Eu soube que você era problema quando você apareceu. — Taylor Swift, I Knew You Were Trouble

— Sam, você poderia liderar o treino hoje? — Olivia pediu, fazendo uma careta. Ela, por ser a filha de Apolo mais velha e experiente no acampamento e conselheira chefe do chalé de Apolo, sempre liderava os treinos de arco e flecha. Mas hoje, em especial, não estava com um humor muito bom, e sabia que acabaria se estressando, principalmente com os novatos. Não queria que ninguém tivesse uma impressão errada sobre ela só porque ela estava tendo um dia ruim.

Samantha era a segunda no comando. Era suficientemente amiga de Olivia para saber que ela precisava descansar. Só as olheiras em seu rosto eram suficientes para mostrar que Olivia estava acabada, já que a garota era sempre tão disposta.

Sam não questionou, apenas sorriu e afirmou com a cabeça. Olivia sorriu agradecida e soltou um suspiro carregado, como se um grande peso tivesse sido tirado de suas costas.

Lily não gostava de faltar aos treinos. Ela sabia que aquilo era responsabilidade dela, e gostava de analisar o desempenho dos arqueiros do acampamento. Ela era a melhor arqueira de lá, e por isso se sentia na obrigação de estar sempre presente nos treinos. Mas depois de uma noite mal dormida por conta de uma insônia, ela não aguentaria.

Resolveu voltar para o chalé e descansar um pouco. Tirou o arco e a aljava das costas e os carregou nas mãos, porque até eles estavam parecendo pesados. Forçou um sorriso para todos os campistas que a cumprimentavam. Todos ali a conheciam, já que ela estava no acampamento a quase 8 anos.

Lily abriu a porta de seu chalé, já largando o arco em um canto. Tirou a camiseta, ficando apenas de calça jeans e sutiã. As luzes que entravam no chalé eram fracas, vindas de apenas algumas frestas abertas das janelas.

Olivia fechou a porta. Quando se virou, quase teve um ataque do coração. Na cama ao lado da sua, Kaya, uma de suas irmãs, estava apenas de roupas intimas, aos beijos com um garoto que Olivia não reconhecia.

— O que é isso? — ela falou pausadamente, tentando manter a calma. Sentia sua cabeça doer mais intensamente. Quando ficava nervosa, tinha a sensação de que todo o sangue de seu corpo subia para cabeça. Apesar da dor, Lily se manteve firme.

Kaya e o garoto se assustaram, levantando e encarando Olivia de olhos arregalados. Apesar disso, o garoto não tirava o sorriso satisfeito de seu rosto. Ele estava sem a camiseta, o que Olivia se esforçava para não encarar.

O garoto mediu Lily dos pés a cabeça, e ela lutou para não corar quando percebeu que estava sem camiseta.

— Lily, eu… — Kaya começou a dizer, mas Olivia a interrompeu.

— É melhor ficar quieta se não quiser se dar mal, Kaya.

O garoto soltou uma pequena risada. Olivia o olhou, tentando manter a expressão séria, sem enrubescer, mas era difícil, já que ele a deixava… desconfortável, de certa forma.

— Ela é bravinha, gostei — o garoto sorriu, mordendo o lábio. — Vamos, não precisa dar uma de durona. Por que não sei deita aqui e brinca um pouco com a gente? Quanto mais, melhor.

Lily não conseguiu conter uma expressão surpresa. Ele estava a convidando para algum tipo de sexo a três, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Aquilo só serviu para deixá-la mais irritada.

— Você não tem noção do perigo? — Olivia cruzou os braços e balançou a cabeça, indignada. — Quem é você?

O garoto riu. Contornou a cama, se aproximando de Olivia. O cheiro dele era enjoativamente bom, e Lily não entendia qual era a necessidade de o garoto se aproximar tanto dela. Ele só quer te deixar desconsertada, Olivia, ela pensava consigo mesma, enquanto fuzilava o garoto com o olhar. Infelizmente, aquilo não parecia sequer o incomodar, quanto mais o intimidar.

— Meu nome é Nico di Angelo — o garoto sorriu, estendendo a mão para uma apresentação formal, o que, no momento, parecia um tanto quanto idiota para Lily, que não correspondeu.

Em vez disso, Olivia começou a trabalhar, vasculhando cada canto de sua memória. Nico di Angelo. Ela sabia que já havia ouvido aquele nome, mas não conseguia se lembrar onde.

— Nico di Angelo — ela ergueu uma sobrancelha. — Você esteve na famosa Guerra dos Titãs, não é?

— Você provavelmente já ouviu falar de mim — ele deu de ombros, sorrindo convencido. — Eu fui muito importante para garantir nossa vitória.

Lily revirou os olhos. Chegara ao acampamento alguns meses depois da guerra acabar, e sempre ouvira histórias incríveis sobre ela. Nico di Angelo fora mencionado algumas vezes, mas Olivia não consegui se lembrar o que ele fizera de tão importante.

— Que seja, di Angelo. Eu realmente não ligo. Agora vá embora, antes que uma de minhas flechas atravesse acidentalmente sua garganta — Lily sorriu sarcasticamente. Pegou a camiseta preta que estava jogada de qualquer jeito no chão, presumindo que era de Nico, e a jogou para o garoto.

— Espere aí, gatinha. Nem nos divertimos ainda...

Nico continuaria falando besteiras, mas Lily perdeu a paciência no "gatinha". Ela nunca tivera paciência para garotos babacas, e não teria agora. Em um gesto rápido, empurrou Nico contra a porta do chalé, o prensando na mesma com seu corpo. Estendeu o braço alcançando sua aljava que estava no chão e tirou de lá uma flecha. Pressionou a flecha na garganta de Nico, estreitando os olhos e tentando parecer intimidadora, quando na verdade sentia algo estranho estando tão perto do garoto, ambos sem camiseta.

— Olha, eu não ligo se você foi ou não importante para a guerra dos titãs. Acontece que agora você não é importante para nada — Nico fechou o sorriso e tentou se mexer, mas Lily pressionou ainda mais seu corpo contra o dele e a flecha em sua garganta. — Então agora você vai embora, e se por um acaso eu te pegar fazendo gracinhas com qualquer outra garota desse chalé, pelos deuses, eu juro que não vou pensar duas vezes antes de enfiar essa flecha em sua garganta.

Nico engoliu em seco. Lily pensou que ele estivesse olhando para a flecha que ela apontava para a garganta dele, mas percebeu que ele estava olhando para seus peitos.

— Me desculpe, certo? Mas se você continuar apertando esses peitões em mim, meu amigo vai ficar mais animado ainda. E ai nós vamos ter que dar um jeito...

Nico aproximava seu rosto sorrateiramente do de Olivia. A garota entendeu o jogo dele; ele estava tentando seduzi-la. Então ela resolveu jogar também.

— E esse jeito seria...? — Lily aproximou seu rosto do de Nico, falando com uma voz baixa, fazendo o mesmo que ele, enquanto afrouxava levemente a flecha que segurava em sua garganta.

— Começa com nós dois, nos beijando... — quando os lábios de Nico estavam a apenas poucos centímetros de distância dos de Lily, ela sorriu, satisfeita.

— Nos seus sonhos — ela sussurrou no ouvido do garoto, dando, em seguida, uma joelhada na virilha de Nico.

Lily se afastou enquanto Nico se debruçava e urrava de dor. Sorrindo, a garota abriu a porta na qual Nico estava encostado, quase o fazendo cair. Olivia o empurrou para fora, enquanto Nico a olhava com os olhos marejados.

— Não brinque comigo, Nico di Angelo. E não ouse cruzar meu caminho de novo, a menos que não queira ter filhos. Estamos entendidos? — Nico fez menção de fala alguma coisa, mas Lily o cortou. — Ótimo. Tenha uma boa tarde.

Lily bateu a porta do chalé com a maior força que pode, sorrindo satisfeita. Respirou fundo e olhou para Kaya, que assistia a cena horrorizada.

— Ele quase... — os olhos dela se encheram de lágrimas. — Ele quase te beijou. Na minha frente.

Lily queria estar com raiva, mas no momento só conseguia sentir pena de Kaya.

— Ele é seu namorado? — Kaya assentiu enquanto sentava na cama, desolada. — Quer um conselho? Termine com ele logo. Garotos assim só vão te usar como objeto sexual, e depois te largar. Você mesma viu que ele quase me agarrou, na sua frente, como se você não fosse nada.

— Eu o amo — Kaya murmurou, derramando uma lágrima.

Lily revirou os olhos, vendo em Kaya a garotinha apaixonada que ela mesma fora alguns anos antes, quando tinha a mesma idade da irmã, 16.

— Pois não deveria. E não adianta se lamentar. Vista sua roupa e vá treinar. Você precisa ocupar a cabeça, esquecer desse cara. Vá logo.

Kaya assentiu, se levantando. Lily observou a irmã se vestir e arrumar o cabelo, depois de lavar o rosto.

— Muito obrigada por não contar nada a Quíron — Kaya sorriu, pegando seu arco e colocando nas costas.

— Que isso não se repita — Olivia falou duramente, enquanto Kaya assentia e saía pela porta, deixando Lily finalmente sozinha em seu chalé.

Depois de tomar um comprimido para dor de cabeça, Olivia colocou uma roupa confortável e desabou na cama, com seus fones de ouvido.

Antes de dormir, pensou naquela sensação estranha e nova que Nico havia trazido. Ela nunca sentira nada igual antes. Quando fechou os olhos, um pensamento lhe ocorreu: Nico a havia deixado excitada.