Eu estou caindo no fundo, não posso ser salva; afundada de joelhos, não posso escapar. Sem saída da sua areia movediça. — Bridgit Mendler, Quicksand

Nico não ia mais embora do acampamento. Parecia que, depois de tantos anos que o garoto passara longe do lugar, ele resolvera voltar somente para atormentar Olivia.

Lily o evitava de todas as formas. Sempre que ele tentava se aproximar, ela fugia. Mas ele sempre estava lá; treinos, refeições, atividades do acampamento. Sempre. E o que mais a deixava irritada: ele sequer disfarçava. A encarava de longe, com um olhar penetrante e o mesmo sorriso sacana nos lábios. Aquilo a deixava nervosa, fazendo-a errar alvos que antes acertava com tanta facilidade, e até mesmo cair em combates corpo a corpo, com adversários fracos como alguns novatos. A presença de Nico a deixava tão nervosa que ela não conseguia manusear corretamente suas duas armas; seu arco e sua adaga. Era como se, de certa forma, quando Nico estava presente o mundo de Lily se reduzisse a ele e a como ela queria deixá-lo impressionado.

Lily não aguentava mais aquilo. Ela se sentia sufocada. E o pior: ela se sentia atraída. Gostava do jeito que ele se vestia, com jaquetas aviador e calças pretas que o deixavam tão sexy. Gostava do jeito que ele andava, sempre tão confiante, convencido e cheio de si. Gostava do jeito que ele a olhava, como se ela fosse seu único objetivo. Gostava da forma como o ambiente ficava mais frio e sinistro sob sua presença. Gostava dos calafrios que ele a causava quando chegava perto. Gostava do jeito bad boy dele. Lily odiava Nico por fazê-la gostar dele. O odiava por deixá-la tão desequilibrada; logo ela, que sempre se esforçara tanto para ser tão dura e certinha.

Apesar disso, Lily fazia de tudo para se afastar. Não precisava de um coração partido, e sabia que Nico era um completo babaca e não faria nada além de usá-la se ela o permitisse se aproximar. Por isso ela fugia.

Uma, duas, três semanas se passaram. Nada mudava. Nico apenas ficava observando-a de longe, com os olhos semicerrados e um pequeno sorriso nos lábios. As vezes ele piscava para ela, ou balançava a cabeça a cumprimentando quando percebia que Lily o encarva, nervosa. Ela nunca respondia. Voltava a se concentrar em sua tarefa; ou pelo menos tentava. Nico parecia estar avaliando-a, e Olivia não gostava disso.

Tudo começou a dar errado quando Nico conseguiu se aproximar.

Lily estava distraída arrumando as armas ao final de um treino, que não percebeu Nico chegando. Já era quase hora do jantar, o céu estava em uma mistura linda de laranja e roxo, e Lily ficara encarregada de arrumar a arena de treino. Ela estava sozinha, até Nico chegar.

— Quando vai parar de fugir de mim? — Nico perguntou por trás da garota. Ele estava tão perto que ela pode sentir o cheiro dele. Lily levou um susto e se virou, sentindo seu coração acelerado.

— Ficou louco? — Olivia o empurrou para que ele se afastasse um pouco. — Quase me mata de susto.

— Eu estava aqui desde o começo do treino. Imagino que só você não tenha percebido.

Lily revirou os olhos e se virou, continuando a arrumar as armas utilizadas no treino.

— Desculpa, eu nem reparei. Tenho coisas mais importantes para fazer a ficar te procurando — Lily sorriu, nervosa.

É claro que Lily sabia que ele estava lá. Depois de três, quase quatro semanas sendo perseguida por Nico, ela sabia, de uma forma louca, sentir e reconhecer sua presença no ambiente. Ela sabia também que aquilo era meio paranóico, mas simplesmente se acostumara a isso.

— Sabe, eu estava pensando...

— Você, pensando? Que milagre — Lily disse, indiferente, sem sequer desviar o olhar para Nico.

— Eu estava pensando — Nico ignorou o comentário —, que você já me deu dois golpes bem dolorosos, e eu não tive chance de revidar.

— Você bate em mulheres? — Lily riu. — Eu já sabia que você era babaca, mas isso...

— Eu não vou encostar em você, Olivia — Nico revirou os olhos e sorriu. — Não dessa forma. Só estou dizendo que, já que estamos aqui, poderíamos ter um treino amigável.

Lily o encarou, atônita. A voz de Nico soava tranquila e desafiadora. Ele estava a desafiando para um treino de combate corpo a corpo, e de repente toda aquela coragem e ousadia que ela tivera ao enfrentá-lo algumas semanas atrás se esvaía de seu corpo. Ela não era a melhor em combate corpo a corpo, e havia perguntado sobre a participação de Nico na Guerra dos Titãs. Lily sabia que ele tivera um papel importante, e que Nico sabia usar a sua espada.

As ultimas vezes que Lily o enfrentara, ele não estava esperando por um ataque dela. Ele nunca revidara. Mas, agora, depois de semanas a observando treinar, Lily sentia que Nico sabia exatamente como derrotá-la. O garoto analisara cada passo e golpe de Olivia durante dias. Conhecia o jeito dela. E aquilo a deixava nervosa.

— Hã, acho que e-eu, bem... — Lily gaguejava tentando procurar uma desculpa para escapar. — Eu não tenho tempo.

— Vamos, Olivia. Eu conheço seus horários melhor do que você imagina. Você tem um tempo livre antes do jantar.

Lily estava tremendo. Não podia recusar, senão pareceria fraca. Não, ela tinha que encará-lo.

— Tudo bem — Olivia sorriu, tentando demonstrar uma confiança inexistente.

Nico sorriu satisfeito e se afastou, indo para o centro da arena. Sacou sua espada negra e olhou para Olivia, esperando-a enquanto a garota tentava encontrar alguma coragem para se mexer.

Lily tirou sua adaga do cinto. Se sentia em desvantagem — espada de ferro estígio contra adaga de bronze celestial —, mas sabia que não conseguiria um bom desempenho com uma espada. A lâmina era muito longa para ela. Se aproximou de Nico, respirando fundo e tentando manter o controle. Ela estava nervosa, tremendo.

Nico sorriu.

— Vou pegar leve com vo...

Lily não deu tempo para Nico terminar a frase. Ela avançou e o atacou. O atacou pela direita e pegou-o de surpresa, desferindo um golpe em seu braço. Nico fez uma careta de dor quando a adaga de Lily deixou um corte não muito fundo em seu ombro.

— Tudo bem, acho que você não precisa que eu pegue leve com você — Nico disse, ignorando o braço machucado.

Lily tentou outro golpe, dessa vez pela esquerda, mas Nico foi mais rápido e ergueu sua espada. O tilintar do ferro se chocando no bronze fora ensurdecedor. Lily se afastou, e, dessa vez, Nico atacou. Tentou acertá-la, mas Olivia fora mais rápida, conseguindo desviar da lâmina.

Os dois atacavam e defendiam-se em perfeita sintonia. Era como uma dança, e a cada golpe defendido o barulho das lâminas se tocando soava como uma música. Lily sentia a adrenalina correndo por suas veias, o coração acelerado e a respiração ofegante.

Nico era bom. Lily também era. O problema era que ela já começava a se cansar. Nico manejava muito bem sua espada, com a vantagem de uma lâmina maior.

O garoto percebeu o cansaço de sua adversária e aproveitou para aumentar a velocidade dos golpes, desferindo um atrás do outro. Lily andava para trás, desnorteada, não conseguindo dar conta de tantas investidas. Então Nico bateu a lateral de sua espada com força na mão da garota, fazendo-a reprimir um grito de dor e largar a adaga no chão. No mesmo momento Nico apontou a espada para o pescoço de Lily, que segurava o pulso sentindo a dor se espalhar pelo seu braço.

A respiração ofegante da filha de Apolo soprava nas mechas de cabelo que caíram sobre seu rosto enquanto ela sentia o suor escorrer. Nico também ofegava com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Nada mal — Lily sorriu recuperando o fôlego, enquanto uma ideia se formulava em sua mente. Ela sabia que Nico estava interessado nela, então resolveu partir para o golpe baixo. — Nada mal mesmo.

Lily falava com calma, enquanto desviava da espada de Nico e se aproximava do garoto, sem desviar o olhar do dele. Ela ignorava a dor na mão e se esforçava para fazer sua voz soar sedutora.

— Você sabe bem como usar sua espada — Lily mordeu o lábio, a malícia evidente em sua voz. Nico entendeu o segundo sentido, pois sorriu.

A essa altura Lily já estava muito próxima de Nico. O garoto baixara a espada involuntariamente, sem conseguir desviar o olhar de Olivia. Aparentemente, o plano dela estava dando certo.

— Foi excitante — Lily sorriu e levou a mão a barriga de Nico, correndo levemente o dedo indicador pelo local. Ela estava o provocando, e Nico apenas a observava em silêncio.

— Muito — Nico parecia hipnotizado por Olivia.

— Mas ainda não acabou — os lábios dela estavam tão próximos dos de Nico que quando ela murmurou aquelas palavras sentiu sua boca roçar na dele.

Quando Nico compreendeu o que ela dissera, já era tarde de mais. Lily segurou seus ombros e, com um gesto rápido, usou o pé para derrubá-lo. Antes que ele pudesse se levantar, Olivia chutou sua espada para longe e se sentou sobre ele, imobilizando-o entre suas pernas e segurando seus braços acima da cabeça.

— Você me pegou — Nico sorriu. — Nada mal.

Lily piscou para o garoto enquanto tentava controlar a respiração.

— Obrigada — ela segurou com ainda mais firmeza os pulsos de Nico. Olivia sabia que precisava sair de cima dele, mas ela não conseguia se mexer. Era como se uma parte dela quisesse ficar ali, com Nico entre suas pernas.

— Essa posição é meio suspeita — Nico mordeu o lábio. — Vai acabar me excitando.

Lily não respondeu. A voz de Nico soava longe enquanto a garota fitava os lábios dele. Naquele momento, ela sentiu uma vontade louca de beijá-lo. Nico a chamou uma, duas, três vezes, mas Olivia não respondeu. Ela não conseguia se mexer; tudo o que conseguia fazer naquele momento era encará-lo.

Nico parou de tentar chamá-la. Então, aproveitando a distração de Olivia, ele a empurrou, se virando e trocando as posições. Agora Olivia estava deitada no chão, olhando fixamente para Nico, que segurava suas mãos sobre sua cabeça. Lily não conseguia dizer nada. Com Nico tão próximo a ela, o corpo dele roçando no seu, ela se sentia em chamas. Era uma sensação maravilhosa. Nico dissera que acabaria ficando excitado; porém, quem ficara excitada havia sido ela.

Nico parecia tão atônito quanto ela. A filha de Apolo adorava a maneira como os cabelos negros e longos dele caíam sobre o rosto, que estava tão próximo ao dela. Nico se aproximava mais a cada segundo. Lily não tinha forças nem vontade para protestar. Inalava o cheiro do garoto, sentindo seu corpo entorpecido sob o dele. Então os lábios de Nico tocaram os dela.

Começou com um beijo lento, como se os dois quisessem aproveitar cada momento nos lábios um do outro. Então foi acelerando, até chegar a um ponto que Olivia se sentia desesperada por Nico, e ele por ela. Quando o ar se fez necessário, Nico passou a beijar o pescoço de Lily, deixando pequenas mordidas e chupões. Lily cerrava os punhos, querendo desesperadamente ter as mãos livres para agarrar os cabelos de Nico, mas o garoto ainda as segurava. Lily ficava mais excitada a cada toque dele. Ansiava cada vez por mais, e sabia que estava cedendo a uma coisa que evitara tanto algumas semanas atrás.

Lily sabia que estava errando ao permitir que Nico a tocasse. Mas se sentia tão atraída ao garoto, que simplesmente não conseguia mais evitar.

Nico se remexeu sobre Lily, fazendo-a gemer baixo ao sentir sobre seus jeans apertados que ele estava ficando animado.

— Nico — Lily murmurou de olhos fechados, enquanto o garoto beijava seu maxilar. — J-Já chega — ela gaguejou, tentando desprender suas mãos.

— Vamos para o meu chalé — Nico murmurou em seu ouvido. Lily balançou a cabeça negativamente.

— Não. Isso não.

Olivia voltou para realidade, conseguindo soltar suas mãos. Empurrou Nico de cima dela e se levantou, respirando fundo enquanto Nico a encarava do chão, com uma cara não muito satisfeita.

— Não me olhe com essa cara. Eu já havia te avisado que não conseguiria nada de mim.

Nico riu e se levantou. Se aproximou de Olivia, ainda um pouco ofegante.

— Não consegui nada? — Nico segurou a bunda de Olivia e a prensou sobre sua ereção. Lily mordeu o lábio, reprimindo um gemido. — Olhe só para você. Está agindo como uma cadela no cio.

Lily sentiu raiva ao ouvir aquilo. Sentia raiva por saber que, de uma forma estranha, Nico estava certo. Ela empurrou-o, o obrigando a se afastar. Olhou de cara feia para ele e passou a mão nos lábios, tento provocá-lo ao limpar a boca.

— Nunca mais toque em mim.

— E quem vai me impedir? — Nico riu. — Diz isso agora, mas logo estará implorando pelo meu toque.

— Vai sonhando — Olivia sorriu. — Me esqueça, Nico. Eu não vou ser mais uma na sua lista. Nunca.

— Veremos.

Olivia revirou os olhos. Se virou e começou a andar em direção ao pavilhão do refeitório, quando Nico voltou a chamá-la.

— Não se esqueça disso — lançou a adaga que antes estava no chão para Olivia, que quase não conseguiu pegá-la.

— Procure outra garota, Nico. Eu não sou tão ingênua quanto as vadias que você come.