A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 56
Capítulo 51 — Guerra em Atlântida: Reúnam-se, novos generais!


Notas iniciais do capítulo

Ares prepara uma frota marinha para invadir Atlântida, e diante dessa ameaça Tritão, o filho de Poseidon e Anfitrite, assume o Tridente do Imperador dos Mares e convoca uma reunião de emergência em Atlântida, reunindo os Almirantes e Marinas. Antigos e novos Generais também se reúnem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/488642/chapter/56

 

Capítulo 51 — Guerra em Atlântida: Reúnam-se, novos generais!


Atlântida — Palácio, centro do País — Manhã do 2º dia

— Irei liderar o exército do mar no lugar do meu pai!! — disse Tritão, elevando o cosmo enquanto segurava o tridente de Poseidon. A batida do tridente no chão do grande salão gerou uma onda de cosmo se espalhou por todo o reino de Atlântida e além dele. — Generais, Almirantes e Marinas!! Reúnam-se!! Uma nova Guerra Santa começou!!

— Tritão! — Chamou Anfitrite. — Contamos com você.

— Não irei decepciona-la, mãe. — garantiu ele. — Esse país não será violado pela ambição de Ares, e nem de qualquer outro deus. Eu prometo!! Guardas!! Reforcem a proteção do Palácio. Nenhum desconhecido entra ou sai deste lugar. Protejam este local. E quero que também avisem aos Almirantes e demais líderes militares que uma reunião de urgência está marcada.

— E onde o senhor fará, vossa majestade? — perguntou o soldado.

— No Quartel-General do segundo distrito — respondeu o deus.

— Sim senhor!

—...—


Jamiel – Fronteira entre a China e a Índia – Manhã do 2º dia

— Você foi enviado por Senkyou? — perguntou Kiki, que estava sem camisa e sentado em uma cadeira no centro da sala. Ele estava recebendo cuidados de Kastor, que limpava e suturava os ferimentos mais profundos provocados pelas garras da amazona Hipolita.

— Sim senhor. — respondeu o Taonia de Macaco. Um dos doze poderosos Taonias que pertence a mais alta elite de Senkyou. São equivalentes aos Cavaleiros de Ouro de Atena. — Meu nome é Hóu, um dos servos do senhor Byakkou.

— E com qual propósito você foi enviado? Ênio não foi detida?  

— A deusa da carnificina foi vencida e selada. Neste momento ela está sendo levada para o Templo de Senkyou e será mantida lá pelos próximos séculos. Então minha visita não tem a ver com ela. O Senhor Byakkou pediu para lhe informar que a China será selada e levada para Senkyou, e se unirá ao país espiritual, onde será mais seguro para toda a população.

— O que?! Como assim “levada”!?— Kiki franziu o cenho, e até Kastor parou e olhou para Hóu. — Selar o país durante o período da guerra não é o suficiente? A China está dentro do território de Atena. Não podem simplesmente remover um país de grande porte e levar para uma dimensão paralela.

— Desculpe-me se isso for parecer falta de respeito ou arrogância, mas podemos sim e uma deusa atualmente morta não poderá questionar algo desse tipo. A China é um país que pertence a Senkyou, mas por estar em um território da Terra que é regido por Atena, Senkyou passou para ela o dever de proteger o país. Mas a situação atual está ficando fora de controle. Ares quer arrastar uma matança nesse país. Não vamos permitir que a ira dos deuses gregos caia sobre esse povo. Já basta o diluvio que Poseidon iniciou quinze anos atrás e a ameaça de Hades. Atena nessa era perdeu totalmente a capacidade de proteger a Terra de forma confiante. Portanto, na ausência de Atena é Senkyou quem decide o que é melhor para esse país. Temos total consciência do plano de vocês para resgatar a sua deusa no Tártaro, mas não iremos arriscar. Já se passou mais de um mês desde que essa guerra começou. Tememos um novo ataque de Ares e a quebra da barreira.

Kastor se levantou e pousou a pinça e o fio de sutura na mesa ao lado.

— E como planejam fazer isso? — perguntou o Cavaleiro de Gêmeos. — Como vão mover um país desse tamanho e explicar para o resto do mundo? A China é uma das maiores potências econômicas e militar. O mundo inteiro notará sua ausência até mesmo durante a guerra.

— Explicar o desaparecimento do país não é um problema. Temos várias alternativas para isso. — respondeu Hóu. — Podemos criar uma catástrofe natural ou apagar as memorias e qualquer vestígio do país na história, por exemplo. A China passará a ser um mito contada nos livros.

— Mas não é tão simples assim. — disse Kiki se levantando, fazendo expressão de dor. Ele vestiu uma camisa cinza de manga longa e de botão. — E os patriotas desse país que talvez estejam em outro lugar nesse momento? Irão separar famílias e deixa-las abandonadas sem sua nacionalidade? E como vai ficar a questão de Rozan? A torre que sela os espectros está lá. Um dos Cavaleiros de Ouro também está lá.

— Esses pequenos detalhes a respeito dos chineses que estão em outros países, serão resolvidos com o passar do tempo. É um plano que será dividido em etapas. Sobre Rozan, a área montanhosa ficará aos cuidados de um dos deuses celestiais. A China foi dividida em quatro grandes áreas e para cada área tem um deus celestial protegendo com seu exército. Todos já estão posicionados. Por tanto, a Torre maligna que sela os espectros ficará sendo guardada pela deusa Suzaku. Se porventura, futuramente, os espectros se libertarem da Torre, caberá aos taonias detê-los.

— E o que meu pai acha sobre isso? — perguntou Ryuho, parado na porta acompanhado de Marcel, o Cavaleiro de Prata de Medusa, que ainda se recuperava dos danos sofrido durante o combate com Hipolita. — Ele já foi informado?

Ryuho havia chegado gravemente ferido em Rozan e ficou sob os cuidados de Marin. Mas quando o exército de Ênio chegou, Kiki temeu pela vida do filho de Shiryu e ordenou que Ryuho fosse levado, ainda que contra sua própria vontade, para o subsolo do palácio de Jamiel. Caso contrário ele seria morto no sangrento confronto.

Hóu mirou seus olhos para Ryuho.

— E quem é o seu pai, garoto?

Ryuho abriu a boca para responder, mas alguém respondeu por ele.

Shiryu, o Cavaleiro de Ouro de Libra”  respondeu Shiryu telepaticamente e através do seu cosmo. — “Kiki, obrigado por me chamar. Taonia, Atena me deixou encarregado de vigiar a Torre Maligna a qualquer custo, e farei isso assim como meu mestre se dedicou.”

Hóu olhou de lado para Kiki surpreso com sua a habilidade. Mesmo cansado e ferido, o jovem mestre de Jamiel falou mentalmente com Shiryu, que neste momento está em Rozan, sem que Hóu e Kastor notassem. Ele se quer interrompeu a conversa para precisar se concentrar.

— Entendo. Libra... O poderoso dragão de Rozan. É um prazer conhece-lo. Me chamo Hóu. Então é o senhor o responsável por vigiar os espectros?! Não precisa mais se empenhar nessa missão. O senhor pode continuar morando em Rozan se quiser, não iremos impedi-lo, mas saiba que não poderá sair da China quando bem quiser. A violação do país por fora ou por dentro será reduzida a zero. Então se quiser participar dessa guerra como Cavaleiro de Atena, abandone o país antes dele ser lacrado.

“Essa é a decisão final imposta por Byakkou?”

— Não é uma decisão dele, mas sim de todo o conselho de Senkyou. — respondeu Hóu. — Se trata de preservar a vida de mais de um bilhão de pessoas, senhor.

Houve um momento de silêncio até que Shiryu voltou a falar.

“E se eu me opor a essa decisão?”

— Seria lamentável. Estaria criando conflito entre cavaleiros e taonias. Por qual motivo o senhor iria se opor? Por causa da missão que Atena lhe deu? Não estamos em tempo de ser egoísta. Se formos pesar na balança, é a vida de um bilhão de pessoas contra a missão de um Cavaleiro de Ouro que ser cumpre as ordens de vigiar a Torre Maligna como deveria. — a resposta de Hóu gerou um desconforto. — Não me leve a mal, mas o senhor citou o seu antigo mestre, que também vigiava os espectros, e eu o conhecia muito bem. O Mestre Ancião jamais abandonou Rozan em qualquer situação. Independentemente de qualquer guerra. Já o senhor... Lembro de ter escutado que o Cavaleiro de Ouro de Libra estava em Jamiel.

“Na minha ausência deixei o meu futuro sucessor para cuidar de Rozan.”

Ryuho sentiu uma pontada de repreensão indireta para ele, e se sentiu ainda mais desconfortável quando Hóu o encarou.

O Taonia de macaco sorriu.

— Deixou? Então o que esse jovem faz tão longe do seu ponto de vigilância? Pelo visto lhe falta disciplina, algo que um treinamento em Senkyou resolveria. Posso estar sendo continuamente indelicado, mas não é obrigação desse jovem cavaleiro cumprir a sua missão. E se ele poderia substitui-lo como vigilante dos espectros, um dos deuses celestiais também pode. E mais uma coisa... Não sabia que as armaduras estavam passando de pai para filho como herança. Agora entendo porque o atual Grande Mestre se apresentou tão rígido na carta que mandou para Senkyou. Ele tem um Santuário falho nas costas. Senhor Shiryu e Mestre de Jamiel, não vim aqui para debater as decisões de Senkyou. Apenas estou aqui para informa-los das decisões tomadas.

“E quando isso será posto em prática?” — perguntou Shiryu

— Daqui a quatro dias. É o tempo que levaremos para preparar todo o deslocamento sem pôr em risco a vida dos habitantes.

“Tudo bem. Não vou mais questionar as ordens de Senkyou, mas... E se eu pedir para estender esse prazo? Só por mais três dias?”

Hóu ergue as sobrancelhas.

— Nesse caso serão sete dias... — Hóu falou desconfiado. — Por que sete dias?

— Esse é o tempo que levará para Atena retornar do Tártaro. — respondeu Kastor.

— Ah! O plano do Grande Mestre. E o que garante que daqui a sete dias ela irá voltar? E se o Grande Mestre falhar? Senkyou estaria arriscando a vida dessas pessoas estendo o prazo por mais alguns dias. Quer que a gente confie no Grande Mestre?

“Confiaram uma vez, porque não confiar novamente? Mas não estou pedindo para que confiem nele. Estou pedindo para que confiem no plano dele. E tenho certeza que o plano não irá falhar.” — respondeu Shriyu.

— E o que lhe dá toda essa certeza.

“Seiya de Sagitário e Shun de Andrômeda estão no Tártaro. Isso é garantia suficiente de que Atena irá retornar.”

— Entendo. Levarei seu pedido para os deuses. Se ele julgarem prudente, no quarto dia a China ainda estará onde sempre esteve. Caso contrário, se o senhor ainda estiver em Rozan e pretender ficar, abandone a sua armadura de ouro e ordene que ela volte ao Santuário, caso contrário o Santuário jamais verá a sétima armadura de ouro. Ficará presa em Senkyou. Para sempre. O senhor me compreendeu?

“Estou ciente dos fatos.”

— Tudo bem, irei me retirar. Senhor Kiki, como Mestre de Jamiel, saiba que Edgard e eu estamos a sua disposição caso seja necessário. Contudo... — Hóu olhou para Kastor e depois virou-se para ver o homem de face serena que se aproximava. Shalom de Virgem. — Dificilmente o senhor precisará de ajuda tendo dois dos mais poderosos Cavaleiros de Ouro ao seu lado. Com licença.

—...—


Silkeborg – Dinamarca – Manhã do 2º dia

Jake acordou no meio de uma floresta. Ele estava deitado, escolhido. Estava usando apenas uma camisa azul escura, um pouco apertada grudada de suor e um short verde de dormir. A floresta estava escura e fria. Tão fria que ele precisava se encolher para poder se aquecer, mas ainda assim molhado de suor.

A área onde ele estava tinha marcas escuras no chão e árvores quebradas e queimadas ao redor. Ao se levantar e olhar atentamente para os lados, ele reconheceu onde estava. Era a floresta onde tudo começou. Mais uma vez ele estava naquela maldita floresta, só não entendia como teria ido parar ali. Antes ele estava na Dinamarca, na casa de Asterion, mas agora estava nos Estados Unidos e não sabia como havia chegado ali.

Ele olhou para os lados, procurando o caminho que o levaria para a cidade, mas notou que havia algo de errado. A floresta parecia estar mais fechada. O caminho que sempre esteve ali, uma trilha usada pelo povo da cidade, havia desaparecido. E agora ele tinha a sensação de estar sendo observado, e não apenas por uma pessoa, mas sim por várias. Vários olhos espreitando-o nas sombras. Mas ele não via ninguém. Se quer sentia uma presença concreta, mas a sensação de estar sendo observado continuava forte.

O vento soprou e um calafrio percorreu o seu corpo, e junto com o vento veio uma presença inusitada. Jake se virou e se deparou com um jovem a uns dez metros na sua frente. Ele tinha pele clara, cabelos pretos e olhos castanhos, mas seus olhos pareciam não ter vida e estavam vidrado. Ele era cego. E havia algumas cicatrizes profundas na lateral do seu rosto e em sua testa. Ele estava usando pijama de hospital de manga curta, e dava para ver em seus braços marcas severas de queimadura. Jake arregalou os olhos ao reconhecer o rapaz. Rick, o garoto que o perturbava na escola e que ele quase matou.

— Rick?!! O que você está fazendo aqui?! Isso... Isso só pode ser um sonho!

“Olá Jake! Você está certo. É um sonho.” — Rick não moveu a boca, até porque devido a forte pancada que levou na cabeça, ele também perdeu a capacidade de falar. A voz parecia ser emitida por ele através da sua mente, mas ecoava por todos os lados. — “Nada disso aqui é real. Pelo menos não fisicamente. Eu estou no hospital e você está em algum lugar que... Bem, eu não consigo dizer claramente.”

— Então... O que você e eu estamos fazendo aqui?

“Queria que você me visse. Faz tempo que você não vai ao hospital me visitar. Eu odiava quando você ia. Eu não podia enxerga-lo, mas eu sentia a sua presença. Era a única pessoa que me causava calafrios quando entrava no quarto. Mas... Eu gostava de sentir outra coisa vindo de você... Uma pontada, ainda que fingida, de arrependimento.”

— Eu...

“Eu sentia. Uma pena que não estava sofrendo tanto quanto eu.”

— Está enganado. Eu... Eu sofri tanto quanto você. O peso na minha consciência...

“Mentira!! — gritou Rick — Mentira!! Você se quer chegou perto de sofrer tanto quanto eu sofri e venho sofrendo!! Peso na consciência não chega perto do que venho passando!!”

— Rick... Eu não tenho orgulho do que fiz, e se eu pudesse voltar atrás... Eu faria diferente. Não sei como, mas faria. Eu não queria nada disso. Jamais quis. Carrego nas costas, todos os dias, o peso da morte dos meninos e da sua situação, mas... Não pude deixar de pensar que isso foi resultado de toda sua maldade. Talvez esteja no seu corpo o mal que você fez aos outros, e não só a mim ou o Brent. E esse mal voltou para você através de mim e matou os que estavam ao seu redor, e vem matando você aos poucos. Se fossemos ver a nossa maldade personificada... Provavelmente a sua teria essa dolorosa aparência.

Rick emitiu o que parecia ser uma risada abafada.

“Então está na hora desse mal voltar para você.”

— Do que está falando — perguntou Jake, desconfiado.

Olhos vermelhos e estreitos surgiram nas sombras da floresta. Eram centenas. Olhos baixos como se fossem lobos espreitando. Uivos ecoaram pela floresta, trazendo uma sensação desconfortável de medo. Um medo intenso que fazia Jake pensar em correr, em fugir.

— O que são essas coisas?

“Dois dias atrás um homem apareceu em um dos meus consecutivos pesadelos. Disse que foi atraído pela escuridão do meu coração, e que essa escuridão estava ligada a um homem o qual ele chamou de... “Leão”. Você! Foi ai que ele me presenteou com algo que eu poderia usar para matar você.”

— Um homem?! Mas quem iria até Rick querendo me matar? E o que são essas coisas? — pensou Jake, olhando para os lados. — O que foi que esse homem deu a você?

As feras, que antes estavam nas sombras, começaram a avançar em passos lentos. Eram cães negros de corpo magro, olhos vermelhos e garganta cortada. A boca era exageradamente larga e tinha tantos dentes que eles não conseguiam fecha-la completamente.

— Cães? Por acaso são cães demoníacos? Foi isso que ele deu a vocês?

“Esses cães são meus leais seguidores, me fazendo companhia e sendo meus olhos. São a personificação da minha vingança. Agora eu vejo você. Você mudou. Está mais forte.”

— Com quem você conseguiu esses animais? Que tipo de criaturas são essas, Rick? Eu sinto... Sinto cosmos vindo desses animais. São sombrios e fantasmagóricos. Nunca senti nada assim. Nem mesmo vindo dos berserkers.

“Cosmo? Berserkers? Não sei do que você está falando... Talvez deus tenha ouvido meus gemidos e resolveu estender sua mão para mim, me dando essa oportunidade. Mas não importa quem tenha me dado ou a troco de quê. Não tenho mais nada a perder! Ataquem-no!!”

Os cães furiosos avançaram contra Jake e se transformaram em simultâneos golpes que o afligiram, rasgando sua carne e o arremessando para o alto, provocando uma forte queda em seguida.

“Queria que você sofresse tanto quanto eu. Queria que você olhasse para o estado em que ainda me encontro no hospital. Claro que um pouco mais velho, mas ainda estou acamado por ter complicações neurais e severas crises de pânico. Jake... Você é um monstro! E nada mais natural que monstros matem você! Ataquem-no!!

Mais uma vez os cães avançaram furiosos e o atacaram se transformando em golpes simultâneos. Jake agora estava bastante ferido e com a camisa ensopa de sangue.

“O homem me disse que esses cães fariam você sentir a mesma dor que venho sentindo por todos esses anos. Jake... Está doendo?”

— Se você achou que iria me derrubar com isso... Está enganado. — disse Jake se levantando. — Dois dias atrás, provavelmente no mesmo dia em que você estava sendo infectado por essa força maligna, eu estava enfrentando um oponente que me trouxe para esse mesmo lugar. O meu ponto fraco. E eu revi tudo o que aconteceu naquele dia, mas eu... Eu me libertei de tudo isso. Já não carrego mais o peso. O que aconteceu não pode ser mudado, então só me resta seguir em frente. Por isso... Irei iluminar o seu caminho!! Afastarei esse mal que lhe cerca!! — O cosmo dourado de Jake se levou. — Ouça o rugido do leão!! Relâmpago de Plasma!!

Perdido, sem saber o que fazer, Rick só conseguiu fazer uma expressão de espanto ao sentir o cosmo de Jake emanando e explodindo em um golpe. Ele quase recebeu uma parte do golpe e teria sido nocauteado se os cães não tivessem corrido e protegido ele, recebendo o golpe no lugar do conjurador.

Rick caiu de joelhos, com a roupa um pouco rasgada devido a força emanada do golpe. Parecia cansado. Jake tentou ir até ele, mas não conseguia. Era como se estivesse distante demais para alcança-lo. Havia uma sombra rodeando Rick e ao tentar ler sua aura, Jake se espantou com o que viu. Havia um tipo de armadura cobrindo o corpo de Rick por baixo da roupa, mas ela era diferente da armadura dos cavaleiros e dos berserkers. Tinha uma brilho roxo e sombrio. Mas foram as duas sombras atrás de Rick que mais chamou sua atenção. Elas agora tinham silhuetas. A primeira ele não reconheceu. Parecia ser um homem segurando uma espada negra. Mas a segunda sombra era impossível ele esquecer, pois vem atormentando-o todas as vezes que ele fecha os olhos desde o dia em que o enfrentou em uma dura batalha.

— Hugo?! Como... Como pode continuar perturbando os meus sonhos? Eu matei você!!

— Você sempre pergunta isso. Em todos os sonhos. — Hugo deu um largo sorriso perverso e colocou seus longos e secos dedos no ombro de Rick. — Não se pode matar um pesadelo enquanto se acredita nele, Leão. Uma parte de mim ainda estava vivendo dentro de você graças aos seus medos, que é o que sempre me deu forças, mas agora está na hora de ir. Minha alma está caindo cada vez mais no limbo e logo perderei a capacidade de lhe perturbar em seus sonhos. — Na palma da mão de Hugo surgiu uma peça de xadrez com o formato de um leão na cabeça da peça, e em seguida a peça se dissolveu e desapareceu. — Mas isso não quer dizer que você irá se livrar de mim. — a sombra de Hugo começou a se dissolver também. — Esse rapaz é a semente da escuridão, agraciado pelo herdeiro do submundo. A mais nova estrela maligna que brilhará no firmamento. Tenha bons sonhos e adeus, Jake!! Lembrarei de você na minha próxima reencarnação.

— Espere Hugo!! O que você quis dizer com isso!! Espera!!

Hugo desapareceu por completo e o chão abaixo de Jake também, e então ele começou a cair. Ele viu Rick ser envolvido pela outra sombra que continuava lhe acompanhando e em seguida ambos desapareceram.

Jake acordou no quarto em que estava hospedado na casa de Asterion. Ele abriu a boca e arregalou os olhos como se estivesse morrendo sufocado, mas então respirou fundo e ficou arfando, sentado na cama. Ele se assustou quando olhou para o lado e viu Asterion sentado em uma cadeira olhando para ele e o jovem Plancius do seu lado, com um olhar preocupado.

— Asterion?

— Precisamos conversar, rapaz. — disse Asterion


Grécia — Litoral — Manhã do 2º dia

Uma frota formada por dezenas de navios de guerra russo estavam ancorados no litoral da Grécia. Trazidos por Phobos e Nyctea, cada navio tinha mais de quatrocentos homens a bordo e armados com armas e bombas humanas.

O cais, antes movimentado por turistas e pelos próprios habitantes da região, agora estava abandonado devido a ordem dada pelo exército grego para que as pessoas procurassem um local seguro, pois o mundo inteiro estava em guerra. Agora apenas os berserkers de Ares e pessoas ligadas ao santuário tinham acesso.

Phobos desceu de um dos navios acompanhado pelo berserker de Deimos, Nyctea de Coruja, o atual líder do exército do Terror no lugar de Hayato que foi derrotado. Ambos estavam usando uniforme militar, seguindo a hierarquia de Major e General, semelhante ao dos russos, mas com as botas e braços de suas respectivas onyx.

— Avisem ao Senhor Ares e a Deimos que eu cheguei! — ordenou o deus.

— Já pedimos para avisa-los, Senhor Phobos. — respondeu um soldado.

— Nyctea, daqui pra frente você assume as coisas. Acredito que Ares e Deimos partirão ainda hoje. Irei ao grande salão me apresentar pessoalmente.

— Sim senhor!

O berserker se afastou, deixando o deus no cais, acompanhado pelos soldados. Phobos estava se dirigindo ao Santuário quando uma esfera de cosmo surgiu na sua frente, emitindo um brilho vermelho como um rubi.

— Hugo?! — disse o deus, reconhecendo o cosmo do seu berserker.

O cosmo se dissipou e uma peça dourada de xadrez com cabeça de leão na ponta caiu no chão.

—...—


Silkeborg – Dinamarca – Manhã do 2º dia

— Plancius me disse que desde o dia em que você voltou da Alemanha, depois da luta com o berserker, você vem tendo pesadelos e sempre acorda como estivesse vindo de uma luta. E hoje presenciei isso. Deveria ter me falado sobre isso. Sei que não gosta quando leio sua mente, mas eu poderia ter lhe ajudado, e agora devo dizer que não pude deixar de fazê-lo quando você começou a falar sobre cosmo, cães demoníacos e armadura estranha.

Dessa vez Jake não conseguiu ficar furioso por Asterion ter invadido sua mente. Talvez ele pudesse tirar suas dúvidas.

— Você sabe... O que aconteceu com Rick e que armadura era aquela que ele estava vestindo?

— Pude ver através dos seus olhos. A descrição dessa armadura... Escura, de brilho roxo e cosmo fantasmagórico... Eu nunca vi uma frente a frente, mas suspeitei logo no início do que se tratava. Mas foi só quando aquele berserker falou que eu tive certeza. “A mais nova estrela maligna que brilhará no firmamento”. Se trata de um novo espectro e uma nova surplice.

O cavaleiro de leão arregalou os olhos.

— Espectros? Servo de Hades? Está me dizendo que Hades converteu Rick em um espectro?

— Não. Hades, não. O Imperador do Mundo dos Mortos não cria novos espectros. Ele já tem seu exército de cento e oito estrelas malignas. Mas acredito em uma hipótese parecida. Vamos supor que esse seu sonho, não seja apenas um sonho. Que seja real. O berserker disse que o seu amigo foi agraciado pela escuridão do herdeiro do submundo... Hades não é o herdeiro do submundo, mas sim o criador. Poderíamos supor que qualquer outro deus que governa o mundo dos mortos estivesse no lugar de Hades, sendo assim um herdeiro, e tivesse maculado seu amigo, mas... Nenhum outro deus usa estrela maligna ou espectros. Apenas Hades. Então o herdeiro do submundo é alguém próximo ao Imperador do Mundo dos mortos. Como um filho, por exemplo.

— Aquela segunda sombra... Havia uma segunda pessoa atrás de Rick. — disse Jake.

— Seja lá quem for, deve ser ele. E isso é preocupante. A formação de novos espectros simboliza um novo exército, uma nova guerra santa. E se alguém está criando um novo exército... Devemos tomar cuidado. — havia cautela na voz de Asterion. — Uma guerra santa em cima de outra, sem tempo de descanso, leva qualquer exército a ruina. É algo que devemos impedir antes que seja tarde demais. Mas agora, o que mais me preocupa mesmo é a sua saúde, Cavaleiro de Leão. Seus olhos estão marcados devido as noites mal dormidas.

Jake se levantou e sentiu uma pontada na lateral do seu corpo. Ele tirou a camisa, revelando um peitoral e um abdome bastante definidos, e foi até o espelho. Havia marcas finas no lugar onde os cães de Rick haviam atacados.

— Dormir... Desde aquele dia eu evito dormir. Mas as vezes acabo caindo no sono e não demora muito até que aquele maldito berserker volte a me perturbar. Talvez agora eu possa dormir em paz.

— Deixarei você descansar mais um pouco. — disse Asterion, se levantando.

— Espere. — pediu Jake. — Estive curioso para lhe perguntar uma coisa, mas não tivemos muito tempo sozinhos desde então.

— E do que se trata?

— Você disse que treinou Ápis, o Cavaleiro de Touro, a pedido do Grande Mestre. Como um Cavaleiro de Prata pode treinar um Cavaleiro de Ouro como Ápis? Você pode ser habilidoso mentalmente, mas seu cosmo... — os olhos de Jake brilharam e ele passou a ver o cosmo que rodeava Asterion. — Não é muito diferente do nível de um prata comum. Já Ápis... O cosmo dele é tão grande quanto ele. Possui punhos fortes o bastante para despedaçar o oponente.

Asterion deu um sorriso no canto de boca.

— Treinamento não tem a ver com patente, Jake. Tem a ver com conhecimento e capacidade de ensinar. Um mestre é um facilitador. Nós ensinamos vocês a despertar e controlar o cosmo, estilos de luta, anatomia humana, treinamento físico rigoroso e etc. Se o discípulo vai se tornar mais ou menos poderoso que o seu mestre, isso é apenas um detalhe que vai depender do discípulo. Se o discípulo vai aprimorar o que aprendeu e superar o mestre em todos os quesitos, isso depende unicamente do empenho dele. — respondeu Asterion. — Não sou do nível de um Cavaleiro de Ouro e tão pouco me aproximo disso. Passei quinze anos afastado do Santuário e o máximo que eu fiz foi trabalhar a minha mente, a qual se tornou poderosa suficiente até mesmo para romper barreira psíquicas de um dourado, caso eu queira. Não me subestime, rapaz. E sobre Ápis... Aqueles que dominam o sétimo sentido e se tornam Cavaleiros de Ouro já nascem destinados a isso. São prodígios com destino traçados. São joias brutas que apenas precisam ser um pouco lapidadas. A ferramenta que lapida uma joia, não é mais resistente que ela. E a dureza da joia é mérito dela própria, e não de quem a lapidou. Agora descanse. Qualquer coisa é só me chamar. Vamos Plancius!

—...—


Salão do Grande Mestre – Santuário – Manhã do 2º dia

Minutos depois do deus do medo ter chegado no Santuário após trazer uma frota marinha russa para a Grécia, Anteros, o deus da manipulação e da separação, chegou de Bluegraad acompanhado de Lycaon, trazendo as informações sobre Atlântida.

Ares, sentado no trono acompanhado por Dionísio a sua direita, ouvia de Anteros, que estava em pé na sua frente entre Phobos e Deimos, o relatório sobre o país marinho.

— De acordo com as informações coletadas, existe inúmeras passagens que levam até Atlântida, mas a maioria foi selada para evitar contato do meio externo com o país marinho. Uma das poucas que restaram fica no leste da Sibéria, e é através dessa passagem que o povo de Bluegraad vigia Atlântida, e mantem o Santuário atualizado. — explicou Anteros. — Contudo, é inviável irmos para o leste da Sibéria. Até as condições climáticas seria obstáculo. Por isso pesquisei por rotas mais convenientes e a nossa melhor opção é usarmos a passagem de Gilbratar, que é a mais próxima. É um estreito do mar mediterrâneo que fica entre a Espanha e o Marrocos e desemborca no Atlântico norte.

Ares se levantou e caminhou até a grande mesa posta no centro do Salão para olhar o mapa. Anteros e os demais deuses o seguiram. O deus da manipulação colocou uma peça de navio em cima do estreito.

— Exatamente nesse ponto. A passagem dimensional está selada há séculos, mas entre os registros encontrei um meio de abri-la. Essa passagem está trancada por “fora”. É a passagem mais próxima do Templo de Poseidon no Mar Mediterrâneo e é a que geralmente é usada por eles para irem até Atlântida.

— Como assim “passagem”? — perguntou Deimos.

— Atlântida não foi apenas afundada e levada para as profundezas do oceano. Atlântida está do outro lado do “véu”. É assim como eles chamam. Uma espécie de dimensão. Atravessando qualquer uma dessas passagens existentes, somos levados para o outro lado do “véu”, onde a mitologia marinha ainda vive, e de forma forte. Seria a parte selvagem do oceano. Lá os continentes praticamente não existem. O que tem são algumas porções de terra que podemos chamar de ilhas. Tudo é tomado por água. Os sete oceanos são interligados. É uma grande fortaleza.

— Então se passarmos pela passagem do Estreito Gilbratar, vamos sair do outro lado do “véu”? — perguntou Ares

— Exatamente, meu senhor.

— Existe uma frota de navios russos ancorados no cais. Dezenas deles. Por acaso tem como mover toda essa frota? — perguntou Phobos.

Anteros abriu o grosso livro que ele trazia nas mãos e parou em uma página que tinha o mapa do Estreito de Gilbratar e um texto em letras gregas para abrir o portal.

— Os navios teriam que ir enfileirados, e a passagem demora algumas horas para ser aberta. — disse o deus. — É um pouco complexa. Se começarmos agora, conseguiremos abrir a passagem em pleno meio dia para darmos início a viagem.

— E o que vamos encontrar do outro lado? — perguntou Ares.

— Se o Oceano do Atlântico norte já é conhecido por ser violento para os humanos, acredito que do outro lado do “véu” as águas sejam tão turbulentas quanto possamos imaginar. E ao chegar lá é que a parte mais difícil disso tudo irá começar. Invadir Atlântida. Para chegarmos na parte profunda da fenda onde o reino de Poseidon se esconde, os berserkers e soldados terão que ter proteção divina para que tenham a capacidade de respirar debaixo da água, e chegar inteiros lá sem que a pressão do fundo do oceano esmague eles. Para isso existe... — Anteros folheou mais algumas páginas e parou em uma página que trazia uma espécie de símbolo que lembrava o tridente de Poseidon, e embaixo do símbolo havia algumas palavras em grego antigo. — Uma marca antiga que dá ao seu portador essa capacidade. Contudo, essa marca deve se forjada a partir do sangue de um deus e ela deverá ser marcada na pele de cada soldado.

— Então não vamos perder tempo aqui. — disse Deimos.

— Espere um momento... — disse Ares. — E o exército de Atlântida? Como ele está dividido para uma possível invasão?

Anteros tirou três folhas soltas que ele trazia dentro do livro e entregou a Ares. Cada uma com informações a respeito dos três grandes líderes militares. 

— Atlântida é um país dividido em três distritos, e o seu exército também se dividi em três. Cada um pertencendo a um distrito, onde são regidos com total autonomia. Juntos eles formam a Força Imperial Atlantis. O primeiro distrito é liderado por um Almirante chamado Moshchnost de Leviatã. Pelos registros ele é um dos habitantes mais velho entre os Atlantis, tendo mais de quinhentos anos. O segundo distrito é liderado por uma Almirante chamada Cunning de Caribdis. Os registros destacam ela como uma audaciosa e estratégica marina. O terceiro distrito é liderado por um homem chamado Sehrli de Hipocampo, mestre dos poderes ocultos do fundo do mar. Cada um deles possui um vasto exército.

— Teremos que ir com força total. Sem poupar esforços. — disse Ares. — Deimos, chame todos os berserkers do seu batalhão. Draco e Éris também irão comigo. Anteros! Faça os preparativos necessários. A passagem deverá estar aberta quando a frota chegar no estreito. 

—...—


Atlântida — Quartel General da Inteligência Imperial, 2º distrito — Manhã do 2º dia

A sala de reunião tinha formato retangular e suas paredes, de pedras azul marinho, eram cobertas por livros enfileirados e o teto era sustentado por grossas colunas cobertas de corais coloridos. A grande mesa no centro do salão estava ocupada por almirantes, maior posto na hierarquia de Atlântida, capitães, tenentes e alguns marinas secundários. Na cabeceira da mesa estava Tritão, o filho de Poseidon. Depois de se encontrar com a deusa Anfitrite, sua mãe e também atual regente de Atlântida, Tritão se dirigiu ao Quartel General no segundo distrito, onde os Almirantes e outros líderes do exército marinho estavam reunidos.

— Atlântida já está sob estado de alerta de guerra. Não queríamos deixar a população em pânico, mas concluímos que seria pior caso eles descobrissem por conta própria — disse uma mulher. Seus cabelos loiros esverdeados eram longos, mas estavam amarrados no alto de sua cabeça de forma que pareciam ser curtos. Seus olhos eram azuis e brilhantes. Tão brilhantes quanto a escama azul que ela vestia. O traje de um almirante. — Emiti um pedido para que os habitantes dos três distritos fossem urgentemente evacuados para locais seguros, como esconderijos nas fendas profundas do mar, dando prioridade para as crianças, jovens menores de dezesseis anos, mulheres grávidas e idosos. Aos homens que haviam se alistado ao exército, mas que foram dispensados por algumas questões, ordenei que fossem recrutados seguindo a vontade de servir ao país. Caberá a eles proteger seus respectivos distritos com o auxílio de alguns oficiais do exército. Com isso temos oitenta e quatro por cento do exército disponível para a guerra.

— Almirante Cunning, essa sua porcentagem se trata apenas de soldados rasos ou inclui também os marinas, comandantes e tenentes? — perguntou o outro almirante.

Um homem de idade um pouco mais avançada, de barba longa e cabelos ruivos, mas com fios grisalhos, e olhos dourados. Difícil dizer quantos anos ele tinha, pois os Atlantis podem viver por mais de cem anos, mas se fosse enquadra-lo em uma faixa de idade terrestre de humanos comuns, ele teria a aparência de um homem entre setenta e oitenta anos.

— Inclui todo o exército disponível, senhor Moshchnost. Sem exceção de hierarquia. — respondeu Cunning, almirante do segundo distrito. — Inclui até mesmo nós, Almirantes.

— Não é um número ruim para uma guerra. — disse Tritão, olhando para o mapa na mesa. — Duvido que Ares vá usar todo seu exército contra nós. Provavelmente será um dos seus batalhões, e até onde sei ele possui apenas dois. Cada um liderado por um dos seus filhos. Phobos e Deimos.

— Isso com certeza nos dará vantagem em números... — disse um homem que estava sentado à direita de Moshchnost. No ombro do seu uniforme militar havia quatro faixas douradas, o que sinalizava que ele era o Capitão de Mar-e-guerra do Primeiro DistritoDe expressão dura e olhar frio, seus cabelos azul-escuros eram curtos na lateral e compridos atrás. Seu porte físico era forte e seu tamanho se destacava entre os demais. — Mas talvez tenhamos complicações. E devo dizer que o exército falhou em não ocupar Bluegraad como eu havia aconselhado na reunião anterior.

Tritão olhou confuso.

— Do que está falando, Capitão Nasile?

— Dois dias atrás, quando recebemos a lança de Ares em nosso território, enviei ao Almirante Moshchnost, que logo em seguida enviou ao Congresso, um relatório sobre informações externas a respeito de Atlântida que poderiam cair nas mãos de Ares. Sendo mais especifico senhor, estou me referindo a Bluegraad.

— E qual foi a resposta do congresso? — perguntou o deus

— Eles negaram o pedido e ainda apontaram como “desnecessário” a ida para a superfície, com interferência significativa, por causa dessa situação. Mesmo eu colocando o assunto como “urgente”. — existia uma pontada de reprovação nas palavras de Nasile. — Recorri ao Supremo Tribunal do Império, mas o pedido foi novamente negado por maioria dos votos. Pensei em recorrer ao Trono, mas foi justamente quando o senhor chegou a Atlântida e essa reunião foi solicitada.

— Mas antes de virmos para cá, antes da sua convocação majestade, o Almirante Sehrli julgou que o Congresso e o Supremo foram imprudentes, e então enviou o Primeiro Tenente do Terceiro distrito para Bluegraad, em missão de urgência. Desobedecendo as ordens do Supremo e do Congresso. — disse o Capitão de Mar-e-Guerra do Terceiro distrito. Um homem de cabelo curto castanho e olhos lilás. — Mas o tenente ainda não retornou.

— E onde está o Almirante Sehrli? — perguntou Tritão.

— Ele não disse para onde estava indo. — respondeu o capitão. — Apenas informou que recebeu um chamado, mas que voltaria a tempo, antes da reunião terminar.

Tritão enrugou o cenho.

— Um chamado?!

— Majestade, pode parecer estranho, mas o Almirante Sehrli é de total confiança. — disse a Almirante Cunning. — Não precisa se preocupar com ele. A nossa única preocupação agora deve ser a rota que Ares irá tomar.

— Em relação a isso, minha senhora... — Um jovem, Capitão de Mar-e-Guerra do segundo distrito, que estava sentado ao lado de Cunning, se levantou e estendeu a mão para o mapa, movendo as peças com telepatia e sinalizando as mais prováveis rotas. Ele parecia ser o mais novo entre as altas patentes. Seu curto cabelo azul claro era enfeitado com correntes de pérolas e seus olhos azuis pareciam ser puros demais para um Capitão. — Recebemos a informação de que uma frota de navios partiu da Russia indo em direção a Grécia, conduzidos pelo deus do medo e filho de Ares, o deus Phobos. O primeiro tenente do segundo distrito ordenou que a missão fosse apenas de reconhecimento, sem qualquer atuação direta com a superfície. Mas não sabemos qual caminho os navios de Ares irão tomar.

— Se Ares usará navios, então isso quer dizer que ele sabe como nos encontrar. — disse o Capitão Nasile. — Isso só pode significar que eles estiveram em Bluegraad e agora sabem todos os caminhos e passagens. Se o Congresso e o Supremo tivessem me ouvido... — O capitão não escondia a raiva que estava sentindo. — Aqueles desgraçados jamais saberiam como chegar até aqui.

— Tem razão. — disse o Capitão do segundo distrito. — E Ares não será tolo ao ponto de nós atacar vindo por uma rota qualquer no mar mediterrâneo.

— Sim Capitão Schönheit, mas somos nós que governamos os mares e oceanos. Um deus da guerra não terá vantagem em nosso próprio domínio. Se não pudermos interceptar Ares ainda em seu navio, ao chegar em Atlântida a nossa derrota será inevitável. — rebateu Tritão.

O silêncio tomou conta da reunião. A mesa estava revirada com mapas e rotas que levam até Atlântida. Papeis se acumulavam espalhados, e os olhos vidrados dos marinas e almirantes percorriam a grande mesa a procura de uma solução.

— São muitas rotas até Atlântida. — Concluiu a almirante, encostando-se em sua cadeira. — Deveríamos interceptar todas elas, mas precisaríamos de um grande número de marinas e criaturas marinhas para isso.

— Isso iria deixar Atlântida vulnerável. — sinalizou Moshchnost. — Iriamos estar dividindo todo o nosso exército. Precisamos descobrir qual caminho Ares irá tomar, qual oceano ele irá escolher para chegar até nós, mas esse tipo de informação só teremos quando ele já estiver a caminho. Então só nos resta deixar que ele venha, e então atacaremos.

— Se pelo menos tivéssemos os setes generais reunidos... — disse um dos marinas, que silenciosamente acompanhavam seus superiores debatendo. — Talvez tivéssemos uma chance maior de vigiar os setes oceanos e...

— Não precisamos dos Generais! — disse o almirante irritado, dando um soco na mesa. — Os Generais foram humilhados e derrotados, jogando no abismo toda honra do nosso exército. Tamanha foi a vergonha, que as escamas ainda continuam sem novos donos, mesmo em um momento crucial como esse!!

"Está enganado!" — a voz veio do outro lado da grande porta do salão. — "Nós estamos aqui!"

A porta foi aberta e um homem passou por ela, seguido por mais quatro pessoas. Alguns estavam vestindo escamas douradas. Tritão e os demais na mesa se levantaram surpresos. O homem que parecia liderar o grupo, tinha uma aparência suave, elegante e delicada, cabelos lilás e olhos afiados num tom rosa escuro.

— Impossível!! — disse Moshchnost, incrédulo. — Essa é a escama de Sirene... Você é...

— O bruxo do mar... Sorento de Sirene. — disse Sorento, se apresentando e fazendo reverência para Tritão. — O Almirante por acaso quer repetir mais uma vez, mas agora na minha frente, o que acabou de gritar na reunião?! Meus companheiros e eu lutamos com total empenho para honrar a vontade do nosso Imperador Poseidon. Não tínhamos ideia de que tinha alguém manipulando tudo. Por isso, não vou tolerar insultos aos meus companheiros.

— Isso é o que dá colocar crianças para lutar. — rebateu Moshchnost com arrogância.

Sorento ia lhe dar uma resposta, mas um homem colocou a mão em seu ombro e sorriu balançando a cabeça, pedindo para que Sorento não prolongasse a discursão.

— Senhor Moshchnost, controle sua sábia e ferina língua. Estamos diante de Vossa Majestade. — disse o Almirante Sehrli, se afastando do grupo de Sorento. Sua aparência era formidável. Sua pele era tão negra quanto o ébano e era marcada por vários símbolos azuis cintilantes do pescoço para baixo, e seus olhos dourados brilhavam como ouro. Sua cabeça estava coberta por um turbante dourado e poucos fios de seu cabelo platinado ficavam a mostra. Ele estava trajando uma escama azul claro e havia um manto branco preso em seu ombro e caindo em suas costas. — Senhor Tritão, desculpe-me pela minha ausência na reunião e por não avisa-lo para onde eu havia ido. Meu nome é Sehrli, Almirante do Terceiro distrito e mestre dos poderes ocultos do fundo do mar.

 Seu capitão me disse que você recebeu um chamado. Esse chamado teve a ver com Generais? — perguntou Tritão, olhando para Sorento e os outros.

— A batida do Tridente do Imperador do Mares que o senhor provocou, chegou até o nosso Senhor Poseidon, e sua vontade uma vez mais se manifestou mesmo estando dentro da ânfora. Algumas escamas vieram do Mar Mediterrâneo para vestir seus novos Generais, escolhidos por elas mesmas aqui em Atlântida, seguindo o desejo do nosso Imperador. Incluindo até mesmo um antigo general, como o Senhor Sorento, e também... — Sehrli se afastou e deu espaço para um homem passar. — Um dos herdeiros do trono.

Ele estava vestindo a escama de Chrysaor e trazia a lança dourada na mão. Seus cabelos eram longos e verdes, seus olhos eram dourados e em formato de fenda, como olhos de serpente, e seu porte físico era de guerreiro forte.

— Olá irmão. — disse.

— Chry- Chrysaor?!! — Tritão falou surpreso.

O deus sorriu e abriu os braços.

— O nosso pai me convocou, e me enviou a escama que ele fez em homenagem a mim. Como você acha que eu devo me chamar agora? Chrysaor de Chrysaor? — brincou o deus. — Vim para lhe apoiar nessa guerra, irmão. E então, qual foi a decisão tomada?

— É justamente isso que estamos discutindo. — respondeu Tritão. — Estamos debatendo se vale a pena dividir o exército para bloquear todas as passagens, já que pelo visto Ares está ciente dos caminhos e passagens que ligam o mundo dos humanos ao nosso.

— E como ele teria acesso a esse tipo de informação? — perguntou Chrysaor

— Bluegraad. — respondeu Sehrli. — O Capitão Nasile desconfiou dessa possibilidade, mas só hoje pude enviar o meu primeiro tenente até lá. Ele ainda não retornou, mas se as suspeitas de que Ares tem conhecimento das rotas existe, não tenho dúvidas de que as garras de Ares chegaram em Bluegraad.

— Se tudo isso tivesse sido debatido antes, talvez fosse uma atitude eficiente, mas agora... Creio que não temos tempo. — disse Sorento.

— Então você acha que a proposta de Moshchnost seja a mais prudente, General? — perguntou Tritão.

— Desculpa senhor, mas não ouvi a ideia do Almirante.

— A minha proposta, General, é a de acompanhar o caminho que Ares irá tomar, qual oceano ele irá escolher para chegar até nós. Até lá precisamos ficar preparados para o ataque.

Sorento encarou Moshchnost por alguns segundos e em seguida balançou a cabeça, concordando.

— Tem razão. Duvido que Ares moverá toda sua frota para o Ártico. Para Bluegraad. Caso contrário ele não se esforçaria para coletar informações de lá. Os navios irão partir da Grécia, mas as passagens mais próximas que continuam abertas são as do Oceano Atlântico norte, Atlântico Sul, Antártico e Índico. São todas as possíveis rotas que ele poderá tomar. Não foi à toa que os Generais escolhidos pelo Imperador Poseidon são os “guardiões” desses respectivos oceanos. — disse Sorento.

— Compreendo. — disse Tritão, se afastando da mesa. — Moshchnost, precisarei de toda sua experiência. Seu distrito ficará responsável inicialmente por liderar o exército. Reúna todos os batalhões e os organize. Cunning, trace as melhores estratégias de campo e rotas que estiver ao nosso alcance baseando-se nas possíveis rotas que Ares poderá tomar. Até mesmo a mais improvável de todas e que ainda assim está ao seu alcance. Não vamos subestima-lo. Na medida em que Ares for avançando, descarte as estratégias até chegar naquela que for de maior probabilidade. Será para essa rota que enviaremos dois terços do exército. Sehrli, invoque as criaturas marinhas e envie o monstro Caribdes para fazer a defesa territorial. Não poupe esforços para canalizar o máximo que puder da força dos oceanos. — Tritão mirou seus olhos verdes para os generais. — Irmão, você irá comigo. Precisarei da sua lança e de sua habilidade como guerreiro. Sorento, Dragão-Marinho e Lymnades... Quando Cunning descobrir qual Oceano Ares usará como rota, quero que o General do respectivo oceano tome a frente e lidere tudo. Usando toda estratégia e força necessária.

— Senhor Tritão, o senhor acha prudente entregar todo o seu exército na mão desses novos Generais? — Questionou o Capitão Nasile. — Não acha mais prudente o Senhor Chrysaor junto com Vossa Majestade nos liderar? O General Sorento até possui conhecimento a respeito sobre Guerra Santa, mas e os Generais Dragão-Marinho e Lymnades? Não passam de escolhidos que se quer participaram de uma guerra.

— Nasile!! — chamou Moshchnost. — Quieto!!

— Está dizendo que não tenho capacidade para lidera-lo, capitão? — perguntou Dragão-Marinho, retirando o elmo de sua cabeça e revelando uma formosa mulher de longos cabelos verde escuro e olhos azuis. — Meu nome é Agave. Umas das nereidas que serve ao Palácio e que faz a guarda pessoal de Vossa Majestade Anfitrite. Estudei e treinei no primeiro distrito assim como você, e fui escolhida a dedo pelo Palácio e treinada lá para servir diretamente ao trono.

Lymnades também removeu seu elmo, revelando um homem de longos cabelos rosa e olhos dourados.

— Meu nome é Bedra, sétimo filho do antigo Capitão de Mar-e-Guerra do segundo distrito. Formado na Academia Marinha do terceiro distrito e discípulo do Senhor Sehrli.

— Ainda quer questionar alguma coisa, Capitão? — perguntou Tritão. — A vontade do Imperador Poseidon é absoluta. Nenhuma escama escolhe um General sem ter conhecimento das habilidades e capacidade do seu usuário. E como vem sendo feito desde a era mitológica, os Generais irão lidera-los quando a guerra começar. Os almirantes e seus oficiais devem auxilia-los.

— Sim senhor!! — disse o capitão se curvando.

—...—


Referências: O nome dos guerreiros marinas indicam sua personalidade ou traços físicos:

* Moshchnost (мощность) — Almirante do 1º distrito — Seu nome significa Poder em russo.
* Nasile (насилие) — Capitão de Mar-e-Guerra do 1º distrito — Seu nome significa Violência em búlgaro
* Cunning — Almirante do 2º distrito — Seu nome significa Audácia em inglês/EUA
* Schönheit — Capitão de Mar-e-Guerra do 2º distrito — Seu nome significa Beleza em Alemão
* Sehrli — Almirante do 3º distrito — Seu nome significa magia em Azerbaijano
* Agave — General Marina de Dragão-Marinho — De acordo com a Mitologia Grega, é o nome de umas nereidas filhas de Nereu, deus marinho primitivo também conhecido como "Velhor mar".
* Bedra — General Marina de Lymnades — Seu nome significa Iludir em sueco. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Grupo da fanfic no facebook: https://www.facebook.com/g roups/562898237189198/

Nesse grupo você acompanha o lançamento dos capítulos e ainda tem acesso ao perfil e histórico de alguns cavaleiros.

Contato: 81 97553813

Próximo capítulo: Capítulo 52 — Atlântida: A sinfonia final da morte!
Sinopse: indefinida.
Data de publicação: indefinida

Oi oi gente ^^ 70 dias para sair um capítulo novo, eu sei que demorou, mas esse primeiro semestre do ano foi muito puxado na faculdade e quase não tive tempo e nem disposição pra escrever. Também tive que estudar bastante sobre hierarquia marinha, comandos de guerra, ambientação de guerra, mitologia marinha e ainda reli os outros capítulos para evitar furos e pontas soltas.
Espero ter um bom resultado.

A sua critica é sempre bem vinda e fundamental para a história. Adoro quando vocês comentam aqui no site, quando falam comigo no chat ou quando escrevem uma recomendação sobre a fic. Me animo bastante para escrever mais quando leio essas coisas. O comentário de vocês é o que incentiva a continuação e as melhorias da fanfic.

Beijos e abraços. Vejo vocês no próximo capítulo, com direito a um famoso bruxo do mar lutando e provavelmente a morte de um querido gold. Ops! Spoiler!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Saga de Ares - Santuário de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.