A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 75
Capítulo 69 – Campo de Guerra: Chamas divinas - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Shalom de Virgem e Anatole de Quimera se enfrentam em uma batalha acirrada. Trombetas divinas ecoam no céu, mas as chamas azuis de Quimera resistem às punições divinas. Céu e inferno colidem. Em Rozan, Shiryu acompanha a batalha de Tourmaline de Capricórnio e o berserker Lycaon de Licantropo através das águas da cachoeira, mas é interrompido ao receber uma visita inesperada do Olimpo.



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Capítulo 69 – Campo de Guerra: Chamas divinas - Parte II


Arredores do Santuário – Região Norte

— Seja grato à sua armadura de ouro, Virgem. Graças a ela seus ossos não foram esmagados e seu corpo não foi incinerado.

Shalom se levantou se esforçando para ficar de pé. Seu corpo estava pesado e o calor das chamas azuis em sua volta parecia drenar suas forças. Sangue escorria de um ferimento em sua testa e seus dedos estavam com queimaduras superficiais.

Anatole estava mais poderoso do que da última vez que os dois se enfrentaram. O berserker não só rompeu a defesa de Virgem, como também maculou a técnica de Shalom e a anulou.

— Tanto poder assim... Tudo isso após uma troca de personalidade?

— É bem mais do que isso. A Onyx de Quimera representa três Onyx diferentes unidas em uma só. E cada uma é portadora de habilidades diferentes. Com isso eu acabo tendo três vidas, e posso acumular as experiências e uma parte do cosmo das três existências na medida em que uma se esvai. Você vai precisar dar tudo de si, Virgem. Mas verá que ainda assim não será suficiente.

Anatole elevou seu cosmo e alimentou as chamas azuis, tornando-as mais intensas. As labaredas se ergueram atrás do berserker criando mais uma vez a imagem do carneiro bestial.

— Três vidas... Três oportunidades. E mesmo assim você as desperdiça. — disse o Cavaleiro de Virgem elevando o cosmo. — Todos os inocentes que morreram durante essa Guerra Santa desejariam ter uma segunda vida. Uma segunda oportunidade. — os olhos de Shalom foram tomados pelo seu cosmo dourado e seus cabelos castanhos se agitaram. — Mas isso foi tomado deles. Então eu tomarei de você também. Rompimento do Sétimo selo! Soar das trombetas de Deus!

Seu cosmo dourado se ampliou pela área isolando-os em um mar de nuvens que se modelaram e tomaram a forma de anjos. Sete criaturas aladas de expressões duras que pareciam ter sidos esculpidas em mármore branco. Suas asas eram volumosas e quase tocavam o chão. Cada anjo trazia em sua mão direita uma trombeta dourada.

Anatole encarou os anjos com um olhar de curiosidade e surpresa.

— Você invocou os seres alados do Jardim de Yeshua. Interessante. Então é o deus dos judeus que você serve?! Esmagarei a sua crença estrangeira e mandarei seus anjos de volta para o plano espiritual, de onde eles não deveriam ter saído. — Anatole elevou ainda mais o seu cosmo, fazendo com que suas chamas rompessem a zona espiritual criada por Shalom, transformando o ambiente em uma mistura de céu e inferno.  Seja esmagadoCarruagem de Agni!

A rajada de cosmo flamejante avançou tomando a forma de seis carneiros gigantes. A força esmagadora era tão grande que deixava um rastro de destruição durante o avanço.

— Que seja tocada a primeira trombeta!!

O primeiro anjo tocou a trombeta e houve um forte abalo no céu. As nuvens se tornaram vermelhas e delas foram disparadas rajadas de cosmos envolvidos em chamas e sangue. As técnicas de Shalom e Anatole colidiram brutalmente. Chamas azuis e vermelhas se encontraram no centro da região, provocando um forte estrondo.

Mas para a surpresa do Cavaleiro de Virgem a punição da primeira trombeta não estava funcionando contra Anatole. O cosmo do berserker estava maculando as chamas de Shalom. Da mesma forma que fez com a técnica Ignis Ludicio.

— Eu lhe avisei, Virgem. Cada Onyx possui uma habilidade. A Onyx da Serpente possui o poder da ilusão. Já a Onyx do Carneiro possui a habilidade de corromper o cosmo do meu adversário. E dessa forma... — o cosmo de Anatole se intensificou. — Eu posso enfraquecer e macular qualquer técnica que você disparar. Sem exceção! — gritou ele.

A colisão resultou em uma forte explosão que arrastou os dois para trás. A primeira trombeta foi anulada e a imagem do primeiro anjo foi desfeita.

— Segunda trombeta! — gritou Shalom, sem demora.

O segundo anjo tocou a trombeta dourada e houve um segundo abalo no céu. As nuvens giraram formando um tenebroso redemoinho e em seguida se abriram, dando passagem para uma montanha ardendo em chamas.

Anatole sorriu.

— Que idiota! Pecado da serpente!

O berserker elevou seu cosmo e disparou uma rajada de energia que se ergueu tomando a forma de uma gigantesca serpente negra. A criatura abocanhou a grande montanha e suas presas transpassaram a técnica de Shalom. O golpe despedaçou o monte e as chamas foram novamente maculadas.

— Eu lhe avisei. — disse o berserker confiante.

— Olhe com mais atenção...

A montanha tinha sido despedaçada, mas seus fragmentos ainda estavam seguindo o percurso da técnica. Anatole cruzou os braços frente ao corpo para tentar se proteger, mas o berserker foi alvejado violentamente, sendo bombardeado enquanto era lançado contra o chão afundando em uma cratera.

Graças a resistência da Onyx, Anatole não sofreu ferimentos graves. O traje seguia sem danos, mas o berserker também não saiu totalmente ileso. Havia escoriações nas regiões sem proteção e seu corpo parecia estar mais pesado.

— As trombetas de Deus é uma punição divina. — Shalom se aproximou da cratera para observar Anatole tentando se levantar. — Um demônio como você não pode resistir por muito tempo. A sua malícia jamais será poderosa o suficiente para macular aquilo que é sagrado, pois cada vez mais a mão divina pesará sobre você. Mas estou curioso para ver até onde você vai suportar. Continuando... Terceira Trom...

Anatole se moveu na velocidade da luz e aplicou um chute, mas Shalom desviou saltando para trás. O ataque do berserker atingiu o chão desprendendo a terra e propagando uma forte onda de deslocamento.

— Não me torture com essa conversa irritante!

Furioso, o berserker desferiu dezenas de socos que assumiram a forma de rajadas de cosmo. Shalom estendeu o braço e materializou uma barreira, a qual foi violentamente bombardeada. O impacto da colisão provocou um forte tremor e revirou o solo mais uma vez, abrindo uma extensa fenda ao redor de Shalom. O santo de virgem acabou sendo atingido de raspão por alguns fragmentos do golpe que atravessaram a defesa.

— Dispare todas as trombetas se quiser. Não fará diferença. Todas serão corrompidas. E ainda que reste algo delas, irei suportar.

— Você está blefando. — disse Shalom elevando o cosmo. O cavaleiro de ouro repeliu os danos causados por Anatole e curou os ferimentos. — Está argumentando sobre algo que não conhece. É pura arrogância.

Os fragmentos da montanha disparada pela segunda trombeta foram envolvidos pelo cosmo dourado de Shalom e subiram ao céu como centenas de estrelas cadentes voltando para o firmamento escuro. E então pararam. Com suas pontas afiadas mirando Anatole.

— Terceira Trombeta! Chuva de Estrelas Flamejantes!

A mortal chuva de estrelas rasgou o céu conduzida por uma fúria divina.

— Impacto Imperial!

Anatole desferiu milhares de socos na velocidade da luz que rivalizaram com a técnica de Virgem. O poder esmagador dos punhos do berserker bloqueava os fragmentos, mas ainda assim não era o suficiente para atravessar o golpe e atingir Shalom.

— “Ele conseguiu rivalizar com a Terceira trombeta. — pensou Shalom, surpreso. — Assim como aquela amazona de Ares que enfrentei em Jamiel, ele está disposto a suportar todas as trombetas sobre si. Mas isso é tolice.”

Shalom elevou o cosmo e intensificou o disparo, mas Anatole correspondeu na mesma medida.

— Eu não vou me dar por vencido, Cavaleiro de Ouro. Mas pelo visto a sua técnica não vai se sustentar por muito tempo. — disse o berserker olhando para a imagem do terceiro anjo.

Shalom observou por cima do ombro e avistou a criatura alada rachando aos poucos. A terceira trombeta estava chegando ao seu limite.

— Angeli Specularibus!

Antes que a técnica cedesse por completo, Shalom a dispersou e ergueu o escudo vitral diante de si para bloquear os punhos do berserker.  Anatole avançou e colidiu com a defesa tentando rompê-la, mas o dourado de virgem contra-atacou.

— Acabou! Que sua vida seja consumida por completo. Quarta Trombeta!  

O quarto anjo tocou a trombeta e imediatamente o cosmo de Anatole foi totalmente apagado. O berserker ergueu os olhos para Shalom sem entender o que estava acontecendo. O escudo de virgem então explodiu e arremessou o berserker contra um pilar.

— Eu sinto o meu corpo... — ele não conseguiu completar a frase.

Uma dor aguda tomou o seu corpo e o paralisou. Suas veias incharam e se romperam, liberando um sangue escuro que ardia como brasa. As chamas azuis que ainda queimavam no campo começaram a perder as forças até se extinguirem por completo.

— Para muitos essa técnica seria um alívio, pois encerraria o combate, mas para você é só o começo de mais um sofrimento. Vamos berserker! Levante-se! Mostre a sua última face. Ainda me restam três trombetas.

Anatole sorriu.

— Exatamente, Virgem. Uma vida, três trombetas. Mas me diga... O que vai acontecer depois que a ultima trombeta soar e seu inimigo ainda estiver vivo?

O cosmo de Anatole se elevou e o berserker ficou em pé. Sua onyx danificada se desfez em cosmo negro e se remodelou, voltando a se materializar no corpo de Anatole com uma nova forma, mas dessa vez não era mais um traje preto. As peças eram branca com detalhes dourados. E assim como o traje, o cosmo do berserker também se tornou branco e puro.

Seus ferimentos foram curados, seus chifres negros em meio aos cabelos azul acinzentado se desfizeram em cosmo, e a esclera negra voltou a ser branca em volta de uma íris laranja claro.

Agora diante de Shalom estava um Anatole completamente diferente das versões anteriores. Estava mais poderoso e parecia um guerreiro nobre e justo, segurando seu elmo em forma de cabeça de leão debaixo do braço.

— O que está esperando, Shalom? — perguntou Anatole calmamente enquanto colocava o elmo na cabeça. — Toque a quinta trombeta. 

—...—


Cinco Picos Antigos de Rozan – China (Noite)

Shiryu estava em pé ao lado da urna da armadura de libra diante da grande cachoeira de Rozan, acompanhando atentamente os confrontos no Santuário através das águas. Naquele momento ele assistia a luta de Tourmaline de Capricórnio contra o berserker Lycaon de Licantropo.

— Shiryu... — disse a deusa Suzaku se aproximando.

Seus longos cabelos eram brancos nas raízes e iam mudando de cor até se tornarem vermelho nas pontas, e seus olhos eram como ouro em chamas. A deusa estava usando um kimono vermelho com estampa branca amarrado por um laço preto bastante justo em sua cintura. Atrás do traje havia mais sete laços de cores distintas como uma longa cauda.

— Eles ainda estão do outro lado da barreira, não é? — perguntou Shiryu notando o tom de preocupação na voz da deusa.

— Sim.

— Estou ciente. — disse despreocupado. — Já faz alguns minutos que estão fazendo essa vigília.

— Um deles entrou em contato comigo por telepatia. Está pedindo autorização para falar com você diretamente.

— Se a senhora concordar, pode deixá-lo entrar.

— Está bem.

Suzaku estalou os dedos e em questão de segundos um vulto desceu do céu e pousou levemente próximo a eles sem tocar no chão. O homem tinha pele morena, cabelos roxos arrepiados e olhos castanhos claros. Trajava uma armadura prateada com detalhes brancos chamada de “Gloria”. Acima de sua cabeça brilhava uma aureola dourada e de suas costas pendia um par de asas brancas.

Shiryu olhou para trás por cima do ombro.

— O que um anjo faz aqui? Tão longe do céu.

— Meu nome é Odisseu e eu vim sob as ordens do Senhor do Olimpo.

— E o que deseja?

— Serei direto ao assunto. O senhor Apolo quer conceder anistia à você. Um perdão misericordioso para as suas condutas reprováveis contra os deuses nos últimos anos.

Houve silêncio. Apenas o som da cachoeira podia ser ouvido. Suzaku olhou curiosa para Shiryu, que parecia pensar na proposta.

— E o que ele pede em troca? — perguntou Shiryu.

— A renúncia da sua posição como cavaleiro. Apenas isso. Torne-se um humano comum abrindo mão de sua armadura e dos seus poderes. E assim você poderá viver uma vida normal, como um humano comum ao lado da sua esposa e do seu filho. Longe de guerras e mortes. Seja aqui ou no Olimpo, você terá total proteção do Senhor Apolo.

— Seiya e os outros terão a mesma oportunidade?

Odisseu deu um leve sorriso.

— Para os outros lendários já foi estabelecido a pena de morte. Agradeça ao seu exílio aqui em Rozan. Isso fez com que você ficasse longe dessa guerra e cometesse menos crimes que seus companheiros.

— Entendo. É uma oferta tentadora, mas terei que recusar. Então retire-se daqui. — disse Shiryu. — Volte para o Olimpo.

— Não está tomando uma decisão prudente, Libra. Vem tempestade por aí. Das grandes. Você tem a oportunidade de sobreviver.

— Estou ciente da ameaça. Já senti isso outras vezes. Essa guerra santa está chegando ao fim, mas uma nova guerra se aproxima. 

— E isso não lhe assusta? — perguntou Odisseu.

— Nenhum pouco. Como Cavaleiro de Atena estou sempre preparado para lutar. 

— Não quer reconsiderar? — perguntou o anjo. Odisseu colocou o braço direito para trás e materializou uma lança dourada.

— Não faça isso. — disse Shiryu, ainda de costas para o anjo, assistindo o confronto no Santuário. — Você perderia o braço antes mesmo de disparar essa lança. — o cosmo dourado de Shiryu se elevou e a urna de libra reagiu. Um ponto de luz saiu de dentro da urna e se materializou na espada de Libra. — Volte para o Olimpo. Nos enfrentaremos futuramente.

Odisseu sorriu com desdém e desfez a lança dourada.

— Está bem. Levarei a sua resposta para o meu senhor. Até mais, deus dragão.  

O anjo fez uma indesejada reverência e se retirou. 

— Shiryu... — disse Suzaku. 

— Talvez seja a hora do Cavaleiro de Libra lutar. — disse Shiryu.

—...—


Área externa do Coliseu – Santuário 

  Mallia de Coma Berenice e Lacaille de Mosca estavam encurralados pelos lobos subordinados do berserker Lycaon. Vítimas do vilarejo de Rodorio que sofreram Licantropia - A habilidade do berserker de converter humanos comuns em lobos e escravizá-los como soldados.

  — O que faremos agora? — perguntou Mallia, dando passos para trás e materializando os dourados fios mortais de Berenice nas pontas de seus dedos.

  — Guarde seus fios, Mallia. — disse Lacaille. Seus cabelos cor de cobre estavam grudados na testa e seus olhos lilás procuravam uma brecha. — Não podemos atacá-los. São apenas crianças transformadas.  

— Eu sei, mas também não temos alternativa. Mesmo que a gente fuja, eles se movem na mesma velocidade que o berserker. Seremos caçados e devorados.

Os lobos rosnaram mostrando suas presas e saltaram em direção aos dois. Ambos ergueram os braços para se proteger, mas uma descarga elétrica dourada atingiu a alcateia e eletrocutou as criaturas derrubando-os inconsciente.

Mallia se aproximou de um dos lobos e pousou a mão no pescoço da criatura.

— Eles estão... — disse Lacaille, preocupado.

— Não. Estão...

— Vivos. — respondeu Shina. Mesmo com o corpo ferido e coberto de sangue, a amazona estava em pé novamente. Seu elmo e sua máscara haviam sido quebrados por Lycaon. — Apenas os deixei inconscientes por um tempo. Quanto ao berserker... Onde ele está?

— No coliseu. — respondeu Lacaille, tentando evitar olhar para o rosto de Shina.

— O cosmo da Shina... — pensou Mallia intrigada com aquela sensação que estava emanando da amazona de prata.

— Não precisa se preocupar com isso, Lacaille. — disse Shina, notando o comportamento do cavaleiro. Ela virou-se e encarou o corredor que dá acesso ao Coliseu. Raios dourados voltaram a crepitar entre seus dedos. — Nesta noite apenas um homem deve temer olhar no meu rosto.

—...—

No interior do Coliseu, Tithonos, o antigo Cavaleiro de Câncer da Era Mitológica, se mantinha concentrado no centro da arena em meio a um círculo com o nome de Atena em grego cravado no chão. Ao seu redor havia uma coluna de cosmo azul rodeado por uma aura branca que se erguia até as nuvens, provocando uma distorção no céu. O Limbo que irá selar os berserkers estava sendo criado, e Tithonos estava empenhando todo o cosmo que ele acumulou por centenas de anos.

Mesmo tendo um corpo velho e uma aparência cansada com longos cabelos e barba branca, seus olhos azuis emanavam vida e poder.

 Enquanto isso, Alkes de Taça enfrentava os subordinados licantropos que Lycaon havia convocado na tentativa de impedir Tithonos de continuar o processo. Sabendo que os lobos são apenas vítimas do berserker, Alkes passou a congelá-los ao invés de matá-los, mas um número cada vez maior continuava a surgir pelas arquibancadas, e agora estavam sendo acompanhados por soldados berserkers atraídos pelo pilar de cosmo. As criaturas e os soldados saltavam em direção à arena como se impedir Tithonos fosse algo que eles tivessem que fazer a qualquer custo.

 Lycaon, que seguia enfrentando Tourmaline de Capricórnio, parecia se divertir vendo os esforços de Alkes.

— Até que ponto seu amiguinho vai suportar? — disse o berserker em tom provocativo. — Ele está evitando congelar os meus lobos de forma fatal, mas ao mesmo tempo não é um frio suficiente para mantê-los congelados por muito tempo. Meus lobos estão ligados a mim. Uma hora ele vai ficar exausto.

Tourmaline aproveitou a distração de Lycaon, desviou da lâmina do berserker e tentou uma aproximação direta, mas o antigo Rei de Arcádia não estava tão distraído assim. O braço direito de Tourmaline foi interceptado pelo braço esquerdo de Lycaon. O poder cortante da Excalibur ainda conseguiu causar danos a Onyx, mas não foi suficiente para atravessar a defesa do traje e provocar um ferimento.

— Fraca demais. — disse o berserker.

Lycaon segurou o braço da saintia e desceu com um golpe de espada na intenção de amputar o membro, mas a amazona deteve a descida da lâmina usando o outro braço, aplicou uma cabeçada na testa do berserker, e em seguida um chute duplo no peito para afastá-lo.

Atordoado, o berserker foi arremessado para trás. Um filete de sangue escorreu pela testa de ambos.

— Apesar de ser uma garota, você luta com a mesma agressividade de um homem. — disse Lycaon se levantando. Seu cosmo se elevou agitando seus longos cabelos negros com fios prateados, e seus olhos vermelhos brilharam.

— Vou lhe dar motivos reais para se preocupar ao invés disso.

O cosmo de Tourmaline se elevou agitando seus longos cabelos ruivos e seu braço direito brilhou com mais intensidade. A saintia de Capricórnio se moveu na velocidade da luz, deixando para trás um feixe dourado marcando seu deslocamento.

O braço direito da saintia desceu prestes a partir o berserker ao meio, mas Lycaon recebeu a guardiã de Capricórnio cruzando suas espadas de lâmina curva. O golpe foi bloqueado e o choque propagou um forte tremor, fazendo o chão abaixo de Lycaon rachar e ceder. O antigo Rei de Arcádia reagiu empurrando Tourmaline para trás e aproveitou a brecha, mas a saintia contra-atacou a tempo. Cada golpe desferido emitia feixes cortantes que abriam fendas no solo. O impacto dos encontros gerava ondas sonoras que reviravam o chão na medida em que se expandiam.

O berserker golpeava e se defendia tentando avançar em direção a Tithonos, mas Tourmaline notou a intenção do berserker e bloqueou as investidas, forçando Lycaon a recuar.

— Saia do meu caminho! — gritou o berserker, acelerando seus movimentos e aplicando mais força em seus golpes.

Vendo que sua inimiga estava sustentando o combate, Lycaon se abaixou e girou, aplicando um golpe na perna de Tourmaline. A saintia se desequilibrou e foi golpeada com um soco que a lançou para o alto, sendo arremessada em direção as arquibancadas.

— Tourmaline! — gritou Alkes, do outro lado da arena, impossibilitado de ir ajudar por estar enfrentando os soldados berserkers e os lobos de Lycaon que continuavam a invadir o Coliseu.

Lycaon soltou as duas espadas no chão e correu em direção a Tithonos com o cosmo elevado, concentrando-o na palma da mão. Uma rajada negra foi disparada, mas Tourmaline se ergueu dos escombros e se moveu a tempo de bloquear o golpe. Lycaon concentrou mais uma rajada de cosmo e estava prestes a lançar quando Tourmaline contra-atacou com um golpe cortante. O berserker desviou e viu passar rente ao seu rosto um poderoso e extenso feixe de luz dourado rasgando o solo.

— Está se segurando? Já vi portadores da Excalibur abrindo fendas na terra com a mesma facilidade que se rasga uma folha de papel. É isso, ou então sua lâmina é fraca.

— Não estou aqui para lhe impressionar abrindo fendas no chão. Isso até um cavaleiro de bronze consegue fazer. Eu estou aqui... — nove pontos dourados brilharam no céu acima de Tourmaline, formando a constelação de Capricórnio, e de cada ponto luminoso surgiu uma espada dourada. — Para lhe matar.

Duas lâminas douradas voaram paras as mãos da saintia no mesmo instante em que ela saltou em direção a Lycaon. O berserker chamou suas espadas de volta para suas mãos e bloqueou o golpe. O som do ranger das lâminas se propagou junto com a onda de impacto. Agora com ambos manejando duas espadas, o combate se tornou ainda mais acirrado.

Mesmo com Lycaon bloqueando as investidas de Tourmaline, o deslocamento da Excalibur proporcionava ventos cortantes que feriam o berserker nas zonas desprotegidas, ainda que superficialmente. Mas a habilidade regenerativa fazia os ferimentos do berserker se curarem rapidamente.

Tourmaline aplicou um chute no abdômen de Lycaon, arremessando-o para trás. O berserker fincou as lâminas no chão para se conter e com impulso ele se moveu em direção à saintia, mas Tourmaline já o esperava. A constelação de Capricórnio voltou a brilhar mais uma vez acima da saintia, e centenas de lâminas douradas foram disparadas pelos pontos estelares.

— Dança das espadas! Dance Excalibur!

As lâminas bombardearam a arena como se fosse uma chuva de estrelas. Lycaon desviou de dezenas e bloqueou tantas outras, mas não estava sendo rápido o suficiente. Uma das lâminas cravou em seu ombro atravessando uma brecha da Onyx. Além disso, as espadas também correspondiam ao movimentar dos braços de Tourmaline.

Vendo que estava encurralado e que poderia cair em batalha, Lycaon expandiu seu cosmo, largou as espadas e materializou uma esfera negra entre as mãos.

— Cápsula da morte!

A esfera foi lançada para o alto e se expandiu violentamente consumindo tudo. As lâminas foram tragadas e Tourmaline foi envolvida e arremessada. Ao se levantar cuspindo sangue, a saintia reparou estar dentro de uma cúpula negra.

— Morra, saintia de Atena!!

A cúpula explodiu provocando um forte tremor. O chão se desprendeu e Tourmaline foi lançada para o alto cuspindo sangue em meio a uma coluna de luz negra que rasgou o céu, e em seguida desabou na cratera que se formou na explosão. Apesar da proteção da armadura de ouro, seu corpo havia sofrido lesões internas. Sangue escorria pelo canto da boca e de alguns cortes em seu rosto.

Mas mesmo assim a saintia voltou a se levantar.

— Eu gosto disso em vocês. — disse Lycaon. — Estão morrendo, mas ainda assim não desistem. A prepotência fala mais alto. Por isso eu prefiro enfrentar os Cavaleiros de Ouro. São insetos resistentes. — o berserker elevou seu cosmo e preparou sua técnica mais uma vez. — Vocês aguentam um pouco mais. Cápsula da Morte!

Os olhos de Tourmaline brilharam e a saintia se deslocou na velocidade da luz.

— Excalibur!

Um feixe cortante foi disparado e partiu a cápsula ao meio, anulando a técnica.

— A mesma técnica não vai funcionar comigo. — disse a saintia sussurrando no ouvido do berserker.

Surpreso com a velocidade de Tourmaline, Lycaon virou-se para golpeá-la, mas a saintia o atacou de punho fechado. O berserker desviou do soco, mas a aproximação foi o suficiente para o deslocamento do ar cortar o rosto de Lycaon. Ainda impressionado, o antigo Rei de Arcádia segurou o braço de Tourmaline e a girou contra o chão, mas a saintia reagiu girando ainda no ar e aplicou um chute cortante que provocou rachaduras na Onyx e arremessou Lycaon contra a parede.

Rapidamente o berserker se ergueu, mas Tourmaline já havia saltado em sua direção.

— Excalibur!!

Lycaon desviou no exato momento em que o golpe atingiu o chão e rasgou o solo da arena. Toda região tremeu e uma profunda fenda se abriu.

— Ela não está mais se contendo. — pensou o berserker. — Mas por que só agora?

O antigo Rei de Arcádia estendeu as mãos para as espadas e as invocou, mas Tourmaline correu e interceptou as lâminas golpeando-as com tanta força que as partiu ao meio. Desarmado e surpreso, Lycaon agora teria que enfrentar a saintia com as mãos nuas, e isso seria um problema já que os punhos de capricórnio são afiados.

— Você é uma idiota se acha que eu preciso das minhas espadas para lutar.

O berserker disparou de punho cerrado e Tourmaline correspondeu avançando. Lycaon atacou, mas a saintia se esquivou e se abaixou, aplicando um golpe no abdômen do berserker atravessando a defesa da Onyx. Sangue escuro escorreu pelo braço de Tourmaline.

— Desgraçada!! — urrou o berserker

Furioso e cuspindo sangue, Lycaon aplicou uma joelhada para afastar a saintia, mas Tourmaline bloqueou o ataque com a palma da mão e girou aplicando um chute no queixo do berserker. Lycaon foi lançado para trás, mas rapidamente reagiu e voltou a lutar. Os punhos de ambos se chocaram e deslizaram, acertando o rosto um do outro. Mais sangue foi cuspido.

Tourmaline deslizou no chão, girou e se lançou contra o berserker mirando suas pernas para desestabilizá-lo, mas o Lycaon saltou e desceu com uma investida de chute duplo. A guerreira de Atena cruzou os braços para se defender, mas mesmo assim foi arrastada para trás. Ao abrir a defesa, Lycaon se adiantou e avançou novamente, aplicando um soco no peito de Tourmaline. A armadura de ouro rachou e a saintia foi jogada contra o chão. O berserker então se lançou sobre ela para golpeá-la, mas Tourmaline se esquivou rolando para o lado e girou golpeando as costas de Lycaon. Em seguida saltou, e centenas de lâminas douradas voltaram a brilhar no céu.

— Dança das espadas! Dance Excalibur!

A chuva de lâminas douradas caiu e dessa vez Lycaon não conseguiu se esquivar ou se defender a tempo. Centenas de lâminas perfuraram a Onyx fazendo o berserker urrar de dor. Seu grito atraiu os lobos que correram em direção ao mestre. Alkes se adiantou e interceptou as criaturas disparando uma rajada de ar congelante.

Enquanto a coluna de poeira subia e se dissipava com o vento forte, Lycaon tentava se levantar repleto de lâminas douradas de cosmo cravadas em seu corpo.

— Isso é... inútil. — disse o berserker, sorrindo. Lycaon elevou o cosmo e destruiu as lâminas. Sangue escuro escorria por todo o seu corpo. — Está desperdiçando seu cosmo, garota. O meu corpo sempre irá se regenerar.

Tourmaline olhou para Tithonos no centro da arena. Os olhos azuis do antigo Cavaleiro de Câncer estavam fixados nela. Uma mensagem silenciosa mandando ela se lembrar o que ele havia dito à ela no inicio da batalha: “Um rei só é rei porque governa com uma coroa na cabeça. Tirem ela e o feitiço irá cessar. E por ser um licantropo a lua se torna uma grande fonte de poder.”

Tourmaline fitou o elmo de Lycaon. Uma espécie de coroa negra com o símbolo da lua no centro.

— Um golpe. Apenas um golpe. Tenho que aproveitar que ele ainda está se recuperando. — pensou a saintia, elevando o cosmo.   Morra! Excalibur!

O feixe cortante foi disparando rasgando o solo durante o percurso, mas o berserker não se intimidou. Lycaon elevou seu cosmo e estendeu o braço interceptando a técnica.

— O-O quê?! — disse Tourmaline surpresa.

O berserker foi arrastado para trás e a técnica foi detida com muito esforço, mas Lycaon não saiu ileso. Sua mão  ficou ensanguentada e o deslocamento de ar provocou alguns ferimentos através das frestas da Onyx. Se não fosse a defesa do traje o berserker teria perdido o braço.

— Eu sei o que você quer fazer. — disse o berserker ainda segurando a energia da Excalibur na mão. — Está visível nos seus olhos. É a mesma expressão que eu já vi se repetir nas Guerras Santas anteriores. Mas essa sua lâmina não é suficiente. Com muito custo você consegue provocar rachaduras na minha Onyx. E o velho sabe disso, pois muitos companheiros dele morreram na tentativa. Mais alguns anos de experiência e quem sabe você possa conseguir.  

— Não me resta tanto tempo assim. E é um equívoco da sua parte dizer que a Excalibur não é suficiente. Minha lâmina fica afiada de acordo com a necessidade do campo de batalha. Contudo, eu não sou uma espadachim de uma lâmina só.

Lycaon enrugou o cenho.

Tourmaline elevou seu cosmo, o qual mudou de cor, passando da cor dourada para purpura. E dele se materializaram centenas de pétalas de cerejeira. Todo o coliseu ficou tomado, impressionando até mesmo Tithonos que a observava em silêncio.

As pétalas passavam distantes de Alkes e dos lobos escravizados por Lycaon para não os ferir, mas os soldados berserker e o Antigo rei de Arcádia não foram polpados. De forma delicada as pétalas deslizavam próximas as áreas desprotegidas pelas Onyx e deixavam finos cortes. Como se fossem lâminas afiadas.

Lycaon observou os soldados  berserkers tentando se defender, mas quanto mais eles se agitavam, mais pétalas eles atraiam e mais cortes sofriam. Um a um foram caindo fracos e ensanguentados.

— Essas pétalas... São lâminas? — pensou ele surpreso.

O braço esquerdo de Tourmaline foi envolvido por algumas pétalas.

— Lindas, não são? É uma visão bonita demais para miseráveis como vocês. Turbilhão Senbonzakura!

Tithonos, Alkes e Lycaon olharam estarrecidos para Tourmaline ao ouvirem o nome da técnica.

As milhares de pétalas de cerejeira que pairavam pela arena reagiram às palavras da saintia e se agitaram em direção a Lycaon, cercando-o no centro de um turbilhão girando em alta velocidade. O berserker porém reagiu. Lycaon atravessou uma brecha do turbilhão antes que ele se fechasse por completo e escapou, mas durante a fuga sua perna foi golpeada por dezenas de pétalas, provocando ferimentos profundos.

Com a perna ferida e ensanguentada, o berserker cambaleou e caiu. As pétalas se moveram novamente para cercá-lo, e dessa vez ele não foi rápido o suficiente para escapar.

— Como uma pirralha como ela pode possuir a espada Senbonzakura?! — pensou Lycaon fitando Tourmaline através das frestas do turbilhão. — Mas espera ai... Senbonzakura é na verdade uma habilidade de espadachim que só pode ser manuseada por um portador de espada. Ela não liberou a Senbonzakura enquanto estava utilizando a Excalibur, então isso significa... — o berserkou observou com mais atenção o braço esquerdo da saintia. — A segunda lâmina que ela comentou... A segunda espada... Está no outro braço!

— Vamos. Se jogue novamente em direção ao turbilhão. Você será retalhado. — disse Tourmaline. — Isso me poupará tempo e esforço.

— Você está me subestimando, menina. — Com a perna em processo de cura, Lycaon conseguiu se levantar. — Mas tenho que admitir que você me deixou curioso. Vamos, me mostre a segunda espada que você carrega.

— A Excalibur não é suficiente para você? — o cosmo rubro se tornou dourado e as pétalas de cerejeira mudaram de cor também. — Não se apresse, berserker. Primeiro irei tirar a sua coroa.

— Vai tentar a sorte?

O cosmo negro de Lycaon se elevou e sua sombra se agitou, subindo em espiral ao seu redor e tomando a forma de dezenas de homens e mulheres oscilando entre a forma humana e a forma de lobos com presas afiadas.

— Conheça meus filhos e filhas. Que eles devorem a sua carne! Punição de Arcádia!!

O cosmo negro se expandiu e explodiu dissipando o turbilhão. Com a técnica anulada, as sombras avançaram em direção a Tourmaline a fim de retalhá-la.

— Idiota. — disse ela.

As pétalas douradas se moveram formando feixes de luz e interceptaram a técnica de Lycaon, partindo-a em pedaços.

— Não pode... ser. Desgraçada! Eu vou...

O berserker avançou, mas sua perna ainda estava fraca e por isso ele se desequilibrou e caiu. Lycaon tentou se levantar, mas seu corpo parecia estar sem forças. Os ferimentos anteriores se abriram e sangue escorreu pelas brechas da Onyx.

— O que está acontecendo comigo? Estou me sentindo... fraco. — disse ele cuspindo sangue. — Por acaso eu fui envenenado por essas pétalas?

 — Não confunda as pétalas da Senbonzakura com as pétalas vermelhas do Cavaleiro de Peixes. Você não foi envenenado, mas estou lhe privando da proteção lunar que fortalece o seu cosmo. Olhe para o céu e você entenderá.

Milhares de pétalas douradas estavam se concentrando no céu formando um sol de pequena proporção. A luz emitida pela esfera era tão forte que sobrepujava a luz da lua.

— A mera presença da lua no céu já é suficiente para lhe fortalece, mas o contato com a luz da lua expande suas habilidades e proteção. Mas a partir do momento que você é privado disso, o seu processo de cura é enfraquecido. Eu poderia sustentar a nossa luta até o nascer do sol, e aí você estaria em sua condição mais fraca, mas as ordens de Atena foram bem claras: Antes do sol nascer todos os berserkers devem estar mortos!

— Isso é... ridículo! — vociferou o berserker.

— Isso é a sua derrota.

Tourmaline estendeu o braço esquerdo e chamas purpuras surgiram rodeando seu membro. O chão embaixo dela brilhou e ondulou como se fosse a superfície de um lago, e uma espada de lâmina prata e cabo dourado se materializou, subindo em direção a sua mão.

— Você queria conhecer a minha segunda espada. Pois bem. Sinta-se agraciado por isso. Você é o segundo oponente que me obrigou a desembainhá-la. Flammeum gladium Edenis!! Disperse-se! 

A espada se dissolveu em milhares de pétalas de cerejeira tomadas por chamas rubras e em seguida se reagruparam, se materializando em centenas de espadas sagradas. Copias exatas da lâmina que Tourmaline havia invocado.

— Espada flamejante do Eden?! — pensou Tithonos. — Isso é... Uma espada divina!

— Eu não vou morrer sem rasgar a sua garganta primeiro! — gritou Lycaon se levantando e se lançando em direção a Tourmaline. — Punição de Arcádia!!

As sombras de Lycaon se agitaram e avançaram contra a guardiã de Capricórnio.

— Vai sim! — disse a saintia estendendo a mão e disparando sua técnica.

As espadas brilharam e foram disparadas como centenas de tiros. O berserker tentou desviar, mas não teve sucesso. Estava debilitado demais. A técnica de Lycaon foi sobrepujada e o berserker foi alvejado. Sua Onyx não suportou a potência do ataque e foi perfurada gravemente.

Tourmaline se aproximou de Lycaon. O berserker estava ferido, sem forças e ensanguentado, mas ainda assim tentava se levantar.

— Você é uma idiota.

— E você um prepotente. Acabou, Lycaon. Você perdeu. Eu vou libertar as pessoas que você escravizou. 

Tourmaline estendeu a mão para tirar a coroa do berserker, mas ele a deteve segurando o braço da saintia.

— Não. Ainda não acabou.

Lycaon segurou Tourmaline com mais força e queimou o resto do cosmo que ainda lhe restava. Ele se levantou e rapidamente imobilizou a saintia, segurando-a por trás.

— Agora vamos dar uma volta.

— O que está fazendo?!

— Indo ver a lua. — sussurrou o berserker.

Lycaon explodiu o seu cosmo e saltou em direção a esfera de pétalas douradas que ainda se concentravam no céu imitando o sol. Tourmaline não as dispersou, já que sua técnica não lhe afligiria, mas Lycaon não se importou. O berserker teve grande parte do corpo rasgado ao atravessar, mas ainda assim seguiu subindo até que a luz da lua o tocou e instantaneamente seu processo de cura começou.

Tourmaline tentou se desvencilhar dos braços do berserker, mas Lycaon foi retomando a força e a segurou com mais rigor.

— Você se esbanjou demais, menina. — disse o berserker. — Deveria ter arrancado a minha cabeça quando teve chance, mas preferiu ser soberba. Isso é um defeito de todos os Cavaleiros de Ouro. — Levitando no ar, Lycaon segurou Tourmaline pelo pescoço e a ergueu. — Eu vou matá-la aqui mesmo, e seu sangue irá chover por todo o coliseu.

Tourmaline sorriu.

— Acha isso engraçado?

— Vou repetir as suas palavras... Deveria ter arrancado a minha cabeça quando teve chance. Dança das espadas! Dance Excalibur!

Dezenas de pontos dourados brilharam no coliseu e subiram em direção a Lycaon e Tourmaline. O berserker a soltou para pode se defender, e a saintia se afastou erguendo o braço esquerdo e elevando o cosmo.

— É o seu fim! Espada flamejante do Éden!

Tourmaline desceu o braço e disparou um feixe de luz purpura na forma de uma gigantesca espada sagrada. Lycaon tentou interceptá-la usando a técnica de mãos nuas, mas ele não suportou o golpe e foi atingido em cheio. A coroa foi partida ao meio juntamente com toda sua Onyx, e o berserker foi arremessado violentamente na arena do coliseu, abrindo uma cratera profunda.

Tourmaline desceu em seguida e pousou de joelhos, exausta.

— Eu consegui. — disse ela segurando metade da coroa.

Os lobos recuaram e se deitaram. Aos poucos o cosmo negro do berserker foi saindo de dentro das criaturas e as bestas voltaram a forma humana.

— Eles estão sendo purificados. — disse Alkes.

— É, mas ainda não acabou. — disse Tourmaline, se levantando quase sem forças.

Lycaon estava em pé novamente. Sem onyx e ferido, mas ainda assim em pé. O cosmo negro que habitava nas vítimas de Lycaon estava voltando para o corpo do berserker e isso estava lhe dando forças novamente.

— A batalha só termina quando um de nós dois estiver morto. — disse o berserker.

O céu trovejou e raios dourados iluminaram o céu do coliseu.

— Nisso eu concordo com você. — disse Shina, entrando na arena acompanhada por Mallia de Coma Berenice e Lacaille de Mosca.

— Como pode estar viva?! — perguntou o berserker virando-se surpreso.

— O cosmo de Shina... Está diferente. — pensou Alkes.

— Eu não vou me dar por vencida. Vamos retomar a nossa luta.

— Não me faça perder tempo, mulher. — bravejou Lycaon. — Já lhe derrotei uma vez. Seja grata por estar viva.

Shina expandiu seu cosmo e disparou de punho cerrado.

— Não estou lhe dando alternativas. — disse a amazona, aplicando um soco.

Lycaon interceptou o punho de Shina, mas o cosmo da amazona continuou a se elevar e o berserker passou a ser empurrado para trás.

— De onde vem tanta força?! — disse Lycaon.

— Da derrota. — respondeu Shina. — Estou cansada de ser vencida em batalha. De ser colocada como fraca.

— Uma vez fraca.... — Lycaon preparou seu golpe Cápsula da Morte. — Sempre fraca!

— Está enganado.

O céu trovejou novamente e dessa vez uma descarga elétrica caiu sobre Lycaon, acertando o berserker em cheio e o arremessando contra as arquibancadas.

O cosmo de Shina aumentou de intensidade e os olhos da amazona foram tomados por um cosmo dourado. Ela caminhou em direção a arquibancada. Raios dourados crepitavam ao seu redor emanando de seus dedos. Shina então saltou e pairou no ar observando Lycaon tentando se erguer. O berserker estava com o peito rasgado e com boa parte do corpo queimado.

— Essa mudança em Shina... É o sétimo sentido. — pensou Tourmaline.

O cosmo roxo de Shina mudou de cor, se tornando dourado, e em seguida a sua armadura também se alterou.

— Por que sua armadura está brilhando como se fosse uma das doze armaduras de ouro? — questionou Lycaon.

— Graças ao sangue de Shalom, o Cavaleiro de Ouro de Virgem. Kiki restaurou a minha armadura usando o sangue de um cavaleiro de ouro. Isso não só aumentou o poder da minha armadura, mas também a resistência.

— “Aquela armadura... — pensou Tithonos. — Ela me é familiar.”

— Agora eu entendo por que o Senhor Ares quer tanto a cabeça do Mestre de Jamiel. — disse Lycaon em pé novamente. — Vamos acabar com isso!

Lycaon elevou seu cosmo e saltou em direção a Shina. O berserker desferiu um soco, mas Shina se esquivou e contra-atacou com um chute, arremessando Lycaon para o lado rasgando as arquibancadas. O berserker insistiu em se levantar, mas a amazona o golpeou com mais uma descarga elétrica, obrigando-o a ficar no chão.

— Eu não posso permitir que você tenha uma morte rápida. — disse Shina pousando nas escadas e caminhando em direção a Lycaon. — Você matou várias pessoas e feriu muitas outras. — a amazona segurou Lycaon pelo pescoço e o ergueu. — Irei vingá-los.

   Raios envolveram o punho de Shina e ela aplicou um soco no rosto de Lycaon. O berserker virou-se para atacar, mas Shina se afastou, deu meia volta e aplicou um chute. Lycaon foi jogado de volta para a arena. E antes que tentasse se levantar, Shina saltou concentrando raios entre as mãos e desferiu um golpe.

— Raikou Retsu!!

Os raios se uniram para formar uma gigantesca serpente dourada que caiu sobre Lycaon e atravessou o peito do berserker. A descarga então explodiu, criando uma cúpula de energia destrutiva que se espalhou revirando tudo ao redor.

Ao ver que seu inimigo estava morto, o cosmo de Shina se apagou e ela caiu sem forças e inconsciente.

— Shina! — gritou Alkes, correndo para ajudá-la.

— Ela está bem? — perguntou Tourmaline.

— Vai ficar. Eu posso curar os ferimentos dela.

—...— 


Bosque de Atena – Região Sul do Santuário

Lino abriu os olhos vagarosamente e viu a imagem embaçada de Kiki sobre ele. O Cavaleiro de Ouro parecia aflito. O seu cosmo estava elevado e suas mãos tremulas pairavam sobre seu peito. O cavaleiro de prata tentou erguer a cabeça, mas uma dor aguda percorreu todo seu corpo.

— Não se mexa. — disse Kiki. Havia um tom de preocupação em sua voz.

O peito da armadura de prata estava despedaçado e o ferimento não parava de sangrar. Mesmo com o braço direito fraturado, Kiki continuava a queimar o seu cosmo afim de acelerar o estancamento e a cicatrização parcial.

Lino olhou de lado e avistou Kastor e Acher de Eridanus parados ao lado de um corpo coberto por um manto branco. Seu coração acelerou nesse momento. Ele procurou por Nicolas, Kitsune e Dorie, mas não os encontrou.

Notando a angústia silenciosa de Lino, Kiki olhou para trás por cima do ombro e compreendeu a ansiedade do cavaleiro de prata.

— Aquele corpo no chão é do Dorie de Cérbero. Ele se sacrificou para vencer o berserker. O seu amigo Nicolas entrou no bosque para procurar a amazona de raposa que foi arremessada por Kami. Eles devem estar bem. Agora fique quieto. Você está ferido.

Lino respirou fundo e fixou os olhos no bosque.

...

Nicolas se lançou para dentro da floresta escura com o coração batendo forte contra o peito. A respiração estava ofegante, os cabelos estavam grudados na testa suada e os olhos ardiam em lagrimas. Os galhos mais baixos castigavam o seu rosto na medida em que ele corria.

— Ela não pode ter sido arremessada tão longe assim. — pensou ele apavorado.

O rastro da queda estava marcado no chão e nos galhos quebrados e retorcidos. Após correr alguns metros ele a avistou caída e desacordada. E ali o seu mundo desabou. Nicolas se jogou ao lado de Kitsune com as mãos tremendo e removeu sua máscara. A armadura estava danificada, os longos cabelos alaranjados estavam sujos de sangue e lama e havia um ferimento no peito.

— Não... Não... Ei, fala comigo. Por favor!

As pálpebras da amazona se moveram e ela abriu os olhos lentamente. Instantaneamente o peito de Nicolas foi preenchido com esperança.

— Ni-Nicolas...

— Tá tudo bem. Ok? — ele deu um largo sorriso e não conseguiu sustentar as lagrimas. — Graças a Atena você está bem. — disse ele abraçando-a.

— Li-Lino... Ele está...

Nicolas se afastou e passou a mão na testa da amazona afastando alguns fios de cabelos.

— Ele está bem. Não se preocupe. O senhor Kiki está cuidando dele. Agora temos que cuidar de você. — O cavaleiro de bronze a segurou nos braços. — Venha. Vou tirar você daqui.

—...—


Floresta sagrada de Atena – Região Norte do Santuário

— Senhorita Hestia... — disse o deus Asclépio saindo de dentro da cabana localizada no centro da floresta.

Seus cabelos eram curtos cor de violeta escuro e seus olhos eram estreitos de cor violeta claro. Estava bem arrumado como sempre, usando uma camisa social branca de manga longa ensacada em uma calça escura. Usava um colete preto por cima da camisa com abotoaduras douradas no punho e suas mãos estavam vestidas com luvas brancas de tecido. O deus segurava uma bengala de cano preto com um par de asas douradas e enrolada por uma serpente. Piton. 

— Você também sentiu?! — disse a deusa.

A deusa Hestia estava em pé no centro da área aberta no coração da floresta. Ela olhava para lua cheia que brilhava intensamente no céu. Seus longos cabelos ruivo-castanhos e seu vestido branco balançavam com o vento.

— A senhora sabia que ele...

— Que Dorie de Cérbero iria se encontrar com o berserker Kami de Wendigo? Sabia. Era o destino dele, e eu dei a ele o poder necessário para derrotar o berserker. Por mais que isso fosse custar a vida dele. Mas é isso o que nós fazemos pelo nosso lar... Nos sacrificamos.

— Mas eu me pergunto se esse era o único meio. — disse Asclépio medindo as palavras para questionar a deusa.

Héstia mirou os olhos vermelhos como chamas para Asclépio.

— Manipular as chamas divinas é uma dadiva dos deuses e poucos são capazes de sobreviver ao contato. Você sabe muito bem disso. O cavaleiro de Cérbero teve nas mãos um dos elementos mais primitivo e pôde derrotar um oponente poderoso.

— Mas ele tinha a sua proteção, minha senhora. Ele não deveria ser imune as chamas primitivas?

Héstia encarou Asclépio por alguns segundos antes de responder.

— Talvez eu tenha me esquecido desse detalhe.

— Ou talvez a senhora não esteja tão comprometida assim com suas funções em proteger a humanidade. A senhora não deu proteção ele. Apenas forneceu a "arma" que mataria o berserker. — disse o deus. — Piton me falou algo interessante que a senhora comentou quando ele a encontrou na mansão. A senhora disse que “não cumpre o seu papel tão bem como antes”. Isso me faz pensar que a senhora deixou de lado a imparcialidade dos seus deveres e abriu mão do apresso pelas pequenas vidas.

— Não se trata de ser ou não imparcial. Existe questões importantes nessa guerra santa e elas devem ser resolvidas a qualquer custo por um bem maior. — Héstia fez alguns segundos de silêncio. — A vida de um cavaleiro não é mais importante do que manter a paz, por isso eles estão dispostos a sacrificá-las. O “nosso lar” está mergulhado em caos. Tenho que trazer equilíbrio para o Olimpo.

— Mesmo que isso custe algumas vidas humanas? — questionou Asclépio.

— Você fez esse questionamento quando aceitou ajudar o Grande Mestre? Ou melhor... De quantas vidas você está falando? Mais de 1 milhão foram mortos na guerra santa entre Atena e Poseidon há 15 anos atrás. Mais de 2 milhões já foram mortos nessa atual guerra santa entre Atena e Ares... Você não percebe que o caos está ceifando milhares de vidas inocentes? Se o Olimpo entrar em ordem e passar a reger o mundo como na Era de Ouro... Vidas humanas serão preservadas. Cavaleiros como o Cérbero não precisarão sacrificar suas vidas para vencer um oponente que ameaça a paz na Terra. Para que isso aconteça, a justiça divina deve cair sobre todos. Inclusive sobre os deuses.

Para Asclépio aquele discurso era familiar. Ele já tinha ouvido aqueles trechos centenas de vezes no Olimpo.

— Foi o meu pai quem a enviou. Não foi?

— Apolo é o senhor do Oráculo e o atual regente do Olimpo na ausência de Zeus e Hera. Ele olhou para o futuro e viu o que está por vir. E eu fui incumbida de ajudá-lo a restaurar a ordem. Renasci na Terra para fazer cumprir a vontade dos deuses e proteger a humanidade.

— Para cumprir a vontade do meu pai! — disse o deus corrigindo-a. — E qual é a vontade dele agora?

As árvores que circundavam a área aberta no centro da floresta foram incendiadas formando um largo círculo de chamas altas.

— Como eu disse... A justiça divina deve cair sobre todos. Inclusive sobre os deuses. Meu caminho estava trilhado a lhe encontrar, Asclépio. — de cada árvore em chama surgiu um guerreiro alado trajando armaduras brancas-prateadas e armados com grossas correntes douradas. — Renasci na Terra há 8 anos atrás para encontrar você. Cresci nos arredores do Santuário esperando uma oportunidade do destino.

— O exército do Olimpo?! Mas como...

— Devo levar você para o Tribunal de Nêmesis. Mesmo eu sendo uma simpatizante de Atena, jamais poderia entrar nessa floresta com a intenção de encontrá-lo e levá-lo ao Olimpo. Eu teria que ser convidada para entrar. E você fez isso ao enviar o cavaleiro de Cérbero até mim. Sendo assim, agora eu posso convidar os soldados para entrar e levar você.

— Meu pai olhou o futuro e arquitetou tudo isso. A senhora está cometendo um erro.

— O primeiro erro foi cometido por você há 15 anos atrás ao desobedecer o Olimpo e trazer o Pégaso de volta a vida. Você foi o gatilho. Mas não cabe a mim julgá-lo. Todas as pontas soltas serão aparadas. Guardas! Levem o deus Asclépio.

Os soldados lançaram as correntes e elas se enroscaram nos braços e pernas do deus, mas Asclépio não demonstrou qualquer resistência. Ele soltou a bengala no chão e ergueu as mãos em sinal de entrega.

— Sábia decisão. — disse a deusa.

— Com todo respeito... Gostaria de dizer o mesmo sobre a senhora.

—...—


Curiosidade:

Raikou Retsu: A nova técnica de Shina de Ophiuco significa "Raios violentos". É uma referência da amazona para vingar e homenagear Retsu de Triangulo, morto pelo berserker Lycaon de Licantropo no capítulo 33.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal, tudo bom com vocês?

O capítulo de hoje é mais do que uma simples atualização. É uma comemoração pelos 7 anos de Fanfic. Alguns estão comigo desde o início, outros chegaram faz pouco tempo, mas eu sou eternamente grato por ter vocês como leitores. Muitos de vocês viram essa história crescer pouco a pouco. O que antes ia ser um projeto de 30 capítulo, hoje se tornou uma história com quase 70 capítulos e mais de 100 personagens.

Eu fico surpreso quando entro aqui no site e vejo que a Fanfic tem diariamente mais de 200 acessos. Eu sei que são leitores novos chegando, mas também sei que muitos de vocês já leram a fanfic mais de três vezes. Fazem maratona de leitura. E eu sempre fico surpreso quando um de vocês chega pra mim e fala isso, pois é surreal esse tipo de carinho com uma obra que nem é Oficial. Muitos de vocês até decoram técnicas e detalhes dos personagens que muitas vezes nem eu lembro. Isso é coisa de fã

Acompanhar uma história por tanto tempo é sinal de que dão valor ao que estão lendo. E se vocês dão valor ao que eu faço, eu também dou valor a vocês e continuo escrevendo. Com longas pausas, sim, mas eu continuo (risos). E se vocês estão aqui até hoje é porque tem paciência com isso (risos). E a história só existe por causa de vocês. Por causa da interação de vocês.

Muito obrigado por tudo. Vocês são especiais demais pra mim. Desejo muita saúde e anos de vida para todos vocês. Espero que esse capítulo faça valer a espera.

Agora vamos falar sobre o Capítulo 70? Sei que muitos de vocês estão ansiosos para ver Seiya e os outros lutando, mas eu precisava encerrar as lutas paralelas para depois focar no que realmente importa. No próximo capítulo teremos o grande desfecho da luta entre Shalom de Virgem e Anatole de Quimera, e ai partiremos para o topo do Santuário para acompanhar Seiya e os outros.

O título do próximo capítulo será: "Campo de guerra: Armas de Libra"

Abraço a todos!! Deixem aqui um comentário sobre o capítulo de hoje, sobre o aniversário da fic, ou qualquer outra coisa que você queira falar sobre a história. É isso aqui que me incentiva cada vez mais a escrever. Até a próxima!!



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