(Hiatus) The Soul escrita por Rose


Capítulo 5
Parte Dois - Capítulo Um, Margareth


Notas iniciais do capítulo

Muuuuuuuito obrigada, meus queridos, meus amores. Pelos comentários, por acompanharem, enfim, por tudo. Sou muito grata e espero que continuem gostando da parte Dois da história.



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Estão me mantendo refém em um quarto pequeno e de paredes mofadas há o que parecem ser décadas. Estão me acusando de sufocar a alma de Margareth, filha de George. Sinto-me cansada o tempo todo, embora não consiga dormir – pesadelos acerca de Jared e Ian se alternam em minha mente, assustando-me a todo segundo. Oferecem-me pratos de comida eventualmente, mas não consigo tocar no garfo. Sinto o estômago embrulhar e o medo do alimento estar envenenado. Apesar de Pet ter sido bem mais amistosa e fácil de ser convencida, Melanie deixou uma marca em mim, Peregrina. Não confie tão facilmente nos humanos.

Um rapaz de provavelmente mesma idade que eu vem checar meu “estado” o tempo todo. Presumo que se passem dez minutos entre cada visita. Ele possui cabelos desgrenhados e amarelados, olhos acastanhados e redondos. Eu gosto muito desta cor, castanho-chocolate; é a cor mais humana que pode haver na íris de alguém. Ele não é muito receptivo, no entanto. Quando eu o questiono sobre onde estou e o que farão comigo, ele apenas fica calado me observando da distância segura do batente da porta, como se eu fosse atacá-lo.

Não sei o que fazer. Não sei como fugir, não sei se sou fisicamente capaz de fugir. Sinto falta de Melanie agora. Ela certamente saberia o que fazer.

— A Margareth não está aí, não é mesmo? – uma voz surge repentinamente ecoando pelas paredes, irrompendo meus pensamentos.

— Não – respondo o mais delicadamente possível. Só posso enxergar uma silhueta escurecida movimentando-se atrás da fresta da porta.

A cada vez que o nome de Margareth paira no ar, sinto-me como uma intrusa de novo. Sinto-me sacrificando a vida de alguém pela minha, um parasita. Eu não pude libertá-la como a Melanie, pois “Maggie” já não está mais presente. Ela havia sumido porque criaturas como eu precisam de um hospedeiro, sendo que há outros planetas a serem explorados sem maiores danos. Os humanos não merecem. Eu me sinto horrível.

— Vai ser difícil convencer George. Ele é impossível. Deve ser difícil ver a filha perdida dentro de si mesma – a voz está mais confiante, e sei que é masculina.

— Eu não fiz isso com ela. Eu queria ter ido embora. Já tinha outra alma neste corpo antes de mim, e quando a tiraram, ninguém se apossou do corpo. Por isso me inseriram aqui. Eu gostaria de trazê-la de volta, mas Margareth não está aqui – as lágrimas rolam pelas minhas bochechas, e estou fungando, dando início a um acesso de choro incontrolável e desesperador.

— Eu acredito em você. Pode confiar em mim e em todos os seis pratos de comida que tentamos dar a você – ele ri suavemente, fazendo-me soltar um riso abafado entre os soluços.

Ele resolve mostrar a si para mim. É o rapaz que me visita. Parece bem mais acessível agora, e creio que está de bom humor.

— Sou Jake – ele sorri. Seus dentes são brancos e alinhados.

— Não sei se você sabe, mas sou Peregrina. Pode me chamar de Peg – o apelido me faz recordar de Ian, da voz dele principalmente.

— Jake! – uma voz feminina e autoritária se propaga. – Deixe-me a sós com ela – uma mulher para em frente à porta.

Jake sorri para mim e dá as costas, seguindo para seja lá onde.

Ela é alta e esguia. Sua pele é morena e possui cabelos encaracolados e negros, como seus olhos. Está usando uma calça azul e um moletom vermelho, que fazem harmonia com seus sapatos da mesma cor. Parece jovem se vista de longe, mas quando se aproxima, é visível que ela já coleciona alguns bons anos terrestres, se considerarmos a expectativa de vida dos humanos.

— Sou Sara – ela diz, friamente. Ela me lembra a alma da Buscadora, em conflito com uma voz dentro de si. Não tenho tempo de me apresentar. – Nós vamos tirar você deste corpo. Se quiser, pode escolher para onde quer ir – ela se apressa em cada palavra.

Não quero ir. Eles sabem como retirar uma alma corretamente? Eles irão me matar.

— Margareth não está aqui – é tudo o que eu consigo dizer, em meio aos vestígios de tropeços que restam do meu choro.

— Se não quer escolher, escolheremos para você – ela se limita a dizer.

— Quando? – eu pergunto.

Penso em pedir a ela uma despedida, mas não me atreverei a levá-los até a Caverna, até as pessoas que mais amo e quero proteger. Tenho que fazer uma escolha sensata.

— Nós sabemos, pelo menos a maioria sabe, que Margareth já foi suprimida. Porém, por motivos óbvios, George quer um funeral. Darei a você três dias para encontrar a Maggie, e se por ventura achá-la, nós faremos a bondade de inserir você em um hospedeiro desconhecido para nós. Se não, como eu acho que será, mandaremos você para algum planeta de sua escolha. Esses são os termos.

Eu assinto com a cabeça porque não sei o que dizer a ela. Não sei se quero passar por essa experiência novamente, acordar em outro corpo. Acostumar-me novamente, ser encarada com estranheza. Em parte, deixarei de ser eu mesma mais uma vez. De qualquer forma, assim como Sunny, por mais que eu tente, jamais acharei Margareth. Ela se foi. Serei punida por isso, mas sei que estão certos; um pai não merece ver a filha andando por aí, sendo que não é mais sua filha. É uma coisa. Uma coisa desprezível que se apoderou dela, é isso o que sou.

Desato a chorar novamente, porque é a única opção razoável que me resta. Somo este novo fator aos anteriores – o destino de Jared e a saudade de Ian – e então sinto que toda a água de meu corpo está vazando pelos olhos, e irei desidratar muito em breve.

É a segunda vez que sou mantida em cativeiro por agir de acordo com minha natureza, por me apoderar de um hospedeiro. Acho que o melhor destino para canalizar toda essa culpa e tristeza é a morte.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Manifestem-se, hein, humanos.
Xoxo