A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 81
Capítulo 72 – Campo de guerra: Morte e Fome


Notas iniciais do capítulo

Atena designou uma missão para os Cavaleiros de Ouro: "Eliminem os Berserkers Sagrados de Ares, que estão espalhados pelo mundo".

Kiki consegue localizar os guerreiros do deus da guerra, e o grupo composto por Ápis de Touro, Kastor de Gêmeos, Shalom de Virgem e Selkh de Escorpião se dispersa, guiando-se cada um ao seu oponente. No entanto, Tithonos, o antigo Cavaleiro de Câncer da Era Mitológica, adverte: "Os Berserkers Sagrados são os combatentes mais poderosos no exército de Ares."

Os Cavaleiros de Ouro enfrentarão o desafio de superar seus limites como nunca antes.



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Capítulo 72 – Campo de Guerra: Morte e Fome


Sede da Organização das Nações Unidas – ONU, Nova York – EUA

O mundo estava em guerra e os Chefes de Estado foram convocados para uma reunião de emergência na Sede da ONU. Os 193 Estados-Membros estavam presentes, com suas numerosas equipes. O plenário estava agitado. A reunião que normalmente ocorre no mês de setembro, havia sido adiada para novembro devido ao caos da guerra que afligiu os Estados Unidos da América nos últimos meses.¹

Os murmúrios foram sessados quando foi anunciado a abertura da Assembleia Geral. E seguindo o costume que foi estabelecido desde 1955, o Brasil foi o primeiro país a subir na tribuna para fazer o discurso inicial.

Um homem de terceira idade se posicionou diante do microfone. Sua pele era branca, seus cabelos eram curtos e grisalhos e estava vestido com um terno preto e gravata listrada. O Chefe de Estado ajustou seus óculos no rosto e deu início a leitura do texto que havia preparado.

Em um de seus parágrafos, o Presidente do Brasil declarou:

— ... É natural que, após 11 de setembro, os temas da segurança internacional assumam grande destaque. Mas o terrorismo não pode silenciar a agenda da cooperação e das outras questões de interesse global. O caminho do futuro impõe utilizar as forças da globalização para promover uma paz duradoura, baseada, não no medo, mas na aceitação consciente por todos os países de uma ordem internacional justa... — E no final de todo o seu discurso, concluiu dizendo. — A sombra nefasta do terrorismo demonstra o que se pode esperar se não formos capazes de fortalecer o entendimento entre os povos. Esta organização foi criada sob o signo do diálogo. Diálogo entre Estados soberanos que sejam súditos de nações livres, cujos povos participem ativamente das decisões nacionais. Com sua ajuda, vamos fazer com que o século 21 não seja o tempo do medo. Que seja o florescimento de uma humanidade mais livre, em paz consigo mesma, na caminhada sensata para a construção de uma ordem internacional legítima, aceita pelos povos e ordenadora das ações dos Estados no plano global.²

Todos os presentes no plenário ficaram em pé e aplaudiram energeticamente por um longo tempo. Foi um discurso de globalização solidária, coragem, equilíbrio e firmeza.

Após algumas horas de longos discursos e debates entre os Chefes de Estado, subiu na tribuna um homem que aparentava ter 20 anos. Ele era alto e forte, sua pele era clara, seus cabelos longos tinham cor roxo escuro, e seus olhos lembravam safiras. Ele estava acompanhado por uma jovem de longos cabelos brancos e pele clara. Não era possível ver a cor dos seus olhos, pois eles estavam vendados debaixo de sua volumosa franja.

— Saúdo a todos aqui presentes. Meu nome é Ixion, e agradeço a todos por me concederem a oportunidade de subir a esta tribuna para fazer um breve discurso. Por isso, peço a total atenção das senhoras e dos senhores. — Apesar da pouca idade em comparação com os demais ali presentes, Ixion era um homem de postura altiva, semblante duro, olhar penetrante e dicção atraente. Rapidamente a sua voz firme chamou a atenção de todos ali presentes e houve silêncio em todo o plenário. — Seguindo a linha da Vossa Excelência, presidente do Brasil, que fez um discurso excelente, utilizo a minha voz jovem para alcançar um público que talvez o discurso de vocês não atinjam e para denunciar alguns males que estão assolando o mundo e que vocês não estão dando a devida atenção. A guerra humana não é a nossa única preocupação no momento. E muito menos a única ameaça da nossa existência. Há uma onda crescente de mortes em diversos países causadas não apenas por conflitos e terrorismo, mas também pelo aumento de epidemias e fome. E eu alerto a todos que não vejam esses eventos como casos isolados. Assim como os eventos de 15 anos atrás, tidos supostamente como “naturais”, e que quase levaram a raça humana para a beira da extinção. Chuvas intensas e inundações atingiram o mundo todo durante 10 dias, e pouco tempo depois houve um misterioso eclipse seguido por um alinhamento planetário que não estava previsto, de acordo com os estudos fornecidos pela NASA. Existem forças além da compreensão de vocês que estão guiando a humanidade para o caos. Sei que as senhoras e os senhores, como Chefes de Estado, têm conhecimento sobre a autoridade pujante que reside na Grécia. — Houve murmúrios nervosos. — Mas tenham certeza de que eu e meus seguidores estamos dispostos a concentrar toda nossa energia em nossos punhos e combater qualquer um que ameace a existência da humanidade. Obrigado.

O discurso foi rápido e direto. Os Chefes de Estados ficaram confusos e assombrados. Para muitos, aquele discurso não tinha qualquer sentido e soava sensacionalista com a intenção de inflar teorias conspiratórias. Mas outros compreenderam cada palavra.

Ixion desceu as escadas da tribuna e caminhou em direção a uma porta, onde uma garota o esperava.

— O senhor terminou? — perguntou a jovem, o acompanhando no corredor vazio.

— Sim, Luna. Podemos ir. — Ixion afrouxou o nó da gravata e abriu os dois primeiros botões de sua camisa, revelando uma peça de armadura negra. — A minha mensagem não é para aqueles que estão neste edifício, mas sim aqueles que, como nós, são especiais e estão destinados a ser uma mudança neste mundo. Tenho certeza de que a minha mensagem irá chegar até eles. Ainda temos um longo trabalho pela frente. A guerra atual entre Atena e Ares está na reta final. A Ordem Negra precisa estar sólida para guiar a humanidade para longe das garras ambiciosas dos deuses e proteger dos conflitos que estão por vir.

—...—


Bosque de Atena, floresta da região Sul do Santuário – Momentos antes de Atena ordenar a partida dos Cavaleiros de Ouro

A luta entre Kiki de Áries e o berserker Kami de Wendigo havia terminado com a derrota do berserker e com o sacrifício do Cavaleiro de Prata, Dorie de Cérbero.

A região estava desconfigurada e uma parte da floresta havia sido varrida pela poderosa troca de golpes durante o combate. Em meio ao solo revirado, Kiki cuidava do ferimento de Lino, o Cavaleiro de Prata de Lira, que ficou inconsciente após ter sido gravemente golpeado no peito pelo berserker. Próximo a eles estavam Kastor de Gêmeos, Perses de Cefeu e Acher de Eridanus, vigiando em silêncio o corpo de Dorie, coberto pelo manto de Kastor.

— Como ele está? — perguntou Kastor se aproximando de Kiki. O Cavaleiro de Áries estava debruçado sobre o peito de Lino concentrando seu cosmo dourado na palma da mão.

Os cabelos loiros do Cavaleiro de Prata estavam enxarcados de sangue.

— Ele está muito ferido. Perdeu bastante sangue e fraturou algumas costelas. Estou tentando amenizar os danos com o meu cosmo, mas não sei se isso será suficiente. Temos que curá-lo o mais rápido possível. Ele não pode...

Kastor colocou a mão em cima do ombro de Kiki.

— Você também está no seu limite, Kiki. Seu corpo e seu cosmo estão cansados. Acabou de enfrentar dois berserkers poderosos. E seu braço direito está fraturado.

— Você não entendeu... — Kiki olhou para o Cavaleiro de Gêmeos por cima do ombro. — Temos que salvar o Lino. Ele é de grande importância para o Grande Mestre e para o futuro.

— Esse garoto?! Mas...

— Senhor Kiki! Senhor Kastor! — gritou Nicolas de Fornalha, um dos discípulos de Ikki, com desespero na voz. Ele saiu da floresta carregando Kitsune de Raposa nos braços. A amazona havia sido golpeada e arremessada pelo berserker durante o confronto. — Ela está muito ferida. A armadura dela foi danificada e tem um ferimento profundo na cabeça.

Apesar da expressão serena de Kiki mantendo o controle diante dos seus companheiros, sua mente estava conturbada. Lino e Kitsune estavam bastante feridos e ele não tinha habilidade suficiente para curar ferimentos tão profundos. O homem que tem o poder de restaurar armaduras na beira da morte, estava se sentindo impotente diante do risco de perder mais dois companheiros.

Naquele instante, uma centelha de cosmo surgiu, pareando no ar diante de Kiki. Tratava-se de um cosmo caloroso, acolhedor e pacífico, como uma gota de serenidade em meio à agonia. Era divino.

A pequena centelha brilhou intensamente e disparou em direção ao bosque, adentrando a região sul. Era uma parte quase intocada da floresta que se estendia por trás da montanha do Santuário de Atena.

— Esse cosmo... — disse Nicolas, considerando aquela energia familiar. Algo que ele sentiu há alguns anos atrás em meio a uma tragedia que mudou a sua vida. Momentos antes de ser resgatado. — É idêntico ao daquele dia...

— É o cosmo de Atena. — disse o Mestre de Jamiel com lágrimas nos olhos. — Mesmo enfrentando suas batalhas, Atena está acompanhando os cavaleiros no campo de guerra.

— A-Atena?!! — pensou Nicolas, surpreso. — Então... Foi Atena?!!

— Parece que ela está nos chamando para entrar no bosque. — disse Perses de Cefeu, o filho de Shun.

— O bosque... Mas o que tem de especial lá? — disse Kiki, surpreso.

— Um antigo templo onde os enfermos podem ser curados.³  disse uma voz soprada pelo vento.

— Essa voz... Esse cosmo... Está vindo da arena do Coliseu. — disse Kastor de Gêmeos. A imagem de um homem velho emanando um poderoso cosmo invadiu a sua mente. — O senhor é...

— Meu nome é Tithonos. Eu fui o primeiro Cavaleiro de Ouro de Câncer e também o primeiro Grande Mestre.

Diante daquela informação, Kiki e os demais se ajoelharam em sinal de respeito. Exceto Nicolas, que continuou em pé segurando Kitsune em seus braços.

— Ouçam... Existe um pequeno templo no meio do bosque na região sul. Na Era mitológica, após as Guerras Santas, os cavaleiros à beira da morte eram levados para esse templo, que estava localizado em uma área ressecada, para que tivessem uma morte tranquila longe do agito do Santuário. Mas um dia, a estátua de Atena, que está localizada no topo da montanha do Santuário, verteu uma lágrima ao assistir a dor dos cavaleiros. Uma gota caiu sobre o templo e respingou na região. Todos que estavam dentro do templo foram milagrosamente curados e sob o edifício jorrou uma fonte de água abundante, que se transformou em rios que cortam a região, espalhando vitalidade. A terra se tornou fértil e um bosque denso se formou ao redor. Desde então esse local passou a ser utilizado como uma espécie de hospital para os cavaleiros feridos, mas com o passar dos séculos e o avanço das técnicas de cura, o templo foi sendo esquecido e hoje em dia a maioria dos residentes do Santuário desconhecem sua existência. — explicou o antigo combatente.

— Agora eu me lembro... — disse Kiki. — O Mestre Mu me falou a respeito. A última vez que o templo foi utilizado foi há 15 anos atrás, após a batalha das Doze Casas. O Mestre Ancião orientou que Seiya e os outros recebessem os primeiros socorros no templo antes de irem para o hospital da Fundação Graad.

— E é para esse templo que Atena quer que vocês vão. Repousem o Cavaleiro de Lira e a Amazona de Raposa no interior do templo e bebam da água que jorra na fonte. Suas feridas serão curadas e o cansaço desaparecerá.

— Sim senhor! — disseram unanimes.

Acher de Eridanus, companheiro de treino de Lino, segurou o amigo em seus braços já que Kiki estava impossibilitado por causa do braço quebrado, e caminhou em direção ao bosque. Nicolas o seguiu carregando Kitsune. E Perses levou o corpo de Dorie embalado no manto de Kastor. Os dois Cavaleiros de Ouro acompanharam o grupo logo atrás.

O grupo cruzou o bosque até se depararem com um templo antigo situado no topo de um pequeno rochedo atrás da montanha do Santuário, por onde escorria uma cascata de água cristalina. As águas formavam um riacho no pé do rochedo, se ramificando pela área criando braços de rios. Os arredores eram repletos de ruinas antigas, grama e estátuas cobertas de plantas e flores. Uma das estátuas representava a deusa Atena entregando uma flecha para um Cavaleiro de Ouro de Sagitário. Ao longe, no horizonte, podia ser visto o Star Hill, o Monte das Estrelas. 

— Aquele é o templo?! — disse Nicolas, surpreso. — Nunca imaginei que existisse algo assim aqui.

— Vão na frente. — disse Perses de Cefeu. — Acompanho vocês em seguida.

— E o que você vai fazer? — perguntou Kastor de Gêmeos.

— Aqui é um belo local para um descanso eterno. O senhor não acha? — disse ele olhando para o corpo de Dorie em seus braços.

— Tem razão. — disse o Cavaleiro de Ouro. — Vamos aguardar você dentro do templo.

Kiki e os outros cavaleiros subiram o rochedo percorrendo uma escadaria até chegarem no interior do edifício. O solão era redondo e possuía dois andares, era repleto de estátuas, e o teto era sustentado por grossas colunas. No centro havia uma fonte que jorrava água e ao redor da fonte havia inúmeras camas forradas com lençóis brancas e mesinhas de apoio com jarras de água vazias e ataduras empoeiradas.

Nicolas e Acher pousaram Kitsune e Lino nas camas e se apressaram para buscar água e cuidar dos ferimentos.

— A fonte sagrada... — disse Kiki, maravilhado com a vitalidade que fluía daquela queda de água.

O cavaleiro de Ouro recolheu um pouco da água para levá-la até a boca, mas antes mesmo de encostá-la em seus lábios, suas feridas cicatrizaram ao toque do líquido e a dor em seu braço diminuiu na medida em que a água escorria por sua garganta. Kiki agora se sentia mais leve. Estava livre das dores, do cansaço e dos ferimentos.

Kastor encostou sua mão na estrutura da fonte e deixou que a água escorresse pelo seu braço e corpo. O Cavaleiro de Gêmeos foi tomado por uma sensação de paz e bem-estar. Se sentia renovado, livre de preocupações e aflitos. A água parecia não só curar o corpo, mas também a mente e o espírito.

Mas algo o chamou de volta para a realidade. E era a voz de Atena.

“Ouçam, Cavaleiros de Ouro! — falou a deusa através do cosmo.  Shalom de Virgem, Ápis de Touro, Kastor de Gêmeos e Selkh de Escorpião! Percorram a Terra na velocidade da luz e encontrem os quatro berserkers sagrados de Ares! Não permitam que eles continuem assolando a Terra com mais guerra.”

A ordem havia sido clara e imediata. Havia tom de urgência.

— Berserkers sagrados de Ares?! — disse o Cavaleiro de Gêmeos enrugando o cenho para Kiki, mas o Cavaleiro de Áries parecia estar tão surpreso quanto ele. — Senhor Tithonos... O Senhor consegue me ouvir?! O senhor sabe dizer quem são esses berserkers?!

— Sim, estou lhe ouvindo. — respondeu Tithonos através do cosmo. — Preste atenção Gêmeos, e vocês também... Touro e Virgem. De acordo com a lenda mitológica, os berserkers sagrados de Ares são os quatro guerreiros "imortais" que nasceram do derramamento de sangue na primeira guerra humana ainda na Era dos deuses. Cada um representa as consequências de uma batalha, que são: Guerra, Morte, Fome e Peste.

— O presságio do fim da humanidade descrito nas escrituras sagradas. — disse Shalom, também conversando através do cosmo.

O Cavaleiro de Ouro de Virgem estava próximo a região central do Santuário, acompanhado por Ryuho de Dragão e um grupo de Cavaleiros de Prata liderados por Saiph de Orion.

— Exatamente.  Concordou Tithonos. — Apesar da aparente condição de imortalidade, a existência deles na verdade é nutrida pelo mal praticado pela humanidade. Enquanto houver fome na Terra, por exemplo, o Berserker da Fome existirá e caminhará livre entre os mortais. Eles só poderão ser mortos de forma definitiva quando o mal que eles representam for aniquilado da face da Terra. E apenas a humanidade em conjunto podem fazer isso. Enquanto isso não ocorre, eles só podem ser contidos temporariamente. Foram eles quem criaram a classe "berserkers", sendo eles os primeiros guerreiros de Ares. Eles se aliaram ao deus após serem atraídos pelas consecutivas batalhas sangrentas. Diferente dos outros berserkers, esses quatro guerreiros desempenham funções de acordo com a sua natureza específica. Sempre que eles despertam, deixam marcas severas na humanidade. A guerra dos 100 anos, a pandemia da Peste Negra, a Grande Fome no século XIV... São rastros deixados por eles. São guerreiros que se submetem apenas aos comados de Ares. Sendo assim, eles não fazem parte dos batalhões de Deimos e Phobos e não participam de missões comuns.

— Então eles são mais poderosos que os berserkers que enfrentamos até agora? — perguntou Ápis de Touro telepaticamente. O Cavaleiro de Ouro estava diante da Casa de Áries acompanhado por Chertan de Girafa, o mestre de Jake de Leão.

— Muito mais. Na escala de poder, estão apenas abaixo dos deuses. Mas não se enganem, eles tem alta resistência. Devido ao alto nível de poder, os quatro berserkers sagrados ficam responsáveis por guardar a Onyx divina de Ares, se unindo ao traje divino. Na Onyx do deus da guerra eles são representados como os quatro cavalos que puxam a biga do deus. Sempre que Ares desperta a sua Onyx, ele libera esses guerreiros para assolar a humanidade. Apesar de fazerem parte do traje de Ares, suas Onyx não são divinas, mas possuem uma resistência superior a dos berserkers que vocês enfrentaram até agora.

— E onde eles estão? — perguntou Kastor.

— Eu soube que o Cavaleiro de Áries é o mais poderoso em habilidade psíquica nessa geração. — disse Tithonos. — Acredito que com sua aguçada habilidade, e seu grandioso cosmo fortalecido pela fonte de Atena, ele será capaz de varrer o planeta com a sua mente e encontrar quatro focos de caos.

— Algo tão amplo assim é possível? — perguntou Kiki, surpreso.

— Essa antiga habilidade que caiu no esquecimento é chamada de “olhar da apreciação”. Consiste em ter visão ampla de tudo ao seu redor ou de eventos que ocorrem a distância. Detecta a presença de outras pessoas em campo, o nível cósmico, prevê os movimentos e as intenções do indivíduo. Geralmente essa habilidade é dominada pelos deuses. Mas você já deve ter praticado em pequena escala, observando áreas menores ou locais já conhecidos. Apenas os cavaleiros com alto poder psíquico consegue desenvolver essa habilidade.

— Mas senhor, mesmo que Kiki encontre os nossos oponentes, como podemos vencer alguém que é imortal? — questionou Ápis.

— Levem isso com vocês...

Diante de Kastor, assim como diante de Shalom e Ápis, surgiu um item dourado emitindo um forte brilho.

— Isso é... Um selo sagrado escrito com o sangue de Atena. — disse Kiki.

— Eles não podem ser mortos, mas podem ser selados temporariamente. — explicou Tithonos. — E cavaleiros... Tomem cuidado. Não os subestimem e não se contenham. Deem tudo de si desde o início. Eles são antigos, poderosos e habilidosos em combate. São guerreiros em sua totalidade. Se Atena selecionou vocês, é porque ela julgou vocês poderosos o suficiente para enfrentá-los.

O cosmo de Tithonos recuou e Kastor segurou o selo de Atena, o guardando entre as peças da sua armadura de ouro.

— Muito obrigado, senhor Tithonos. Daremos o nosso melhor. — o dourado voltou-se para o Cavaleiro de Áries. — Kiki...

Os olhos de Kiki brilharam e seu cosmo se elevou. A poderosa mente do Cavaleiro de Ouro percorreu a superfície da Terra na velocidade da luz procurando quatro fontes de caos. Mas não demorou para que ele encontrasse.

— Guerra no Afeganistão... Morte nos EUA... Peste na Nigéria e... Fome no Sudão.

— Obrigado! Eu vou para o Afeganistão... — disse Kastor.

— Irei para os EUA. — Informou Shalom, através do cosmo.

—  Eu vou para o Sudão... — disse Ápis.

— Tomem cuidado. — disse Kiki. — Eu sinto que eles notaram a minha presença psíquica. Provavelmente estão esperando por vocês.

—...—


Região Norte do Santuário de Atena, Grécia

— Ryuho de Dragão! Saiph de Orion! — chamou Shalom de Virgem. — Vocês e os demais devem ir imediatamente para a região central do Santuário. Agora que os navios de Atlântida chegaram, não sabemos o que pode acontecer. Os soldados do Santuário vão precisar do suporte de vocês.

— Mas e o senhor? — perguntou Ryuho.

— Atena me concedeu uma missão. — disse o Cavaleiro de Virgem elevando o cosmo. — Tenho que ir.

—...—


Casa de Áries – Santuário de Atena, Grécia

— Berserkers sagrados de Ares?! — disse Chertan de Girafa, surpreso com a existência dessa classe de guerreiros.

— Sim. — disse Ápis de Touro. — Senhor Chertan... A batalha entre Jake e a berserker Alecto de Erinia terminou. Sinto que ele está bastante ferido. Por favor, cuide ele.

Chertan sorriu.

— Cuide-se, Ápis!

O Cavaleiro de Ouro elevou o seu cosmo e atravessou o céu, assim como Shalom de Virgem, Kastor de Gêmeos e Selkh de Escorpião, que silenciosamente partiu em direção a Nigéria.

—...—


Darfur, Sudão

Darfur é uma região no oeste do Sudão e divide-se em três estados federais sudaneses. É uma região caracterizada pelo baixo nível de desenvolvimento e palco de conflitos decorrente de disputas entre as populações árabe e não árabe. O conflito já matou milhares de inocentes e deixou outros milhares refugiados.

Após cruzar mais de 3 mil Km na velocidade da luz, Ápis de Touro pousou em uma pequena cidade. O forte clarão dourado emanado pelo cosmo do Cavaleiro de Ouro iluminou a região, transformando a noite em dia por um rápido instante.

A área desértica encontrava-se habitada por uma comunidade numerosa, residindo em habitações precárias construídas com galhos e palhas secas, sendo estas revestidas por panos brancos. O solo exibia características áridas, enquanto a vegetação consistia predominantemente em árvores ressecadas. Não havia disponibilidade de água potável ou de qualquer outro recurso natural essencial para a subsistência naquela localidade.

Silenciosamente, o Cavaleiro de Ouro caminhou entre as habitações em direção a uma aura maligna que parecia emanar da região central daquela comunidade. Contudo, para a surpresa de Ápis, deparou-se com uma aglomeração diante de uma enorme tenda, erguida com tecidos coloridos e circundada por tochas acesas.

Com passos hesitantes, uma criança emergiu do meio da multidão e se dirigiu lentamente ao encontro do Cavaleiro de Ouro. O menino, de pele negra, exibia claramente os estragos da fome em seu corpo. Mal conseguia se manter de pé. Seu estado de magreza era tão pronunciado que os ossos se destacavam visivelmente. O abdômen apresentava inchaço, indicando retenção de líquidos. Sua pele, seca e descamada, refletia a desnutrição severa. O cabelo estava quebradiço, e os olhos, fundos e inchados, denunciavam os efeitos devastadores da privação alimentar. O conjunto de sinais físicos revelava a dura realidade enfrentada por essa criança em situação de extrema carência.

Ápis rapidamente deu a mão para a criança, que esforçadamente deu um sorriso desprovido de alguns dentes.

— Ele disse que aguarda o senhor. — disse o menino.

— Ele?!

A mãe da criança correu apressadamente para segurá-lo, e a multidão abriu caminho para Ápis. O Cavaleiro de Ouro avançou em direção à tenda e, ao entrar, deparou-se com uma cena revoltante. Pilhas de alimentos estavam amontoadas e espalhadas pelo interior. No centro da tenda, uma grande mesa estava repleta de pratos fartos de comida. E na cabeceira da mesa, havia um homem sentado desfrutando da refeição. Era uma desconexão gritante entre a abundância de alimentos disponíveis e a situação de fome fora da tenda.

— Ápis de Touro. Entre e acomode-se — disse o homem.

Ele possuía um corpo forte, sendo um homem maduro que aparentava ter cerca de 35 anos. Seus cabelos e barba eram negros e longos, enquanto seus olhos, de um profundo tom vermelho sombrio, transmitiam um desejo insaciável e penetrante. Sua pele apresentava um tom claro, como se estivesse carente de vitalidade, e ele vestia uma Onyx negra, adornada com detalhes vermelhos.

— Existem centenas de pessoas lá fora passando fome enquanto você se esbanja comendo aqui dentro. Dê um pouco da sua comida para eles. — disse o Cavaleiro de Ouro.

O homem fez uma pausa para engolir a comida e, em seguida, limpou a boca com um guardanapo.

— Na verdade, existem milhares de pessoas lá fora passando fome, enquanto bilhões se esbanjam comendo sem qualquer remorso. Mas, ao contrário deles, eu sou a Fome. Então seria "antinatural" eu fornecer comida para eles.

— Anti... natural?

— Eu necessito deles dessa forma para que minha existência se perpetue neste planeta. Meu nome é Tântalo4.

Ápis ignorou as palavras do guerreiro de Ares e pegou duas bandejas carregadas de alimentos para levar à multidão faminta que aguardava do lado de fora da tenda.

— Se fizer isso, eles morrerão.

— O que disse?! — O cavaleiro de Ouro parou na entrada da tenda e olhou para o berserker por cima do ombro. — Do que está falando?

— As pessoas lá fora estão tão famintas que seriam capazes de matar umas às outras por um pouco mais de comida. E mesmo que possuam qualquer resquício de civilidade, indivíduos com desnutrição severa não podem ingerir grandes quantidades de alimento. Do contrário, morrerão devido a atrofia gastrointestinal e sobrecarga do metabolismo. Em outras palavras... Irão agonizar.

— Liberte-os dessa situação. — disse o Touro.

O berserker interrompeu a refeição, mantendo o garfo suspenso diante da boca.

— Eles estão nessa situação devido aos conflitos militares deste país e não por causa do meu poder. São vítimas de sua própria ignorância civil. Eu apenas me alimento disso. Não preciso me dar ao trabalho de propagar algo que eles mesmo provocam.

Indignado com a frieza do berserker, Ápis devolveu as bandejas a mesa e cerrou o punho.

— Como consegue olhar para aquelas pessoas lá fora e ignorar a situação?

— Está pedindo moralidade ao seu inimigo?! Não tenho remorso. Mas no fundo... Eu entendo a dor deles mais do que você possa imaginar. Afinal... — Tântalo fez tanta força na haste do garfo que o partiu ao meio. — Estou sempre com fome. Qualquer alimento ou líquido que entra na minha boca simplesmente desaparece antes que toque na minha língua. Uma maldição imposta por Atena na Era Mitológica.

Ápis elevou o seu cosmo dourado e o concentrou em seu punho firmemente cerrado.

— Vou derrotar você e proteger a dignidade das pessoas dessa região. — Afirmou o dourado.

— Cavaleiro de Ouro...  Desde a Era Mitológica, não há a mínima chance de isso acontecer.

— Então hoje faremos história! — gritou o Touro.

Ápis se preparou para avançar, no entanto, quando Tântalo se levantou da mesa, uma pressão esmagadora tomou conta do ambiente.

— Eu não consigo... Me mover.

— Como protende me derrotar se é incapaz de se mover diante do meu espírito de luta?! — disse o berserker caminhando até Ápis. — Você não tem forças para me enfrentar.

Tântalo segurou no chifre do elmo da armadura e forçou Ápis a se inclinar para frente.

— Não me confunda com os outros berserker que você enfrentou até aqui. Existe uma falsa impressão de que os Cavaleiros de Ouro são os guerreiros mais poderosos... — Tântalo sorriu e elevou o cosmo. — Mas não passa de uma grande mentira.

O berserker aplicou um chute no rosto de Ápis, arrancando sangue do nariz do Cavaleiro de Ouro e o fez cambalear para trás. Em seguida, Tântalo disparou uma rajada de cosmo que arremessou Ápis para fora da tenda. O Cavaleiro de Ouro desabou a poucos metros de onde as pessoas estavam aglomeradas, esperando por comida.

— Sinto meu corpo pesado... — disse Ápis, se levantando.

Ele viu Tântalo sair da tenda, e rapidamente as pessoas se agruparam, criando um caminho entre eles para que o berserker pudesse passar. Eles imploravam por comida, mas o berserker sorria para eles, zombando de suas fragilidades.

No entanto, as súplicas por comida se transformaram em desespero à medida que o guerreiro de Ares caminhava; os corpos das pessoas secavam, atrofiavam e desabavam mortas. Elas estavam sendo drenadas.

— O que você está fazendo? — gritou Ápis, deslocando-se na velocidade da luz para impedir que Tântalo prosseguisse. — Desgraçado! Pare com isso agora mesmo!

Mas o berserker estendeu a mão e interrompeu o percurso de Ápis, restringindo-o com a pressão de seu espírito de luta. E com um simples movimento, o cosmo de Tântalo se transformou em um turbilhão e Ápis foi arremessado novamente com ainda mais força.

Sangue, vitalidade e vida esvaíam-se pelo caminho traçado por Tântalo, deixando para trás dezenas de corpos ressecados. As pessoas, ao testemunharem a queda sem vida de seus filhos, amigos e familiares, desesperavam-se impotentes, incapazes de fugir. Suplicavam por misericórdia, mas a frieza do berserker não cedia. Ele continuava sua marcha lenta, sorrindo, prolongando a agonia.

No final, apenas uma pessoa restava: a criança que havia recepcionado Ápis. Encolhido entre os braços atrofiados da mãe morta, ele era a última testemunha do rastro de destruição deixado por Tântalo.

— Pare! — gritou Ápis, se erguendo.

Tântalo sorriu sadicamente para Ápis, seus olhos vermelhos brilhando perversamente enquanto estendia a mão envolta em cosmo sobre a cabeça da criança.

— Estou retirando de você todo o peso de responsabilidade e dever que assumiu ao testemunhar o estado deplorável dessas pessoas — disse o berserker. — Quem sabe assim você consiga, pelo menos, dar um passo diante de mim...

— TÂNTALO!! — gritou Ápis mais uma vez, furioso. — Pare!!

Ápis investiu novamente contra o berserker. Tântalo tentou bloquear o avanço do Cavaleiro de Ouro, mas desta vez sem sucesso. Furioso, o Touro Dourado desferiu um soco, mas encontrou resistência na palma da mão do berserker.

— O que?! — pensou Tântalo, surpreso. — Ele mal conseguia mover um dedo, mas agora..Seu cosmo ficou mais forte!

A força avassaladora concentrada no punho de Ápis fez o chão se fragmentar. Tântalo, contudo, não demonstrou qualquer preocupação.

Entretanto, a intenção de Ápis não era iniciar um confronto com o berserker, mas sim resgatar a criança e se afastar.

— Você está enganado, Tântalo. — disse Ápis, encarando o berserker olho no olho enquanto tomava a criança nos braços. — A responsabilidade de proteger essas pessoas não é um peso para mim, mas sim uma força para continuar lutando

Em seguida, ele recuou o mais rápido que pôde. A sensação de urgência permeava o ar.

— Escute bem, garoto. Eu preciso que você fuja. — disse Ápis, mantendo os olhos atentos a Tântalo. — Não importa o que aconteça. Fuja. Procure um local seguro. Sua mãe e todas as outras pessoas estão mortas. Entendeu bem?! Sei que não é a primeira vez que você se depara com a morte. Então você tem que fugir. Agora vá!

Tremendo de medo e chorando, o menino compreende a situação. Desesperado, ele saiu correndo pelo terreno árido e desapareceu entre as tendas.

 Os olhos do berserker irradiaram um brilho cósmico, e ele se moveu tão rapido que Ápis mal conseguiu acompanhar.

— Eu não vou permitir que você o machuque. — disse Ápis, pondo-se no caminho para proteger o garoto. Cruzou os braços e adotou uma postura defensiva como uma grande muralha.

Antes que o Touro percebesse a presença de seu adversário, o berserker surgiu ao seu lado e desferiu um soco no rosto de Ápis, arrancando o elmo do Cavaleiro de Ouro e fazendo-o cuspir sangue.

— Por acaso ele se move mais rápido do que um Cavaleiro de Ouro?! — pensou Ápis, recuando.

— Você é um tolo! Acha que salvou aquele menino? — questionou o berserker. — Ele vai morrer de qualquer forma. Se não for pelas minhas mãos, será pela fome. Não resta mais nada para ele. Isso se ele não for devorado pelas aves famintas.

— Enquanto tempo você acha que isso vai acontecer? — perguntou o Cavaleiro de Atena, limpando o sangue que escorria de sua boca. Tântalo franziu o cenho, estranhando a pergunta inesperada de Ápis. —  Dependendo da sua resposta... — disse cruzando os braços novamente. —  É o tempo que eu tenho para derrotar você.

O cosmo dourado de Ápis elevou-se, gerando um forte tremor. Seus longos cabelos negros, com mechas brancas, agitaram-se com a pressão de seu poder, e seus olhos verdes foram tomados por sua energia cósmica.

Tântalo sorriu.

— Vejo que você ainda não compreendeu.

— Grande Chifre!!

Ápis descruzou e cruzou novamente os braços na velocidade da luz, liberando uma poderosa rajada de energia, que assumiu a forma de um Touro dourado furioso.

Tântalo sorriu ao ver a técnica especial de Ápis dilacerando o solo em sua direção e permaneceu imóvel. O golpe, com grande capacidade destrutiva, foi partido ao meio pela presença cósmica de Tântalo, incapaz de sequer encostar na pele do berserker, explodindo logo depois.

A colisão provocou um forte tremor e liberou uma rajada de destruição que se propagou, revirando a terra.

— Impossível!! — disse Ápis, surpreso.

— Agora é minha vez! — Tântalo estendeu a mão para o lado, e a energia destrutiva do Grande Chifre retornou à palma de sua mão, concentrando-se no punho do berserker. — Antes de apagar sua vida... — Tântalo se teletransportou, surgindo diante de Ápis com um sorriso sádico. — Eu farei você implorar pela morte.

O berserker desferiu uma série de socos nos braços cruzados de Ápis. O Cavaleiro de Atena resistiu para manter sua postura defensiva, mas cada golpe era como se estivesse enfrentando uma parte de seu próprio ataque "Grande Chifre", colidindo repetidamente. Incapaz de suportar tamanha força devastadora, Ápis desfez a defesa, mas isso permitiu que o berserker girasse e desferisse um chute no peito do Cavaleiro de Ouro, lançando Ápis contra um rochedo.

— Sinto uma mudança na cosmo energia dele. Está mais agressivo e poderoso. — pensou Ápis, sentindo dores intensas.

Tântalo avançou contra Ápis e, no meio do trajeto, se teletransportou, aparecendo em um ponto cego do Cavaleiro de Ouro. Apesar da tentativa de surpresa, o berserker lançou um ataque que foi facilmente bloqueado por Ápis.

Evitando uma nova investida, Ápis moveu-se à velocidade da luz e desferiu novamente seu golpe "Grande Chifre". A rajada cósmica abriu o solo em seu percurso, mas foi interceptada pela mão esquerda de Tântalo, absorvida e, em seguida, disparada de volta contra Ápis.

— O Grande Chifre... — disse o berserker, num tom de desdém. — A grande técnica que combina ataque em área e uma defesa impenetrável como uma muralha, simulando os conhecimento da esgrima de Iai...

O Cavaleiro de Atena bloqueou o contra-ataque, mas foi surpreendido pela aproximação do berserker, que o golpeou, arremessando violentamente.

Tântalo saltou e desceu contra o peito de Ápis, afundando o Cavaleiro de Ouro em uma profunda cratera.

— Sabe quantas vezes eu vi seus antecessores aplicando essa técnica?! Centenas. É inútil. Mesmo que eu receba o impacto total de sua técnica, ela seria incapaz de me ferir mortalmente. Não enquanto eu estiver usando essa Onyx. As Onyx dos 4 Berserkers Sagrados foram forjadas pelo deus Hefesto, com quase todos os materiais que compõem a Onyx divina do Senhor Ares, pois somos os guardiões do traje do deus da Guerra. Graças a isso, nossas Onyx são mais poderosas e resistentes do que as Onyx dos outros berserkers, Espíritos da Guerra e deuses da Corte da Guerra. Comparando com vocês, Cavaleiros de Atena, seria como se nossas Onyx fossem uma Armadura Divina.

Ápis arregalou os olhos ao ouvir aquilo. Tântalo sorriu ao perceber que o Cavaleiro de Ouro compreendeu a diferença entre eles.

— Um traje do nível das armaduras divinas?! — disse o Cavaleiro de Ouro, incrédulo, tentando se desvencilhar do pé do berserker que o pressionava contra o chão.

— Exatamente. Não há menor chance de um Cavaleiro de Ouro me vencer. Nem mesmo se estiver empunhando uma das 12 armas de Libra. Atena deveria ter enviado um desses “Cavaleiros Lendários”. Fiquei interessado ao ouvir falar sobre eles. Mas ao invés disso... — Tântalo desferiu um chute no rosto de Ápis e se afastou. — Ela me enviou mais um inseto para ficar importunando a minha refeição. Mas isso acaba aqui e agora. Chegou o momento dos leitores dessa história se despedirem de você, Ápis de Touro. Nem todos sobreviverão a essa Guerra Santa!!

— Está enganado! — disse o Cavaleiro de Ouro se erguendo. — Enquanto meu coração estiver batendo, a nossa luta não terminou.

— Nossa luta terminou a partir do momento em que eu me levantei daquela mesa, Touro. — disse o berserker. —  Você apenas não percebeu. Mas darei a você a oportunidade que tanto deseja de alimentar os famintos. Domínio cósmico! — a energia cósmica de Tântalo se expandiu, arrastando para trás Ápis e, em seguida, se transformou em uma pressão violenta que varreu o local, arremessando tudo para o alto, criando um perímetro dentro do seu domínio. A pressão cósmica era absurdamente forte, superando a que Tântalo havia emanado antes e a de qualquer berserker que Ápis já tivesse enfrentado ou conhecido. — Segundo ciclo! Mundo dos espíritos famintos!  

O cosmo de Ápis se extinguiu, e o ar rodopiou atrás dele, abrindo uma fenda dimensional em meio a um forte tremor de terra. Uma paisagem infernal se revelou através da fenda, e gritos apavorantes rasgaram o silêncio da noite.

— Mas o que é isso?! São espíritos? — disse Ápis, virando-se espantado.

Centenas de espíritos famintos e cadavéricos surgiram, ávidos pela energia vital de Ápis. Com seus corpos esqueléticos, exibiam barrigas inchadas, e corriam em total desespero em direção ao portal, esticando braços longos e dedos esqueléticos para agarrar o corpo do Cavaleiro de Ouro, imobilizando-o.

Ápis tentou se libertar, mas era impossível. Quanto mais resistência, mais fraco ficava. Seus sentidos estavam enfraquecendo, e seu cosmo estava sendo drenado.

 — Este é o meu domínio.  Atrás de você estão muitos daqueles que morreram pelo meu poder. Alguns deles são seus companheiros de gerações anteriores. Alimente-os com o seu cosmo e a sua carne, Cavaleiro de Ouro. Faça-os relembrar do sabor do cosmo de um Cavaleiro de Atena. Daqui, partirei para o próximo país, devastando esse continente com a fome.

— Não consigo me mexer, tampouco elevar o meu cosmo. Os meus sentidos... Estão enfraquecendo.  pensou Ápis enquanto era levado e drenado pelos espíritos. — Minha consciência está... Se esvaindo.

Completamente impotente, Ápis foi arrastado para dentro da fenda, e a passagem se fechou em seguida. Tudo ficou escuro. Sentia apenas centenas de mãos secas e ossudas segurando o seu corpo com força, arrastando-o cada vez mais fundo.

De repente, os sentidos de Ápis retornaram, e ele despertou assustado. O ambiente era uma vasta colina sombria e desolada. As paisagens eram áridas e inóspitas, com uma atmosfera pesada. O solo era estéril e quebradiço, e os campos estavam repletos de pessoas com aspectos assustadores.

As pessoas tinham corpos esqueléticos, magros e desnutridos, pele acinzentada, cabelos quebradiços cor de palha, pescoços longos e finos, bocas pequenas e estômagos inchados. Eles pareciam falar, mas suas expressões verbais eram vazias e contorcidas pela angústia.

Era um ambiente de desespero. As arvores eram murchas e os riachos eram secos. O vento sussurrava lamentações por todo o vale, repleto de anseios não realizados.

— Onde... Onde eu estou? — disse Ápis, confuso— Será que eu fui realmente enviado para o Mundo do Espíritos famintos?! Ou isso aqui não passa de uma ilusão do meu inimigo?

Ápis de um passo para trás e pisou em um galho seco. O estralo chamou a atenção de um grupo de espíritos que se arrastavam pelo caminho do riacho. Olhos grandes e cheios de desejos voltaram-se para Ápis. Ele sentia que o simples olhar deles já era capaz de drenas suas forças. Assustado, Ápis deu mais um passo para trás, mas isso apenas atiçou ainda mais os espíritos.

Eles se deslocaram de forma desajeitada e desesperada em direção a Ápis. Pisavam uns nos outros, mordiam membros, devoravam uns aos outros, tudo para poder chegar no Cavaleiro de Ouro. Eram centenas de espíritos famintos vindo de todos os lados.

Ápis foi cercado. Eles se lançaram como se fosse uma grande onda, mas o Cavaleiro de Ouro os repeliu ao elevado o seu cosmo. Muitos foram pulverizados e outros foram arremessados para longe. Mas isso lhe custou muita energia e ele caiu de joelhos.

— Eu... preciso... sair... desse lugar. — disse ele, arfando.

— Podemos fazer isso juntos então. — disse um homem surgindo atrás de Ápis.

Surpreso, o Cavaleiro de Touro levantou-se. Não era Tântalo e muito menos um dos Espíritos famintos. Aquele homem diante de Ápis parecia estar tão vivo quanto ele.

Era um homem jovem e alto, físico forte, cabelos longos bege-acinzentados, olhos roxos cintilantes e vestia uma roupa velha e rasgada usada pelos residentes do Santuário.

— Quem é você? — perguntou Ápis.

— Meu nome é Nasu5. E também sou um Cavaleiro de Atena. Sou Nasu, o Cavaleiro de Prata de Mosca.

Ápis arregalou os olhos.

— Um... cavaleiro?! — disse incrédulo.

—...—


Norwich, Connecticut – EUA

A noite fria pairava sobre a cidade, lançando um manto gélido de escuridão sobre as ruas vazias.

Em meio as sombras surgiu um homem misterioso que avançava com passos silenciosos pela rua deserta. As luzes fracas dos postes da rua criavam sombras em seu rosto oculto pelo seu elmo. Seus passos ecoavam como sussurros gélidos emitindo pelo traje escuro que cobria o seu corpo.

Ele caminhou até fixar seus olhos na silhueta distante de uma catedral. A Catedral de São Patrício. Um edifício de arquitetura gótica, com torres pontiagudas e pedras escuras. Ele subiu as escadas e empurrou a pesada porta. No interior, a luz da lua penetrava através das janelas de vitrais coloridos, criando feixes tímidos de diversas cores.

O homem adentrou a catedral. O som abafado de seus passos percorreu pelo salão, onde dezenas de bancos de madeira estavam enfileirados, chamando a atenção de um pastor que estava ocupado em seus afazeres na extremidade do altar.

— Quem é você. — perguntou o pastor. Um homem branco, quase 40 anos, usando roupa social, paletó e gravata.

O homem parou e permaneceu em silencio por um instante.

— Como posso lhe ajudar? — perguntou o religioso.

— Ajudar?! Creio que não possa. Vim até este templo porque tenho um encontro marcado dentro de alguns instantes.

— Sinto muito, mas vou pedir para o senhor se retirar. — disse o pastor, tentando não ser indelicado. — Estou no meio de uma vigília, pedindo a “Deus” pela paz nessa guerra que assola nosso país.

O homem olhou para o pastor e em seguida para um livro de capa escura que ele trazia debaixo do braço.

— O seu deus no passado era conhecido como “Senhor dos exércitos” e “deus da guerra”. Ordenou por diversas vezes o genocídio de várias cidades. Ou será que foram os religiosos que usaram a figura divina para justificar um crime tão bárbaro? — o homem estendeu a mão e fez com que o livro de capa escura flutuasse, surpreendendo o pastor. O livro foi aberto, as folhas foram passadas rapidamente, até parar em uma página.  Assim diz o Senhor dos Exércitos: Castigarei Amaleque pelo que fez a Israel [...] Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupes; matarás homem e mulher, meninos e crianças.” —  leu o homem. —  Livro de 1 Samuel, Capítulo 15. 200 mil homens encharcaram a cidade com sangue. Seu deus não é muito diferente do meu. Ele tem seus favoritos, não é mesmo?! Está clamando para a divindade errada, pastor.

— Vejo que você conhece as sagradas escrituras, mas existem mudanças entre o antigo e velho testamento. — disse o pastor, confuso. O livro sagrado caiu no chão e o religioso correu para pegá-lo. — O Salvador trouxe amor e paz. — disse ele abaixado, olhando para o homem misterioso.

O homem sorriu.

— Eu me lembro dele. Ele me enfrentou uma vez. Há mais de 2 mil anos atrás. Foi o único humano que me venceu.

— Do que você está falando?! Quem é você?

— Eu sou aquele que lutou contra um homem nascido em Belém, um palestino. Pelejamos durante 3 dias, até que fui sobrepujado. Eu sou... A morte!

O pastor, paralisado pelo medo, sentiu a temperatura ao seu redor cair abruptamente, como se aquele homem estivesse sugando a vida do ambiente. A aura em volta dele se tornou pesada, como se cada respiração fosse um sussurro gelado chamando para o descanso eterno.

Seus olhos, ocultos na sombra do elmo, emanavam uma luz fria que penetrava na alma do pastor, revelando visões sombrias e premonições de um destino próximo. A própria catedral parecia tremer em resposta à presença daquele homem, como se as pedras testemunhassem o encontro entre a vida e a morte.

— A... Morte?! — disse o pastor, tremendo.

— Seu momento ainda não chegou. — disse o berserker. — Sinta-se agraciado. Nem todo mundo tem a oportunidade de dialogar com o Fim. Por hora, a nossa conversa termina aqui. A pessoa a quem eu estava esperando... Chegou.

O homem passou a mão no ar, como se estivesse agarrando algo, e em seguida, como se rasgasse o véu do espaço-tempo, a realidade pareceu distorcer-se ao seu redor e se fragmentou, revelando um homem de cabelos negros ondulados, olhos verde oliva e trajando uma armadura dourada, pairando em uma dimensão paralela.

— Eu estava esperando por você. — disse o berserker. —O homem que foi agraciado com as habilidades dos anjos e é o mais próximo de Deus... Shalom de Virgem.

—...—


Mundo dos Espíritos Famintos

— Então você também foi vítima do berserker? — perguntou Ápis, intrigado.

— Sim. De repente ele abriu um portal e me lançou aqui. Tentei sair, mas... Foi inútil. A única coisa que me restou foi correr de um lado para o outro, evitando esses espíritos.

— E você sabe onde nós estamos?

— Aquele berserker chamou esse lugar de “Mundo dos Espíritos famintos”, ou seja, aqui é um dos 6 reinos do ciclo da reencarnação do Sansara. Aqueles que reencarnam nesse reino, são obrigados a sobreviver devorado uns aos outros. — explicou Nasu. — Mas pelo visto também serve como uma prisão. Aqueles que são lançados aqui vivos, como nós, ficam vagando eternamente sem poder morrer e assim jamais reencarnar em outro reino. E assim somos obrigados a agir como os Espíritos Famintos, nos tornando um deles.

— E como podemos sair desse lugar? — questionou Ápis, olhando ao redor. — Não vejo qualquer passagem dimensional. Parece que a fenda que me lançou aqui se fechou em seguida. Caso contrário poderíamos transitar de volta.

— Exatamente isso. A fenda se fecha assim que somos lançados aqui. — disse Nasu— Sendo aqui uma dimensão espiritual, a única maneira de sairmos é utilizando a habilidade do seikishi. Mas é um recurso que eu não tenho. E pelo visto você também não, já que essa habilidade geralmente é dominada por aqueles que guardam a Casa de Câncer.

— Temos que arrumar outro meio. — disse Ápis, se afastando.

— Sinto dizer, mas... Não existe outro meio.

— Então é agora que você tira a minha vida? — perguntou o Cavaleiro de Ouro ainda de costas para Nasu.

O Cavaleiro de Prata olhou sorrateiramente. Parecia surpreso.

— Quem é você? — perguntou Ápis.

— Quem sou...?! — por um momento Nasu manteve a expressão de surpresa, mas rapidamente a substitui por um sorriso de canto. — Como descobriu?

— Tenho a capacidade de ler a mente das pessoas. — Ápis virou-se para Nasu. — E a sua está aberta como se fosse um livro. Desconfiei da sua identidade a partir do momento em que se apresentou. O Cavaleiro de Prata de Mosca da minha geração está no Coliseu do Santuário nesse exato momento.

— Entendi. Você domina a “técnica de Satori”. É incomum. Geralmente essa habilidade é passada de geração em geração entre os Cavaleiros de Prata de Cães de Caça. — disse o prateado. — Poderia ao menos ter aprendido algo útil para lhe livrar de uma situação como essa.

— Vou perguntar novamente. Quem é você?

— Está bem... Vou lhe dizer antes que os espíritos famintos voltem e devorem você. Eu não menti ao dizer que sou o Cavaleiro de Prata de Mosca... Do século XIV.

— O-O que? — disse Ápis, surpreso.

— Eu nasci no ano de 1304. Mas foi em 1325, no estopim da guerra santa entre Atena e Ares que já durava alguns anos, que eu enfrentei o berserker da fome ao lado dos meus companheiros. — explicou ele, cerrando o punho — Mas ele nos derrotou. Fomos lançados para essa dimensão, condenados a sofrer eternamente essa punição.

— Os outros estão... mortos.

— Sim. No início não entediamos o que era esse lugar. Até que o primeiro companheiro foi devorado e renasceu como um deles. Estávamos todos condenados. Até que...

— Você se alimentou de um deles. — Ápis estava lendo as memórias de Nasu naquele momento. Era aterrorizante. Ele viu o Cavaleiro de Prata chorando e lamentando enquanto drenava o cosmo dos seus amigos através de uma habilidade. — Você... Drenou o cosmo deles!!

Nasu começou a caminhar até a beira de um riacho seco onde um grupo de espíritos famintos se aglomeravam procurando por água. Ápis o acompanhou logo atrás.

— Eu preferi matá-los primeiro a vê-los serem devorados por essas criaturas.

— Como você conseguiu permanecer vivo por 676 anos? — questionou Ápis.

O Cavaleiro de Prata, porém, não se intimidou. Ele segurou uma criatura, segurando a cabeça com as mãos.

— Todos aqui estão vivos. Sem exceção. — disse ele, encarando o Espírito faminto. — Mas eles são movidos pelo instinto de devorar. São incapazes de dialogar, apesar de aparentemente preservarem as memórias antigas. Dá pra sentir a dor deles ao olhar em seus olhos. E talvez...

Nasus segurou a criatura com apenas uma mão e a ergueu, colocando frente a frente com Ápis. A mente do Cavaleiro de Ouro penetrou nas lembras daquele espírito e sentiu toda dor e angústia.

Ápis deu alguns passos para trás, espantado.

— Ele era... Um antigo cavaleiro. — disse o Cavaleiro de Ouro. 

— Sim. Eu consigo sentir, mesmo entre os outros. Aqui os espíritos famintos devoram uns aos outros. Até restar apenas os ossos. Mas no dia seguinte o corpo está integro novamente. E todo dia isso se repete.

— Mas você não é como eles. Você me parece jovem, quase da mesma idade que eu.

— Isso é graças ao cosmo que eu drenei nos últimos anos. Depois dos meus companheiros, outros cavaleiros foram enviados aqui séculos depois. E é assim que eu sobrevivo. O tempo aqui não envelhece e o cosmo me mantem nutrido. — disse Nasu, lançando o espírito contra os outros na beira do rio. — A cada 200 anos Ares e Atena se enfrentam. Os selos são rompidos, o berserker enfrenta outros cavaleiros e os envia para cá. Eu venho pacientemente aguardando um cavaleiro que tem a capacidade de transitar entre as dimensões do mundo espiritual para poder sair desse inferno. Mas parece que mais uma vez eu vou ter que aguardar mais 200 anos.

— Isso é...

— Não tente classificar. Estamos sujeitos a esse tipo de destino. Enfim... Espero ter sanado suas dúvidas. Aqui o que domina é o poder da sobrevivência. Não há como mais de um sobreviver como eu. O Cosmo que eu dreno é o suficiente para me manter forte, dominar os espíritos, e me preservar por mais de 2 séculos.

— Mas eu não vou permitir que você drene a minha vida.

Nasu sorriu.

— Não faz diferença. Cedo ou tarde os espíritos vão pegar você. E nesse momento, quando você estiver enfraquecido, eu vou tirar o seu cosmo e entregar a sua carne para eles. Não se preocupe, a sua armadura consegue retornar sozinha. As armaduras possuem capacidade própria de atravessar dimensões, mas elas não conseguem repassar essa habilidade para o usuário. Apenas a surplices. Intrigante, não é? Pois bem... Acredito que o nosso diálogo terminou. Cavaleiro de ouro de touro... Lhe vejo mais tarde.

— Espere! Você disse... Surplice? — perguntou Ápis.

— Exatamente. Esse é o nome da armadura que os Espectros de Hades usam. Esse traje dá a eles a capacidade de transitar livremente por qualquer dimensão espiritual. Sem restrição.  — houve um instante de silêncio. — Por que o interesse?

Ápis levou a mão até o peito de sua armadura. Os olhos de Nasu se encheram de esperança.

— Ora, ora, ora... Se eu não tivesse comentado, não teria percebido. Parece que você tem algo interessante escondido nas entranhas da sua armadura de ouro... — o cosmo do cavaleiro de prata se elevou e um fogo azul surgiu ao seu redor, que logo se alastrou. Das chamas surgiram centenas de moscas negras envolvidas pelo fogo azulado e rapidamente elas rodearam Ápis. Mesmo pousando na armadura de ouro, era possível sentir o calor das chamas que as envolviam. — Toque das asas sombrias! Agora você não passa de uma marionete. As moscas que tocaram em você deixaram uma marca no seu corpo.

— Marca?! — disse Ápis olhando para os braços. Não havia sinal de marca ou arranhões provocados pelas moscas.

— Elas podem parecer inofensivas, mas o calor que as envolve penetra pelas brechas da armadura até chegar na pele. Por baixo de todo esse aparato dourado, seu corpo está coberto de selos marcados pelas minhas subordinadas. Esses selos criam fios invisíveis ligados a mim. — Nasu movimentou os dedos e forçou Ápis a ficar de joelhos. — Existe algo realmente diferente em você. É como se... — Nasu estreitou os olhos e em seguida os arregalou. — É como se você fosse protegido por uma das Estrelas Malignas. Maldito!! Qual é a sua ligação com o Imperador Hades?! Dependendo da sua resposta, eu vou tirar a sua vida por ser um intruso no exército de Atena.

Ápis sorriu.

— Que ironia. Vai tirar a minha vida... Falando assim parece até um cavaleiro.

— Não me entenda mal. Sei que o que eu fiz com meus companheiros em todos esses anos foi um crime, mas eu ainda sou e sempre serei um Cavaleiro de Atena. Eu sobrevivi até hoje porque a minha intenção é sair daqui e forçar o desgraçado que condenou os meus amigos a esse inferno a libertá-los!!! Para que eles possam reencarnar. Agora responda... — Nasu voltou a movimentar os dedos e forçou Ápis a se inclinar contra o chão. — Porque você fede igual a um espectro? Sutil, mas ainda assim eu consigo sentir.

— Eu fui maculado pelo cosmo de Oberon. Filho de Hades. E herdeiro do submundo. Ele corrompeu a minha armadura de ouro, criando a casca de uma surplice a partir dela. — explicou Ápis.

— Cosmo das trevas sempre deixa rastro, não é mesmo?! — Nasu se aproximou de Ápis e ergueu a cabeça do Cavaleiro de Ouro de Touro. — Alegre-se. O destino está do nosso lado. A vida me enviou você. Um cavaleiro que já foi um espectro. E trouxe pra mim... — o cavaleiro de prata tocou na armadura de ouro e chamas azuis romperam pelo corpo de Ápis. O cavaleiro de ouro gritou em agonia sentindo uma dor agonizante. Em meio aos gritos de dor de Ápis, Nasu conseguiu extrair resquícios de cosmo das trevas que compõem a surplice. — A chave para sair desse inferno!!

Para a supresa de Nasu, Ápis se mexeu por conta própria. Ele se ergueu, rompendo a força o controle de Nasu sobre ele, e dissipou as chamas com o seu cosmo dourado. Havia marcas de queimadura em várias partes do seu corpo. As feridas doíam como se fossem agulhas quentes penetrando na sua pele.

— Impossível!! Você se libertou sozinho do meu controle. — disse Nasu, mas Ápis não respondeu. Ele segurou o braço de Nasu e tomou das mãos do Cavaleiro de Prata o cosmo de Oberon que havia sido retirado de sua armadura. — Touro, você...

— Você está certo. — disse ele, olhando para a energia negra. — E é isso que eu preciso fazer. — Ápis elevou o cosmo, fazendo a sua energia dourada reagir diretamente com o cosmo das trevas de Oberon. — Eu preciso me tornar mais uma vez... Um espectro!!

Ápis fechou a mão com força e o cosmo das trevas se dissipou como tinta, impregnando a sua armadura.

A armadura dourada de Touro, antes reluzente, agora experimentava mais uma vez a dolorosa transformação. Sob a influência do cosmo sombrio de deus Oberon, as tonalidades radiantes de ouro começaram a se distorcer. Uma escuridão profunda se insinuava pelos contornos da armadura, como uma névoa sutil que corrompia sua pureza original.

As peças douradas cederam à influência das trevas, tornando-se negras, como se a própria essência da escuridão estivesse sendo absorvida pela armadura. Cada detalhe, cada curva que antes refletia a luz, agora emanava uma sombra profunda e ameaçadora. O ouro foi substituído pelas sombra da Surplice, o traje sinistro do guerreiros que compõem as fileiras do exército do mundo dos mortos.

Os olhos de Ápis, que antes eram verdes, se tornaram vermelhos como sangue. À medida que Ápis se movia em direção a Nasu, a aura sombria geralmente emanada pelos espectros, permeava ao seu redor, afastando os Espíritos famintos.

— Touro?! — disse Nasu, se sentindo impotente.

Ápis desferiu um soco no rosto do antigo Cavaleiro de Prata, que foi arremessado contra o chão.

— Levante-se! — disse Ápis, cerrando o punho. — Eu não concordo com as suas atitudes, mas tenho compaixão com a sua situação. Vamos retornar juntos para o mundo dos vivos! E vamos obrigar Tântalo a vir a esse mundo libertar os nossos companheiros!!

Ápis concentrou todas as suas forças e seu cosmo no punho e desferiu um golpe.

— Chifre glorioso!!

Uma poderosa rajada de cosmo energia, densa e impregnada com cosmo das trevas, irrompeu com uma fúria intensa. O ar pareceu estremecer diante da força descomunal.

Um estrondo ensurdecedor criou ondas de choque que se propagaram pelo ambiente até gerar uma rachadura no espaço-tempo. Uma espécie de portal dimensional. A fenda tremulava como se os próprios tecidos do universo estivessem sendo rasgados.

— Essa é... — os olhos de Nasus se encheram de lagrimas. — A janela da minha libertação.

— Vamos juntos! Rumo ao mundo dos vivos!! — gritou Ápis avançando em direção a fenda.

—...—


Referências:

A reunião da ONU: No ano de 2001 a reunião anual da ONU foi de fato adiada de setembro para novembro devido ao fatídico atentado terrorista do 11 de setembro.

O discurso: O trecho do discurso do Presidente do Brasil citado neste capítulo foi tirado do discurso original que foi lido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em exercício no ano de 2001.

O Templo de Atena que cura os enfermos: Esse templo existe dentro da franquia Saint Seiya. Ele foi apresentado em uma história extra chamada "O Grande Amor de Atena" publicada na revista japonesa Jump Gold Selection 3 em 1989. O local sagrado se chama "Fonte de Atena".

Tântalo: Na mitologia grega, Tântalo foi um mitológico rei que certa vez, ousando testar a omnisciência dos deuses, roubou os manjares divinos e serviu-lhes a carne do próprio filho Pélope num festim. Como castigo foi lançado ao Tártaro, onde, num vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede.

Nasu: vem do Zoroastrismo, uma antiga religião monoteísta. "Nasu" refere-se a um cadáver ou corpo morto.


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Notas finais do capítulo

Sinopse do próximo capítulo (73):

"Draco, o deus dragão, entra em confronto com Tritão, o filho de Poseidon. Enquanto isso, os cavaleiros de Atena, os marinas de Poseidon e os guerreiros de Asgard se unem na região central do Santuário para enfrentar os berserkers liderados pelo último e mais poderoso Espírito da Guerra. Quando uma carnificina dos berserkers ameaça dominar o campo de batalha, pressas douradas surgem inesperadamente para desafiar o exército de Ares, lançando uma reviravolta épica na Guerra Santa."

Olá pessoal!! Tudo bem com vocês?

Espero que o capítulo corresponda a expectativa de vocês depois de tanto tempo (riso). Esse capitulo foi bastante trabalhoso nas referência e na descrição do ambiente. Mas acho que fiz um trabalho bacana. Vamos juntos para a reta final dessa história, pois uma nova cortina está prestes a se abrir. Rumo ao Prologo do Céu!

Abraço a todos!! Não esqueça de deixar a sua opinião. Ajuda muito!



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