Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 9
Kill or be Killed


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão lendo a estória.
PS: Desculpe a demora.



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CAPITULO OITO

Kill or be Killed

Frigga

Eu tinha catorze anos quando me casei.

Fui preparada toda minha vida para esse momento, quando teria que deixar de ser uma menina para se tornar esposa. Não que realmente deixaram ter uma infância, brincando livremente como as crianças que circundavam o palácio, meninas que embora menos desfavorecidas em posição social, pareciam ser muito mais felizes do que eu.

Ainda me lembro perfeitamente da cerimonia antes do casamento, quando mamãe me fez queimar a única boneca que tinha, as lagrimas caindo enquanto via ela queimando, suas cinzas escuras se espalhando com o vento, indo para além do horizonte.

Até hoje, guardo o botão rubro e celeste que constituía seu olho esquerdo, carregando comigo o resto singelo do ultimo dia em que fora feliz.

Antes da minha vida se transformar num inferno.

Ao lado de Odin, aprendi a ser leal como um animal, abaixando a cabeça e obedecendo ordens. Como ser uma cadela inútil e nojenta que se ajoelha perante o seu mestre para poupar sua própria vida e a de seus filhos.

Aprendi a fingir que era uma pequena e inocente e delicada gata branca, para poder esconder o leão.

“O leão é um predador” Ainda me lembrava perfeitamente as palavras do meu tutor, Fork, sua voz grossa e poderosa, os ensinamentos de um homem que mesmo com a pouca idade eram mais sabeis e eternas do que dos deuses “Um predador sábio que se mantém em silencio até o momento de atacar, escondendo-se, se espreitando até encontrar o momento certo”

–Está acordada minha rainha?- Era a voz solidaria de Sander, um dos curandeiros do castelo. Ao invés de responder, fiquei em silencio, os olhos fechados, a mão oculta embaixo do travesseiro- Teve um dia desagradável hoje de acordo com os guardas e membros da corte;

–O pai de todos ordenou que aplicasse mais uma dose por via das duvidas.- Ele afirmou, pude sentir sua mão úmida passando pelo meu pescoço, afastando os poucos fios que se encontravam ali, permanecendo um momento a mais do que necessário –È uma pena que você seja louca, caso contrario poderíamos no divertir um pouco na ausência de Odin.

Sua respiração agora estava bem próxima do meu rosto, os dedos vagando próximo aos seios, enquanto sentia o hálito de carne morta vagando pelo meu aparelho olfativo. Ele estava calmo, desconcentrado.

Exatamente o que precisava.

Rápida como um raio retirei a faca escondida debaixo do travesseiro, enfiando-a no seu olho esquerdo, perfurando todo seu globo ocular, o sangue pingando como lagrimas.

–Sua maldita- Ele gritou, colocando a mão sobre o olho ferido, tentando diminuir o sangramento e provavelmente diminuir a dor latejante que estava sentindo.

Joguei os cobertores no chão, pulando rapidamente da cama.

–Frigga- Ele gemeu, segurando repentinamente minha mão, tentando impedir minha fuga- Você não vai para lugar nenhum.- Afirmou, sua voz com um traço louco e doentio.

Virei-me para fita-lo frente a frente, colocando minha mão direita sobre seu pescoço, enquanto colocava a outra sobre sua faca. Ele estava desorientado o bastante para não reagir, ou talvez esperando o momento certo para atacar.

Uma coisa que jamais iria acontecer.

–Mande uma mensagem para o Odin quando chegar em Hel- Solicitei enquanto enfiava ainda mais o objeto em seu olho até que esta chegasse em seu cérebro, maculando a massa encefálica. Sander ainda teve chance de produzir um grito abafado antes de cair no chão, sem vida.

–Sander?- Indagou um guarda batendo na porta. Pelo visto, nosso querido curandeiro havia nos trancado aqui- Sander Arrey? Está tudo bem?

Não sabia se aquele acontecimento era bom ou ruim. Sabia que não havia janelas ou rotas alternativas para minha fuga. Apenas a porta. Ela era minha única opção cabível de saída.

–Sander está acontecendo alguma coisa?- Indagou um segundo soldado.

Eu não tinha mais opção.

Agachei-me no chão perante o cadáver do curandeiro, colocando minha mão envolta do cabo da faca, retirando-o com um rápido puxão, gotas de sangue voando com a pressão exercida, caindo sobre meus dedos.

Aproveitei a oportunidade para retirar a seringa com o medicamento sedativo do bolso do seu casaco. Uma arma a mais para minha defesa.

–Sander? Por Odin alguém traga uma maldita chave para abrir essa porta- Gritaram dois guardas quase simultaneamente.

–Mas que merda esta acontecendo aí dentro?- Uma terceira voz surgiu.

Abra a porta para descobrir, pensei me encaminhando até ela.

Fiquei prensada na parede lateral, os batimentos e pensamentos regulares e ordenados. Fork, embora fosse originalmente meu tutor em artes e historias do tempo presente e passado, ensinou-me algumas coisas a mais.

Ensinamentos de luta e guerra.

–Uma rainha deve saber muito mais do que ser bela, inteligente e uma boa esposa. Deve saber lutar. Deve saber agir quando preciso .- Ele me entregou uma espada, a primeira vez que segurei um objeto afiado. Foi em meu decimo aniversário, quando me presenteara com o mais valioso ensinamento.

–E acima de tudo, ela deve saber matar.

Escutei o barulho da chave na fechadura, a pressão da maçaneta ao ser forçada. Por um instante, imaginei se deveria estar assustada ou com medo, alguma manifestação subjacente de sentimento. Porém meus ensinamentos e o tempo em cárcere acabaram com o que restava de velha Frigga.

Mesmo se todo meu plano fosse destruído, não me importava mais com as consequências. Só de pensar que alguns guardas, pelo menos um, não veria mais a luz do dia, era tudo o que precisava.

A porta se abriu vagarosa, rangendo como uma cadeira antiga. Pude ver um pé direito aparecendo, apenas a ponta circular de uma bota.

Um suspiro.

Um batimento.

Um ataque.

Apenas esperei que seu pescoço estivesse amostra para agir, aplicando a droga diretamente em sua veia.

–O que?- Ele murmurou, antes de cair inconsciente no chão.

–Edwar?- Disse outro guarda, tomando ciência do ocorrido- Mas que merda!

“Pode vir” Pensei, observando enquanto ele adentrava no aposento.

Ele entrou com a espada erguida, os olhos castanhos- escuros em choque assim que se encontraram com os meus. Acho que uma parte dele ainda não acreditava que era capaz disso.

Eu era apenas uma louca não era?

Mesmo assim ele avançou, embora notasse cautela e contenção em seus movimentos corpóreos. Odin provavelmente deixara regras explicitas para que se algo de anormal acontecesse, aplicasse apenas ataques somente para ferir. Não matar.

Que pena que ele não me deu essa ordem.

O primeiro ataque foi em direção ao braço. Um rápido e preciso desvio foi o suficiente para escapar. De soslaio, notei outros dois guardas se aproximando, um deles armado de um sedativo semelhante ao trazido por Sander.

–Isso vai ser divertido- Afirmei, enquanto me preparava para o contra-ataque.

Transpassei a faca em seu rosto, arrancando fora um pedaço da primeira camada de pele. Outro guarda surgiu por trás, tentando me conter, o cotovelo envolto do meu pescoço. Com o braço livre acertei o meu próprio em seu rosto com força, sentindo seu nariz quebrar com o impacto.

–Sua meretriz- O guarda gemeu, enquanto tentava um novo ataque. O nariz torto e sangrando parecia obviamente não incomoda-lo.

A espada atingiu sutilmente meu ombro, rasgando a manga e aprofundando na carne. Mordi o lábio inferior para não gritar, concentrando-me na luta, tentando me desviar o máximo possível dos ataques, defendendo e atacando, usando todas as técnicas que aprendi na infância e na adolescência.

–Que se dane Odin!- Murmurou o guarda largando a espada no chão e flexionando os punhos, deixando-os fechados e tensos- Eu vou mandar essa vadia ao inferno!

Ele se lançou sobre mim, o punho mirando em meu olho direito. Bloquei o golpe com o braço, sentindo o impacto nos ossos, o sangue extravasando dos vasos e deixando um hematoma quase instantâneo. Outros golpes se sucederam em diversos locais com diferentes níveis de intensidade, porém todos com intenções mortais.

Por cima do seu ombro, observava com interesse peculiar a espada do guerreiro caída, não muito longe do local que nos encontrávamos. Se pelo menos pudesse alcança-la...

Foi nesse momento de distração que fui atingida.

Um soco poderoso atingiu minha face em cheio, fazendo sangue vermelho vivo expelir para fora da minha boca, rasgando meus lábios e deformando os ossos. A visão instantaneamente ficou embaçada, desconexa, enquanto tentava me concentrar na presença do algoz.

– Hrothgar, passe-me logo essa droga- Ordenou.

Arrastei-me lentamente para trás, os pés se arrastando no solo, forçando-me para o longe em minha fútil estratégia de fuga.

–Vamos acabar longo com isso!- Disse ele se inclinando sobre mim.

“Matar ou ser morto. Essa é a regra, Frigga. Não existe outra coisa, não existe terceira opção”.

Estiquei o braço para trás, enquanto observava a agulha se aproximando do meu pescoço. Tudo se passando lentamente, segundo a segundo, cada milésimo crucial para meu próximo movimento.

Enfiar a espada em seu coração.

Não pensei ao fazer aquilo, nada de cálculos ou precisões. Não era algo que precisava de erudição, mas de coragem.

Era matar ou ser morto.

A seringa caiu no mesmo instante em que o coração rasgado parava de bater, os olhos escuros ainda fixos em nenhum lugar, presos em uma eterna expressão de dor.

Arranquei a espada do corpo, jogando-o com brutalidade para o lado, batendo no chão como uma pedra fria e sem alma.

Levantei-me com o objeto entre os dedos, a lâmina carmesim brilhando com a luz quente do quarto. Estava apenas com um homem, o único que restava. Era provável que o outro fora avisar o ocorrido para o “pai de todos” mencionando a carnificina que a esposa estava fazendo.

–Não quero te machucar. - Ele disse, num tom de voz fraco, aproximando-se lentamente.

–Que pena!- Falei em desdém.

Investi minha espada contra ele, atingindo-o na omoplata. Pelos seus movimentos notava-se que era um inexperiente, apenas um garoto com uma espada, sem saber o que fazer.

Ele levantou sua arma num fraco contra ataque, bloqueado imediatamente, forçando sua espada para trás. Sua expressão facial era de medo e tensão, os juncos de sua testa visíveis com a força aplicada.

–Frigga, não... - Ele gemeu assim que atingi seu ombro direito, atravessando o osso e pressionando o corpo tremulo e esquálido na parede, raspando os tijolos e tirando toda a camada superficial de tinta e deixando apenas um rastro mórbido de vermelho.

Eu poderia acabar com ele agora mesmo. O que eu tinha a perder?

Suspirei, encarando-o novamente. Não poderia fazer isso, matar um menino de dezesseis ou dezessete anos à sangue frio. Ele estava indefeso agora. Não iria me atrapalhar na minha fuga.

Larguei o cabo da espada, afastando com passos rápidos em direção a porta. Sabia que com o tempo que havia gasto, seria muito improvável sair. Talvez nem chegasse a porta ou muito menos a uma saída.

Mas pelo menos havia tentado.

Perambulei pelo corredor, na direção obvia que parecia envolver menos ameaças. A direção mais escura e vazia, mórbida pelo seu silencio.

Em meu tempo como rainha, um titulo nobre que não se encaixa mais ao presente, não me lembrava de nenhum lugar do palácio que não houvesse guardas vigiando cada cubículo do palácio como se cada móvel fosse esculpido de ouro num ambiente repleto de ladroes renegados. Ficavam espalhados, vigiando não apenas criados ou possíveis inimigos que poderiam se emprenhar no palácio. Mesmo sendo crucial, nunca foi seu alvo.

Nós éramos.

“Então porque não há ninguém aqui?” Indaguei.

Alguma coisa mais forte do que a simples curiosidade me chamava para aquele ambiente desconhecido. Cada passo uma necessidade vital, como se dependesse daquilo para sobreviver.

Talvez, depois de tanto tempo sendo chamada de louca já estava realmente me transformando em uma.

Eu não estaria aqui se estivesse sã.

Continuei caminhando, lentamente, tateando as paredes na escuridão, buscando apoio e orientação pelo tato enquanto a visão, meu sentido primordial era coibido a se acostumar com a ausência gritante de luz, cada vez maior, como se houvesse sido sugada.

E depois ressurgisse.

Soltei um gemido involuntário quando notei um ponto branco no fim do corredor. Era mais claro e brilhante que chamas, irradiando uma energia quase paranormal. Prendi a respiração, um passo da cada vez, atraída como um inseto é atraído para luz.

Demorei um pouco para perceber que a iluminação provinha de trás de uma porta de aço inoxidável, grande e impenetrável, cuja estrutura era quatro vezes mais larga que uma porta comum. Não havia maçanetas ou trancas. Aparentemente a porta fora selada com feitiçaria, uma combinação complexa que obviamente não havia acesso.

Virei à cabeça para o lado. Além da janela ofuscante, havia outra menor, cujo brilho fraco certamente não me cegaria quando fosse observar. Quando fosse descobrir o que de fato havia detrás destas paredes.

Assim que me aproximei o bastante da janela, inclinei meu corpo para frente, os olhos quase se encostando à superfície fria.

–O que é isso?!-Gritei em desespero, ao me deparar com a visão mais assombrosa e assustadora de toda minha vida. Algo impressionante, impossível de se descrever com simples palavras.

–Eu sabia que estaria aqui- Disse uma voz irônica e odiosa.- Desde o começo,observei-a acordando, lutando e até mesmo matando. Pobre Sander. Duvido que ele em algum momento imaginou que a bela Frigga iria arrancar literalmente seus miolos. Iria sujar suas delicadas mãos com sangue.- Ele suspirou, fingindo estar impressionado.

Senti uma arma de energia azul encostada no pescoço, queimando ligeiramente a pele, o aperto solido e intenso.

–Quem diria que uma flor tão delicada poderia carregar tanto veneno?- Indagou, a voz fria soprando os fios castanhos do meu rosto.

–Como pode fazer isso?- Perguntei a Odin, ainda fitando aquela terrível visão.

–Aquilo?- Ele perguntou, seu queixo anguloso se apoiando em minha cabeça confortavelmente- Não vou dizer que foi fácil, mas foi necessário. Preciso. Essa sala guarda o próximo grande passo para Asgard.

–Você é um monstro!- Cuspi.

–Não querida. Eu sou um deus!- Ele afirmou, soberano- O deus mais poderoso que Asgard ou qualquer um desses reinos malditos já viu.- Afirmou, enquanto sentia o toque gélido de uma agulha transpassando minha pele, o calor do tranquilizante lambendo minhas veias. Pontos escuros começaram a surgir e podia sentir a cabeça caindo para o lado, o corpo começando a ceder ao torpor e a fraqueza.

–E eu a deixarei viva apenas para que veja Asgard queimando- Prometeu.

E essa foi a ultima coisa que ouvi antes de me entregar a inconsciência.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Gostaram?Odiaram?Esperavam alguma coisa diferente?