Mackenzie

Um dia tinha se passado. Eu achei estranho o fato de eu ainda estar viva. Acho que você já deve saber que anjos brancos não podem passar muito tempo na Terra. É, exatamente.

Depois que Eduard morreu, a única pessoa que me sobrou foi Trevor. Eduard um dia me falou que iria escolher o Além se morresse. Talvez ele esteja lá. Não sei se os pais dele ficaram sabendo, provavelmente sim. Eles perderam os dois filhos, imagina a dor da perda.

Trevor ajudou muito. Ele ficou me consolando até eu me sentir melhor. Ele também inventou de nós passearmos por qualquer lugar – lendo-se Nova Iorque – para tentar me distrair. Não sei como estava nossa aparência, porque por onde passávamos, a maioria das pessoas nos encaravam. E eu não liguei.

Sentamos em um banco de uma praça, observando as pessoas passar. Parecia que todos os anjos brancos resolveram dar uma passeada em Nova Iorque. Reconheci a maioria. Trevor levantou-se e eu também. Saímos andando por uma rua deserta. Ele parecia com pressa, e o caminho todo não disse uma palavra.

Comecei a andar de cabeça baixa, olhando ao chão e aos meus sapatos. Estava interessante olhar os sapatos, até que tombei com alguém.

– Desculpe, desculpe. – falei, sem olhar a quem esbarrei.

– Tudo bem, está bem. – disse a pessoa.

Olhei imediatamente pro rosto da pessoa, reconhecendo a voz. Era Eduard. Sim, ele mesmo. Sei que não era o espírito dele porque sua aparência estava mais viva do que normal. Ele usava uma blusa de uniforme de alguma escola e pude notar uma mochila em suas costas. Tinha um óculos em seu rosto. Trevor estava ao meu lado, e parecia surpreso.

– Você... – comecei a falar. Não consegui terminar a frase.

– Acho que conheço vocês. – disse Eduard. – Não me lembro de onde.

Fitei seus olhos por trás das lentes. Ele escolheu Renascer. Ele se lembra de sua vida, menos que era um anjo. Inclinei-me e o abracei.

– Você escolheu Renascer. – me soltei de seus braços – Por que fez isso?

– Não entendi. – respondeu.

Não rebati. Eu entendia que ele não lembrava. Provavelmente ele acordou em uma casa qualquer que agora é sua e o Destino criou uma vida falsa em seu passado. Renascer pode ser um tanto perigoso. Os riscos de morte são maiores, e não tem nenhuma escolha quando morre. Apenas ir para onde chamariam de céu ou para onde chamariam de inferno.

– Por que fez isso? – falei, sentindo as lágrimas caindo de meus olhos.

Eduard me olhou confuso.

– Por quê?

Trevor pegou meu braço.

– Mackenzie, calma. – disse.

– Não consigo. – limpei as lágrimas com a mão. – Eduard, você vai morrer de novo!

– E-Eu não vou não. – disse finalmente.

Suspirei. Se eu tentar explicar a ele, sou eu quem morrerei.

Eduard teve que ir embora. De acordo com ele, teria que apressar trabalhos escolares. Trabalhos escolares? Nunca tivemos trabalhos escolares. Foi estranho ele dizer isso.

Depois de um tempo, ouvi meu celular tocar. Olhei o identificador e vi que Elissa me ligava. Estranho. Ela só me ligaria se fosse emergência muito séria. Decidi atender. Acho que ela chamava meu nome, porque tinha muito barulho mais alto que sua voz. Eu podia ouvir gritaria, explosões e tiros. Ou Elissa estava numa guerra, ou o Mundo Branco estava um caos.

– Mackenzie? Mackenzie! – ela gritou do outro lado da linha.

– Quê? Estou ouvindo. O que está acontecendo?

– Eu não sei! De repente os anjos brancos começaram a se atacarem e matarem uns aos outros. Parece que a guerra está se juntando aos dois mundos.

Ela fez uma pausa. Durante essa pausa, eu pude ouvir várias gritarias e sons de tiro. O que será que deve estar acontecendo?

– O Mundo Branco e o Mundo Negro estão se dividindo. – continuou Elissa. – Alguns querem juntar os dois mundos, outros querem que tudo esteja como está.

– Mas... como assim?

– Apenas fuja. – concluiu. – Fuja com Trevor, será melhor para vocês não serem atingidos por isso. Está um verdadeiro caos! Não sei onde vai chegar.

– O.k, o.k, entendi. Cuide-se Elissa.

– Cuide-se Mackenzie. – ela desligou.

Guardei o celular no bolso. Eu queria contar a Trevor. Afinal, ele também era um anjo. Mas alguma coisa me impedia de falar.

Senti uma dor na barriga. A dor começou a se espalhar pelo meu corpo. Minhas pernas ficaram bambas e, antes que eu caísse, me segurei em Trevor.

– O que aconteceu? – falou, mostrando preocupação.

Eu queria falar, mas não conseguia.