Segundo dia de aula. Pro lado de fora o sol explendia, os passarinhos cantavam, as folhas caíam das árvores por causa da próxima estação que chegava eminente. Tudo parecia perfeito. Porém, Maka acordou de um modo... Digamos não tão perfeito assim.

- TSSSSSSSUBAKI-SAMMMA! - gritou um garoto meio baixo, adentrando a porta com toda a força, acabando quase por quebrar a mesma. Ele usava um terno preto meio relaxado, cabelos de um verde-água realmente estranho e olhos da mesma cor. Tinha algo escrito em branco nas costas; a palavra "Black" e uma estrela - como aquela de Davi - desenhada. - HORA DE ACORDAR, HOJE É UM NOVO DIA!

A loira caiu da cama com o susto, batendo a cabeça. De novo? Foi o que se perguntou intuitivamente. Olhou pro lado; sua companheira de quarto já não estava mais na sua cama.

- BLACK STAR, QUAL O SEU PROBLEMA?! - berrou Maka, jogando um sapato que encontrou perto da cama na cabeça do rapaz, que desviou sem problemas.

- Maka, quieta! - ele se recusou a responder, cruzando os braços - Onde está a Tsubaki-sama?! Eu, como seu guarda-costas, tenho a obrigação de protegê-la a qualquer momento!

- Então como foi que ela saiu às 4h30min da manhã e você não notou? - Maka levantou-se. Estava com um pijama bem largo e com o cabelo todo despenteado. Porém não se envergonhava de seu estado; Black Star ser seu despertador fazia parte da rotina.

- Até alguém como eu, que vai superar Deus, tem que descançar, né? Acabei dormindo e não vi. E pra onde ela foi?

- Pra empresa, claro! Ela faz isso ao menos umas quatro vezes por semana, idiota. - falou, caminhando pelo quarto e abrindo uma bolsa. Elas ainda nem tinham desfeito as malas, portanto todos os armários e os dois guarda-roupas se encontravam vazios e o chão na situação contrária - Vá esperá-la na frente do dormitório. Agora são... - olhou rapidamente pro relogio de pulso, então completou - 7h5min. Daqui a pouco ela chega. Se é que não já está aqui.

- Certo, certo... - Ele suspirou, derrotado. Maka conhecia muito melhor Tsubaki do que ele jamais sequer pensou em conhecer.

Nem se congedou com a loira, que agora já estava no banheiro. Saiu pela porta, e enquanto caminhava pelo corredor de olhos fechados pensando no que comeria pro almoço, acabou esbarrando em alguma coisa, caindo pra trás. Abriu os olhos e notou que tinha batido a cabeça contra a janela.

Levantou-se. Estava quase xingando alguém, quando notou uma cena logo na frente do prédio que lhe dava uma estranha sensação: Tsubaki estava falando com um garoto. Cabelos prateados, uniforme colocado em modo despojado e sem gravata. Sim, aquele era o tal Evans que sempre via nas festas de gala que ia com a Nakatsukasa. Ele sempre ficava nos cantos, normalmente vinha cumprimentado depois de seu irmão. Provavelmente aquela era uma manobra de seu pai; estabelecer uma 'amizade' com alguém de tão alto nível como a atual dona da maior companhia de armas do Japão seria perfeito.

Serrou seu punho. Era extremamente frustrante ter sempre que vê-la sendo enganada pelos outros, sem dizer uma palavra. Seus caminhos jamais se juntariam, mesmo estando tão juntos desde o começo. Ele não passava de um mordomo, afinal. Já ela pertencia à mais alta sociedade.

Flash Back

- Ei Tsubaki! - Eu disse, abrindo o melhor sorriso que sempre guardei pra ela. Aquela que é um ano mais nova que eu, mas que por algum motivo crescia mais rapidamente.

- Sim, Black-kun? - a menina parou de desenhar, então me olhou. Eu lhe mostrei um desenho, bem mal feito por sinal, em que eu estava em cima do mundo e Tsubaki ao meu lado .

- Quando eu superar Deus, você ainda vai ficar comigo, certo?!

- Uhum. - Tsubaki sorriu, tirando todas as minhas incertezas com aquela palavra monosílaba. - Eu prometo.

Mas então aquele dia chegou. Seus pais morreram e pouco depois seu irmão, vendo que não tinha recebido nada de herança, acabou se matando.

Ninguém pediu o que ela queria, simplesmente lhe dando todas as responsabilidades com apenas 13 anos de idade. Ela se afundou nos negócios da familia, quase não tendo mais tempo para estudar. Tinha um tutor, mas que praticamente não fazia nada além de lhe roubar dinheiro.

Entretanto Tsubaki aguentou tudo calada, simplesmente aceitando a vontade dos outros, aguentando toda a dor sozinha. E eu, impotente, assisti pelos bastidores seu palco cair em pedaços.

Me proibiram de chamá-la pelo primeiro nome sem o sufixo "-sama". Minha familia desde sempre havia servido os Nakatsukasa, mas por ter subido na gerarquia, acabamos perdendo este costume - que eu fiz questão de prosseguir, pois era a única forma de ficar perto dela e ajudar, nem que fosse um pouco, a mudar aquele olhar triste.

Sinto que falhei. Por mais que eu possa vê-la todos os dias... Eu duvido que nossa promessa jamais será cumprida. Tanto faz. Era somente um desejo egoísta meu.

Flash Back

O sinal tocou. Finalmente era a hora do almoço, ninguém aguentava mais! Depois de um verão como aquele, voltar aos estudos eram realmente dificil. Maka levantou-se, e logo sua amiga, Tsubaki, a seguiu. Enfim usavam os uniformes da escola. O da Albarn estava perfeitamente colocado, assim como o penteado que sempre usava. Saia e gravata negras, blusa social branca e um tauiller da mesma cor da saia por cima. As presilhas do mesmo tinham a forma de um crânio estilizado, simbolo do Shibusen.

Aquele de Tsubaki estava um pouco menos arrumado; sua gravata estava torta, uma meia mais pra cima que a outra, o tauiller aberto e a blusa social estava meio que mal abotoada. Tudo isso por que teve poucos minutos para se arrumar, mas continuava aceitável.

- Ei, Maka-chan! - Tsubaki sorriu, colocando as mãos pra trás, enquanto olhava de lado para a amiga.

- Sim? - respondeu Maka, impassível, sempre olhando para frente. Pensando em qualquer outra coisa, menos naquilo que a morena estava dizendo.

- Adivinha quem eu encontrei esta manhã? - A loira ficou quieta, e Tsubaki entendeu aquilo como um "Quem?" - Soul Eater Evans! Ele me disse oi, e olha que a gente nunca nem se falou.

- Isso é normal, estão na mesma classe. - suspirou - Porque eu sinto que você gosta dele? - a garota suspirou, vendo o quanto a Nakatsukasa era tapada. Ela sinceramente não via que Black Star estava apaixonado por ela? - Certo, isso não é problema meu... - disse a si mesma, mesmo se a colega pensou que fosse direcionado a ela.

Estavam se dirigindo à cantina, quando a loira escutou alguma coisa vindo de uma sala ali ao lado. Parou por um momento; sim, alguém estava falando algo de extremamente ecêntrico do outro lado daquela porta. Disse para a Nakatsukasa seguir em frente que ela logo a alcançaria, a qual não demorou a assentir. Maka conhecia aquela voz.

Assim que se viu sozinha abriu a porta, e viu o filho do diretor brigando com um garoto - talvez do primeiro ano. Confirmou suas suspeitas, mas não pôde evitar o espanto; jamais imaginaria que ele fosse aquele tipo de gente.

- O que está havendo aqui? - A Albarn gritou, desconcentrando Kid, que acabou soltando o moleque que não demorou pra sair correndo dali, passando por ela apavorado.

- Você viu como ele estava vestido? Odeio pessoas daquele nível. - Comentou, virando-se e vendo-a à sua frente. Ele já a tinha visto. Sim, era a garota do dia anterior, aquela que era simetricamente perfeita; roupas em ordem, o cabelo amarrado igualmente nos dois lados, até mesmo sua franja era omogênea. Olhos bem mais verdes do que achava que fossem da primeira vez que os viu. Mas talvez fosse uma questão de luz.

- Com qual direito acha que pode tratar mal outro ser humano? Eu me pergunto quem é que tem o "nível" mais baixo aqui! - berrou ela, irritando-o. Começou a caminhar. Ela tentou acompanhar seu passo indo para trás, mas foi inútil; quando notou ele já tinha fechado a porta às suas costas com um movimento rápido e jogado-a contra a mesma. Doeu um pouco, mas Maka fez questão de não demonstrar.

- Hum? - Ele apoitou uma mão ao lado de sua cabeça, envergando o braço, fazendo-os ficar a poucos centimetros um do outro. Como se fosse alheia à isso, sua outra mão ficou no bolso da calça preta - Você com certeza não é nobre. Deve ser que nem o Ox Ford do primeiro ano. Segundo ano, certo? Acho que não deveria tratar assim um seu sempai que também é superior na classe social.

Os olhos topázio a encurralaram. Queria revidar, mas por algum motivo naquele momento sentia suas pernas tremerem, mas não por medo. Era uma sensação que nunca tinha sentido antes.

Por um lado boa. Por outro detestável. Ele era o tipo de gente que ela mais odiava.

- Death-sempai... - sussurrou a garota, abaixando o olhar. Sim, estava melhor, aquele sentimento parecia diminiur sem o olhar diretamente nos olhos. - Perdão se sou rude, mas acho que isso não tem nada a ver. Cada um tem um modo de ver as coisas, certo?

Ele se afastou, tirando o braço de perto dela. Não entendia, mas de certa forma estava curioso. As garotas normalmente choravam ou tentavam beijá-lo quando fazia algo do tipo. Aquela reação, além de nova, era interessante. Cruzou os braços, esperando o resto impaciente.

- Qual o problema se ele estava vestido daquele jeito? - Pegou coragem, encontrou seus orbes. Não era tão dificil, com ele mais longe - Não vai mudar nada pra você. E como se atreve... Dizendo que é superior a mim porque o SEU PAI é rico? Quando foi que você fez algo para conseguir algo na vida?

Silêncio. Palavras cruciais; é, ela tinha acertado na ferida. Ele, assim como a maioria das pessoas daquela escola, não passava de alguém que dependia de tudo e pra tudo. Deu de bruços; por mais que se sentisse em culpa, não nasceu rico porque quis. E ele sempre viu aquilo como uma benção, ao invéz de um carma como a garota à sua frente queria fazer parecer.

- Interessante. - Ele tirou a outra mão no bolso, passando-a delicadamente sobre a face da garota, que por um segundo achou que ele fosse bater nela, fechando rapidamente os olhos. - Não se preocupe, eu não bato em mulheres. - Ele riu com a reação dela, que ao escutar aquilo notou o medo que sem querer tinha presenciado em vão, reabrindo os orbes verdes. Os quais não demoraram a voltar a olhar aquele rosto pálido. Ele caminhou até ela, que se afastou, e a mão de Kid alcançou a maçaneta da porta, abrindo-a - Nos vemos por aí, plebéia. - Sorriu cinicamente, fechando a porta atrás de si.

Maka, por algum motivo desconhecido, sentiu um mal pressentimento sobre aquela frase. E ela não sabia o quanto estava certa.