Ando pelos corredores do hospital com uma bandeja de café da manhã, em direção ao quarto de Finn. Eu havia perdido a fome desde o tiroteio no colégio, mas caso Finn tivesse acordado, ele poderia estar com fome.
–Rachel. - Ouço a voz de Kitty e a vejo se aproximar.
–O que está fazendo aqui? - Eu pergunto confusa.
–Vim ver Finn. - Ela fala e me olha.
–Eu também. - Eu falo tentando parecer normal.
–Sei que ficou aqui por bastante tempo. - Ela fala desconfiada e eu coro. - É ele não é? - Eu a encaro e confirmo com a cabeça e ela sorri de lado. - Já desconfiava. Vocês viviam juntos ano passado, e o jeito que ele te olha... - Eu abaixo a cabeça e ela sorri. - Ele te ama...
–Não é simples assim. - Eu falo cruzando os braços. - Tivemos problemas.
–Não estou jugando. - Ela fala. - Só quero que se lembre, que apesar de tudo o que ele fez, ele te ama e você o ama. - Ela sorri. - Agora eu vou indo. Até mais nariguda.
Eu sorrio quando ela me chama pelo meu antigo apelido e se afasta. Volto a andar em direção ao quarto de Finn e ao chegar lá o vejo com uma mulher um pouco mais velha.
–Rachel. - Ele fala quando seus olhos caem em mim e meu coração se acelera, ele estava bem. Finn estava bem.
–Essa é a famosa Rachel? - Eu olho para a mulher que se aproxima de mim sorrindo.
–Estou confusa. - Eu deixo escapar e Finn sorri de lado.
–Mãe, esta é a Rachel. - Finn me apresenta e eu arregalo os olhos surpresa. - Minha... Amiga.
Eu franzo a testa para Finn e a mãe dele corre até mim me abraçando enquanto eu tento entender o que está acontecendo.

–Já sei quem é ela. - Ela fala sorrindo me soltando. - As enfermeiras me falaram sobre você. Tiveram que te forçar a sair daqui para descansar. Não queria deixar meu filho sozinho.
Finn parece surpreso e eu coro.
–Elas devem ter exagerado. - Eu falo.
–Consigo ver seus olhos cansados... - Ela fala. - Obrigada por cuidar do meu bebê, ele deve ser muito especial para você.
–Ele... - Eu coro e olho para Finn que me observa. - É muito especial sim.
–Bom, vou deixar vocês a sós. - Ela fala saindo. - Preciso arrumar algumas coisa da minha viagem.
Quando ficamos a sós sinto meu coração se acelerar e percebo que o barulho da maquina de batimentos dele se aceleram. Ele também estava nervoso, e me encarava esperando o próximo movimento, eu mordo o lábio desviando o olhar e ouço sua barriga roncando e me aproximo colocando a bandeja em seu colo. Tento não olhar para ele mas é quase impossível já que sentia seu olhar atento a cada movimento que eu fazia.
–Não queria me deixar sozinho hein... - Ele fala sorrindo de lado e eu suspiro.
–Acho melhor não falarmos sobre isso. - Eu falo.
–Eu fiquei sabendo sobre Puck. - Ele fala com a voz rouca e eu suspiro. - Sinto muito, eu sei o quanto eram amigos.
–Eu vou ficar bem. - Eu falo.
–Sei que vai. - Ele fala sem graça. - Você é forte.
–Trouxe algo para você comer. - Eu falo indiferente. - Sua mãe é muito legal.
–Ela gostou de você. - Ele fala sorrindo.
–Você nunca me falou sobre sua família... - Eu falo confusa.

–Não há muito o que se falar. - Ele fala fazendo uma careta. - Depois de um tempo de casamento meu pai mudou, ele não era mais carinhoso e não era atencioso, vivia deitado no sofá sem fazer nada. Minha mãe se cansou, ela achava que merecia melhor. E então ela o deixou, eu fiquei com meu pai para cuidar dele. Ele entrou em depressão, mas conseguia nos sustentar. Quando me mudei para a faculdade ele se matou.
–Eu sinto muito. - Eu falo sem graça e ele sorri sem jeito.
–Não tem problema. - Ele fala e ri. - Meu pai vivia tentando me ensinar as coisas, e eu sempre o ignorava. Por mais que eu tentasse eu sempre o desobedecia. - Eu fico confusa com a direção que o assunto está tomando. - Ele e disse... Disse para que quando achasse a mulher certa, para não deixá-la, não importa o que acontecesse. - Eu o encaro e ele morde o lábio e percebo que havia lágrimas em seus olhos. - Foi numa sala parecida com essa...
E então eu entendo sobre o que ele está falando e suspiro.
–Finn... - Eu tento o interromper.
–Eu deveria ter explicado! - Ele fala um pouco mais alto. - Eu deveria ter falado o porque que eu fiz...
–O nosso problema sempre foi o egoísmo. - Eu falo e ele me encara. - Sempre pensávamos individualmente, se esquecendo que nós dois deveríamos tomar as decisões juntos! Esse sempre foi nosso problema.
–Rachel... - Ele começa a falar.
–Você não tinha o direito de ter feito essa decisão sozinha Finn! - Eu falo quase gritando e ele abaixa a cabeça. - Eu também sabia dos riscos, e não me importei com eles. Coloquei nosso amor acima de tudo. Eu só precisava de você no momento, e você me deixou...

–Eu decidi o que era melhor para você... - Ele fala e eu reviro os olhos.
–Eu já sou bem grandinha para tomar minhas próprias decisões, Finn. - Eu falo e suspiro. - Mas não estou aqui para brigar... Eu apenas cansei de brigar.
–Você me perdoa? - Ele pergunta com esperança.
–Eu realmente estou tentando te perdoar Finn. - Eu explico. - Eu já consegui te entender, então quem saiba um dia eu possa te perdoar.
–Um dia? - Ele pergunta sorrindo.
–Não fique com tantas esperanças. - Eu falo tentando ficar séria.
–Eu vou esperar ansioso. - Ele fala sorrindo e eu coro. - Eu sinto sua falta. Você é como uma grande e linda luz entrando pela escuridão. - Eu sorrio sem graça e ele volta a ficar sério. - Eu sinto muito Rach.
–Você já pediu desculpas. - Eu falo.
–Não, falta uma. - Ele fala suspirando. - Eu sinto muito pelo nosso filho.
Eu congelo e fico rígida tensa. Minha respiração se acelera e eu me seguro para não chorar. Eu preferia nunca pensar sobre isso
–Acho melhor eu ir ajudar Marley com o funeral. - Eu falo rispidamente e ele percebe que tocou no assunto errado.
–Espera... - Ele fala enquanto eu saio do quarto, o ignorando.

–X-

Estou em pé perto do palco da capela quando a mãe de Puck se aproxima de mim, e percebo que ela chorava.

–Senhora Puckerman... - Eu começo a falar me aproximando dela e nos sentamos na primeira fileira, ela me olha.

–Puck gostava de você querida. - Ela fala entre o choro. - Ele me contava o quanto ele amava as brigas que vocês tinham, você era a melhor amiga dele. - Eu sorrio e sinto lágrimas nos olhos, percebo que ela estava com uma camiseta de Puck a abraçando e a cheirando, ela olha para Marley que recebia todos. - Ela foi a mulher da vida dele, eles se amavam. Isso não deveria ter acontecido. Você sabe como é perder um filho? É uma das piores sensações do mundo!

Eu instintivamente passo a mão pela minha barriga e me lembro do bebê que havia estado ali, eu tremo com a lembrança e sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

–Eu posso imaginar como é... - Eu falo chorando e abraço a mãe de Puck.

Me solto dela e Jake se aproxima se sentando ao meu lado sem dizer uma palavra. Após alguns minutos a mãe de Puck e Jake se levantam indo receber algumas pessoas. Santana, Blaine e Finn se aproximam se sentando ao meu lado. Olho para Finn e ele me encara sério. "Você sabe como é perder um filho?". Sinto uma dor no coração e me encolho.

Finn Hudson

Eu entro na capela sem jeito e incomodado. Me lembro que a ultima vez que estive aqui foi para o funeral do pai de Rachel. Vejo Marley de pé cumprimentando todos e ela sorri para mim.
–Obrigada por vir Finn. - Ela fala sorrindo. - Você melhorou?
–O tiro ainda dói. - Eu explico. - Mas dá para aguentar.

–Deveria ter ficado em repouso. - Ela fala.
–Eu tinha que estar aqui com vocês. - Eu falo. - Eu não me importo, como você está?
–Eu estou bem. - Ela sorri e eu percebo que essa era uma resposta padrão, que por dentro ela estava desabando, eu sei como é. Eu já perdi meu pai também. - Acho melhor ir se sentar enquanto eu recebo as outras pessoas.
Eu concordo com a cabeça, e entro mais adentro da capela, vejo Rachel sentada mais pra frente ao lado de Jake e a mãe de Puck. Eu me sento em uma das ultimas fileiras sozinho. Mas logo Santana se aproxima se sentando ao meu lado.
–Como você está? - Ela pergunta preocupada.
–Como se tivesse levado um tiro. - Eu falo sorrindo e ela me encara brava.
–Finn! - Ela me repreende me dando um tapa. - Eu sinto muito por tudo isso. - Ela fala se encolhendo e olha para o caixão de Puck. - É minha culpa.
–Santana... - Eu começo a falar mas ela me interrompe.
–Foi por minha causa que tudo isso aconteceu... - Ela fala suspirando.
–A culpa não é sua! - Eu falo. - Em nenhum momento foi você que pegou a arma e atirou em alguém! Aquele cara era louco.
–Ele era meu pai. - Ela fala e eu a encaro surpreso. - Eu achei que ele estivesse morto.
–Como você está? - Eu pergunto e ela me encara.
–Péssima... - Ela fala triste. - Por favor, não conte para ninguém sobre meu pai. Nem Blaine sabe disso. Pelo menos eu acho que não.
Eu fico surpreso com a confiança de Santana em mim, me lembro que ela não gostava de mim no começo.
–Pode confiar em mim. - Eu falo sorrindo. - Nós deveríamos trabalhar mais juntos. Somos um time perfeito.
Ela sorri. Eu me lembro que quando eu bati em Brody ela me disse isso, a lembrança parece tão distante. Tantas coisas aconteceram, e eu considerava aquilo um problema.
–Vamos nos sentar mais pra frente. - Santana fala e vamos para frente e eu me sento entre Santana e Rachel.
–Peço a atenção de todos por favor. - Marley fala em cima do palco. - Vamos começar? - Após alguns segundos um silêncio se instala no ambiente. - Gostaria de começar cantando uma musica com minhas amigas.

Rachel e Santana se levantam indo em direção ao palco pegando microfones. Todas encaravam o chão tristes.

These Four Walls

Rachel

Me sinto dopada
Encarando a parede do chuveiro
Começou o sentimento que o fim chegou
E agora a água está fria
Tentei comer hoje
Mas o nó na minha garganta ficou na frente

Marley

A essa altura, perdi todo meu senso de orgulho

Chamei milhares de vezes
Se ouvir a sua voz ficarei bem

E eu, não posso viver
Quero que o quarto me leve
Porque não posso deixar de me perguntar
E se eu tivesse mais uma noite para me despedir?
Se você não estiver aqui para apagar as luzes, não poderei dormir
Essas quatro paredes e eu

Rachel me encara triste.

Rachel

Deito na cama

Não consigo sair do seu lado
Seu travesseiro está molhado de todas as lágrimas que chorei
Não vou dizer adeus
Tentei sorrir hoje
Então percebi que não adianta

Santana

A essa altura, perdi todo meu senso de orgulho

Chamei milhares de vezes
Se ouvir a sua voz ficarei bem

E eu, não posso viver
Quero que o quarto me leve
Porque não posso deixar de me perguntar
E se eu tivesse mais uma noite para me despedir?
Se você não estiver aqui para apagar as luzes, não poderei dormir
Essas quatro paredes e eu

Rachel, Santana e Marley

E eu, não posso viver

Quero que o quarto me leve
Porque não posso deixar de me perguntar
E se eu tivesse mais uma noite para me despedir?
Se você não estiver aqui para apagar as luzes, não poderei dormir

Marley

Essas quatro paredes e eu

Elas terminam de cantar, Rachel e Santana choravam, mas Marley continuava forte, e por mais que seus olhos estivessem cheios de lágrimas ela não as deixou cair.

–Me pediram para falar algo... - Marley fala e encara a foto de Puck. - Na verdade eu não sei o que falar. - Ela morde o lábio com força segurando as lágrimas e olha para cima. - Ele costumava dizer... Que para se expressar... A melhor maneira era cantando. Então eu quero dedicar essa musica para ele, o amor da minha vida. Noah Puckerman.

Quinn limpa as lágrimas que não paravam de descer pelo seu rosto. Todos choravam, menos Marley. Ela encara a foto de Puck.

Everytime

Marley

Me perceba
E pegue minha mão
Por que nós somos como
Estranhos quando
O nosso amor é tão forte?
Por que continuar sem mim?

Toda vez que eu tento voar
Eu caio sem as minhas asas
Eu me sinto tão pequena
Acho que preciso de você, amor
E toda vez eu te vejo nos meus sonhos
Eu vejo o seu rosto
Você está me assombrando
Eu acho que preciso de você, baby

Eu me faço acreditar
Que você está aqui
É a única maneira
Que eu vejo
O que foi que eu fiz?
Você parece ter superado fácil

Toda vez que eu tento voar
Eu caio sem as minhas asas
Eu me sinto tão pequena
Acho que preciso de você,amor
E toda vez eu te vejo nos meus sonhos
Eu vejo o seu rosto
Você está me assombrando
Eu acho que preciso de você, baby

Eu só posso ter feito chorar
Por favor, me perdoe
Minha fraqueza te fez sofrer
E essa música são as minhas desculpas

Marley começa a chorar silenciosamente.

Ohhhh

De noite eu rezo
Para que em breve seu rosto
Desapareça

Toda vez que eu tento voar
Eu caio sem as minhas asas
Eu me sinto tão pequena
Acho que preciso de você, amor
E toda vez eu te vejo nos meus sonhos
Eu vejo o seu rosto
Você está me assombrando
Eu acho que preciso de você, baby

Ela termina a musica chorando soluçando e Rachel vai até ela a trazendo para se sentar conosco. Ela abaixa a cabeça triste e fica assim. A mãe de Puck sobre no palco, seus olhos estavam vermelhos de lágimas.

– Sempre achei que quando eu... - Ela para suspirando. - Como os pais conseguem viver quando perdem um filho? Sabe, quando eu via essas coisas no jornal, eu desligava a TV porque era horrível demais para se pensar, mas eu sempre pensava: Como conseguem levantar todos os dias? Como respiram? Mas você levanta, e por apenas um segundo, você esquece, e depois, você se lembra. E é como receber aquela ligação de novo e de novo, muitas vezes. Você não consegue parar de acordar. Tem que continuar a ser uma mãe, mesmo que não tenha mais um filho!

Ela começa a chorar de soluçar também e Jake vai até ela e vejo Jake chorando também. Tudo fica em silencio e eu sem pensar subo no palco.

–Eu... - O que eu estou fazendo? - Eu sei como é perder um filho. - Todos parecem chocados e Rachel me encara arregalando os olhos. - Não estou querendo comparar a dor, mas... - Todos me encaram confusos. - Eu fiquei muito mal por meses, e começo a pensar no que perdi. - Eu encaro a mãe de Puck que me encara franzindo a testa. - Eu não conheci Puck muito bem, mas ele me ajudou a superar. Ele me olhou e falou "Sei o quanto está sendo difícil, mas você tem que seguir em frente e viver sua vida!" Ele me ajudou a voltar para a realidade. E eu acredito que ele esteja aqui agora, nos observando, e que ele não quer ver vocês tristes, sei que vão sentir saudades, mas podemos nos lembrar dele sorrindo, não chorando. Afinal, ele nos fazia sorrir não era?

Todos me encaram e a mãe de Puck vem até mim lentamente e me abraça, ela me aperta muito causando um pouco de dor na minha ferida mas decido não falar nada. Quando ela se afasta eu vou até a banda e decido pedir para eles tocarem uma musica para eu cantar. Quando a música começa a tocar eu me lembro do filho que eu e Rachel iriamos ter e suspiro. Eu havia perdido meu filho.

Fix You

Finn

Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso

Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa
Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir
Preso em marcha ré

Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Quando você ama alguém, mas é desperdiçado
Pode ser pior?

Luzes te guiarão até em casa
E aquecerão teus ossos
E eu tentarei, consertar você

Todos do New Directions se levantam e caminham em minha direção.

Bem no alto ou bem lá embaixo
Quando você está muito apaixonado para esquecer
Mas se você nunca tentar, você nunca saberá
O quanto você vale

Finn e Blaine

Luzes te guiarão até em casa
E aquecerão teus ossos
E eu tentarei consertar você

Todos sobem ao palco e ficamos em fila. Blaine fica em um dos meus lados e Rachel do outro. Marley e Jake subiram ao palco por ultimo e se juntaram a nós.

Finn e New Directions

Lágrimas rolam no seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Lágrimas rolam pelo seu rosto
E eu

Lágrimas rolam pelo seu rosto
Eu te prometo que vou aprender com meus erros

Lágrimas rolam pelo seu rosto

E eu

Enquanto cantamos Rachel pega minha mão entrelaçando nossos dedos e eu a encaro e ela chorava triste.

Finn (New Directions)

Luzes te guiarão até em casa (Uuuuuuuuuuuu)
E aquecerão teus ossos (Uuuuuuuuuuuu)
E eu tentarei

Consertar você

Percebo que eu também estava chorando. Mas entendo que eu e Rachel não chorávamos e estavámos de luto apenas pela morte de Puck, mas também pela morte de nosso filho.