que ele não sabia, é que elas passavam o tempo todo juntas até demais.

Anne Elizabeth Cairstairs, assim como Danica, fora direto para a biblioteca depois do almoço. Ela se sentara numa mesa junto à Amberly Payne, a professora de Allens, e Calliope Claire, a misteriosa garota das luvas.

"Então, garotas? O que estão achando?", Anne perguntou. Amberly viu nela a mesma energia ativa que seus alunos tinham. Reprimiu uma risadinha.

"Eu estou achando muito... Diferente. Diferente de tudo o que eu já vi.", Calliope respondeu, sorrindo tenramente.

"Sim. Diferente é uma ótima palavra.", Amberly concordou, também sorridente. "Afinal, viver num Palácio com mais de 1200 cômodos certamente é diferente.", as outras duas riram.

"Não para eles.", Anne falou, se referindo à realeza. "Eles fazem tudo o que nós, reles mortais, fazemos em nossas casas, aqui. Comem, dormem, brincam, estudam... Eu não sei se essa vida é pra mim."

"Muito menos eu, sabem? Dava aula para os Seis e Sete. Acabei me acostumando com eles. É como se..."

"Essa vida não tem que servir para todas nós.", Calliope as lembrou. "Para a maioria, isso aqui é provisório. Um mês, no máximo, e pronto, acabou. Só uma vai ficar aqui pro resto da vida."

"Já que tocamos no assunto", Amberly chegou um pouco mais para frente na cadeira, tentando garantir privacidade às três. Conseguiu. ", o que estão achando de Arthur?"

"Ele me pareceu... Gentil.", Calliope disse, simplesmente. Ela se dera bem com o Principe.

"É. Ele parece ser legal. Não é exatamente, hm... o que eu imaginava.", Anne disse, pensativa. Amberly soltou uma gargalhada gostosa.

"Com isso, é claro, você quer dizer que ele não é mimado.", ela virou os olhos esverdeados para Anne, e Calliope arregalou os olhos, segurando uma risadinha.

"Se a carapuça serviu, Am... Quer dizer, posso te chamar de Am?", Anne devolveu, rindo também.

"Só se eu puder te chamar de Ann.", ela respondeu, e Anne assentiu. "E você, Calliope? Como te chamamos?"

"De Calliope, talvez?", ela perguntou, dando de ombros.

"Hm... Caly?", Amberly sugeriu, e Calliope negou veementemente. "Tá. Então pode ser... Rosie?", Calliope cerrou os olhos e sorriu sem graça, negando. "Hm. Então, Pipe? Não negue. Vai ser Pipe."

"Mas...", Calliope começou a protestar.

"Bem, Pipe, eu também achei Arthur gentil. Ele parece menos com etê e mais com uma pessoa normal agora, não é mesmo?", Amberly perguntou, cortando-a. Anne riu um pouco, e Calliope, agora Pipe, revirou os olhos.

"Muito menos como um etê, realmente.", Anne comentou. "Por que um etê? Eu sempre pensei que eles daqui eram algo como... Espíritos onipresentes. Sabemos que eles estão ali, e se os vemos pessoalmente, ou fizemos algo muito errado, ou muito certo."

"Isso parece uma definição para uma diretora de escola.", Amberly devolveu.

"Se a escola no caso for o país, pode até ser.", Pipe deu de ombros.

"Então eles são super-diretores, que podem ferrar com a sua vida mais do que um diretor de escola. Se você os vê, algo é muito bom ou ruim, e eles têm todos os direitos imagináveis sobre você.", Amberly especulou.

"Você pegou a essência da coisa, Am.", Anne disse.

"Realmente, Am. Eu nunca consigo resumir as coisas assim.", Pipe concordou.

"Ai, que fofas! Estão me chamando de Am, tá vendo?", ela abraçou as outras duas, que riram. "Como eu amo intimidade com as amiguinhas que acabei de fazer!"

***

No Jardim Principal, entre duas grandes árvores, alguém colocara uma corda elástica. Vários guardas estranharam ao ver aquilo, mas algumas Selecionadas colocaram calças e foram direto ao grande brinquedo.

Victoria Alasca estava sentada à sombra das árvores ao lado de Sofia Delacour, conversando calmamente. A ruiva estava num dia bom, e a morena acabará gostando dela.

Enquanto isso, Celina Blanco ajudava Victoria Gardner a se equilibrar no Slack Line. Victoria nunca vira um daqueles troços antes, mas Celina estava habituada a se equilibrar em coisas- apesar de ser um desastre natural.

Encostadas no tronco da outra árvore, estavam Caroline Hudson e Sylby Du Barry, pois Carol esperava por sua vez de usar o brinquedo. Elas conversavam sobre o luxo do Palácio, um quesito que parecia lei ser discutido.

"Vamos lá, Vic!", Celina dizia, risonha, sempre que Victoria se desequilibrava um pouco. "Você consegue!"

"Fica mais fácil se você parar de me desconcentrar, Lina!", Vic respondia, também rindo para a amiga. "Esse percurso é muito grande!"

"Só é grande porque você tem pé de bisnaguinha!", Celina devolveu, e todas as outras riram. "Dê passos largos! Não, calma. Se você fizer isso, você cai. Não dê passos largos!"

"Não sou idiota, Celina.", Victoria respondeu.

"Não. Você só é lenta mesmo.", Celina respondeu, indiferente. "Agora anda logo!"

Sofia cutucou Alasca. "Você consegue andar naquele troço, Alasca?"

"Eu não sei.", Alasca sorriu, levantando os olhos para o Slack Line. "Mas posso tentar."

Ela se levantou num pulo, esperou Victoria descer e pulou na coisa. Sofia se levantou junto à ela e segurou uma das mãos de Alasca. A ruiva quase caiu em cima dela por duas vezes seguidas, mas conseguiu andar até o meio do troço sem muitos empecilhos. Então, Caroline também pulou na corda. Resultado: a corda ricocheteou, levando ambas ao chão. Alasca deu um grito, e Sofia correu para ver se a menina tinha se machucado, mas Carol caiu agachada. Sentou-se e massageou seu pé, ele doera com a força do impacto. Sylby se ajoelhou ao lado de Carol.

"Desculpa, Victoria.", a morena disse, baixinho.

"Não me chame de Victoria. Sou Alasca.", a ruiva sorriu em resposta.

"Não está... Chateada?", Carol voltou a perguntar.

"Por que estaria? Foi um acidente. Tá certo que foi besteira, mas não acho que você queria me derrubar.", Alasca se sentiu, e Carol sorriu. "Mas eu não me machuquei. Sei cair. Já você, parece ter torcido o pé. Posso...?"

"Você era o que antes de vir para cá?", Carol perguntou.

Alasca sorriu. "Enfermeira, baby. Acho que eu não pediria para ver se não tivesse experiência, certo?", Carol esticou o pé, duvidosa. "Hm. Dói aqui?", ela tocou um lugar próximo ao tornozelo de Carol, e a morena gritou. "Ah, que beleza. Alguém aqui é rápida?", Sofia levantou a mão. "Corra lá dentro e traga um paramédico com um maçã aqui fora.", Sofia assentiu, e disparou. "Quanto à você, Carol, não sei quando poderá colocar esse pezinho aqui no chão novamente."

"Quebrou, Alasca?", Victoria perguntou, preocupada.

"Não. Mas talvez tenha rompido um ligamento. Com sorte, você só torceu. Com azar, bem..."

"Tá, tá. Não precisa de entrar em detalhes.", Carol a cortou, cerrando os dentes tamanha a dor.

Delancy Lewis apareceu correndo junto à um homem totalmente vestido de branco. Eles iam na direção das garotas no chão.

"Onde está Sofia?", perguntou Sylby.

"Ela está no Palácio.", Dya respondeu, e se virou para Carol e Alasca. "O que houve?"

"Nós duas caímos do Slack Line. Acho que, no mínimo, ela luxou o tornozelo.", Alasca respondeu, e o homem de branco começou a examinar o pé de Carol. "Por que Sofia está no Palácio, Delancy?"

"Ah, vocês não sabem?", Delancy olhou a ruiva, fria. "Sofi tem asma. É rapidinha, mas tem que se sentar sempre. Por sorte, eu estava perto da Ala Hospitalar. Ela está lá, fazendo uma bombinha."

"Ela vai ficar bem, doutor?", Victoria perguntou. Não gostava de gente machucada.

"Vai, com um ou dois meses de bota ortopédica.", o homem respondeu. "Me ajudem a colocá-la na maca. Ela não pode mexer o pé."

"O que aconteceu?", Alasca perguntou assim que colocaram Caroline no suporte.

"Ligamento.", o homem devolveu. "Força, meninas, no três! Um. Dois. Três!"

Eles ergueram o suporte e, com esforço, levaram até a parte de dentro do Palácio. De lá, alguns guardas assumiram, e as meninas viram Carol sumir em direção a Ala Hospitalar.

"Vejamos pelo lado bom.", disse Sofia, que surgirá do nada. "Ela vai se livrar dos saltos."

"Prefiro usar salto e ter meus ligamentos inteiros, Sofia.", Delancy devolveu.

"Então somos duas.", Sylby acrescentou. "Que tal ir ao Salão das Mulheres?"

"Podíamos colocar os vestidos primeiro, não?", Celina sugeriu. "Não que eu queira usar vestido, mas hoje não é dia de calça. Estamos assim por causa do Slack, não é?"

"Ela está certa.", Alasca concordou. "Em dez minutos, no Salão?"

"Vou chegar antes de vocês!", Victoria disparou escada acima.

"Isso é trapaça, Gardner!", Alasca gritou, saindo atrás dela.

"Me alcance se puder, Young!", Vic correu ainda mais rápido, e só restaram Sofia e Delancy em frente à escadaria principal.

"Você não quer ir pro Salão, quer?", Sofia perguntou.

"Com elas? Não, obrigada.", Delancy respondeu, torcendo o nariz. Ela ainda não confiava em ninguém ali.

"Quer conversar, Delancy?"

"Não há o que conversar.", ela respondeu, fria como gelo.

"Quer ver um lugar?", Sofia tornou a perguntar. Não desistiria fácil de Delancy.

"Só se for o meu quarto."

"Quer companhia?"

"Fora a de Mandy, Pya e Violette?", Delancy perguntou e Sofia assentiu. "Não existe companhia fora a delas."

"Eu posso te fazer companhia."

"Mas você não quer."

"Quero sim, Delancy! Quero ser sua amiga!"

"A amizade é uma maldição quase tão ruim quanto o amor.", Delancy sussurrou.

"O quê?"

"Nada não. Você quer mesmo minha companhia?"

"Quero. Que tal conhecermos Mandy, Pya e Violette?"

"Elas vão gostar de você."

***

Aurora Bocchi e Vênus Petrov haviam aparecido cedo no Salão das Mulheres. É claro, nenhuma das duas gostava muito de lá, mas a biblioteca só abriria depois do almoço. Decidiram-se, então, por ficar jogando conversa fora com Emy Mary Hellfield e Skyler Smith, que apareceram por lá algum tempo depois das duas.

"O que vocês vão fazer se saírem daqui?", Sky perguntou, e as outras se surpreenderam. "Quer dizer, vocês são Três agora. Vão ter que mudar de profissão."

"Eu acho", disse Vênus. ", que vou dar aulas de Ballet. Quer dizer, todos os tipos de professores são da Três, não?"

"São, são sim.", respondeu Aurora. "Eu realmente não sei o que vou fazer. Quer dizer, meu pai sempre falou que não iríamos ser Três. Eu não faço ideia das opções."

"Bom, você pode ser médica, por exemplo.", Sky disse.

"Acho que não sou do tipo que ajuda as pessoas desse jeito.", Aurora deu de ombros.

"Bom, se é assim, eu vou dar aulas de culinária.", falou Emy. "Ou não. Não sei se levo jeito para ensinar."

"Eu não levo.", Aurora levantou as mãos, em rendição. "Péssima com crianças. Elas me odeiam."

"Por que será?", brincou a Princesa Louise, entrando no Salão. As garotas se levantaram para reverenciá-la, mas ela as cortou. "Sem reverências. Sou só uma garota que teve a sorte de nascer aqui. Não mereço nenhuma reverência."

"Louise!", Aurora disse, pulando na amiga. "Quanto tempo!"

"Tudo bem, Rô?", a ruiva perguntou, devolvendo o abraço. Se virou então para as outras. "Imagino que vocês sejam Selecionadas do meu irmão também, não?"

"Como não seriamos, certo?", Skyler respondeu, meio atrapalhada. Afinal, ela era a Princesa.

"É o único jeito de estarmos aqui, Majestade.", Emy respondeu, meio receosa.

"Não tenho Majestade nenhuma, garotas. Meu nome é Louise."

"É estranho chamar a Princesa pelo nome.", Anne levantou as sobrancelhas.