Mackenzie

A casa de Elissa fica um pouco longe. Corremos por tantos quilômetros que eu acho que perdi uns três quilos. Eu já estava ficando cansada, Elissa era mais rápida que eu. Vi ela indo em direção a uma casa amarela. Corri atrás dela tentando alongar os passos. Elissa chegou à casa primeiro que eu, claro. Quando consegui alcançá-la, caminhamos até a porta, e ela tentou abri-la. Empurrou, socou, chutou a porta com toda força que tinha, mas a porta era mais forte.

– Droga. – ela estava quase gritando. – Não consigo entrar na minha própria casa!

– E se tentarmos pular a janela? – sugeri.

Ela assentiu, caminhou lentamente até a janela e abriu com facilidade. Eu fiquei surpresa pela janela não estar trancada. Colocou uma perna pra dentro e depois a outra. Abaixou a cabeça e passou pela janela. Ela apareceu na janela, dentro da casa, me convidando para entrar. Tentei fazer o mesmo que ela, mas, quando eu desci da janela, pisei em falso e cai no chão. Elissa riu da minha desgraça. Eu não consegui ficar com raiva, abri um leve sorriso.

– Primeiro – falou, sentando-se no chão do outro lado. –, eles não podem nos achar. – levantei-me e sentei ao seu lado. – Segundo, precisamos falar sobre seu castigo.

– Meu castigo?

– Sim querida. – ela ajeitou o cabelo. – Esse castigo é um dos mais sérios. Eu acho um tanto ridículo. Tipo, você pensa em alguma pessoa e só por causa disso você desmaia.

Apenas mexi a cabeça, concordando.

– Eu não conheço muita coisa sobre o castigo – continuou –, conheço outros anjos que o tem. Enfim, eu toquei nesse assunto por uma causa. O quê você vai fazer para livrar do castigo?

– Não sei. – respondi. Fiz uma pausa e falei: - Como posso me livrar?

– Eu já te disse! Você precisa provar seu amor por ele, ou ela, sei lá. Fale-me como é. – um sorriso brotou de seu rosto.

Tentei fazer uma rápida descrição de Trevor, só não contei o fato de ele ser um anjo negro. Não sei qual seria sua reação. Fazia um tempo que eu não o via. Fiquei esperando desmaiar a qualquer momento, mas não fiquei nem com sono. Elissa não pediu para que eu falasse muita coisa depois. Ela ficou falando sobre todas as suas ‘aventuras’. Não prestei muita atenção no que ela dizia, fiquei pensando em como estaria Trevor naquele momento.

Adivinha o que aconteceu depois. Se você falou, ou pensou que eu havia desmaiado, acertou em cheio. Abri os olhos e percebi que estava deitada no chão. Vi Elissa correndo em minha direção com um balde, e jogou água fria em mim.

– Ei, estou acordada! – reclamei.

– Foi mal. Agora que eu vi.

Elissa deixou o balde no chão e saiu andando pelo corredor, entrando em uma porta a direita. Alguns minutos depois ela voltou com uma toalha branca. Entregou-me a toalha e ficou me observando enquanto eu secava meu cabelo, que estava encharcado. Fitei seus olhos, e do nada começamos a rir.

– Por que estamos rindo? – perguntei.

– Eu não sei. – ela pôs a mão na testa.

Respirei fundo e consegui parar de rir. Elissa tomou banho e depois deixou que eu tomasse banho também. Ela deixou que eu escolhesse uma roupa, e eu optei pela mais simples que achei: uma blusa de manga comprida branca e uma calça jeans preta, que por sorte couberam perfeitamente em mim. Coloquei o mesmo tênis de antes e prendi meu cabelo em um coque frouxo. Elissa estava com o cabelo solto. Ela vestia uma camiseta branca por baixo de uma jaqueta vermelha, calça jeans e All Star preto.

– Aonde vai tão arrumada? – falei, enquanto terminava de amarrar o cadarço.

– Aonde vamos. Hum... Vamos pra Terra! – ela levantou os braços num gesto animado. – Não vai ser o melhor modo de fugir, mas vai ser legal.

Consegui abrir um meio sorriso.

– Ah, quanto tempo fiquei desmaiada?

– Um dia e meio.

– U-u-um dia e meio? – tentei não gaguejar por muito tempo. – Pensei que fosse apenas dez minutos.

– Dessa vez foi um dia e meio. Já estou pronta, e você?

– Já estou pronta.

***

Elissa não especificou onde estávamos indo na Terra, mas eu reconheci o lugar: Alabama. O ar quente e seco estava me fazendo suar, e eu não sei como ela conseguia ficar com aquela jaqueta. Também não entendi como a neve não tinha derretido. É época de inverno ou não?!

– Podemos ir comprar uma garrafa d’água? – minha garganta estava “gritando” por alguma coisa líquida.

– Claro.

Fomos até uma padaria, pedi uma garrafa d’água, paguei o caixa e sai. Elissa me esperava do lado de fora. Entreguei-lhe o troco, e ela fez questão de contar pra ver se estava certo.

Vi uma figura pelo seu ombro. Era uma pessoa. Vestia roupas pretas, e logo reconheci que era Trevor. Ele estava de costas para mim, reconheci pela marca em suas costas. Meu coração acelerou, fazia tempo que eu não o via.

– Só um momento. – falei a Elissa.

Andei em passos longos em direção a Trevor, e ele não pareceu me perceber. De repente ele parou, fazendo eu quase tropeçar. Logo acima de seu ombro eu pude ver um homem. Ele parecia estar nos seus quarenta anos. Pele parda, olhos escuros e era careca. Ele tinha um bigode grosso, fazendo-o parecer um tanto psicopata. Pude ver uma arma em sua mão. Ele apontou a arma para Trevor e atirou.

Numa fração de segundo, eu empurrei Trevor e fiquei na sua frente, fazendo a bala atingir meu ombro. Cai no chão instantaneamente. A dor era insuportável. Não sabia se iria agüentar.

Não sei o que aconteceu depois, mas uma coisa eu sabia: eu estava viva.