Capítulo 16- Desnecessária Preocupação

Não sei porque estou tão preocupada com ele. Não deveria, pelo menos não com justamente ele. O causador daquilo tudo.

Mas como não pensar em onde ele estaria naquele momento?

Desci e fui na direção em que Luis fora. Quando virei o corredor, o vi sozinho sentado no último banco do pátio. Diminui o passo pensando exatamente em quais palavras usar para não causar uma nova discussão.

Ainda de longe percebi que seu estado era bem pior do que eu imaginava. Ele com certeza estava pior do que Fernando. Não consegui não sentir pena daquele rosto tão lindo todo marcado por escoriações.

Percebendo minha aproximação vagarosa, Luis girou o corpo no banco ficando de costas pra mim.

Limpando o rosto– ainda sujo de sangue– na manga da camisa, resmungou:

–O que você quer?Já não basta a surra que eu levei? Veio pra ver o estrago de perto não é? –Falava ele asperamente com ódio na voz e fitando o chão. –Não estou a fim de falar contigo... O que deu naquele imbecil?

O silêncio se fez audível.

–Deixa de ser criança. Não estou a fim de discutir. Eu apenas...

–Que foi? Não tem coragem de dizer o que sente? –Sua voz agora era baixa e de pura amargura.

Interrompeu-me ele antes que eu pudesse pensar em uma palavra apropriada.

–Claro que não eu adoro o Fer...

–Adora, mas não ama. – Ele que até o momento não me olhara virou.

Cara, vendo seu rosto de perto, estava bem mais horrendo do que à distância.

–Nossa... –Levei a mão à boca de desespero. –Luis! Você tem que ir ao hospital! Seu rosto está desfigurado. –Praticamente gritei.

–Para de exagero que nem é pra tanto, é só o meu olho que esta incomodando.

–Você fala assim porque ainda não se olhou no espelho, e acho que quando olhar não vai gostar nada de ver o verdadeiro estrago. Já pensou seu empresário reclamando e adiando vários desfiles... Isso não vai ser legal...

–Você está sendo sarcástica?

–Não.

Na verdade eu estava sim. No fundo, mas bem lá no fundo, eu adorei a surra que meu lindo deu nele. Foi como uma vingança por ele ter me traído, sabe, a atitude que o Nando tomou era a mesma que eu queria tomar quando o peguei lá naquele canto com aquela baranga... Que raiva...

–Não fuja... –Disse ele me encarando.

O esperei continuar para entender do que eu não deveria fugir, mas ele não concluiu. Odeio quando uma pessoa não completa um raciocínio ou uma frase esperando que eu o faça ou pergunte sobre o assunto, cara isso me deixa tão irritada. Ele sabe disso. Então decidi entrar em seu jogo. Não falar. Segurar a minha ansiedade de saber o que ele realmente queria dizer com aquilo.

E calada fiquei.

Olhando indignada sua feição calma e despreocupada quase me descontrolei. Tratei de sentar porque percebi que a espera seria longa.

Depois de cantarolar várias musicas mentalmente, decidi ir embora era o meu recorde de resistência à curiosidade. Descruzei as pernas e ia levantando, quando ele finalmente falou:

–Não fuja... Responda o que eu te perguntei.

Fitei-o ainda um pouco irritada.

–Ai garoto como você consegue ser tão irritante a ponto de me tirar do sério!? O que foi que você me perguntou? –Gritei.

Ele conseguiu me irritar, triunfante sorria sarcasticamente.

–Não aguentou né?

–É não aguentei satisfeito?

–Sim, satisfeitíssimo!

–Qual é o seu problema? Por que adora me estressar? Não te entendo e não me entendo por ainda ficar te dando ouvidos. Sabe, pra que eu estou aqui tentando ter uma conversa decente com você? Fazendo uma comparação, sou uma pessoa intelectual e você um homem das cavernas, você é grosso e tem falas primitivas, eu sou praticamente uma lady com falas muito requintadas e disposta a traduzir o que o ogro fala. Mas parece que o ogro não deseja ser traduzido, não é?

–É por isso que eu gosto de te irritar. Você me atrai quando mexe excessivamente em seus lindos cabelos, quando gesticula graciosa, quando me olha como se fosse capaz de me bater com os próprios. Deveria ver como fica extremamente linda.

Minha raiva sumiu tão rápido que nem percebi minha mudança de expressão. Peguei-me olhando fixamente em seus olhos verdes.

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