Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 8
Carry On My Wayward Son


Notas iniciais do capítulo

Sim a trilha sonora de Supernatural!!!

Se alguém quiser ouvir : https://www.youtube.com/watch?v=orqnZBYEn38&hd=1



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Capitulo sete

Carry On My Wayward Son

Loki

Thor foi o primeiro a ir ao meu encontro.

–Loki- Ele exclamou segurando meu braço com força, tentando-me fazer voltar a realidade- Desculpe... Eu devia ter feito alguma coisa. Apenas não sabia ao certo o que fazer. Como deveria reagir.

Ele parecia tão confuso quanto eu. Talvez, porque no fundo ainda não estávamos acostumados com a condição atual que se encontrava nossa mãe. Presos ao passado, esquecendo-se do presente.

–Me desculpe- Ele disse novamente.

Abracei então meu irmão, as lagrimas escorrendo pelo rosto, vermelhas devido ao sangue que se esvaia do corte. Não sabia ao certo porque tivera essa reação, por que estava fazendo aquilo. Talvez por medo, por desespero, por estar perdido num lugar que aparentemente eu não pertencia.

–Tudo bem. –Murmurou Thor –Está tudo bem- Afirmou, colocando a palma da mão em minha nuca.

–Aquele dia... Balder... Nunca foi minha intenção... –Solucei.

–Não diga isso, Loki. Não foi você que assassinou friamente Balder. - Suspirou- E sua mãe sabe disso. Ela apenas não está com a consciência em ordem. - Declarou- Ela jamais diria isso se soubesse o que estava fazendo.

–Loki?- Surgiu uma voz de fundo. Odin.

–Pai?- Eu tentei me recompor. Precisava parecer firme diante sua presença.

Ele se inclinou ao meu lado, examinando com meticulosidade meu rosto.

–Temos que dar uma olhada nisso, mesmo que acredite que não seja nada grave. - Afirmou ele, segurando meu queixo e virando minha cabeça para o lado.

Acenei uma vez, levantando-me, seguido imediatamente por Thor.

–Eu irei cuidar de teu irmão agora- Prometeu- Você deve se preparar para sair agora. Para seu ultimo ano de treinamento- Ele disse, firme.

–E minha mãe?- indagou Thor, enquanto se afastava lentamente, os olhos castanhos escuros esbanjando preocupação.

–Está descansado. Provavelmente não despertará até amanhã.- Afirmou.

Meu irmão cruzou o salão até a mesa onde estivera sentado, agarrando firmemente sua aljava e seu arco que se encontravam no chão. Sem hesitar, colocou seu armamento em seu ombro, como um guerreiro se preparando para guerra.

–Cuide dele. –Ordenou Thor, apontando para mim.

–Você sabe que...

–Eu conheço você- Retrucou, silenciando-o momentaneamente.

Ele sorriu, mostrando os dentes.

–Cuidado com a língua, Thor.

–E você com o pescoço- Afirmou, antes de sair pela porta.

–Seu irmão tem um gênio forte- Mencionou após um tempo- E afirmo-te que isso não será nada bom para ele.

Ele voltou-se para mim, observando minha reação diante suas palavras.

–Vamos ver agora o que está acontecendo com você.- Ele disse se aproximando.

–Já estou bem pai- Afirmei, embora o ferimento ainda ardesse- Estou em perfeita condição agora. Apenas lavarei o local com agua fria, nada mais.

Virei de costas, preparando para prosseguir meu caminho para fora daquele ambiente frio e pesado. Mas é obvio que não tinha acabado por isso.

–Como está seu ferimento? Pensei que minha espada tinha causado algo mais grave do que acabar com uma camisa nova.

–Não foi nada grave, Senhor- Afirmei, a respiração presa no pescoço.

Ele acenou uma vez,

–Bela e simplória tua vestimenta- Elogiou- Não me lembro dela em seu baú. Quem foi que lhe emprestou?

–Um servo pai, não me lembro ao certo seu nome- Era mentira. Mas não queria expor Will- Se não tiver mais perguntas, gostaria de me retirar.

–Pode ir- Não poderia acreditar que ele, Odin estava deixando-me partir tão facilmente- Apenas cuide de seu rosto. Haverá um banquete suntuoso amanha e não queremos ver seu belo rosto maculado.

Fiz uma mesura.

–Claro, pai.

Fui correndo o mais rápido que pude para meu quarto, sem parada ou objeções. Precisava descansar. Precisava pensar. Organizar minhas ideias após esse dia conturbado.

–Valravn- Cumprimentei o corvo, enquanto me sentava sobre a cama- Como você está?

Ele virou a cabeça em direção à porta.

–Você não pode sair- Tentei interpretar sua expressão.- Sua asa está demasiada ferida para você voltar para floresta junto com qualquer que seja seu bando. Infelizmente deverá permanecer por mais um período comigo.

“Ele está vindo...Ele está vindo...Ele está vindo...”

Olhei assustado para o corvo. Ainda não havia me acostumado com a voz estridente do animal em minha mente.

–O que foi Valravn?

“Ele está vindo... Ele está vindo...”

–Não tem ninguém vindo- Objetivei- Os empregados estão no salão ou recolhidos esta hora.

“Odin...Odin...Odin...Odin...”Valravn gritou em minha mente.

E como uma sentença a porta se abriu.

–Olá, Loki- Ele me cumprimentou.

–Pai, o que você está fazendo aqui?- indaguei, dando um passo para trás.

–Quem te ajudou?- Ele foi firme, direto.

–Ajuda?- Repeti, como se fosse um eco em uma caverna das montanhas.

–Eu sei que alguém te ajudou a cuidar do seu ferimento.- Acusou, caminhando um único passo para dentro do quarto.

–Acha que eu sou tolo? Que podes me enganar tão facilmente?

–Não!-Retruquei- Ainda estou ferido, ninguém me ajudou!

–Vou te dar mais uma chance. - Ele estava frente a mim agora- Quem te ajudou?

–Ninguém!- Gritei, desesperado.

–Acha que pode mentir para mim?-Desafiou- Eu sou o Pai de Todos. Eu vejo tudo. Sei de tudo que acontece em meus domínios. –Odin segurou meu punho esquerdo com força. A marca vermelha de seus dedos prensada em minha pele- Você não pode me enganar.

–Ninguém- Insisti. Não me importava se ele sabia ou não, nem mesmo o que ele faria comigo em seguida, mas jamais mencionaria Garret. Dos meus lábios nada sairia, além da negação.

–Você vai se arrepender por suas mentiras- Jurou, olhando diretamente para os meus olhos.

–È você está mentindo- A voz de Valravn ressoou pelo cômodo, uma acusação fria e direta, numa voz quase humana.

Ele me largou no mesmo instante, se dirigindo para o corvo.

Como ousa trazer um animal amaldiçoado para esta casa?

–Corvos não são animais amaldiçoados- Rebati, um tom mais alto.

Odin retirou uma adaga do coldre em que trajava, uma arma curva de dois gumes, afiada, manchada com o sangue seco da ultima vitima, animal ou humana que ousou cruzar seu caminho.

–Esse pelo menos não será mais um- Ele disse levantando a arma no ar.

–Não!- Eu gritei, segurando seu braço, tentando impedir o movimento. Nunca havia desafiado meu pai antes, sempre havia sido um maldito covarde que abaixava sua cabeça quando era repreendido, valorizando o respeito absoluto.

Até aquele momento.

–Seu bastardo- Ele me socou, com a mão livre.

Senti o sangue expelindo do nariz, seu gosto singular nos lábios. Mesmo que o extinto e a dor estivessem me forçando a largar sua mão, continuei estático na mesma posição, aplicando o máximo de força possível.

–Você não irá feri-lo.- Jurei, tentando forçar sua mão para trás.

–È mesmo?- Desafiou, socando meu rosto pela segunda vez.

–Sim- Disse entre os lábios rachados.- Você não vai tocar nele- Afirmei, colocando a outra mão sobre seu punho.

–Sério?- Ele disse em tom de zombaria.

Um terceiro soco foi desferido, desta vez com tanta brutalidade que um dente saiu voando da minha boca, deixando uma lacuna na parte de trás. Mesmo querendo continuar ali, uma muralha fraca para proteger o animal, fui obrigado a desistir, caindo impotente no chão. Por mais de uma vez tentei me levantar, ficar ereto e prosseguir com meu objetivo, porém o máximo de movimento aplicado foi erguer a cabeça dois centímetros do chão, nada mais.

–È assim que pretende protege-lo?- Indagou- Como uma carne morta?

–Não faça isso. - Implorei, enquanto ele passava sobre meu corpo manchado para agarrar o corvo.

“Mentiroso... Ele é um mentiroso... Um mentiroso!” “Insistiu “ Mate logo ele... Mate ele... Mate ele... Mate ele... Mate ele... “Ordenou o corvo em meus pensamentos”.

“Não” Desconfiava que ele pudesse me ouvir, embora por algum motivo distinto existisse esta conexão psíquica com Valravn.

Odin agarrou o corvo pelo pescoço, pressionando entre o polegar e o indicador, colocando-o bem na minha frente.

–Lembra-se do lobo, Loki?

“Mate ele... Mate ele... Mate ele... MATE ELE” Berrou o corvo, debatendo a asa boa, tentando se libertar com todas as suas forças.

Com um golpe ágil, Odin decepou a cabeça do corvo, separando cada osso e nervo do resto do corpo. A cabeça do animal rolou pelo chão, como uma pedra, parando a centímetros do meu indicador, os olhos vermelhos fixos sem vida, o bico dourado ainda aberto.

–Por quê? Por que fez isso?- Perguntei, as lágrimas frias escorrendo do meu rosto dormente.

Estiquei a mão, tentando alcança-lo, tocar seu corpo sem vida, sem alma e existência uma última vez. Quando finalmente consegui sentir um milésimo de centímetro de sua pena negra, meu pai pisou em meus dedos, pressionando o osso até que a articulação pudesse se partir.

–Por que eu quero que você continue sofrendo, meu filho desobediente- Declarou, se afastando, o som de suas botas ecoando pelo chão.

–Lembre-se amanhã será um grande dia. Realmente será um dia grandioso- Assegurou, como se estivesse em um discurso- Pelo simples motivo que iremos revelar muitas verdades amanhã. –A porta se abriu- E todos irão descobrir o grande mentiroso que você é.

Pude ouvir o rangido da porta se fechando, a chave sendo passada mais de uma vez pela fechadura, trancando-a por completo.

Trancando um cômodo vazio, um cadáver decapitado de um corvo e um menino ferido que estava começando a descobrir o significado da palavra ódio, um caminhando inevitável para a estrada da vingança.


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Notas finais do capítulo

Sei que está um pouco dramático (Culpe o excesso de animes trágicos que assisti essa semana)
Por favor, opinem, critique, recomendem ou comentem a historia.