Trevor

Estava realmente preocupado. Eram oito e cinquenta e cinco da manhã. Estava na Alemanha, em Berlin, como dizia aquela mensagem. O problema era que eu não parava de correr para o banheiro de um bar perto da onde estava. Vomitar não é legal, principalmente quando você está num lugar público. As pessoas me olhavam como se eu fosse uma mulher, e estivesse grávida. Não, meros mortais. Eu tenho um pênis. E não sou gay.

Olhei meu relógio. Oito e cinquenta em nove. Cinco, quatro, três, dois, um...

Nove horas em ponto.

O ar pareceu ficar mais gelado, e começou a nevar. É, do nada. Olhei para frente, e vi um cara muito sinistro: ele era alto, forte, e tinha muitas manchas escuras no braço esquerdo. Tinha olhos azuis muito claros, e feições até que angelicais. Vestia uma calça jeans preta, botas pretas, e uma camisa branca. Aparentava ter uns trinta e cinco anos.

O homem parou na minha frente, e por instinto me levantei para encará-lo.

– Olá, Trevor - o homem sorriu. Era um sorriso amigável.

– Olá - disse, seriamente - Você foi quem mandou as mensagens para mim?

Ele assentiu.

– Eu sou o anjo branco que invadiu seu mundo.

Uma raiva percorreu meu corpo de forma tão rápida que me contive para não socar a cara daquele... anjo. Mas, espera! Anjos negros só reconhecem anjos negros, e assim é com os brancos. Para ele saber de mim, ele teria que me conhecer, certo?

– Por que me mandou as mensagens? - perguntei, serrando os punhos - Por que esse castigo infernal? Por que você invadiu o Mundo Negro?! - já estava praticamente gritando.

As pessoas que passavam pareciam não nos ver. Isso me aliviou, já que eu estava gritando como um louco. O homem se sentou num banco de uma praça, e eu fui sentar ao seu lado. Ele parecia muito calmo, ao contrário de mim, que estava tendo um colapso nervoso.

– Primeiro, deixe eu me apresentar, Trevor. Meu nome é Jake Kosta. Bem, eu te mandei as mensagens porque você é um cara até conhecido no Mundo Branco. Muito pouco, só por alguns, mas conhecido.

– O quê?! - o interrompi - Como eu sou conhecido? Nunca fui lá.

– Depois explico. Enfim, o castigo é porque você se apaixonou por uma mortal. Isso aí que sente é só o começo, meu caro. O pior está por vir. Não afirmei que você não ganharia mais castigo, só disse que se livraria dele por enquanto.

– Mas...

– Me deixe terminar rapaz - sua voz ainda era calma, e isso me impressionava - Ah, eu invadi o Mundo Negro porque sempre quis saber como é. Desde criança sonhava com isso, para ver como os anjos negros são.

Uma raiva maior ainda esquentava meu corpo. Me levantei do banco e chutei uma plataforma de ferro no chão. Ela rachou.

– Você está provocando uma guerra! - gritei - Não sabe as consequências do que fez?!

Jake sorriu, ainda de um jeito amigável e calmo. Se levantou e saiu andando. Antes de sumir por completo num raio de sol muito forte que encobria a cidade de Berlin, se virou para mim, e disse:

– Ah, Volturi, mais uma coisa: a garota por quem você se apaixonou, não é uma mortal. É um anjo branco.

Ah não, ah não, AH NÃO!, pensei.

Chutei de novo a plataforma de ferro no chão, e fui para a casa, tentando esquecer aquilo.

Quando cheguei, me deitei no sofá e fechei os olhos. Ainda me sentia acordado, mas parecia que meu corpo estava mais leve. Como se fosse num sonho, vi a guerra que provavelmente aconteceria. Apareceram seis cenas, rapidamente. A primeira, era um campo de batalha ainda sem nada. A segunda, eram corpos ensanguentados caídos no chão, a maioria de anjos brancos. A terceira, era eu, deitado no chão, inconsciente, com o corpo ensanguentado. A quarta, era aquela garota que Jake me dissera que era um anjo branco. Ela estava chorando, em cima do meu corpo sem vida. A quinta, era Josh, conversando com a garota ainda chorando em cima de mim. A sexta... ela estava morta, com a cabeça no meu peito.

Meu corpo tremeu, e eu abri os olhos, rezando intensamente para que aquilo não se realizasse. Senti uma coisa subindo pela minha garganta.

Ah, merda, pensei.

Sai correndo e cheguei a tempo suficiente para acertar o vaso sanitário. Por um triz não vomitei para fora.

– Ah, qual é - sussurrei - Por que tem que ser esse castigo? Por que não podia ser um menos nojento?

Meu celular vibrou, avisando uma nova mensagem. Me levantei, cambaleando para o lado. Peguei meu celular, esperando ser uma mensagem do Jake, mas era outro número, outro desconhecido. A mensagem era a seguinte:

Ora, ora Trevor. Um castigo bem dado. Esse é um dos piores. Eu sei que você está apaixonado por um anjo branco, rapaz. Ouvi sua conversa hoje com um deles, e agora eu sei mais do que imagina. Só precisava disso para completar minhas hipóteses.

Continue amando aquela garotinha insignificante, meu amigo, porque sinceramente, não me importo com você, e não sou eu quem dá os castigos para os anjos desse mundo. Quer continuar, vá em frente. Aquela sua alucinação da guerra irá acontecer Volturi, sinto lhe dizer. Ou não.

Abraços, para o meu caro, caro, Trevor.

Congelei. Não conseguia me mexer, nem pensar, e quando percebi, nem respirando estava. Tentei me acalmar, mas era impossível. Tinha alguém me perseguindo. Tinha mais alguém que sabia sobre minha paixão sobre aquela anjo branco. Tinha um cara tentando tramar algo, e que sabia tudo o que acontecia comigo. O que era aquilo? CSI?

Subi correndo as escadas, e me tranquei no quarto. Uma voz na minha cabeça disse:

Não adianta fugir. Eu sempre vou estar um passo a frente de você.

Não, daquele jeito eu ia pirar. Desci para a Terra, em Los Angeles de novo, para ver se achava a anjo branco. Tudo o que eu queria era revê-la, para tentar esquecer a mensagem, e a voz.

Fiquei andando sem rumo, toda hora me segurando para não vomitar. Até que meus joelhos bambearam e eu cai no chão. A garota que eu procurava, a Mackenzie, anjo branco, me viu e ficou parada, como se quisesse me ajudar, mas sabia que não podia. Mesmo assim, depois de uns cinco segundos, ela veio e se agachou ao meu lado.

– Está tudo bem?