I Wanna Be Yours escrita por Julieta


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Demorei 3 meses, pois é, não me matem. Mas apareci! Estou tendo um fucking bloqueio criativo e tem sido difícil, mas... Estou tentando. Sinto falta de vocês, gente.



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Nico demorou pouco mais de meia hora até aparecer de repente no meio da sala do apartamento. Lily já tinha terminado o café e estava mexendo em seu novo celular, tentando entender como aquela tecnologia funcionava. Nunca havia tido um celular antes, e estava fascinada com as mil e uma utilidades que ele oferecia. Estava tão entretida com ele que não pôde evitar se assustar quando Nico apareceu de repente, com um largo sorriso nos lábios.

— Adivinha o que eu arranjei para nós?

Lily suspirou. Não estava muito animada e não entendia o porquê de ele estar tão animado.

— Vamos lá, Olivia. Um de nossos queridos vizinhos se mudou semana passada e o incrível apartamento de dois quartos dele está vago. Eu falei com o porteiro e ele disse que, se quisermos, nos mudamos ainda hoje! O aumento no aluguel é pequeno, e é meu pai quem paga mesmo — ele deu de ombros alegremente.

Lily o encarou por alguns instantes. O perfume de Nico exalava por toda a casa, embora ele tivesse chegado ali há apenas alguns minutos. Ele vestia uma bermuda bege e uma camiseta branca, com uma camisa xadrez azul por cima. Lily estava certa de nunca tê-lo visto com aquelas roupas. A única peça que ela reconhecia em seu visual eram seus costumeiros tênis pretos.

— Então vamos nos mudar? — ela forçou um sorriso. Não queria que Nico notasse que ela não estava tão animada quanto ele. Não queria ter que responder suas perguntas. Mas simplesmente não podia evitar.

— Isso! Não é demais? Quartos separados! Um para mim e um para você. Não vou mais precisar dormir no sofá, e você não precisará mais se preocupar comigo. Sem provocações nem desentendimentos. Sim, isso é demais! — ele respondeu a sua própria pergunta.

Olivia deu de ombros e se levantou, guardando o celular no bolso do shorts.

— Vou fazer minha mala, então — ela foi em direção ao quarto. Nico a seguiu.

— Está tudo bem, Olivia? — perguntou, soando desconfiado.

— Claro. Por que não estaria? — ela respondeu rápido, sem olhá-lo nos olhos, enquanto abria o guarda-roupa e jogava as roupas de qualquer jeito sobre a cama.

— Hoje de manhã, quando eu cheguei, você estava encolhida na varanda, com um cigarro apagado pela metade na mão e outros três sobre a mesa. Sua música tocava excessivamente alta nos fones de ouvido e você estava congelando. Seus braços e pernas estavam realmente gelados quando te carreguei para o quarto. Deuses, Olivia. Você poderia ter... morrido — a ultima palavra havia saído como um sussurro.

Lily parou subitamente de mexer nas roupas.

— Você me carregou no colo? — ela perguntou entre os dentes. Nico balançou a cabeça afirmativamente. Ela sentiu a raiva crescer. Não sabia exatamente porquê aquilo a irritava, mas ela se irritava fácil, então não era uma surpresa. — Nunca. Mais. Toque. Em mim. Nunca. — disse, lançando-lhe um olhar mortal.

— E o que você queria? — ele levantou a voz, indignado. — Que eu te deixasse lá, congelando?

— Melhor do que me carregar no colo — Lily revirou os olhos.

— Você é louca. Não teve problemas com isso quando chegou aqui. Ou já se esqueceu daquela noite em que eu te carreguei no colo até a cama?

Nico sorriu cínicamente. Lily apertou o tecido da camisa que segurava, sentindo raiva tanto pelo comentário sobre sua suposta instabilidade mental, quanto pelo fato de ele ter mencionado o acontecimento.

— Não, di Angelo, eu não esqueci. Tampouco esqueci de que, momentos depois, estávamos nos beijando, na cama. E então você se afastou.

Nico piscou, sem entender aonde ela queria chegar. Lily suspirou, cabisbaixa, desviando o olhar e voltando a se concentrar na tarefa de dobrar suas roupas.

— Certo, definitivamente há um problema — ele amansou a voz, como se quisesse ser cuidadoso para não falar nada de errado. — Vamos, Olivia. Não sou bom em decifrá-la, você sabe disso. Me diga o que está acontecendo?

— Hum... — ela murmurou, tentando encontrar coragem para falar. — Não quero ultrapassar seu espaço nem desrespeitar a sua privacidade, então saiba que você não é obrigado a responder esta pergunta — ela respirou fundo, e ele assentiu levemente com a cabeça, com um brilho de curiosidade no olhar. — Que horas você chegou? — perguntou, sem olhar para ele. Agora, passava as roupas dobradas para sua mala aberta, que também estava sobre a cama.

— Bem, eram umas nove horas, eu acho — ele pareceu desconfortável ao responder.

— Sei que não é da minha conta, mas onde você estava? Com quem você estava? — sua voz minguou, se transformando num sussurro nas últimas palavras. Novamente ela desviou a atenção para encarar Nico, parando de executar sua tarefa. Ele mudou o peso do corpo de um pé para o outro, desconfortável. E então ela percebeu, se xingando mentalmente, o quanto estava sendo inconveniente. — Me desculpe. Você não precisa responder isso.

Nico pareceu ficar tenso.

— Está tudo bem. Eu estava... Eu fui ao... — ele pigarreou, esfregando a nuca. — Submundo. Pegar... Suprimentos... Digo, dinheiro... Para... Bem...

Lily desviou o olhar para as poucas roupas que restavam fora de sua mala, para que Nico não visse a cara feia que ela não podia evitar de fazer. Claramente ele estava mentindo. Mas o que mais ela poderia esperar? Já tinha uma ideia de onde ele poderia realmente ter estado.

— Eu entendi. Tudo bem — ela forçou um sorriso, ainda sem olhar para ele. — É só que foi um pouco solitário passar a tarde aqui e...

Lily parou abruptamente de falar quando um pequeno pedaço de papel dobrado caiu do bolso de uma calça que ela puxou para colocar na mala. Ela sentiu o olhar de Nico sobre ela enquanto tomava o papel em mãos e o encarava por um segundo. Sem perceber, estava com um pequeno sorriso nos lábios. Seus pensamentos foram automaticamente extraídos da conversa até chegarem em um nome específico; Walter.

— Lily? — chamou Nico, calmamente. — O que é isso?

— O quê? — ela o encarou, sem entender do que se tratava, mas logo compreendeu do que Nico estava falando ao perceber o olhar do garoto fitando curiosamente o papel em suas mãos. — Ah, isso — ela tentou disfarçar, guardando novamente o papel no bolso traseiro de seu shorts. — Não é nada — ela sorriu, o que pareceu surpreender Nico. — Sobre o que estávamos falando mesmo?

Nico estava com as duas sobrancelhas bem erguidas, claramente intrigado, mas deu de ombros.

— Nada de importante, eu imagino — ele suspirou. — Bem, também tenho que fazer minhas malas. Já estou com a chave do apartamento, nos mudamos assim que possível. Ah, não vejo a hora de dormir numa cama novamente.

— Ei! — protestou Lily. — Você dormiu comigo outro dia.

— Sozinho, eu quis dizer — ele deu um riso fraco, se encaminhando para sua parte do grande guarda-roupa que os dois compartilhavam. — Sem, você sabe, turbulências durante a noite.

Lily tentou não demonstrar como o fato de ele estar animado por não ter mais que compartilhar a cama com ela a aborrecia, assim como ficara aborrecida quanto a mentira dele.

Porém, de certa forma, pensar em Walter a fazia se sentir melhor. Não porque ela esperava que algo acontecesse entre eles; longe disso, ela queria que fossem somente amigos. Mas este era o ponto: agora, ela tinha mais alguém para adicionar a sua lista de contatos, tanto no sentido figurado, quanto no literário. Nico podia passar seu tempo com qualquer outra garota, mas ela não ficaria sozinha. Ela não tinha somente a ele. Não dependia dele para se divertir. Isso a tranquilizava.

Quando Nico colocou sua mala sobre a cama, ao lado da dela, e começou a arrumar suas roupas, seus ombros se encostaram. Lily se afastou com o toque. Ele a olhou de relance, sem entender, então voltou sua concentração para as roupas. Ela saiu do quarto e foi até o banheiro, em busca de coisas que pudesse estar deixando para trás; escova de dentes, acessórios de cabelos, cremes para o corpo e outras coisas que Lily havia comprado. Depois de pegar tudo, ela voltou para o quarto. Nico já estava fechando sua mala. Era verdade que os dois não tinham muita coisa.

— Que andar? — Lily perguntou. Ela não olhou para ele enquanto colocava suas últimas coisas na mala e a fechava. Nico havia se deitado ao lado de sua mala, com a parte inferior do corpo para fora da cama, de modo que só estava deitado da cintura para cima. Ele estava apoiando a cabeça nas mãos, e sua camiseta havia subido um pouco, mostrando o pé de sua barriga. Lily se esforçou para manter o foco em sua tarefa.

— Dois andares acima. O apartamento é um pouco maior e tem dois quartos. Acho que não é muito diferente daqui — ele deu de ombros. — Eu já estou com as chaves — Lily concordou com a cabeça, e um silêncio desconfortável pairou sobre o local.

— Bem, talvez seja melhor irmos. Assim já nos arrumamos lá — ela disse, puxando a mala com um pouco de dificuldade. Ela a arrastou pelo quarto, até a porta, sentindo o olhar de Nico sobre ela.

Quando ele percebeu a dificuldade que Olivia estava tendo, apressou em levantar-se e ir em direção a ela com o braço estendido.

— Não precisa — ela deu um passo, se afastando sem olhá-lo. Fechou os olhos, fazendo uma careta. Estava tentando evitar qualquer contado físico com Nico, embora não soubesse o motivo.

— Tudo bem, então — ele murmurou, desconfiado, afastando-se para pegar a própria mala.

A pior parte, pelo ponto de vista de Lily, foi o elevador. Um minuto e meio de silêncio mortal e clima tenso num pequeno cubículo que deixava Lily se sentindo claustrofóbica. A música ambiente também não ajudava em nada. Os dois, lado a lado, sem contato físico ou visual, agindo como completos estranhos. Aquilo era estranho.

Quando Nico tirou as chaves do bolso, Lily suspirou. O pequeno hall de piso lustroso em preto e branco, como um tabuleiro de xadrez, era idêntico ao do andar anterior, e o posterior, e a todos os outros andares do prédio. Três portas em cada parede, o elevador na quarta. As paredes eram brancas e monótonas, assim como as portas, e a luz tênue e artificial vinda do teto deixava o lugar excessivamente iluminado, em contraste com as paredes. Lily não achava aquilo confortável. Não tinha sequer um feixe de luz do sol.

Nico abriu a porta, dando passagem para ela entrar primeiro. Ela sentiu-se desconfortável, mas achou melhor não protestar. Passou por ele, ignorando o cheiro inconfundível de seu perfume, tentando se concentrar em arrastar sua mala pela entrada. O chão de porcelanato do hall foi substituído pelo costumeiro chão de madeira vinílica do apartamento. O breve e estreito corredor, a bancada que separava a cozinha da sala, os mesmos móveis e o tapete branco em frente ao sofá. A mesa de madeira trançada na sacada que estava com as porta de vidro abertas, as cortinas beges que rodopiavam com o vento que passava por elas, exatamente como sua antiga sacada. O pequeno espaço de frente para o corredor de entrada ao lado da sala, que abrigava um espelho na parede, mostrou o reflexo carrancudo da garota que entrava, arrastando sua mala. Tudo parecia idêntico. Exceto pela porta estra no outro corredor.

— Os dois quartos tem cama de casal — disse Nico, passando por Olivia em direção a primeira porta do outro corredor. Ela respirou fundo.

— Pode escolher o seu — Lily disse, soltando sua mala no meio da sala. — Eu... Esqueci de pegar... Minha escova de cabelo — ela forçou um sorriso quando Nico a encarou da porta, com a sobrancelha erguida. — Eu vou buscá-la.

Ela não esperou por respostas. Deu meia volta e correu para o hall. Ao bater a porta atrás de si e entrar no elevador, um suspiro de alívio rompeu por entre seus lábios. Seus dedos se mexiam nervosamente, tamborilando em suas pernas, ansiosos para discar o número de Walter. Ela respirou fundo, tentando se acalmar. Deveria ter ligado antes de Nico voltar, mas havia esquecido sobre o papel no bolso de uma de suas roupas. Depois que o encontrara, não pensara em outra coisa que não fosse aquilo.

Lily saiu do elevador e entrou no antigo apartamento. Se recostou na porta e tomou o celular em uma das mãos e o pedaço de papel amassado na outra. Por um instante, apenas fitou os objetos em suas mãos, indecisa sobre a ideia. Se ligasse para ele, sabia que não teria volta. E uma hora ou outra Nico descobriria. Entretanto, Lily também tinha o direito de conhecer outras pessoas. Não seria nada de mais. Apenas um amigo.

Ela discou os números enquanto sentia suas mãos suadas grudando no celular. O suor não era só devido ao calor. O nervosismo a deixava assim.

Alô? — Lily ouviu a voz grave e tranquila de Walt. Só foi capaz de responder depois que seu coração palpitou duas vezes no peito.

— W-Walter? — ela gaguejou.

Quem está falando? — ele perguntou, e Lily pode ter certeza de que ele estava franzindo os cenhos.

— Ahn... Olivia. Da loja de discos — ela engoliu em seco, sua voz minguando. Por um longo instante de silêncio, ela começou a se arrepender de ter ligado. Mas quando Walter voltou a falar seu tom foi tão alegre que ela teve de sorrir.

Ah, Olivia! Eu estava achando que você não me ligaria tão rápido, ou talvez não me ligaria nunca. Estou tão feliz que tenha ligado!

— Certo — Lily soltou uma risada fraca. — Este é o meu número. Pode anotar!

Você ligou na hora certa! Eu estava fechando a loja para ir almoçar. Você já almoçou?

— Bem, não, mas...

Ótimo! — Olivia pode ouvir o barulho de uma porta se fechando do outro lado da linha, e então o tráfego se tornou mais alto. — Gostaria de almoçar comigo? Seria gratificante ter uma companhia. Eu estou sempre sozinho...

Claro! — Lily disse rápido demais, mordendo o lábio com força em seguida. Não podia parecer tão desesperada para encontrá-lo. Por que não podia agir como uma garota normal e indiferente pelo menos uma vez na vida? — Quer dizer... Eu adoraria.

Ah!, eu posso passar na sua casa para te buscar?

— Não! — Lily quase berrou. Imaginou a cena de Walter indo buscá-la no apartamento de Nico. Aquilo seria loucura. — Nós podemos nos encontrar aonde você quiser. Será melhor assim — ela engoliu em seco.

Hum... Está certo — ele fez uma pausa. — Me encontre no Wendy's em meia hora, tudo bem?

— Te vejo lá — Lily sorriu, mordendo o lábio inferior.

Até mais, Lily.

Olivia só desligou o telefone depois de ele ficar mudo. Ela não se lembrava mais que músculo mover para fechar o sorriso insistente. Agarrou o telefone junto ao peito e voltou a abrir a porta em que estava encostada. Não conseguiu sequer se manter parada no elevador. Quando voltou ao apartamento, Nico estava esparramado no sofá.

— Você demorou — ele disse, sem dar muita atenção a ela. — Encontrou?

— O quê? — Lily o encarou de sobrancelha erguida.

— Em que planeta você está, Olivia? Sua escova de cabelo — ele a encarou, franzindo o cenho.

— Ah, isso — ela desviou o olhar. — Não encontrei. Devo ter colocado na mala. Eu vou olhar.

Nico deu de ombros e Lily se virou para caminhar até o quarto, mas parou abruptamente, se lembrando de um detalhe completamente desagradável.

— Ahn, Nico... Eu gostaria de almoçar fora hoje... — ela começou, mas logo foi interrompida.

— Claro! Aonde vamos? — ele se endireitou no sofá, encarando-a.

— Bem, na verdade... Eu vou almoçar com... Uma amiga — ela mordeu o lábio, tentando não soar tão mentirosa.

Nico estava desconfiado. Ela pode notar isso em sua expressão.

— Uma amiga? Que amiga? Você se mudou tem pouco tempo... Não mencionou nenhuma amiga.

— Bem, o nome dela é... Paige — foi o primeiro nome em que ela conseguiu pensar.

— Hum, certo — ele cerrou os olhos, ainda desconfiado. Tirou a carteira do bolso de sua bermuda e entregou a Lily algumas notas, que com certeza seriam o bastante. Provavelmente sobrariam.

— Obrigada, Nico — ela sorriu largo, guardando o dinheiro no bolso. — Eu tenho que me arrumar.

Então se virou e correu para o quarto em que Nico havia escolhido para ela, sem entender o que ele havia resmungado antes de ela sair. Ela não se importava, tampouco. Tinha vinte e três minutos para se arrumar e encontrar Walter no Wendy's. Mal podia esperar para vê-lo novamente.


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Notas finais do capítulo

Prometo tentar responder todos os reviews que ainda não respondi, e o que vocês vão deixar sz (sei que vou levar algumas broncas e.e) mas nunca se esqueçam que eu amo vocês