Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 25
Odio


Notas iniciais do capítulo

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Novo capitulo!



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Capitulo Vinte e Cinco

ÓDIO

Odin

Abri a porta do inferno.

Era isso que aquela sala parecia. Mesmo parecendo ser apenas paredes pintadas de cores fúnebres, quando você sabia a verdade por trás das estruturas de barro e areia, você enxergava lava e fogo descendo pelas paredes, tocando sua pele e derretendo-a. A fumaça das labaredas sufocando-o, retirando seu ar, impedindo de respirar.

–Eu esperava que você viesse. Minha peça preferida do jogo, mesmo sendo apenas mais um peão.

“Apenas mais um peão” Repeti mentalmente.

–È isso que eu sou agora? Apenas mais um peão?

–Não, acho que me interpretei erroneamente. Você é uma peça muito mais importante nesse tabuleiro...

Cerrei os punhos.

–O que você quer? Chamou-me porque quer mais um reino destruído? Quer acabar com tudo assim como acabou com minha vida?- Despejei. Estava cansado de apenas abaixar a cabeça como um patife covarde.

–Não sou eu que estou acabando com sua vida. Alguém acabou com ela muito antes que eu...

Fechei os olhos tentando não lembrar o passado, memorias horríveis e distantes que pareciam que explodiriam minha mente, espalhando seus pedaços para todos os lados.

–E é por isso que estamos aqui. Para nos vingar de todos que acabaram com nossas vidas.

–Matando inocentes?

–Pessoas morrem em uma guerra. Isso é normal.

–Você está ouvindo o que você está falando? Você não era assim antes!VocÊ era diferente...Você era uma boa pessoa.

–Não me lembro de você ser um covarde- Berrou.

–Estou falando de vidas!- Rebati.

–Um deus tem que tomar decisões difíceis.- Disse em desdém.

–Você... Não... È... Um... deus- Palavra por palavra, demorada e arisca, como o ataque de um animal.

–Então você é cego. Não viste o que está acontecendo? O que estou provocando? Algo que apenas um deus, um ser superior é capaz de fazer. Fazendo meu próprio mundo. Um mundo melhor.

–Você é louco- Cuspi, desejando olhar para sua face. Com sua imponente cadeira de prata virada, tudo que era possível ver era sua mão enluvada tocando nas hastes.

–Você não se preocuparia com minha sanidade se soubesse o que aconteceu hoje...-Ameaçou.

–Está falando da missão de Hoder?

–Era esse o nome dele?- Perguntou, fingindo pensar.

–Ele cumpriu sua parte?

–Perfeitamente.

–Então você libertou a garota?- Indaguei, desejando uma resposta positiva. Um único e simples sim bastava.

–E desde quando deixamos reféns vivos? Pessoas que podem estragar tudo que construímos?

O impacto da resposta fez-me vacilar. Mesmo meu consciente esperando esta resposta, o inconsciente brigava para aceita-la. Não estava pronto para a verdade. Para essa verdade.

–O que foi Odin? Ficou por acaso... Decepcionado com a notícia?

–Não- Falei tentando controlar a apreensão e a tristeza na minha voz.

–Juro que por um momento achei ter ouvido... Tristeza. Mas tenho certeza que você não se importava com ela não é?

Ele parecia se divertir com toda aquela situação.

–Você não está nem um pouco curioso para saber qual era a missão de Hoder?

–Se eu tivesse você iria me contar?- Retruquei.

–Normalmente não sou muito de compartilhar detalhes com você, mas creio que mesmo se não disser nada, você iria acabar sabendo.- Seus dedos tamborilavam ásperos na cadeira- Mas ficaria extremamente chateado caso outra pessoa lhe desse à noticia.

–O que você quer dizer com isso?

–Você sabe como tudo isso funciona e o que acontece com as pessoas que sabem demais...

–O que você fez?- Apoiei ambas as mãos na mesa perante mim, as unhas raspando lascas de madeira.

–Fiz o que precisava ser feito.

Mantive silencio, esperando o prosseguimento de sua resposta.

–As vitimas de Hoder foram três pessoas que sabiam demais. Três pessoas que conheciam o segredo mais sombrio dessa organização. Que poderiam acabar com tudo num piscar de olhos, caso esse segredo viesse para conhecimento publico.

–Quem?

–Nana... Willio e seu filho... Balder...

Foi como se houvessem cortado uma linha. A linha que me prendia a vida, a existência. As mãos tremiam, como se a articulação houvesse se rompido. Por um momento pensei que iria ceder a inconsciência.

–Como assim, Balder?- Soquei a mesa com fúria- Você prometeu que não tocaria nunca em meus filhos e ninguém que pertencesse a minha família.

–Seu filho? Você pode até ter o criado e educado como se fosse seu, mas Balder não era realmente seu filho. Não era o seu sangue que corria em suas veias, mas de outro homem, embora o fato for de conhecimento limitado. Sendo assim, Balder não era seu filho, ou seja, ele não fazia parte do trato. Além do mais, ele sabia demais. Descobriu o segredo vital dessa organização e pretendia mostra-lo para seu irmão e sua amiga Nana esse conhecimento, para depois espalhar para os nove reinos. Seriamos destruídos. – Gritou, as palavras roucas e ameaçadoras.

–Ele era apenas um garoto... -A voz saiu esganiçada e baixa.

–Apenas mais um dentre tantos outros que morreram nessa batalha silenciosa, como a agua e as nuvens se modificando no céu. Um inseto, um parasita que devia ser morto e que morreu com a mesma velocidade e facilidade que um- Despejou com desprezo, seus dedos estralando, pulsando nas trevas.

–Você não tem alma!

– Não eu não tenho alma. Ela foi tirada de mim no dia em que perdi tudo, em que vi tudo que mais amava ser destruído- Havia ódio e tristeza em suas palavras- Mas e você Odin, você tem alma?-Desafiou- Nós a perdemos no mesmo dia, pelas mesmas pessoas. Você é exatamente como eu.

–Não sou como você.

–Não? Tem certeza? Não estamos no mesmo barco? Nos afundando nas profundezas sem chance de um retorno.-Ele falou, preso no sofrimento. No estigma que aquele dia havia deixado nele.

–A proposto- Ele falou, a maldade explicita novamente em sua fala- Vi você outro dia treinando arduamente aquele amaldiçoado, Loki.

–Ele precisa aprender a se defender.

–De quem? De pessoas como eu? Da guerra? Dos soldados?- Ele suspirou profundamente- Ou seria do que? Protegê-lo de alguma coisa? Algo que talvez esteja dentro dele?

Mantive o silencio, incapaz de responder aquela pergunta.

–Como você ainda pode dar alguma atenção para ele? Depois de tudo que o pai dele fez para nós?

–O menino não tem culpa- Rebati.

–Claro que tem!

–Então porque não o mata logo?-Perguntei, as palavras simplesmente fluindo dos meus lábios.

–Porque Loki carrega um poder imensurável dentro dele .O poder necessário para concluirmos nossa vingança.

–Poder necessário para destruir todo um mundo- Falei, impressionado com minhas próprias palavras.

Quase podia ver o sorriso irônico se moldado em seus lábios.

–Você percebe as coisas rápido, Odin.

–Você realmente enlouqueceu!

Ele pensou por um curto período de tempo.

–Eu irei impedi-lo.

–E como você acha que pode fazer isso?

–O que você acha?- Falei retirando minha adaga do cinturão, ódio faiscava por cada milímetro do meu corpo, o sentimento sendo canalizado pela lamina através da magia, fazendo com que labaredas de fogo tomassem conta da sua estrutura.

Ele se levantou lentamente, os movimentos tão lentos que parecia que ele tinha esquecido como realiza-los, um paralitico que permaneceu anos confinado na cama e finalmente pode sentir suas pernas novamente. Quando ficou ereto, seus pés se arrastaram pelas sombras densas e ocultas, carregando-as consigo enquanto se aproximava da luz, seu rosto e suas vestes visíveis lentamente, cada fragmento incandescente, cada gota se impregnando e perfurando aquele escudo negro.

Então eu finalmente pude vê-lo.

Os olhos vermelhos acesos, com a pupila negra em fenda, olhos que não fitava a muito tempo pessoalmente.

Os olhos do meu irmão.

–Você não pode me impedir irmãozinho- Ele falou, os dentes brancos brilhando.

–Tem certeza?- Desafiei, brandindo minha espada.

O sorriso se tornou mais amplo em seus lábios, enquanto com um simples gesto de mão, ele entortava a lâmina da espada, o aço se remoendo diante dos meus olhos. Com um estalar de dedos, o metal explodiu em milhões de partículas de areia caindo no chão.

–Você pode ter conhecimento em magia, mas jamais chegara aos meus pés. –Berrou, enquanto sentia um forte aperto no pescoço, sufocando-me. Um aperto de mãos invisíveis, impossíveis de serem vistas, apenas sentidas- Eu posso ver o que você vê. Posso sentir a sua impotência e fragilidade agora, perante um ser como eu. Nunca irá chegar aos meus pés, verme- O nariz sangrava e a visão se tornava turva.

E então a sensação desapareceu.

–Viu como seria fácil te matar?- Coloquei a mão no pescoço. A respiração acelerada e forte devido aos segundos que fui privado de absorver o oxigênio. - Fácil e rápido. Sem nenhum esforço, sem nem mesmo abusar demasiadamente da minha magia e da minha energia vital- Ele se virou- Meu assunto com você está terminado.

–Não! Não está!- Gritei, partindo mais uma vez para a luta, desta vez desprovido de acessórios mágicos de guerra.

Ele abaixou a cabeça, os cabelos compridos cobrindo sua face. Seu único movimento foi o levantar do indicador, a unha comprida e amarelada ereta. Sem nenhum esforço ele empurrou-me em direção da parede, meus ossos se chocando na superfície dura.

–Vai se esconder atrás da magia?- Perguntei, gotas de sangue expelindo da minha boca.

–Não estou me escondendo. Esse poder faz parte de mim, esta correndo pelo meu corpo. Tudo que faço é usufruir dele.

–Você vai se arrepender por estar... Fazendo isso- O sangue não parava de escorrer pelos meus lábios.

–Não, meu caro. Você que irá- Retrucou, fechando a porta com um movimento de mão.

Usei toda a força que restava para me levantar, passos cambaleantes, arrastados em direção minha sala, um caminho que seguia por extinto, não por de fato estar seguindo uma trajetória visível, ignorada pelo meu consciente. Não via e não ouvia nada, apenas o som da porta se trancando.

–Hrethel está morta!- Balbuciei, encostando-me na parede, completamente incrédulo.- Ela está morta!

–Hrethel está morta- Falei olhando para minhas próprias mãos- Ela... Meu irmão...Meu filho... Todos estão morrendo!- Gritei, atirando cada objeto sobre a mesa na parede, ouvindo o estalar dos objetos se quebrando-Todos estão morrendo e mesmo tentando protege-los... Não pude fazer nada! Não pude fazer nada!- Atirei o antigo vaso de porcelana no chão, o único conforto era aquele som partido. Tão fragmentado como minha alma.

–Como irei cumprir a promessa para Beowulf?- Perguntei, ajoelhando-me no chão, sentindo as lágrimas molharem meu rosto- Ele irá morrer sem ver o rosto da mãe... Ele jamais vai poder vê-la de novo... - Coloquei uma mão no rosto- Me perdoe Beowulf...

“Por que a mentira é a única verdade que existe.” Ressoou a voz de Balder em minha mente em meio aos pensamentos de dor.

Foi isso que meu filho havia dito antes de sua morte. Aquela não era uma frase isolada. Sem intenção. Ele sabia de tudo...

E foi por isso que ele morreu.

Será que eu podia ter mudado isso? O que eu poderia fazer para impedir todas essas mortes? O que eu poderia fazer para impedir a destruição que virá?

“Porque Loki tem o poder necessário para concluirmos nossa vingança.”

“Poder necessário para destruir todo um mundo”

Loki... Se ele despertasse... Se seu poder surgisse...

Não. Eu iria tentar impedir isso. Iria aprimorar seu treinamento, achar formar para impedir que o pior acontecesse. Não importe o quanto ele me odeie, farei o que estiver ao meu alcance para impedir o pior.

Porque se isso acontecesse, se seu poder fosse libertado... Se os pecados de seu pai apresentassem nesta criança... Eu serei obrigado a mata-lo. Com minhas próprias mãos.

Não uma simples morte. A coisa dentro dele era muito forte. Seria necessário dor e sofrimento em quantidades alarmantes para que aquilo possa morrer...

Métodos horríveis de tortura se minhas informações estivessem corretas.

Mas se chegasse a hora, seria obrigado a fazer isso.

–E eu faria- Falei olhando para minhas próprias mãos.- Eu mataria Loki.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? Bom, ruim... Podem falar tá? Eu não mordo kkk
E vocês fantasminhas? Opiniões, please