Levantei-me do sofá e fui até porta, tranquei a mesma e fiz o mesmo com as duas únicas janelas do apartamento, me certifiquei de que estavam bem trancadas, e escondi as chaves no armário, é interessante você esconder coisas de si mesmo. Fui até a cozinha (lê-se minúscula cozinha) e abri o armário de cima onde eu guardava meu vinho. É interessante o gosto do vinho, doce e amargo ao mesmo tempo, desce quente pela garganta e pesa no estomago. Eu gostava de vinho, algumas pessoas preferem Uisk, mas o vinho é melhor ao menos para mim.

Já devia estar na minha terceira taça, sabia que devia parar, eu era um tanto fraco para bebidas, por isso nunca saia para beber com os amigos. Fechei a garrafa com a rolha, e me sentei no sofá, minha visão já era turva e eu devia estar fazendo careta, mas não me sentia mal. Levantei-me e fui até o banheiro tomar um banho, devia estar fedendo a suor, e já estava tão cansado que eu poderia dormir em qualquer lugar que eu caísse.

Sai do banho já com a cueca pronto para dormir, não queria saber de mais nada, nem provas, nem Piper, nem vinho. Só queria descansar pra sempre, graças aos céus amanha era domingo e eu não precisaria fazer nada. Deite-me na minha cama de solteiro, cobrindo com o lençol apenas do meu quadril para baixo. Mesmo que fosse inverno eu não queria me cobrir, não estava tão frio realmente.

Rapidamente adormeci.

Passei a maior parte daquele domingo dormindo, mas quando acordei me arrependi de ter bebido na noite passada. Minha cabeça latejava, conferi o relógio na cômoda e já era 13h da tarde, bufei e me levantei a contra gosto. Fui até o banheiro e ri da minha cara amassada, lavei o rosto e sai. Comecei a preparar um sanduíche, porém fui interrompido pelo toque do celular, sabia ser Piper. O toque para suas chamadas era personalizado, o pior era que ela havia escolhido e sinceramente era a musica mais gay que existia. I’m Alive da BECCA. A música parecia dizer, “Eu estou viva hahahahaha” e na minha humilde opinião isso era um pouco assustador, quando é sua namorada era como se ela dissesse "Eu ainda estou viva, então não tem como você fugir de mim!". Larguei o sanduíche não terminado em cima da bancada e fui até o sofá.

– Alô? – atendi.

– Oi amor, dormiu bem? - indagou ela do outro lado da linha.

– Dormi mais que a noite inteira. - respondi e ela riu. - O que está fazendo?

– Estou fazendo as unhas com a Rachel. - disse ela e pude perceber um sorriso em sua voz. - Tenho que estar bonita pra você.

– Você já é linda sem esforço. - eu disse, mesmo cheia de fuligem no rosto ela continuaria linda. - E o restaurante?

– Fiz reserva no Frenchy’s, tudo bem? – indagou minha namorada com a voz animada. Supirei.

– Certo, onde fica? – indaguei, talvez fosse um restaurante super caro e eu tivesse de vestir terno.

– Ah, fica perto da... Fijimon Hotel. – ela respondeu, não parecia muito certa.

Fiquei aliviado, o restaurante não era em um bairro chique ou coisa parecida, por que a grana ta curta. Mas tudo pela minha namorada fala mais, que pobre na chuva, mas eu amo. Não o fato dela falar muito, e sim, bem ela.

– Tudo bem, às sete? – indaguei voltando a cozinha para meu merecido sanduíche de presunto.

– Sim, esteja pronto. – disse ela incisiva.

– Okay, não se preocupe amor. – disse rindo.

Ela falou sobre o restaurante por mais vinte minutos antes de desligar.

*19h00min*

Eu estava parado em frente ao prédio esperando por Piper, havia recebido mensagens de que ela já estava perto. Pensei em acender um cigarro, mas ela poderia ficar brava, então decidi por não, havia pego 150 dólares para pagar a conta. Eu usava uma blusa xadrez com uma jaqueta de coura preta. Tênis e uma calça jeans grossa. Eu devia estar bem pois Piper sorriu largamente ao me ver, entrei no carro.

– Ei, eu posso dirigir? – indaguei antes de sairmos do lugar.

– Não. – respondeu ela de imediato.

– Por que não? – indaguei manhoso.

– Meu carro, eu dirijo. – replicou ela, cruzei os braços e fiz bico, saímos dali. – Para com isso, sabe que não gosto que dirijam meu carro.

– Mas sou seu namorado. – retruquei, o que só a fez rir.

– Ainda é outra pessoa, não vai dirigir. – disse ela desviando os olhos da rua para me olhar por alguns milésimos de segundo. – Está bonito.

– Você também está linda.

Ela usava um vestido roxo escuro de alcinha, o decote em V e seus cabelos preso em um coque, com poucas mechas soltas. A maquiagem era leve, mas mesmo assim ela estava bonita, isso não se podia negar. Era difícil não gostar de Piper, ela é cativante, mas depois de um tempo se torna um porre. Como as princesas bobas de livros de aventuras, sempre são pegas facilmente, mas no final você quer joga-las da torre.

– Está sabendo? – indagou ela.

– Sobre? – indaguei olhando as luzes da cidade noturna, mas estrelas eu não conseguia ver nenhuma.

– Percy e Annie.

– O que têm eles? – indaguei suspirando, isso tem cara de fofoca de garota.

– Percy terminou com ela. – disse ela rindo, eu deveria fazer o mesmo? – Para ficar com um garoto.

Engasguei com o ar.

– O que? - não podia ser verdade, Percy com outro garoto? – É serio?

– Sim, ele está com Nico Di Angelo, aquele que parece emo. – disse ela rindo após. – Eu nem acreditei na hora que me contaram.

– Nossa isso é tenso. – eu disse arqueando as sobrancelhas. Eu já sabia que Nico gostava de Percy, mas não sabia que os dois iriam bem, namorar. – Não pensei que...

Decidi não falar nada, Piper era bem fofoqueira quando queria. Ela falou sobre isso o restante do caminho.

O garçom nos levou até uma mesa mais afastada, Piper sorria muito, eu devia estar com cara de tédio. Ela pediu para nos dois, nem prestei muita atenção nisso, o garçom sumiu e ela apoiou os cotovelos na mesa e segurou o queixo com as costas das mãos. Olhei ao redor, o restaurante não era muito grande, mas também não era pequeno, as mesas tinham um forro vermelho e branco, os talheres estavam todos ali, taças a nossa frente. Nos estávamos na frente de uma das janelas, estavam um pouco embaçadas por causa do frio, mas ainda era possível ver do lado de fora.

– Opa, vai ter vinho? – indaguei e ela riu.

– Vai sim Jason, agora me conte sobre a faculdade. – disse ela sorrindo docemente, era com certeza bonita, mas muito irritante.

– Ah, está tudo muito bem, as provas foram difíceis, mas me sai bem. – sorri.

– Confesso que cheguei a pensar que você estava me evitando. – disse ela sorrindo, mas pude sentir a preocupação em sua voz. – Mas você estava só um pouco ocupado não é? Eu fui egoísta.

– Bem, ocupado eu realmente estava, mas você não foi egoísta. – disse ao sorrir. – É normal que se preocupe, mas nem deveria, sabe que eu te amo não sabe?

– Sei, mas me preocupo não nos falarmos por três dias? – replicou ela com a voz trêmula. – Eu pensei que estivesse se afastando de mim, ou que estivesse com outra.

– Eu com outra? – indaguei surpreso. – Piper, eu nunca, jamais iria lhe trair, acredite. – lhe assegurei, sorri. – Se eu não quisesse mais ficar com você terminaria, mas como este não é o caso, você nem precisa se preocupar com essas bobagens.

– Se você terminasse comigo eu mandava assassinos atrás de você. – ela riu e eu também.

Neste momento o garçom chegou, trazendo os pedidos, que era um prato simples, mas não me lembro qual o nome. Comemos em silencio, por um tempo, até que ela puxou assunto. Falamos sobre coisas estúpidas como, animais de estimação ou carros, mas foi divertido até. Piper estava tão bonita que eu não conseguia parar de encarar seus olhos multicoloridos, talvez eu tivesse sem piscar a alguns minutos, ela estalou os dedos em frente aos meus olhos. Pisquei e depois ri, ela sorriu desconfiada.

– Você está linda. – eu disse, ela sorriu corando.

– Você também está. – replicou ela arqueando as sobrancelhas como se me desafiasse.

– Ah, eu só estou a bagaça que sempre fui, mas você está ofuscando todo mundo hoje. – ela riu e tomou um gole do vinho.

– Eu estou ofuscando? – indagou ela e riu logo após. – Você não quer ir para Paris comigo mesmo?

– Não é que eu não queira, eu não posso. – disse já havia lhe explicado diversas vezes. – Eu não tenho dinheiro, não tenho visto, não tenho nem com quem deixar Mellie. – essa era meu lindo peixinho. – Eu queria muito poder ir, mas não tem jeito meu amor.

Ela comprimiu os lábios. Sabia que ela estava receosa por conta disso, mas ela tinha que entender minhas condições, eu sobrevivo da pensão de minha mãe. E minha mãe nem é a pessoa que a manda, e sim seu advogado. Thalia me ajudava um pouco, ia comigo todo fim de mês fazer compras, já que eu nunca sabia do que eu iria precisar. Ela morava em outra cidade, mas em duas horas ela já estava aqui. Namorar Piper ajudou um pouco de certa forma, de vez enquanto ela faz jantar para nos na minha casa, ou saímos.

– Perdão eu sou realmente muito egoísta. – disse ela mais para si mesma, desviando o olhar pra a janela do lugar.

– Não foi o que eu disse. – disse e segurei sua mão. – Você não tem culpa de eu ser assim. Agora pare com essa frescura e me dê um sorriso, vamos.

– Tudo bem. – ela sorriu docemente, eu ainda gostava dela.

Depois do jantar fomos até uma praça ali perto, Chicago era um lugar romântico, nem sei como nunca percebi. Era inverno e eu havia lhe dado meu casaco, já que seu casaquinho não parecia ser o suficiente. As mechas soltas se balançavam com o vento fraco e as luzes de natal faziam seus olhos cintilarem. Seus dedos entrelaçados com os meus, a neve ainda não começara a cair, mas o inverno avançava rapidamente.

Compramos chocolate quente em uma Starbucks qualquer, e fizemos a caminhada silenciosa pelo parque. Era isso que eu mais gostava, nenhuma palavra precisava ser dita, apenas uma troca de olhares ou até mesmo sorrisos, eram mais que o suficiente. A fumaça saia de mim quando eu inspirava o calor da mão de Piper, a bebida quente na outra mão. Estava tudo perfeito, eu não mudaria nada naquele momento tão nosso.

Mas isso não podia durar para sempre.

Voltávamos para o carro, ainda de mãos dadas e ela com meu casaco. Ela sorria. Um sorriso lindo com um gloss fraco, o mesmo perdera o brilho depois de alguns beijos. Ela estava se sentindo melhor, e isso era bom eu estava feliz por conseguir fazer com que ela sorrisse. Mesmo que isso me custasse algumas coisas, mas eu realmente não estava muito preocupado com aquilo. Mas algo ou melhor alguém, teve de nos interromper.

– Jason! – chamou uma voz feminina a minha esquerda, olhei e logo uma garota de cabelos negros estava ao meu lado, usava um gorro rosa fosco e roupas roxas. – Não acredito, há quanto tempo.

Franzi o cenho para logo depois reconhecer a garota ao meu lado, era Reyna.

– Deuses, Reyna? – indaguei sem realmente esperar uma resposta ela assentiu sorrindo, soltei a mão de Piper e abracei a garota. – Nossa, mas quantos anos foram? Três?

– Foram quatro, nem acredito que te encontrei novamente. – disse ela ainda em meus braços, ela se afastou e seus olhos castanhos brilhavam.

Reyna fora minha parceira em um acampamento há quatro anos, nos dividíamos as tarefas de pretores, ou melhor, éramos como representantes. Mas havia mais pessoas acima de nos, as quais se achavam muito superiores. Logo me lembrei daquele verão, me lembrei das pessoas que estavam lá. Principalmente de Octavian, nossa aquele pirralho era chato, ri um pouco e Piper pigarreou ao meu lado.

– Ah, perdão. – pedi percebendo que minha namorada se encontrava um tanto perdida. – Reyna esta é Piper, ela é minha namorada.

– Muito prazer. – Reyna a cumprimentou estendendo a mão, trocaram um aperto. – Sou Reyna, eu trabalhei em um acampamento com Jason há alguns anos.

– O prazer é meu, sou Piper, mas disso você já sabia. – disse ela ao sorrir.

– Então alguém conseguiu enlaçar você Jason, e nossa ela é bonita. – disse Reyna e senti meu rosto esquentar. – Eu fui caidinha por ele naquela época.

As duas riram e eu estava morrendo de vergonha, não fazia ideia de que Reyna era "caidinha" por mim.

– Foi difícil, mas eu consegui. – riu-se Piper.

Como assim difícil? O que teve de difícil? Quem te pediu em namoro foi eu! Garotas são muito complicadas meu deus. Quando se namora você tem que pensar no mínimo quatro vezes para falar algo, e pense em esquecer qualquer data comemorativa, será seu fim. Essas malucas comemoram até a primeira vez que andam de mãos dadas, vê se pode? Elas devem comemorar até a primeira vez que você falou o nome delas, não isso já deve ser exagero, mas nem vou dar a ideia.

Conversaram por mais dez minutos, e o assunto era: Jason. Riam e falavam sobre meu corpo e personalidade e aumentavam algumas coisas. Nós nos sentamos perto do píer em um banco de pedra fria. Eu já estava me arrependendo de ter apresentado as duas. Finalmente Rayna se manifestou dizendo que tinha de ir, deu um beijinho na bochecha de Piper e me abraçou.

– Bem, me liga, talvez possamos sair qualquer dia desses. – disse ela sorrindo.

– Ligo sim, e você tem noticia do acampamento? – indaguei esperançoso, seria legal ver o lugar depois de tantos anos.

– Oh, Jason, querido o acampamento foi fechado há dois anos. – disse ela com um sorriso triste. – Mas ainda não foi comprado por ninguém, talvez você não queira ir até lá, por que eu adoraria ver como ele está.

– Eu adoraria, podemos marcar então. – eu disse, queria mesmo ver, ela assentiu.

– Até mais. – disse ao se afastar.

Acenei assistindo a morena desaparecer entre a multidão. Foi bom vê-la de novo, fazia tanto tempo que eu não via ninguém de meu passado. Com certeza iriamos juntos até o acampamento.

Enquanto a mim e Piper nós fomos a silencio até o carro, e assim que entramos:

– Não vai ligar pra ela. – disse Piper com a voz neutra.

“Mas...”