(Leiam as notas finais e iniciais)

Abri a porta do quarto. Josh me olhou assustado e aliviado. Tirou o compasso das minhas mãos e me abraçou. Eu comecei a soluçar.

– Acabou Trevor – Josh disse -, o castigo acabou, se acalme.

Respirei fundo, e me soltei dos braços de Josh. Ele enfaixou meu ferimento, e começou a conversar comigo, tentando me fazer esquecer tudo aquilo.

– Trevor? Trevor?!

– Hã?

– Você está bem?

Estava me lembrando do que aconteceu. Josh estava do meu lado, em Los Angeles, num banco da praça. Estava nevando, muito frio. A nossa frente havia uma barraca azul escura, grande, com uma fogueira acesa. Eram ainda cinco e meia da manhã; o céu estava escuro, algumas estrelas ainda tomavam conta dele. Estava tudo vazio, a cidade parecia estar morta.

De repente, me veio uma ideia deprimente.

– Josh... qual vai ser meu próximo castigo?

– Não sei Trevor, existem tantos... mas não se preocupe, seja o que for, sempre vou te ajudar.

Abri um sorriso, e voltei os olhos para a barraca. Dela saiu um garoto ruivo com sardas no rosto, e um machucado na boca. Vestia uma calça, e um casaco grosso verde.

– Eduard? – perguntei, indo em direção a ele.

– Trevor! – exclamou o garoto.

Examinei sua boca. O machucado estava um pouco feio, mas pelo menos estava melhor que meu nariz, que estava levemente roxo, inchado, e dolorido.

– Desculpe pelo seu nariz – falou Eduard, coçando a nuca.

– Tudo bem. Desculpe pela sua boca.

Eduard sorriu. Se afastou um pouco de mim, pois Josh apareceu do meu lado.

– Outro anjo negro?

– Somos menos assassinos que anjos brancos – disse Josh, sorrindo.

Eduard sorriu com nervosismo, mas pareceu concordar.

– Ah, tenho que tentar fazer a Mackenzie lembrar de você.

– Tem? – perguntei abobalhado.

– Tenho – Eduard assentiu – Ela não lembra de muita coisa, mas sinto que tem que lembrar de você. Tive um sonho sobre vocês dois.

– O.K, acho melhor eu ir – falou Josh.

– Nem. Se. Atreva – falei.

Josh riu. Se virou e sentou num banco ali perto.

Eu e Eduard ficamos conversando sobre assuntos aleatórios, como regras inúteis dos nossos mundos, castigos inúteis, dores inúteis, e sobre os socos que demos um no outro. Ele perguntou se tinha quebrado meu nariz, eu disse que não, mas xinguei-o porque ainda estava doendo. Eduard riu.

– Você não parece ser quem eu imaginava, Trevor.

– Ah é?! – abri um sorriso, dando um soco leve no ombro de Eduard - Como você me imaginava, Senhor Tiski?

– Como sabe meu sobrenome?

– Sinceramente, não sei. Mas sério, como me imaginava?

– Um cara frio, insensível, e assassino. E talvez, assim, só talvez, eu esteja com ciúmes de você e a Mack.

Arregalei os olhos e ri.

– Ela é sua amiga. Sua melhor amiga, talvez, não sei ao certo. Mas ela é sua primeiro. Só que eu quero uma parte – fiz uma careta – Cara, acho que meu próximo castigo é falar merda.

Eduard sorriu. Ficamos conversando até seis horas, depois Josh veio falar comigo e acabou entrando na falação. Eduard era um cara legal, por mais que parecesse que não gostava de quebrar regras. E ainda tinha certo pavor de mim.

Mackenzie saiu da barraca umas sete e meia da manhã. Nem tínhamos percebido, até que ela chegou atrás de Eduard e cutucou o ombro dele.

– Quem são... – Mackenzie apontou para mim e Josh - Espera, um de vocês dois é o Trevor. Espera de novo, quem é Trevor?

– Seunamoradoanjonegroquetefezreceberessecastigo – Eduard disse tudo sem respirar. Ele quis dizer “Seu namorado anjo negro que te fez receber esse catigo”.

– Quê? – perguntou Mack.

– Des. Cu. Bra – falou o anjo branco.

Josh riu, e eu o acompanhei. Eduard nos acompanhou também. Estava engraçado, até que Mackenzie deu um tabefe na cabeça de nós três.

– Eduard eu conheço, você eu não sei quem é – ela apontou para Josh –, e você... – ela apontou para mim – Te vi num sonho.

– Éseunamoradoanjonegro – Eduard disse novamente sem respirar.

– Para com isso! Não dá para entender porra nenhuma!

– É por isso mesmo que ele está falando assim – disse, entre um sorriso.

– EsseaíéoTrevor – o anjo branco continuou.

Mackenzie acabou por ceder, e riu junto conosco. Ela se sentou no colo de Eduard e ficou me encarando enquanto conversava com os dois rapazes.

– Eu sei que sou bonito, tirando pelo meu nariz que agora está detonado, então pare de me encarar, por favor – falei, fazendo Mack corar um pouco.

Rimos e voltamos a conversar. Mackenzie pegou um caderno, se sentou na neve, e começou a escrever. Coloquei minhas luvas, fiz uma bola de neve e joguei-a na garota, que abriu um sorriso maníaco e atirou uma bola em mim.

– Agora é guerra! – ela gritou.

Quatro adolescentes fazendo guerra de bolas de neve. Claro, por que não? Continuamos a jogar bolas frias um no outro, até que um policial chegou e pediu gentilmente que parássemos. Eduard e Mackenzie desmontaram a barraca, arrumaram e limparam as coisas, se despediram e foram embora. Josh me olhou torto.

– Aquele anjo branco é bacana. E sua namorada que não lembra de nada também.

Abri um sorriso bobo.

– Eles são muito divertidos.