a vida.

Ela me olhou cabisbaixa, com um pequeno sorrisinho nos lábios.

– O que disse? – perguntou ela, voltando seu olhar para mim.

– Que estou apaixonado por você e que...

– Disse que me ama? – perguntou ela, apertando minhas mãos com força.

– Acho que sempre amei você, mas só agora percebi isso.

Addie sorriu, abaixou o rosto e me deu um leve beijo nos lábios. Ela não parecia se importar com o ambiente ou até mesmo com seu noivo. Éramos apenas nós dois, e eu a amava. Isso bastava para mim.

– Eu amo você também – sussurrou ela, sorrindo. – Sinto muito por nunca ter dito isso antes pessoalmente, mas...

– Pessoalmente?

Foi então que as coisas se encaixaram. Eu amo você. Tiffany. Addie. Mas é claro!

– Tiffany? – perguntei, sentindo lágrimas em meus olhos.

Ela sorriu e olhou para o chão.

– Eu não acredito! – falei. – É você! Passei esse tempo todo procurando por você, quando na verdade ela sempre foi... Você!

Ela sorriu.

– Tiffany sempre foi uma amiga para mim. E eu sempre gostei de você, mas tinha medo dos riscos que nossa amizade poderia correr. Se você não sentisse o mesmo, eu... Eu nunca mais seria a mesma. E então, resolvi criar a Tiffany. Sempre conversávamos e isso era incrível, mas depois de um tempo você apenas ligava para ela, e não mais para mim. As coisas na minha cabeça estavam tão confusas, Stuart. Quando você disse que repetiu o ano, me senti mal, porque isso havia sido por minha causa. Decidi que nunca mais conversaríamos outra vez. E foi isso que fiz. Tiffany morreu para mim. Ela nunca mais existiu. Mas eu nunca apaguei as mensagens. São as lembranças mais fortes que tenho de você.

Ela sorriu e me beijou mais uma vez. Addie sempre esteve ao meu lado. Tiffany sempre esteve debaixo do meu nariz, mas eu nunca percebi. Eu estava me sentindo burro agora.

– Posso falar uma coisa? – perguntou ela, e eu concordei com a cabeça. – Eu amo você.

Meu coração acelerou. Eu a beijei tão intensamente, com todas as minhas forças. Eu queria dizer que a amava também, mas minha voz não saiu. Eu não conseguia mexer minhas mãos. Minha respiração desacelerava a cada segundo.

– Eu amo...

Meus olhos foram se fechando lentamente, enquanto diversas imagens se passavam pela minha cabeça. Brincadeiras, beijos, abraços. Momentos. Os momentos mais incríveis da minha vida que eu guardei para sempre comigo. A vida. Antes, eu achava que a vida era um desperdício, mas eu estava errado. Muitas coisas valem a pena na maioria das vezes. Minha vida valeu à pena. Cada momento, até mesmo os erros. Foi com meus erros que reconheci minhas verdades. Os sentimentos se transformaram em momentos. Foi quando descobri quem eu realmente era.

– Stuart, não me deixe! Stuart!

Eu sempre a amei, independente das barreiras que existiram entre nós. A morte não é fácil, mas é momentânea. Ela irá se casar com Harry, e será feliz. Logo se esquecerá de mim, e será melhor assim.

– Stuart, por favor, não...

A morte é rápida. Tudo acaba em poucos segundos.

A vida não é fácil, mas vale a pena no final das contas. E o que vivi sempre será eterno.

Para sempre.