Katrin

Chacoalhei minha mão novamente. Aquela era a quarta e última vez que eu fazia uma sessão de autográfos.

–Ai, pelas fadas do sul!- gritou a garota em minha frente, a última da fila, usando a mitologia que eu criara. Sorri- É a Katrin Viana! De verdade!-ela me cutucou dando enfâse à última frase

–Sim, sou eu.- recebi os livros de suas mãos-Qual seu nome?

–Carmen Schloss- ela dava pulinhos- Sou uma grande fã sua.

–Que bom que gosta dos meus livros, Carmen. Sabe, eles são como filhos para mim.

–Posso perguntar uma coisa?

–Poder pode, mas não te garanto a resposta.

–O Rocket ama realmente a Lyla?

–Talvez.- fiz mistério- Ou talvez ele só queira seu dinheiro.

Carmen torceu seu narizinho de batata.

–Mas, Katrin, eles têm que ficar juntos.

–Eu não sei com quem ela fica, querida.- lhe dei o último livro e me pus de pé-É como se Lyla me contasse sua história.

–Então ninguém sabe com quem ela fica.- suspirou

–Só ela. Tenho que ir agora. Boa leitura, querida!- ela me acenou e eu saí para os fundos da pequena livraria

Pego minha bolsa e corro para fora, só para topar com uma tropa inteira de garotas de todos os tipos-de 2 até 8, já que, por decreto da rainha, dos 4 até os 8, todos tinham direito a cinco livros grátis por mês, tudo por conta do palácio- que aparentemente me esperavam. Depois de sorrir e apertar milhares de mãos, escapei. Logo subi em minha Scoot e arranquei pelas ruas de Atlin. Não que eu não gostasse das minhas fãs, só queria um tempo pra mim.

Passei como um raios pelas ruas, com um objetivo. Era quinta à tarde, um dia antes do sorteio da Seleção do príncipe Arthur. Eu queria ir pra casa, passar um tempo sozinha. Mas poderia ir pra casa de mamãe, não a via há muito. Porém, antes destes, eu tinha outra obrigação.

Eu escrevia sobre Lyla, uma rica fada do Norte-mitologia criada por mim- que vivia dois romances, ambos proibidos: com Rocket, o pobre Arf e Tolston, um elfo. Na verdade, ela devia se casar com uma fada do sul, para unir os dois tipos de fada, mas eles não se amavam. Então ela ficava indecisa o tempo todo. E odiava ficar indecisa. Já eu, só queria essa indecisão pra mim.

Nunca nos meus 20(veja bem:20. A maioria se casa aos 18) anos me apaixonei, vivi uma aventura ou romance. E quanto à indecisão, decido rápido até demais, sem levar muito em conta o contexto. Mas tenho lá meus planos. E esse envolve o romance e o lugar para onde vou.

Paro meu Scoot-uma moto- em frente ao Departamento de Serviços Provinciais de Atlin. Demorei, mas decidi. Entro no lugar com a carta de veludo vermelho na mão. A partir de agora, alguém a mais vai escrever uma aventura. A minha aventura.

Sara

–Que prazer tê-la aqui, Srta. Reynolds!- disse Kurten, o locutor

–Ora Kurten, o prazer é todo meu!- respondo

–Como estão as coisas?- ele devolve

–Ah, Kurt- suspiro- estão normais.

–Qual é, Sara? Você tem 19 anos! Não vai mesmo se...

–inscrever para A Seleção?- completo sua fala, e rimos- Bem...

–Ah, tá bom.- disse Fray, a locutora- Sara, nem cara de anja você tem! Podia apostar que tá de olho no Príncipe Arthur! Coroa à parte, ele é um gatinho.

Eu rio um pouco, mesmo desconfortável.

–Que tal pularmos esse papo? Meu negócio mesmo é a música!- passo a mão nos cabelos, como que num tique. Odeio falar sobre Arthur

–Não pense que escapou, mocinha.- Kurt diz, e Fray pisca- A garota do momento com medo de uma tiara?

–Não sabia que Katrin Viana disse que não ia se inscrever.- brinco sobre a escritora de Atlin. Para mim, ela é a garota do momento.

–Rá-rá.- ironiza Fray- Se é assim, vamos ao que interessa: sua nova música!

–Okay.-digo, colocando o fone e prendendo um suspiro aliviado- Se chama Fairytale. Quando quiser, Kurt.

Ele solta a música . É uma melodia contagiante, da qual me orgulho muito.. Cantei sem desafinar, para receber aplausos de Kurten e Fray. Eu sabia que haviam Cincos melhores do que eu, mas eu não era nenhum monstro cantando. Comentamos um pouquinho, e eles me dispensaram.

Irwen me deu carona para casa. Você deve estar pensando que meu irmão era bem prestativo, mas isso só acontecia quando eu estava disposta a pagar. Chegando, ele parou na garagem.

–Sarinhaaa...- cantou, e eu resetei o maxilar- e minha pequena recompensa?

Seus cabelos negros bagunçados sugeriam uma personalidade bem fora da realidade, mas seus olhos traziam consigo a verdade: ele era frio, aproveitador e chantagista.

–Irwen, você é um imprestável.- bufei, abrindo a carteira

–Somos Dois, mana. Só Um presta menos que Dois.- ele pegou o dinheiro e descemos do carro.

Tinha que concordar: já vira os rostos de Louise, Arthur e Anthony em tabloides-o de Louise mais que o dos outros dois. Mas eu estava falando de meu irmão, e ele realmente não presta.

–Iiiih, vai assistir ao Jornal Oficial?- chiou, e eu queria estrangulá-lo- Já te disse Sara, você nunca vai ver Arthur novamente. Nunca vai ser Selecionada. E ele nunca vai se apaixonar por você também.

Liguei a TV, o ignorando.

A cara de Irwen foi impagável quando disseram que Sara Reynolds fora a Selecionada de Denbeigh.