A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 74
Capítulo 68 – Campo de Guerra: Chamas divinas - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Enquanto Atena, Seiya e os outros vão ao encontro de Ares, os demais cavaleiros seguem lutando nos arredores do Santuário combatendo os berserkers. Lino de Lira e seus companheiros precisam atravessar o Bosque de Atena para chegarem até Kiki, mas a região está sendo bem protegida. Chamas divinas serão necessárias para derrotar o inimigo que se encontra do outro lado da floresta.



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Capítulo 68 – Campo de Guerra: Chamas divinas - Parte I

Algumas horas já haviam se passando desde o momento em que a batalha final começou. A chama azul no relógio de fogo estava começando a enfraquecer em virgem. As lutas estavam espalhadas por todo santuário e o número de corpos caídos aumentava a cada minuto. Havia focos de incêndio em todas as direções. Colunas de fumaça escura iluminadas pela luz alaranjada das chamas se erguiam até o céu, tornando a noite ainda mais escura e sombria. Havia templos e outros edifícios destruídos, com suas colunas gigantes e destroços bloqueando ruas e dificultando acessos.

Dorie de Cérbero estava liderando o pequeno grupo de cavaleiros formado por Kitsune de Raposa, Nicolas de Fornalha, Lino de Lira, Acher de Eridanus e Perses de Cefeu. Ele estava guiando o grupo para o Bosque de Atena. Uma região ao sul do Santuário, entre a montanha das Doze Casas e a montanha do Star Hill. Precisavam chegar lá com urgência, pois Kiki de Áries estava correndo um grande perigo.

— Queria entender uma coisa... — disse Nicolas, enquanto corria. Seus cabelos vermelhos-roxeados estavam bagunçados e seus olhos violetas percorriam os arredores atento a qualquer investida surpresa.— Se até o Senhor Kiki está tendo problemas com esse berserker, por que não chamamos outro Cavaleiro de Ouro para ir com a gente?

— Os Cavaleiros de Ouro estão ocupados. — respondeu Kitsune. Seus longos cabelos laranja-claro se agitavam com o vento. — Nós podemos dar suporte ao Senhor Kiki.

— Ou ser um fardo para ele. — comentou Perses. — Você disse que o Senhor Kiki falou que o berserker havia sido derrotado pelo Senhor Seiya, não foi?

— Sim. — disse Kitsune. — O berserker se chama Kami de Wendigo. E é extremamente violento. Deveria estar morto, mas inexplicavelmente ele voltou a vida. E isso deixou o Senhor Kiki bastante surpreso.

— Wendigo?! — Lino enrugou o cenho. — Esse nome me é familiar.

— Berserkers não deveriam voltar a vida assim. — disse Acher. Do grupo, ele é o mais alto e mais forte fisicamente. De pele negra, olhos azuis claros e cabelos brancos e curtos.  — Como isso é possível?!

— Talvez seja uma habilidade específica dele. — disse Kitsune.

O grupo passou em frente ao caminho que leva para as escadarias das Doze casas. Lino avistou um grupo de cavaleiros de bronze enfrentando soldados berserkers e berserkers menores que insistiam em penetrar os Doze templos para perseguir Jake, Jabu, Ápis e Chertan, que haviam se dirigido para a Casa de Áries.

Perses olhou para o templo de Atena no topo. Ele imaginou que seu pai estivesse se dirigindo até lá. E talvez nem soubesse que ele também estava no Santuário, lutando como um cavaleiro, ou até mesmo o que havia acontecido com June.

Dorie reconheceu Johan de Corvo, Miguel de Cães de caça e Alec de Lagarto correndo em direção ao Cemitério do Santuário. Os três discípulos de Andromeda estavam juntos mais uma vez. Entre os Cavaleiros de Pratas eles eram vistos como os mais promissores por serem discípulos do Lendário mais poderoso.

O grupo já podia avistar as copas das árvores quando foram surpreendidos por um grupo de berserkers rasos obstruindo o caminho.

— Para onde pensam que vão com tanta pressa? Ratos de Atena! — gritou um dos berserkers.

— Eu cuido deles. — disse Dorie de Cérbero elevando o cosmo.

O cavaleiro de prata avançou em direção aos berserkers girando uma de suas correntes negras, cujas pontas terminam em esferas pontiagudas. O cosmo ardente incendiou a corrente e Dorie a disparou multiplicando-a em centenas de réplicas.

— Punição da segunda prisão!

As esferas atravessaram o campo e atingiram os berserkers violentamente incendiando os inimigos. As pontas afiadas dilaceraram a carne exposta e as correntes arrastaram os corpos em chamas.

O ataque chamou a atenção de mais berserkers. Nicolas e os outros se prepararam para lutar, mas uma cosmo energia poderosa envolveu a região e do céu desceu uma rajada de cosmo que engoliu os berserkers em uma poderosa explosão. O deslocamento de ar e cosmo forçou Dorie e os outros a fincarem os pés no chão enquanto eram arrastados para trás.

De pé em meio a dezenas de corpos acumulados havia um homem de pele clara, longos cabelos pretos, olhos azuis e usava uma armadura de ouro.

— Senhor Kastor! — disse Dorie.

Kastor olhou para o Cavaleiro de Prata por cima do ombro.

— Para onde estão indo?

— Auxiliar o senhor Kiki. — respondeu Dorie. — Ele está dentro do Bosque de Atena.

O cavaleiro de Gêmeos olhou para a floresta.

— Eu senti uma colisão violenta há poucos minutos. Mas não consegui identificar de onde vinha. — disse Kastor.

— O senhor Kiki ergueu uma barreira para isolar o combate. — explicou Kitsune de Raposa. — Mas agora apareceu outro berserker. Kami de Wendigo.

— O quê?! — Kastor ficou surpreso. — Isso é impossível. Eu vi o berserker ser morto pelo golpe de Seiya. Tem certeza do que está falando?

— Tenho sim, senhor.

— Então temos que nos apressar. Já enfrentei Kiki no passado e sei o quanto ele é poderoso, mas ele terá sérias dificuldades contra esse berserker.

“Receio que isso não será possível. Não posso permitir a entrada de cavaleiros nesse bosque.” — a voz veio de dentro da floresta. — “Não até que o Mestre de Jamiel esteja morto.”

A floresta foi tomada por um cosmo vermelho perverso.

— E quem é você? — perguntou Kastor. — Apareça!

O vento soprou forte agitando as folhas secas e as repelindo de dentro da floresta em direção a Kastor e os demais. Da escuridão do bosque surgiu um homem de pele clara, olhos vermelhos mergulhados em escleras negras e longos cabelos ondulados da cor de mel. Seu elmo tinha um par de chifres negros encurvados e em sua mão direita ele carregava uma flauta longa negra com detalhes prateados e adornada com videiras verdes.

— Eu sou Hamelin de Sátiro, do exército do Terror. E estou encarregado de guardar esse bosque.

— Um berserker menestrel. — disse Nicolas cochichando surpreso ao lado de Lino de Lira. — Não imaginei que tivesse um no exército de Ares.

Lino consentiu em silêncio e se dirigiu até Kastor.

— Eu cuido dele, senhor Kastor. O senhor e os outros podem seguir em frente e ajudar o Senhor Kiki.

Kastor esperou que Hamelin protestasse dizendo que não permitiria qualquer avanço, mas o berserker apenas deu um leve sorriso no canto da boca. Ele também não menosprezou o fato de um Cavaleiro de Prata querer assumir a luta. E isso deixou Kastor desconfiado.

— Não. — disse o Cavaleiro de Gêmeos. — Vão na frente. Deem suporte para Kiki. Isso é uma ordem.

— Mas...

Kitsune segurou no braço de Lino.

— Você ouviu. É uma ordem. O senhor Kiki precisa de nós. Não temos muito tempo.

Novamente Hamelin não esboçou qualquer reação. Lino concordou com Kitsune e avançou em direção ao bosque, seguido por Nicolas e os outros. Eles esperaram o berserker reagir, mas Hamelin continuou parado. O grupo passou pela lateral do berserker e adentraram na floresta escura.

— Achei que você tinha dito que não deixaria ninguém atravessar o bosque. — disse Kastor.

— Ainda estou determinado a não permitir. Eles podem ter entrado na floresta, mas não vão conseguir andar muito devido a minha Névoa da besta. — disse o berserker, elevando seu cosmo vermelho sangue. Uma névoa densa e rubra surgiu e se espalhou, avançando rapidamente pelo bosque. Em poucos segundos toda a região estava tomada. — Agora a floresta se tornou um labirinto. Eles jamais vão conseguir sair. Além da névoa confundir os sentidos, ela também vai atingir a mente deles e incitar a violência. Tornando-os bestas sanguinárias. Eles irão lutar entre si até a morte. Isso me poupará tempo e esforço.

Kastor elevou o cosmo e ergueu o braço direito. Dezenas de planetas surgiram no céu, criando a imagem de uma galáxia, e começaram a rachar como se estivessem entrando em colapso.

— Não se você for morto antes. Explosão Galáctica!!

Rapidamente Hamelin levou a flauta até sua boca e tocou uma melodia.

— Natureza Selvagem!!

A onda de choque explosiva caiu sobre o berserker e engoliu uma parte do bosque, bombardeando o solo e tragando tudo em uma poderosa coluna destrutiva de cosmo que se ergueu e se espalhou na área. Toda região tremeu e uma densa nuvem de poeira se formou engolindo a névoa.


Bosque de Atena – Caminho para a região sul do Santuário

— Eu posso sentir... — disse Kitsune. — O cosmo de Senhor Kiki do outro lado do bosque. Temos que nos apressar.

Ela e os outros se esgueiraram pela floresta escura. As árvores eram tão próximas que as copas se uniam formando um teto arborizado. Nem mesmo a luz da lua conseguia penetrar completamente. Apenas pequenos feixes passavam entre as folhas, mas fracos demais para iluminar o caminho.

A escuridão era silenciosamente assustadora e o ar frio gelava até os ossos. Os corações dos cavaleiros começaram a bater mais forte. Havia um sentimento de ansiedade crescendo no peito. Uma sensação de perseguição e uma angústia misturada com medo. A mente parecia estar no limite da sanidade. A sensação era de que havia algo forçando-os mentalmente a se entregarem. “Mas se entregar ao quê?” questionaram eles pensando em silêncio. Ninguém abriu a boca para dividir aquela sensação desconfortável.

Os olhos de Kitsune e os outros percorriam as sombras com atenção, como se de repente algum berserker ou coisa pior fosse surgir. Perses de Cefeu projetou suas correntes negras de cosmo e as segurou com firmeza. De todos, ele era o que mais parecia afetado por aquela atmosfera. Seus cabelos verde-claros estavam molhados de suor e grudavam na testa. O suor frio escorria pelo seu rosto e descia pelo pescoço ensopando a camisa debaixo da armadura.

Tudo seguia calmo até que um forte tremo abalou a região e um forte deslocamento de ar arremessou Lino e os outros contra os grossos troncos.

— Mas o que foi isso? — perguntou Acher de Eridanus se levantando.

— Isso foi uma... — Kitsune ia explicar que aquela explosão se tratava de um abalo provocado pelo golpe de Kastor, mas a amazona foi interrompida por Perses.

— Estamos sendo atacados!! — gritou o Cavaleiro de Prata de Cefeu.

Perses virou-se para Kitsune com uma expressão assombrosa. Os olhos azuis agora estavam vermelhos como rubis. Eram dois pontos vermelhos e assustadores brilhando em meio as trevas da noite.

— Perses... Você está bem? — perguntou a amazona de raposa.

— Como sabe o meu nome, berserker? — gritou ele, segurando a corrente da mão direita com mais força. — Onde estão Lino e os outros?

— Ele está louco?! — questionou Nicolas. — Estamos bem aqui, cara. Na sua frente.

Os olhos de Perses encontraram Nicolas com espanto, como se o Cavaleiro de Cefeu não tivesse visto o Cavaleiro de Fornalha ali. Na visão de Perses, Kitsune e Nicolas eram berserkers. E na medida em que Lino, Acher e Dorie foram falando, a presença deles foi se tornando solida no campo de visão de Perses como se estivessem se materializando das sombras, mas todos tinham aparência de berserkers com sorrisos perversos.

O prateado se sentia com medo e encurralado. Olhava para os lados procurando os amigos.

— Perses... — Kitsune deu um passo à frente, e isso foi um erro.

O Cavaleiro de Prata viu o “berserker” indo em sua direção, e então atacou. Perses disparou a corrente negra da mão direita em direção a Kitsune. Dorie tentou impedi-lo lançando a sua corrente, mas o golpe de Perses era espiritual e atravessou as correntes da armadura de Cérbero.

A corrente negra de Cefeu atingiu o peito de Kitsune e em seguida Perses a puxou. O peito da amazona estufou para frente e ela viu com os olhos arregalados uma áurea cósmica sendo removida do seu corpo e em seguida sendo drenada por Perses, fortalecendo o cavaleiro.

O prateado avançou para atacar, mas foi bloqueado por Nicolas que se lançou no caminho contendo o punho de Perses e aplicou um soco no peito do colega, arremessando-o para trás.

— Mas que droga é essa? — disse Nicolas correndo até Kitsune. — Você está bem? — Kitsune balançou a cabeça dizendo que “sim”. Ela se sentia tonta. Fraca. Mas estava bem. Nicolas virou-se. — Eu não sei o que deu em você, mas isso não vai ficar assim.

O que Perses ouviu foram apenas palavras de provocações.

—  Venha berserker! Vou mandá-los para o que restou do inferno. — gritou ele.

— Ele está delirando. — disse Lino.

— Ele acha que somos berserkers. — disse Acher, confuso.

— Farei ele voltar a si. — disse Nicolas, avançando.

Perses conjurou um turbilhão de ar e cosmo e disparou. Nicolas girou os braços e materializou labaredas alaranjadas que bloquearam o golpe e desfez o turbilhão. Impulsionado pelas chamas, o cavaleiro de Fornalha atravessou o resquício do vendaval e alcançou Perses, segurando o Cavaleiro de Prata pela gola da amadura e o puxando para baixo de encontro ao seu joelho, acertando o rosto de Perses.

O cavaleiro de Prata cerrou o punho e reagiu aplicando um soco, mas Nicolas segurou o punho de Perses e com a outra mão livre envolvida em chamas desferiu uma sequência de socos no abdômen.

Perses cambaleou para trás levando a mão até a barriga e com a outra limpou um filete de sangue que escorria de seu nariz. Ele se sentia fraco, cansado e encurralado.

— Nicolas! Pare! — gritou Kitsune.

Nicolas cogitou em recuar, mas ao avistar Perses elevando o cosmo novamente, ele correspondeu elevando o seu cosmo também. Ambos avançaram de punhos cerrados e envolvidos por uma rajada de cosmo que deslocava o ar ao redor e revirava o solo durante o avanço. Os punhos colidiram, assim como o cosmo em chamas de Nicolas e o cosmo em turbilhão de Perses.

— Eu vou matar você! — gritou Perses.

— Não me faça dizer a mesma coisa. — disse Nicolas. — Acorde, Perses!

As chamas alaranjadas se tornaram azuis. Um fogo mais quente e mais poderoso. E Perses começou a ser empurrado para trás. O Cavaleiro de Prata tentou preparar a corrente para enfraquecer Nicolas, mas o cavaleiro de bronze compreendeu a intenção do oponente e impulsionou seu cosmo. Perses se desequilibrou e isso abriu brecha para Nicolas avançar.

As chamas azuis engoliram o turbilhão de vento e empurraram o Cavaleiro de Cefeu para trás, mas para a surpresa de todos o vento passou a soprar forte ao redor do grupo, agitando os galhos e desprendendo as árvores do solo. Um redemoinho violento tragou a fornalha e Perses saltou em meio as chamas com o braço direito erguido para o céu, concentrando uma massa de energia cósmica na palma da mão.

Uma gigantesca esfera de cosmo se formou, se transformando em uma estrela supergigante vermelha. Na medida em que a estrela crescia, as árvores ao redor morriam tendo a vitalidade drenada.

Em resposta, Nicolas elevou o cosmo com mais intensidade, e o calor das chamas azuis triplicaram. Seus olhos também se acenderam, ardendo como brasa.

...

Diante de Kastor agora havia uma cratera profunda. A terra estava escurecida e fumegava. Não havia sinal da presença do berserker e a névoa estava quase dissipada. Preocupado com o grupo de Lino, Kastor saltou por cima da cratera em direção ao bosque, mas neste momento a névoa voltou a ficar densa e a presença do berserker retornou.

Hamelin estava de volta. Ele estava em pé do outro lado da cratera, sem qualquer dano, mas ele não estava só. Réplicas do berserker surgiram de trás das árvores e estenderam a mão para Kastor que ainda estava no meio do seu salto. Centenas de rajadas de cosmo foram disparadas, assumindo a forma de feixes de luz esverdeada na velocidade da luz. O golpe atingiu o Cavaleiro de Ouro desprevenido, arremessando Kastor para trás.

O dourado tentou se equilibrar e pousou rasgando o solo.

— Gêmeos... Esse seu golpe não me impressiona. — apenas o berserker falou. Suas réplicas ficaram em silêncio. — Parece que vocês esquecem que nós, os berserkers, somos imortais e que reencarnamos desde a Era Mitológica. Eu conheci o cavaleiro que criou essa sua técnica ainda na Era dos deuses. O nome dele era Sraosha. E já enfrentei outros antecessores seus que também utilizavam a mesma técnica. Gêmeos... De geração em geração vocês são tidos como os mais poderosos entre os combatentes de Atena. E nessa geração eu vejo que isso continua sendo verdade. Mas isso não me intimida. Acabarei com você e depois me certificarei de que os outros cavaleiros terão o mesmo destino que você. E isso inclui o Cavaleiro de Ouro de Áries caso Kami não consiga dar conta do trabalho.

O berserker cerrou o punho e avançou acompanhado por suas réplicas silenciosas. Kastor elevou o cosmo e deteve o punho de Hamelin, mas o corpo do berserker se desfez e uma das réplicas se moveu e golpeou o rosto de Kastor, arrancando o elmo de Gêmeos.

Kastor cerrou o punho e girou para aplicar um soco, mas novamente a imagem do berserker desapareceu e uma de suas outras réplicas agiu golpeando. O Cavaleiro de Gêmeos saltou para trás e analisou as imagens de Hamelin. Era impossível definir o verdadeiro. O berserker aproveitava os múltiplos corpos para se deslocar mais rápido em campo. Além disso, se tratava de uma ilusão impecável.

O dourado de gêmeos pousou e fechou os olhos para se concentrar e entender o que era verdadeiro e falso em sua volta. Vendo isso, Hamelin deu um fino sorriso e saltou em direção a Kastor concentrando cosmo em sua mão, assim como suas réplicas.

Por um momento o tempo pareceu parar em volta do dourado. Ele sentia tudo ao seu redor. Mas o mais estranho é que tudo parecia ser real. Todas as imagens de Hamelin emitiam vitalidade e hostilidade. Não tinha como descobrir quem era o verdadeiro ou o falso.

Contudo, essa rápida análise deixou Kastor vulnerável. Quando o dourado abriu os olhos era tarde demais para se esquivar ou se defender. Nem mesmo a sua velocidade da luz conseguiria lhe proporcionar uma fuga, pois seu oponente se locomovia em semelhante velocidade.

Múltiplas rajadas golpearam o dourado de gêmeos e o arremessaram rasgando o solo.

— Idiota. Achou mesmo que iria saber distinguir entre o que é real e o que é ilusão?! Tudo o que você vê é real. — Hamelin estendeu o braço esquerdo para frente e com a flauta na mão direita provocou um fino corte. Sangue vermelho escuro escorreu. O mesmo aconteceu com as suas réplicas. — Seu oponente é apenas um, e ao mesmo tempo não é.

— Não importa quantos sejam. — disse o dourado se levantando. — Serão devorados pela dimensão dos deuses! — Kastor abriu os braços abrindo uma fenda dimensional atrás de Hamelin e disparou uma onda de impacto que lançou o berserker para trás. A distorção se expandiu engoliu toda a região em sua volta. Incluindo Hamelin e suas cópias, que foram arremessados para dentro da dimensão devido a força cósmica disparada por Kastor. — Hiperdimensão!!

Mas não aconteceu o que Kastor esperava.

— Kastor... — disse Hamelin, entre risos. — Esse truque também não funciona comigo.

O Cavaleiro de Ouro ficou atônito. O berserker e suas réplicas estavam vivos e inteiros no caminho dos deuses.

— Isso é... Impossível. A Hiperdimensão oblitera tudo aquilo que não é divino. E você... Você não é um deus.

— E por acaso você é?! — perguntou Hamelin. — Você é só a reencarnação de um dos bastardos de Zeus. Mesmo assim essa condição lhe dá permissão para transitar aqui.

— Então é isso?! Você também é um semi-deus?

Hamelin gargalhou.

— Não. Mas eu tenho algo que me permite transitar por esta dimensão. — disse ele mostrando a flauta negra adornada com videiras. — Um presente do deus Dionísio. A minha Onyx possui uma proteção divina. Agora morra! — o cosmo de Hamelin se elevou e ele levou a flauta até a boca. — Grito do pânico!!

A melodia era apavorante e ensurdecedora. O som da flauta foi emanado na forma de ondas ultrassônicas, atingindo o peito de Kastor com tanta força que o ar de seus pulmões foi expelido e danificou a armadura de Gêmeos provocando rachaduras. Sem a proteção do elmo que havia sido arrancado momentos atrás, os tímpanos de Kastor estouraram e o dourado foi arremessado com força.

Agora sem o sentido da audição e com os outros sentidos afetados, Kastor se viu sem forças para se levantar, ao mesmo tempo em que sentia uma forte vontade de fugir. Aquela melodia era assustadora e fazia todo o seu corpo estremecer.

Hamelin saiu da hiperdimensão, seguido por suas cópias, e o caminho dos deuses fechou em seguida. Vomitando bastante sangue e tendo dificuldade para respirar, Kastor ergueu o rosto para o berserker, mas foi golpeado com um chute e caiu para o lado.

— O Grito do pânico enfraquece os sentidos e traz à tona os pavores mais íntimos da alma. Faz qualquer guerreiro corajoso se tornar um covarde e querer fugir. Sua mente será destruída e seu corpo irá entrar em colapso. Creio que a escuridão da noite será sua maior inimiga hoje. É nela que você encontrará seus terríveis demônios. Enquanto você agoniza... — Hamelin virou-se para o bosque. — Irei matar os outros cavaleiros.

—...—


Interior do Bosque de Atena – Santuário

— Espere Nicolas. — disse Kitsune, pousando a mão no ombro do amigo. — Eu cuido disso.

— Por favor, se afaste. Você está exausta. Deixe que eu resolvo isso.

— Não! Se vocês dois lutarem... Todos nós vamos morrer. — Kitsune passou por Nicolas, caminhando em direção a Perses. — Recue com as suas chamas. E Lino... Toque a Serenata da Viagem da Morte. — Lino olhou confuso. — Confie em mim.

Sem questionar, Lino tocou sua lira e a doce melodia cortou a penumbra da floresta. A floresta tensa e sombria começou a entrar em sono profundo. As copas se distanciaram, abrindo caminho para a luz da lua entrar, as sombras recuaram e o frio se retirou. Tudo parecia mais tranquilo. Era como se não houvesse uma guerra acontecendo naquela noite de lua cheia.

Mesmo embalado pela melodia, Perses estava quase disparando sua técnica quando Kitsune apontou o dedo para a testa do Cavaleiro de Prata e disparou um golpe. Por alguns instantes nada aconteceu. Perses continuava a mirar um olhar malicioso. Mas aí a expressão do resto relaxou e a cor azul dos olhos retornou. Confuso, Perses desfez a técnica e relaxou o corpo, caindo de joelhos.

— Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? — questionou Nicolas.

— Eu tenho um palpite. Que talvez faça sentido. — disse Kitsune. Ela caminhou até Perses e se ajoelhou ao lado do filho de Shun, verificando se ele estava bem. — Acho que todos nós aqui sentimos a mesma coisa quando entramos nesse bosque. Sentimos medo. Um terror absurdo no peito e na mente. — todos concordaram em silêncio. — Isso é comum ao entrar em uma floresta de noite. É o terror noturno. Mas essa sensação parece ter sido ampliada pelo poder do berserker. Ainda que de forma sutil, eu continuo sentido ele interferindo. Mas golpes mentais como esse não afetam a nós, discípulos do Senhor Ikki. Todos nós recebemos o Golpe Fantasma de Fênix durante o treinamento com o propósito de fortalecer nossa defesa psíquica. Dificilmente algum berserker seria poderoso o suficiente para superar o Mestre Ikki e burlar a nossa imunidade.

— Mas Perses nunca recebeu esse tipo de treinamento. — concluiu Acher. — Por isso ele foi o único a ser afetado.

— Exatamente. — concordou Kitsune.

— Mas e o Cavaleiro de Cérbero? — questionou Nicolas, olhando curioso para Dorie.

— Já enfrentei o Senhor Ikki uma vez. Ele aplicou o Golpe Fantasma de Fênix para me libertar do controle do deus Anteros.

Nicolas arregalou os olhos incrédulo.

— Você enfrentou o nosso mestre? — disse zombando.

— Então eu sou o único vulnerável aqui. — disse Perses, se levantando.

— Eu apliquei um golpe similar em você. — explicou Kitsune. — Não se compara ao golpe original do meu mestre, mas com a ajuda da lira de Lino foi suficiente para trazê-lo de volta.

— Você é esperta, mocinha. — disse o berserker surgindo das trevas.

— Hamelin?! Onde está o Senhor Kastor? — perguntou Lino.

— Logo ele morrerá engolido pelo terror do meu golpe. Mas não se preocupe, Lira. Você e seus amigos também irão acompanhar o Cavaleiro de Gêmeos no caminho para o mundo dos mortos.

— Você derrotou o Senhor Kastor?! — questionou Dorie de Cérbero. — Isso é impossível.

— Não preciso provar nada para alguém que está prestes a morrer também.

— Se alguém vai morrer aqui, esse alguém é você. — disse Nicolas, que avançou para o ataque e foi seguido pelos seus amigos.

— Natureza Selvagem!

Hamelin tocou sua flauta e a melodia invocou as réplicas do berserker. Dezenas de berserker saltaram das sombras e avançaram contra o grupo de cavaleiros surpreendidos.

— São ilusões?! — perguntou Dorie.

Acher segurou uma das réplicas e aplicou um soco tão forte no peito do berserker que foi possível ouvir os ossos da costela fraturando. Em seguida o corpo se desfez em cosmo e logo outras duas réplicas surgiram.

— São reais, mas ao mesmo tempo não são. — disse ele. — É um truque de réplicas. Os corpos falsos têm baixa resistência.

— E o que lhe faz ter tanta certeza disso, cavaleiro? — disse uma das réplicas sorrindo cara a cara diante de Acher.

— Um único soco não é suficiente para atravessar a dureza de uma Onyx e quebrar os ossos protegidos de um berserker. Além disso... — Acher segurou a réplica e aplicou uma cabeçada. O corpo se desfez. — A baixa resistência faz com que qualquer lesão seja fatal.

—Você é bastante astuto, grandão. — Hamelin surgiu atrás de Acher, imobilizando o cavaleiro com sua presença. — Talvez tenha que morrer primeiro.

Com um rápido movimento Hamelin desferiu um golpe cortante nas costas de Acher utilizando a flauta. O feixe rasgou as costas do cavaleiro e arremessou Acher contra uma árvore.

— Acher! — gritou Lino, levando a mão até sua lira. — Acorde Noturno!

A doce melodia emitiu ondas ultrassonoras que repeliram as réplicas de Hamelin, fazendo restar apenas o verdadeiro berserker parado no centro do grupo.

— Como você...

— Música. — respondeu Lino. — Você invocou suas réplicas após tocar uma melodia. Então eles não passam de sinfonias.

— Você tem bons ouvidos, Lira.

— Eu devia ter acabado com você antes de entrarmos na floresta. — disse Lino. — Morra! Acorde Perfeito!

As cordas da lira se multiplicaram e saltaram em direção a Hamelin, mas no meio do caminho as cordas mudaram de percurso e se enroscaram em Kitsune, Nicolas, Dorie, Perses e Acher. Estrangulando-os.

— Mas o que... — Lino não conseguia entender o que estava acontecendo. A técnica tinha sido disparada para atingir o berserker, mas ela golpeou seus amigos.

Lino tentou fazer as cordas recuarem, mas sua Lira não estava respondendo a sua vontade.

— Uma das minhas habilidades é a Musicocinese. — disse Hamelin. — Eu posso controlar qualquer instrumento musical. Até mesmo dos meus inimigos.  

Lino arregalou os olhos.

— Nicolas! Kitsune! — gritou Acher, que sofria tendo seu corpo estrangulado. Sua armadura estava sendo cortada com a pressão dos fios e sangue escorria pelos seus membros e pescoço na medida em que os fios rasgavam sua pele. — Agora!

Nicolas e Kitsune elevaram seus cosmos. A amazona de Raposa projetou sua forma astral e disparou um golpe contra Hamelin, que bloqueou com facilidade. Enquanto a amazona distraia o berserker, fogo verde surgiu ao redor de Nicolas e rompeu os fios, libertando o cavaleiro de bronze. As chamas avançaram em direção aos demais fios, e um a um foram sendo cortados.

— Você domina o fogo grego. — disse Hamelin, surpreso.

— Pirocinese. Não é só você que tem truques, desgraçado.

— Vejo que o Fênix formou cavaleiros prodígios. Não posso ficar subestimando vocês. Irei matá-los. Grito do Pân...

— Explosão Galáctica!

Para a surpresa de todos, principalmente de Hamelin, a onda de choque caiu sobre o berserker e propagou um tsunami de destruição que varreu a área ao redor, revirando o solo e desintegrando as árvores.

Até Lino e os demais foram envolvidos e arremessados. A projeção espiritual de Kitsune foi repelida e seu corpo inerte ia ser engolido pela destruição, mas Nicolas se jogou diante do corpo da amazona e o agarrou, caindo embolando no chão.

Hamelin se levantou cuspindo sangue e cambaleando. Seus olhos percorreram a floresta até avistarem Kastor caminhando em sua direção.

— Você?! Desgraçado! — vociferou o berserker. — Como pode...

— Vocês estão bem? — perguntou Kastor à Lino e os demais. Todos assentiram dizendo que “sim”. — Peço desculpas, mas eu tinha que acertá-lo. E Lira... Obrigado por ter dado fim àquelas réplicas. Foi um erro meu mandar um especialista em música seguir em frente quando eu estava prestes a enfrentar um berserker menestrel.

— Isso não muda nada, Gêmeos. Suas técnicas são inúteis contra mim, e se o Cavaleiro de Lira atacar, eu posso redirecionar o golpe contra qualquer um de vocês. Mas eu não vou perder tempo brincando, e será você, Gêmeos, quem vai apressar as coisas. Farei com que mate esses jovens.

— Eu jamais farei isso. — disse Kastor.

Hamelin olhou para ele e sorriu.

— Não estou lhe dando alternativa. — levando a flauta até a boca, Hamelin voltou a emitir uma doce melodia. — Canção da fileira dos mortos.

Kastor levou as mãos até a cabeça e gritou. Seus sentidos doíam, seu corpo parecia estar sendo perfurado por centenas de agulhas e sua consciência parecia estar sendo arrastada para as trevas.

Lino se moveu para impedir a melodia, mas Kitsune, que agora estava de volta ao seu corpo, o segurou e balançou a cabeça. Se Lino agisse, o berserker iria usar a música da lira contra eles.

— Você vai matá-los. Goste disso ou não. A minha técnica lhe obriga a isso. Você agora não passa de uma marionete. Agora vá, Gêmeos.  — ordenou o berserker. — Mate-os.

Kastor relaxou o corpo e deu um passo à frente na velocidade da luz. Em frações de segundos ele se locomoveu, mas não em direção a Lino e os outros. Kastor agarrou o pescoço de Hamelin e o ergueu.

— Agora é você quem está se comportando como um tolo. — disse o Cavaleiro de Gêmeos. — Essa sua técnica é semelhante ao Satã Imperial. Outra técnica de Gêmeos. Acho que sua boa memória deve lembrar disso agora. Sendo assim, ela é inútil contra mim. — Kastor elevou seu cosmo dourado. Dezenas de planetas voltaram a se formar acima dele em meio a uma dimensão distorcida. — Vocês aí... Corram o máximo que puderem! Saiam daqui e não olhem para trás.

— Senhor... — disse Kitsune.

— Tire seus amigos daqui. Corram! Caso contrário serão envolvidos.

— Vamos. — Nicolas segurou o braço de Kitsune e a puxou. Lino e os outros correram logo atrás.

— Me solte! Desgraçado! — protestou Hamelin, tentando se desvencilhar das mãos de Kastor.

— Não tenha tanta pressa assim para morrer.

Kastor liberou Hamelin e saltou para trás no momento em que os planetas explodiram e a onda de choque bombardeou a região provocando uma forte explosão.

O berserker urrou de dor e se arrastou, tentando se levantar. Seu corpo estava gravemente ferido e até mesmo a sua Onyx foi danificada

— Miserável! O que aconteceu com o seu cosmo?

— Você me privou da audição estourando meus tímpanos, mas isso só gerou acúmulo de cosmo. É um erro privar os sentidos de um cavaleiro, pois é nos sentidos que estão a fonte de todo o nosso cosmo. E graças ao sétimo sentido, que é a nossa fonte inesgotável de poder, os danos que você me causou foram curados.

— Gêmeos... — o berserker sorriu. — Mas esse aumentozinho de poder que você teve não é suficiente para me derrotar.

— A primeira explosão pode não ter funcionado, mas... — Kastor ergueu uma de suas sobrancelhas. — O que fará a respeito das outras?

Hamelin olhou para o céu e arregalou os olhos apavorado. Uma segunda onda explosiva estava descendo em sua direção. Seguida por mais dezenas de colisões violentas. Raios crepitaram nas mãos de Kastor e se estenderam em direção aos planetas.

Unindo toda sua força, Kastor puxou toda aquela massa de cosmo e descarregou sobre Hamelin.

 — Colisão Galáctica!

Dezenas de explosões, uma atrás da outra, bombardearam o local. Toda a montanha do Santuário estremeceu e o deslocamento de ar e cosmo tragou quase todo o bosque. Nem mesmo Lino e os outros conseguiram escapar da força de impacto a tempo e foram arremessados para os limites da floresta. Uma grossa coluna de luz e cosmo se ergueu e dissipou as nuvens no céu.

— É impossível que aquele berserker tenha sobrevivido. — disse Dorie se levantando.

— De fato não sobreviveu. — respondeu Kastor, aparecendo ao lado do Cavaleiro de Prata após se deslocar na velocidade da luz. Ele segurou a flauta de Hamelin e a quebrou ao meio. Os pedaços se desfizeram em cosmo negro e desapareceu no ar. — Mas temos um oponente pior para enfrentar.

Kastor caminhou para fora do bosque, seguido por Nicolas e os outros. Eles se depararam com Kiki, ainda que bastante ferido, lutando fervorosamente contra um homem alto, bastante magro e de pele pálida. Kami de Wendigo.

— Revolução estelar!!

Centenas de estrelas douradas cruzaram o campo em direção a Kami. O berserker desviava de cada uma delas na medida em que avançava em direção a Kiki. Ele saltou e desceu em uma investida, mas Kiki bloqueou criando um escudo de cristal e o empurrando para trás.

Kami pousou e tomou impulso para um segundo avanço. Com as garras afiadas ele disparou feixes cortantes. Kiki as bloqueou e disparou uma rajada de cosmo com seu punho. O berserker em tão salto novamente, se moveu em zigue-zague e desceu aplicando um poderoso chute. Kiki se teletransportou e uma profunda cratera se formou.

— Senhor Kiki! — disse Kitsune.

Tomando distância do seu oponente, Kiki olhou para o grupo por cima do ombro.

— O que estão fazendo aqui? Saiam imediatamente. Tirem eles daqui Kastor!

— Gêmeos... — disse Kami com uma voz ranhosa e um sorriso malicioso. — Lembro de ter nocauteado você com um só golpe.

— O exército de Ares quer matar o senhor. — disse Kitsune. — Viemos lhe ajudar.

— E o que um grupo de cavaleiros de bronze e de prata podem fazer, garotinha? — disse Kami, com desdém. — Vocês quase morreram nas mãos de um berserker patético como Hamelin. O Mestre de Jamiel pode até ser um inseto resistente, mas logo ele vai cair exausto. Não vai conseguir suportar o combate por muito tempo.

— É por isso que estamos aqui. — disse Kastor, caminhando em direção a Kami. — Como Seiya um dia disse, você luta como uma besta. Você não tem honra em batalha. — Kastor parou ao lado de Kiki. — Teremos que lutar juntos.

— Matarei os dois lentamente.

Kami cerrou o punho e disparou em uma velocidade absurda.

— Apenas me dê cobertura. — disse Kiki. — Não deixe ele se aproximar dos outros.

— Mas...

Kiki avançou e seu punho colidiu com o de Kami. Abaixo deles o solo revirou um feixe cortante de cosmo abriu uma fenda na terra. O dourado então desviou e desferiu um chute no rosto do berserker. Kami cuspiu sangue e voltou a atacar, mas o dourado saltou para trás e se teletransportou, surgindo no céu levitando. Instantaneamente o berserker fitou o mestre de Jamiel e saltou para um ataque direto, deixando para trás uma cratera aberta pela pressão do cosmo. Kiki bloqueou o ataque cruzando os braços e uma dor aguda percorreu pelos seus membros. A força de Kami parecia ter dobrado.

— Ele é muito rápido. — comentou Lino, que observava atentamente.

— Você consegue acompanhar? — perguntou Dorie, surpreso. — Eu apenas vejo dois feixes de luz se movimentando.

Ainda no ar, Kami aplicou um chute no peito de Kiki arremessando o dourado para trás e disparou em seguida de punho cerrado. O Mestre de Jamiel projetou seu escudo cósmico, mas dessa vez foi despedaçado e Kiki foi lançado em direção ao chão.

Kami então desceu unindo as duas mãos e aplicou um golpe direto. Kiki abriu os braços durante a queda e projetou a Muralha de Cristal, que conteve o golpe do berserker, pousou no chão e disparou contra o seu inimigo elevando o cosmo.

— Revolução estelar!!

A chuva de estrelas douradas subiu acompanhando Kiki. Enquanto Kami se ocupava desviando, Kiki se aproximou e girou aplicando um chute. O berserker não esperava e foi golpeado sendo jogado no chão. Mas o soldado de Ares não demorou a se levantar. Kami correu e saltou, fazendo zig-zag no ar, se aproximou de Kiki agarrando-o pelo cabelo e aplicou uma sequência de socos no rosto do dourado. Finalizando com um chute que rachou o peito da armadura de ouro de Áries.

Apesar de tudo Kiki não esmoreceu. Ele restabeleceu o equilíbrio durante o percurso e concentrou cosmo em suas mãos, partindo para o ataque.

— Lança Estelar!! — disparou Kiki

Kami concentrou cosmo entre suas mãos formando uma esfera de energia e a jogou para o alto. A esfera se alongou e se transformou em uma lança negra de cosmo. Uma réplica da lança divina que havia sido dada por Phobos, mas que Seiya a destruiu no último combate.

— Lance Timere!!

A lança se multiplicou e colidiu com o golpe de Kiki que cruzava o céu como uma chuva de meteoros. Em meio aos disparos, Kami e Kiki se golpearam, ao mesmo tempo em que desviavam dos rastros de técnicas que ainda cortavam o campo contra o outro.

— Imbecil! — uma das lanças de Kami se dissolveu em cosmo e envolveu o punho do berserker. — Irei quebrar todos os seus ossos.

— Proteja-se Kiki! — gritou Kastor. — Mesmo que não seja a lança original, Kami ainda deve preservar a habilidade de perfuração da arma divina!!

— Muralha de Cristal!!

Kami se aproximou e desferiu centenas de socos violentamente. Ele sorria enquanto golpeava. Lutava desenfreadamente. A muralha começou a rachar.

— Você é barulhento demais. — disse Kiki com uma expressão séria.

A muralha foi desfeita pelo dourado e ele se aproximou de Kami na velocidade da luz encostando a mão no peito do berserker e desferindo um golpe a queima-roupa. Kiki atingiu em um ponto frágil da Onyx e graças a isso pôde atravessar a defesa do traje e atingir Kami, mas o berserker não se queixou.

Kami agarrou o braço de Kiki e desferiu um soco que fraturou o braço do dourado. Surpreso e sentindo uma dor forte e aguda, Kiki saltou para trás e se teletransportou, pousando de joelhos no chão.

— Precisamos ajudá-lo. — disse Lino.

— Não há nada que vocês possam fazer. — disse Kastor. — Eu vou.

— Não, senhor. — disse Perses. — Aguarde mais um pouco. Deixe que Lino e eu cuidamos disso.

— O que vocês dois pretendem? — perguntou Kitsune.

— Eu tenho uma ideia. — disse Lino encarando Kami. — Se eu estiver correto, talvez eu saiba qual é a única forma de matá-lo.

Os dois cavaleiros de prata correram pelo campo. Ainda ajoelhado, Kiki os avistou. Ele tentou mandá-los recuar, mas Kami também os viu e disparou em direção a eles.

O berserker desceu em disparada contra os dois prateados. Kiki se levantou para detê-los, mas Perses agiu antes.

— Corrente espiritual!

A corrente da mão direita foi disparada e assim como todos os outros oponentes Kami a ridicularizou tentando repeli-la, mas a corrente seguiu seu percurso atravessando o braço do berserker e atingiu o seu peito. Rapidamente Perses a puxou e o peito do berserker estufou para frente.

O cosmo drenado envolveu Perses no momento em que o punho de Kami se aproximou. O cavaleiro de prata desviou e o berserker estava indo em sua direção quando foi detido pelas cordas da lira de Lino.

— Acorde Perfeito!

— Essa sua brincadeira de música não vai funcionar comigo, garoto.

Usando apenas sua força bruta Kami rompeu as cordas da lira e avançou contra Lino, arrancando a lira de sua mão quebrando ao meio e arremessou o cavaleiro de prata com um soco.

— O que resta para um cavaleiro menestrel quando perde seu brinquedinho?

— O cosmo. — respondeu Lino se levantando com o cosmo elevado. — Erupção solar!!

Lino ergueu os braços concentrando seu cosmo denso e ardente entre as mãos e disparou uma poderosa rajada cósmica feita de chamas. Kami arregalou os olhos e saltou desviando do golpe.

— Ele recuou por... Medo?! — pensou Kastor.

Lino continuou disparando rajadas de chamas e Kami seguia recuando e desviando. Perses então avançou mais uma vez e disparou a corrente, mas dessa vez o berserker saltou e desceu em uma investida.

— Saia já daí Perses! — gritou Kitsune.

Mas Perses não se moveu. Ele aguardou até o momento em que Kami se aproximou o suficiente para não conseguir desviar a tempo da corrente. O cavaleiro de Cefeu saltou e disparou a arma, puxando-a rapidamente e absorvendo mais uma porção de cosmo do berserker.

Kami cambaleou e Lino se aproximou invocando suas chamas. Notando a investida, o berserker materializou suas lanças cósmicas e as disparou.

— Espelho de Ouro! — gritou Kiki, erguendo a defesa diante de Lino.

As lanças atingiram a barreira e ricochetearam. Kami tentou desviar, mas Perses investiu novamente drenando o cosmo do berserker. E assim seguiu repetidas vezes. Quanto mais cosmo Perses drenava, mas rápido ele ficava e mais lento Kami se tornava. 

O berserker acabou sendo afligido pela própria técnica e caiu de olhos cuspindo sangue.

— Agora Lino!!

— Erupção solar!!

A rajada de chamas foi disparada e atingiu Kami em cheio, gerando uma explosão devastadora que subiu ao céu na forma de uma coluna de fogo, girando como um turbilhão. O berserker urrou enquanto as chamas o consumiam.

Arfando, Lino cedeu de joelhos.

— Você está bem? — perguntou Kiki, se aproximando. — O que você fez?

— Wendigo... Eu sabia que lembrava desse nome de algum lugar. Todas as vezes que eu ia acampar com a minha mãe nas florestas do norte, ela me contava histórias de espíritos daquela região. E uma delas era sobre uma criatura chamada Wendigo. A personificação da brutalidade. Ela dizia que apenas o fogo pode matar essa criatura.

— Então você apostou em uma historinha que a sua mãe lhe contava antes de dormir? — Kami saiu das chamas com a pele borbulhando debaixo da Onyx. Músculos e ossos se modelavam restaurando o corpo do berserker. Seu rosto estava desfigurado e em sua cabeça não havia mais cabelos. Os olhos vermelhos de Kami brilhavam de ódio — Que patético! — disse urrando.

Kami disparou tão rápido que nem mesmo Kiki foi capaz de interceptá-lo. O berserker agarrou Lino pelo pescoço e disparou um soco tão potente que o punho de Kami atravessou a armadura de prata, atingido em cheio o peito de Lino. O Cavaleiro de Prata cuspiu sangue foi arremessado para o alto, caindo inconsciente.

— Lino! — gritou Kitsune, correndo para ajudar o amigo.

Mas Kami se moveu mais uma vez e a interceptou no trajeto aplicando um chute. A amazona foi lançada contra uma fileira de árvores e seu corpo desapareceu na floresta. 

Em seguida ele voltou-se para Kastor e os outros, mas para sua surpresa havia um cavaleiro indo em sua direção.

— O que você pensa que está fazendo, Nicolas?! — gritou Acher.

Com lagrimas nos olhos, Nicolas elevou seu cosmo e conjurou chamas vermelhas na palma da mão e cerrou os punhos.

— Você também quer morrer, garoto? Então vou dar o que você deseja.

— Vá para o inferno! — gritou Nicolas. — Condenação da Rainha da Morte!

— Não faça isso Nicolas!! — gritou Acher.

O cosmo de Nicolas se expandiu e explodiu. Uma onda de ar quente varreu a região e todo o solo ao seu redor em um raio de 200 metros se converteu em larva, seguido por uma coluna de chamas que se ergueu e também se expandiu, criando um círculo que isolou ele e Kami no centro. O calor era insuportável. Kastor e os outros tiveram que recuar.

— Como ele consegue suportar essa temperatura lá dentro? — perguntou Kastor. Mesmo distante das chamas ele ainda sentia a pele arder. Sua armadura também estava esquentando e seus olhos ardiam só de observar.

— Essa técnica é alimentada pelas emoções de Nicolas. — explicou Acher. — Quanto mais forte forem as emoções, mais poderosas serão as chamas. Ele recria todo o poder infernal da Ilha da Rainha da Morte. Mas o nosso mestre o proibiu de utilizá-la antes dele ter total controle. Nicolas tem emoções intensas demais. Tão intensas quanto as chamas que ele manipula. Se ele não tomar cuidado... Ele pode acabar se queimando.

Nicolas avançou em direção a Kami com os punhos envolvidos por chamas e desferiu centenas de coso. Mesmo ferido Kami ainda era poderoso e rápido. Ele conseguiu desviar da maioria dos socos, mas na medida em que ele se esquivava, ele dava um passo para trás, se aproximando cada vez mais da muralha de chamas que estava erguida.

O berserker cambaleou para o lado e tentou reagir, mas Nicolas estava embalado pela fúria e não deixaria escapar. O discípulo de Ikki uniu as duas mãos e disparou uma rajada. Seus olhos ardiam em lagrimas e chamas, e isso lhe dava ainda mais força e energia.

A larva se agitou atrás de Nicolas e passou a ser disparada contra Kami cada vez que o cavaleiro desferia um soco. O berserker urrava tentando se proteger. Nicolas o acertou com um soco no rosto e em seguida com um chute que fez Kami se curvar cuspindo sangue.

As chamas então mudaram de cor. Do vermelho vivo passaram para o azul. O calor dobrou.

— Eu vou reduzir você a cinzas. Eu vou fazer você derreter enquanto se arrepende de tudo o que você já fez nessa sua desprezível vida! — gritou Nicolas.

— Você é só um cavaleiro de bronze, garoto. — berrou Kami se levantando.

Nicolas então se aproximou e segurou no pescoço podre do berserker. Naquele momento nem mesmo o cheiro fétido e a carne derretendo entre seus dedos lhe espantava.

— Então por que você está com medo? — as chamas voltaram a mudar. Elas se intensificaram e ficaram verdes. — A Condenação da Rainha da Morte será o seu fim. Lino estava certo. O fogo é seu ponto fraco. Apesar daquele lapso de poder que você teve agora, você já não se move como antes e nem possui mais a mesma força. O que lhe resta é só arrogância. Mas comigo é diferente. O fogo é o que me alimenta. É o que me dá forças. E eu vou usar isso para acabar com você. 

— Idiota. Mesmo que você manipule o fogo grego, isso não é suficiente para me vencer. Eu vou acabar retornando mais cedo ou mais tarde. — disse Kami. — Eu sou imortal, criança.

— Mas e se for fogo divino? — perguntou Dorie, do lado de fora do círculo de chamas.

Kami arregalou os olhos por um momento, mas depois voltou a sorrir.

— Na última vez foi necessário uma flecha banhada nas chamas do Olimpo para me derrotar. Mas o Olimpo está fechado para vermes como vocês.

— Não é necessário subir até o Olimpo. — respondeu Dorie de Cérbero. — A deusa das chamas está aqui no Santuário. E ela me concedeu uma benção.

— Você está blefando, criança. Hestia não é vista há séculos. E mesmo se ela tivesse reencarnado, ela estaria no Olimpo.

Dorie abriu a palma da mão e uma pequena chama crepitou. Apesar do seu tamanho, ela emitia uma cosmo energia poderosa.

— Nicolas! — chamou Acher. — Você precisa recuar. Kitsune não iria gostar de vê-lo assim. Deixe que Dorie acabe com ele.

Nicolas apertou o pescoço de Kami com mais força, mas em seguida relaxou soltando o corpo podre do berserker no chão.

— Cérbero! — disse Nicolas. A coluna de chamas recuou e o cavaleiro de bronze se virou para o companheiro. — Você tem certeza?

As correntes negras de cérbero foram tomadas pelo fogo divino e Dorie a intensificou com seu cosmo.

— Sim. Eu tenho. Não vou desperdiçar a oportunidade que Lino e Perses nos deram.

Nicolas olhou para Lino. Kiki já estava ao lado dele cuidando do prateado. Ele então virou-se e olhou para a floresta. Kitsune ainda estava lá caída.

— Confio em você. — disse o Cavaleiro de Fornalha e correu em direção ao bosque.

Kami se levantou cambaleando. Seu corpo havia começado a se regenerar mais uma vez.

— Está fugindo, cavaleiro de bronze? — disse Kami provocando.

— Eu vou assumir a luta no lugar dele. — disse Dorie.

— Tome cuidado rapaz. Os deuses não dão nada de graça. Acha mesmo que vai conseguir manipular essas chamas sem sofrer consequências? — Kami sorriu. — Já olhou para a sua armadura?

Cérbero baixou os olhos e viu que rachaduras estavam se formando nos braços da armadura e nas correntes.

— Mas...

— O fogo divino tem esse nome por uma razão bem específica. Apenas os deuses podem ter contato com ele. Essas chamas são as que Zeus tomou de Prometeu após o deus ter roubado ela do Olimpo. — Kami gargalhou. — Você acha que recebeu uma benção, mas na verdade foi uma maldição. Héstia deve ter previsto o futuro através das chamas. Ela deve ter visto que o seu destino iria se encontrar com o meu. Ela mandou uma “arma” para o campo de batalha usando você como receptáculo. — O sorriso do berserker se estendeu. — Você não passa de uma marionete. Você foi usado. E como lixo será descartado. Vamos cérbero! Me ataque! Eu viverei para sempre. Daqui a 200 anos irei retornar, mas você morrerá inutilmente. Ao manipular essas chamas você estará se jogando nelas como se fosse um cordeiro no altar dos deuses. Um reles sacrifício que logo será esquecido.

Dorie segurou suas correntes com força e elevou o cosmo.

— Se você vai morrer, então não será inútil.

— Dorie... — disse Perses. — Você...

— É o meu destino.

Kami gargalhou.

— Sim. É o seu destino. Traçado por uma deusa covarde que não quer se sujeitar diante do Olimpo e está lhe usando. Hestia pode estar ajudando o exército de Atena dando essa chama, mas em troca você morrerá. E pode ter certeza de que ela sabe disso. Tão jovem, mas não viverá para desfrutar a vitória que tanto sonha ter nessa Guerra Santa. Então o que está esperando garoto? Que alguém vai lhe impedir de fazer isso? Ninguém vai lhe deter. Olhe para os Cavaleiros de Ouro! Os seus superiores estão calados, pois eles compreendem. É a única coisa que pode me parar.

— Não dê ouvidos a ele, Dorie. — disse Kiki.

— Acabou berserker! — disse o prateado. — Não importa o que você diga, eu...

— Imbecil.

Kami sorriu. O tempo que ele passou tomando a atenção de Dorie e dos outros foi o suficiente para recobrar as forças. Mas Kami não tinha interesse em Dorie e os outros. O berserker virou-se e avançou contra Kiki.

— Mas antes que eu morra... — suas garras cresceram. — Eu arrancarei a cabeça do Mestre de Jamiel.

— Dorie! — gritou Perses.

— Por Atena!! Punição da segunda prisão!!

A corrente foi disparada e se multiplicou atravessando o campo em uma velocidade divina, impulsionada pelo cosmo de Hestia, e alcançou Kami a tempo. O berserker teve seu corpo retalhado pelos globos pontiagudos e as chamas divinas o consumiram. O fogo divino se expandiu e girou em direção ao céu, desaparecendo em seguida.

Onde antes havia um berserker, agora não restava mais nada da sua existência. Até mesmo sua Onyx foi consumida.

Quando Perses e os outros se voltaram para Dorie, o prateado estava caído no chão. Acher correu até o colega. A armadura de Cérbero estava repleta de rachaduras e suas correntes haviam fragmentado. Dorie investiu todo o seu cosmo para alimentar as chamas divinas ao máximo.

— Dorie...Você...

O cavaleiro de Cérbero não teve forças para responder. Ele apenas segurou na mão de Acher e fechou os olhos.

—...—


Arredores do Santuário de Atena – Região Norte

— Ainda que um exército se acampe contra mim, meu coração não temerá. — disse Shalom elevando o cosmo no centro de um pátio em ruinas. Centenas de soldados rasos e dezenas de berserkers rodeavam o Cavaleiro de Ouro de forma ameaçadora. — Ainda que se declare guerra contra mim, mesmo assim estarei confiante.

— Já terminou de fazer suas orações, Virgem?

— Levaremos a sua cabeça para o Senhor Phobos!! — disse outro berserker. — Você não tem chance contra todos nós. Ataquem!!

— Um ou mil... Que diferença isso faz? — disse Shalom.

Os longos cabelos castanhos ondulados de Shalom se agitaram com o elevar do cosmo. Seu poder explodiu em uma coluna de chamas que se ergueu ao seu redor e se expandiu formando um turbilhão. Berserkers e soldados foram sugados e arremessados para o alto queimando até os ossos. Apenas as peças escuras de suas onyx restaram e caíram no chão.

— Chamas poderosas o suficiente para transformar um corpo em cinzas. — a voz veio alguns metros atrás de Shalom. — Você é um homem perigoso.

Shalom virou-se e desfez o turbilhão de chamas cortando-o com o braço. Do outro lado do pátio estava um homem de pele pálida, olhos completamente negros e com um par de chifres negros contorcidos saindo dos seus longos cabelos azuis acinzentados. Anatole de Quimera.

— Estava procurando por você. — disse o berserker. — Temos um combate pendente.

Shalom estava prestes a responder, mas algo se moveu atrás de Anatole. Era uma criança. Com mais ou menos 10 anos da idade. Seus cabelos loiros platinado eram longos e irregulares, como se nunca tivesse sido cortado. Usava uma toga grega de cor preta com um cinto dourado na cintura. Na mão direita ele carregava uma serpente negra morta, com a boca aberta pingando sangue escuro.

Ele estava parado na sombra. Olhando fixamente para Shalom com olhos azuis e frios. Era como se estivesse se escondendo da luz da lua.

Notando o silêncio e a expressão confusa no rosto do Cavaleiro de Virgem, Anatole olhou para trás por cima do ombro, mas não havia nada além de pilares e escuridão.

— Para onde você está olhando, cavaleiro? — perguntou o berserker.

— Você não a vê? Digo... A criança.

Anatole deu um leve sorriso.

— Está delirando, Virgem. Não há ninguém nesta região. Apenas nós dois.

A imagem da criança desapareceu e Shalom afastou da mente qualquer pensamento sobre aquilo. Afinal, ele tinha um oponente poderoso para enfrentar.

— Não finja demência agora. — disse Anatole, abrindo um par de asas negras de dragão. Seu cosmo converteu-se em chamas azuis, cobrindo seu corpo e se espalhando pelo chão ao seu redor. — Você me reduziu a cinzas na Alemanha. Agora será a minha vez de retribuir. Carruagem de Agni!

O cosmo ardente de Anatole ascendeu dando forma a imagem de um carneiro gigante com mais de cinco metros de altura e feito de chamas azuis. A besta tinha três pares de chifres, olhos vermelhos e expelia chamas pelas narinas. O berserker estendeu um dos braços e disparou o golpe. A ira de Anatole foi convertida em um urro emitido pela técnica durante o avanço. O percurso da besta era marcado por um turbilhão de chamas.

— Angeli Specularibus! — gritou Shalom, disparando sua técnica de defesa.

Uma barreira circular na forma de um vitral composto por pedaços cristalinos coloridos e imagens de anjos se formou diante do Cavaleiro de Virgem.

O golpe de Anatole colidiu violentamente contra a barreira. Era como se a besta tivesse vida e tentasse a todo custo romper a defesa com seus pares de chifres curvados e pontudos. Os olhos vermelhos fitavam Shalom através do vitral, emanando ódio e vingança. Shalom resistiu, mas começou a ser arrastado para trás. A defesa começou a rachar e ele não tinha certeza se o escudo iria suportar até o final. Ele precisava partir para um ataque ofensivo.

Os olhos de Shalom brilharam e seus cabelos se agitaram. A imagem de dezenas de anjos armados com espadas e trajando armaduras douradas surgiram em todo campo de batalha.

— Angeli Impetum!

Os anjos ergueram suas espadas, agora envolvidas pelo cosmo dourado de Shalom, e avançaram contra a técnica de Anatole. A besta foi retalhada e o golpe foi dissipado em uma explosão que apagou a existência dos anjos e arrebentou a defesa de Shalom, forçando o dourado a ser arrastado para trás.

A técnica tinha sido desfeita, mas as chamas azuis não cederam. Continuaram na região queimando o solo.

— Essas chamas só irão cessar quando consumirem você até a sua carne derreter e só restar os ossos. — disse Anatole.

— No final essas chamas de vingança irão queimar você. — disse Shalom. — Irei purificá-las e desintegrá-lo. Ignis Iudicio!!

Na palma de sua mão surgiu uma inofensiva chama vermelha, mas em seguida o dourado lançou a flama para o alto e ela se transformou em um turbilhão que caiu sobre Anatole envolvendo o berserker. O turbilhão explodiu erguendo uma coluna em direção ao céu, mas para a surpresa de Shalom a cor das chamas mudou, se convertendo em um azul intenso.

— Esse seu golpe não irá me afetar novamente, Virgem. — disse o berserker partindo o turbilhão ao meio. — Erga novamente besta!

O carneiro demoníaco surgiu mais uma vez, erguendo-se do cosmo em chamas e se alimentando do turbilhão que Shalom havia disparado, mas que agora estava corrompido por Anatole.

— O mesmo eu digo a você. Dizem que a mesma técnica não funciona duas vezes contra um cavaleiro.

— Estou ciente disso. Mas não se preocupe. Apesar de ser a mesma técnica... — Anatole sorriu. — Bem... Você verá. Vá! Carruagem de Agni!

A besta avançou, mas dessa vez não foi apenas uma. Durante o percurso surgiu mais três carneiros semelhantes ao primeiro. Shalom arregalou os olhos surpreso e ergueu a defesa, mas ela foi inútil. A técnica estava três vezes mais poderosa do que a que foi lançada primeiro.

A barreira foi despedaçada e os carneiros em chamas avançaram urrando. Cada besta atingiu o dourado de virgem como se fossem punhos gigantes. Parecia que iam quebrar os ossos do seu corpo. Shalom foi arremessado e colidiu com uma coluna, desabando em seguida.

—...—


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Notas finais do capítulo

Título do próximo capítulo: "Capítulo 69 - Campo de guerra: Chamas divinas - Parte II."

Olá galera!! Tudo bom com vocês?!

Espero que sim. Perdão pela demora (mais uma vez kkkk). Eu fiz e refiz essas lutas até chegar no ponto que eu achei aceitável para postar o capítulo. Espero que tenham gostado. Estou ficando enferrujado kkkkk e tenho medo de perder a qualidade na história. No próximo capítulo teremos a continuação da luta de Shalom vs Anatole e outras coisinhas a mais.

Não esqueçam de deixar a opinião de vocês sobre o capítulo. Isso incentiva demais o autor à escrever.

Ah... Sobre Atena vs Ares... Não tenham pressa. Aguardem! Aproveitem as lutas laterais que serão contadas no próximo capítulo.

Um feliz ano novo para todos! Evitem aglomerações, se cuidem, defendam o SUS e não sejam negacionistas de vacina. A gente se vê em 2021 com muita saúde se Apolo quiser! Abraço! ♥



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