A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 47
Capítulo 44 - Planos de Guerra


Notas iniciais do capítulo

Ares, que agora é o novo deus regente da Terra, declarou guerra a Atlântida, iniciando a expansão da sua ambição. Ares pretende exterminar todos aqueles que ainda resistem apoiando Atena e que se levantam contra ele e sua autoridade. Para provar a sua intolerância, Ares ordena que Ênio, deusa da carnificina, marche contra Senkyou e que Éris, deusa da discórdia, reduza a cinzas a França e o representante de Vouivre, guardião da Europa, espalhando caos, violência, sangue e morte.
Na Dinamarca, Shina segue a última ordem deixada pelo Grande Mestre. Encontrar um antigo “cão” do Santuário.



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Capítulo 44 - Planos de Guerra


Palácio Valhalla – Asgard – 1º dia após Seiya passar pela Porta da Morte

Asgard é um país situado no extremo norte da Europa e é governado pela Sacerdotisa de Odin, Hilda de Polaris. O país também é lar dos deuses nórdicos e junto com o Santuário de Atena, divide o mundo em dois. É dever de Asgard, ou melhor, da Sacerdotisa de Odin manter os polos Norte e Sul congelado afim de evitar uma inundação mundial.

Nos últimos anos Asgard vem sendo palco de alguns conflitos. O primeiro ocorreu quando Poseidon, o deus do mar, deu a Hilda o anel de Nibelungo e a controlou, fazendo com que Asgard declara-se guerra ao Santuário de Atena. O segundo conflito ocorreu quinze anos depois, quando os olhos ambiciosos de Ares almejaram a sagrada terra do norte.

Atualmente Asgard se recupera da batalha contra os berserkers de Ares, que deixaram profundas cicatrizes no país. Casas foram incendiadas, plantações foram destruídas, ruas foram totalmente varridas pelo poder esmagador da batalha e centenas de pessoas morreram. Corpos ficaram enfileirados no pátio do Palácio Valhalla enquanto os familiares e amigos choravam lamentando a perda. Quase um mês se passou desde o ocorrido, mas o estado de alerta continua.  

— Tenho que voltar para Grécia. Preciso estar lá quando Atena voltar. — disse Hyoga, sentado na cama.

Diante dele estavam Hilda, Freya e Eos, deusa da Aurora, acompanhadas por duas criadas do palácio.

— Mas você... Você não pode ir. — disse Hilda.

Hyoga franziu a testa.

— Por que não?

— Porquê você vai morrer se fizer isso. — respondeu Eos, friamente. — Precisamos conversar a respeito dessa maldição que Éris colocou no seu coração. Infelizmente você... está sentenciado a morte, Hyoga.

A maldição foi posta pela deusa da discórdia durante a batalha entre ela e Hyoga na Sibéria. Espinhos negros se enrolaram no coração de Hyoga e cada vez que ele se voltar contra um deus, esses espinhos vão apertar o seu coração.

Instantaneamente Hyoga levou a mão ao peito. Ele lembrou das palavras de Éris dizendo “Essa maldição só vai desaparecer com a sua morte, a qual será lenta e agonizante, ou com o perdão de algum deus a quem tenha blasfemado.”

— Já esperava por isso. — disse ele. — Senti os espinhos me apertando enquanto enfrentava Draco e os berserkers.

— Mas deve ter algum meio de remover, não é? — perguntou Freya, um pouco aflita.

Eos abaixou a cabeça e apertou as mãos. As condições dadas por Éris foram bem claras. Perdão ou morte, mas nenhum deus que Hyoga já tenha enfrentado o perdoaria.

— Não, não acho que tenha, mas não tem problema. — respondeu Hyoga. — A maldição não mudou a minha vida, em nada. A vida de um cavaleiro já está sentenciada a uma morte prematura a partir do momento que somos consagrados como cavaleiros. Quando vamos para a batalha a única que certeza que nós temos é que podemos morrer lutando, mas sempre lutamos para não morrer. A maldição apenas me lembra do quanto o fim está próximo. Do quanto... — ele olhou para a mão e a fechou. — Sou mortal. Sei que a maioria dos cavaleiros não vivem muito e é por isso que não construímos família. — Hyoga se levantou e caminhou até a janela. A vista dava para o pátio principal do palácio. — Homens mais poderosos que eu morreram em batalha.

Freya abaixou a cabeça. Ela não sabia o que dizer. Hyoga um dia a salvou e agora ela se via na necessidade de também salva-lo, mas se sentia incapaz.

— Falando assim parece até que você está desistindo de viver. — disse Freya. — Todo mundo está sentenciado a morte, mas não é por isso que vamos nos entregar a ela.

— Freya tem razão. — concordou Hilda. — Você não pode falar assim. Soube que Seiya também sofreu com uma maldição, mas foi curado.

Hyoga soltou o ar relaxou os ombros.

— Não estou desistindo de viver. Apenas sendo realista e não criando falsas esperanças. Asclépio curou Seiya, é verdade, mas isso teve um preço muito alto e hoje Asclépio é caçado pelo próprio pai, o qual é o atual Senhor do Olimpo. — respondeu ele, sem tirar os olhos da janela. — Não vou pedir o mesmo esforço a ele. De maneira alguma. — Hyoga levou a mão ao peito e segurou a cruz do norte que ele carrega pendurado em um colar. — Quando a hora chegar... Estou disposto a queimar a minha vida até o meu último suspiro. Espero pelo menos fazer isso ao lado dos meus amigos na batalha que se aproxima.

A porta do quarto se abriu e um soldado estava parado na entrada.

— Senhorita Hilda, perdoe-me pelo incomodo, mas o Senhor Alberich pediu para lhe lembrar da reunião com ele e os chefes de família.

— Já estou indo. Obrigada. — Hilda olhou para Hyoga. — Hyoga! Fique o tempo que for necessário no palácio. Se recupere dos seus ferimentos. Estou disposta a ajudar no que for necessário.

Hyoga assentiu com um aceno.

— Obrigado Hilda.

Hilda e Freya se retiraram acompanhadas das criadas, deixando Hyoga acompanhado de Eos. Hyoga olhou para trás e viu que a deusa permanecia em pé olhando para ele.

— Você ainda está ai. Por que você me salvou?

— Você fala isso como se fosse a primeira vez que eu o salvasse. — respondeu Eos. Hyoga franziu a testa, confuso. — Você tinha mais ou menos seis anos quando o navio em que você e sua mãe estavam começou a afundar. Eu não cheguei a tempo de impedir o acidente, mas eu o vi chorando no barco de borracha. Gritando pela sua mãe. — Eos caminhou até Hyoga e parou diante dele, encantada com os olhos azuis. Hyoga era tão alto que ela precisava levantar a cabeça para olhar nos seus olhos. Eos encostou a mão no peito de Hyoga. Sentia o coração dele batendo forte e o calor da vida irradiando. — Naquele dia seu coração batia tão rápido. Eu o acolhi em meus braços e você dormiu.

Rápidas lembranças passaram pela cabeça de Hyoga. Ele lembrava de uma mulher o acalmando naquele dia. Lembrava que ela tinha cabelos dourados, como de sua mãe, mas não conseguia lembrar do rosto daquela mulher.

— Por ironia do destino você voltou a Sibéria para treinar e se tornou um cavaleiro. Passei a acompanhar o seu desempenho. Todos os dias. Vi cada ferimento seu cicatrizar. E olhe só para você agora... — as mãos de Eos tocaram no rosto de Hyoga. — Está um homem belo e forte. Com um olhar firme e um espirito de luta poderoso, mesmo sabendo que carrega uma maldição no peito.

— Eu... — Ele perdeu a fala.

O toque de Eos era suave e Hyoga podia sentir um cheiro doce, agradável e inebriante. Como o aroma exalado por um jardim de tulipas pela manhã. Os olhos da deusa também eram encantadores. Ele não conseguia parar de olhar para ela. O sorriso, a macies do cabelo, a pele limpa e clara. Tudo. Cada traço dela lhe encantava.

Institivamente ele passou o braço por trás de Eos e posicionou e mão em sua cintura, puxando a deusa para perto do seu corpo. O encontro dos seus corpos provocou um calafrio em Hyoga. Uma sensação agradável que só fez aumentar o desejo de tê-la ainda mais perto e por mais tempo. Ele não entendia porque estava sentindo aquela forte atração por ela. Eos era linda, mas havia algo a mais nela. Ele pensava no porquê de estar fazendo aquilo, o porquê de estar tocando naquele daquele jeito, mas em seguida esse pensamento sumia como fumaça. Quanto mais ele questionava suas ações, mas rápido os pensamentos se dissolviam e maior se tornava o seu desejo por ela.

Mas não era apenas ele que estava sentindo aquela repentina atração. Eos também estava e sentia um forte desejo de possuí-lo. Sentia cada célula do seu corpo pedindo pelo calor de Hyoga. A deusa passeou com os dedos alisando o rosto dele até chegar em seus lábios e depois esticou os braços envolvendo o pescoço dele e o puxando em direção a ela. Olhos nos olhos e a boca a poucos centímetros de distância. A respiração já estava ofegante e o coração de ambos batia tão forte que podiam sentir o batimento do outro. Ela o beijou. E ele respondeu ao beijo.

A barba dele roçava no rosto dela enquanto os braços fortes envolviam o corpo dela puxando-a para perto e as mãos passeavam pelas suas curvas. Eos segurou firme na camisa dele puxando-o ainda mais e com a outra mão segurava no braço dele, sentindo os músculos contraindo enquanto a abraçava. Eles caminharam até a cama e se deitaram, ainda se beijando.

Ele caiu por cima dela ainda abraçados. A temperatura do quarto era fria mesmo com as portas e janelas trancadas, mas o calor que emanava do corpo dele espantava todo o frio e a fazia suar. Ela desabotoou a camisa dele e ele a tirou, revelando um corpo marcado com finas cicatrizes, abdômen definido e músculos rígidos e fortes. Era o corpo de um homem que parecia ter passado anos em uma academia, mas ela sabia que aquele era um corpo de um guerreiro que treinava dia e noite e não de um homem vaidoso. A masculinidade exalada dele junto com seu suor. Ela explorou cada parte do corpo de Hyoga, sentindo cada músculo se contraindo, enquanto ele a beijava intensamente. Sem gentileza.

Ele deslizou o vestido dela pelo ombro e desceu até a cintura. Ela usava nada por baixo. Havia apenas o corpo belo e natural de uma mulher, com seios fartos e pele limpa, sem qualquer marca. Ela o ajudou a tirar o vestido e ele tirou o resto de sua própria roupa. Agora nus, como estaria Adão e Eva segundo as sagradas escrituras cristãs, eles se entregaram, um ao outro, no prazer de ter para si o corpo do outro. Os lábios de Hyoga deslizaram delicadamente para o pescoço de deusa, depois para o espaço entre os seios, depois para a barriga e cada vez mais baixo, percorrendo todo o corpo dela. Eos segurou nos lençóis e abriu a boca em um gemido mudo, saindo apenas uma respiração ofegante. Ela segurou nos cabelos de Hyoga e o puxou para cima dela.

Agora seus corpos se movimentavam freneticamente. Cada gota de suor que se formava entre seus corpos; Os cabelos grudados na testa molhadas de suor; Os gemidos suaves; Os sussurros de prazer; As unhas de Eos marcando as costas de Hyoga; Era um frenesi inimaginável. E assim continuaram por quase uma hora, até que desabaram exaustos e molhados.

—...—


Grécia – Santuário – Salão do Grande Mestre – 1º dia após Seiya passar pela Porta da Morte

A grande mesa estava novamente no centro do salão, mas agora sem aquelas papeladas dos relatórios de Phobos. Ele reduziu todos os relatos e informações junto com Anteros para poucos papeis compilados. Agora na mesa havia um imenso mapa que tomava todo espaço, mas não era igual aos mapas comuns que tem ilustrados nos livros das escolas. Era um mapa marcado com todos os Templos e Santuários que existem espalhados pelo mundo, nações não governamentais, regiões com dimensão paralela e controladas por outros deuses e seus representantes e outros locais sagrados.

Ares havia marcado uma reunião com os deuses aliados e líderes do seu exército. Ao redor da mesa estavam os berserkers líderes dos exércitos de Phobos e Deimos, Kydoimos representando os espíritos da guerra e os deuses, com exceção de Afrodite, Ares, Dionísio e Oberon, o qual estava se preparando para ir ao Tártaro. Enquanto Ares não chegava, eles olhavam para o mapa e discutiam quais deveriam ser os próximos passos. Além de Atlantida, outros reinos também estavam marcados como alvo. Os locais onde já havia grupos de berserker era representado por pequenas peças negras semelhantes a peças de peão de um jogo de xadrez.

Uma das portas laterais do salão estralou e se abriu. Ares entrou acompanhado por Dionísio.

— E então... — Ares ficou em pé na cabeceira da mesa e olhou para o mapa. — Já pensaram em como vamos chegar até o Templo de Poseidon?

— Senhor Ares, temos algumas dúvidas. — disse Anteros.

Ares olhou para ele erguendo a sobrancelha.

— E quais seriam?

— Há quinze anos atrás Atena e seus cavaleiros travaram uma Guerra Santa contra Poseidon. No final da batalha o deus dos mares foi novamente selado dentro da ânfora e hoje está em sono profundo até os próximos duzentos anos ou mais. — explicou Anteros. — O templo de Poseidon que fica aqui... — ele apontou no mapa para o símbolo de um tridente no meio do mar próximo a Grécia. — No Mar Mediterrâneo, perdeu seus pilares e foi tomado pelas águas. Não passa de um templo em ruinas. Então que interesse o senhor teria por um templo assim?

— O meu interesse não é por esse templo, mas sim por aquele... — Ares apontou para outro símbolo de tridente marcado no Oceano Atlântico Norte. — Poseidon possui três templos. Um no Mar mediterrâneo, que é chamado de “Nova Atlântida”. Outro dizem que fica no Oceano Atlântico Norte, que é antiga e famosa Atlântida. Já o terceiro... é um mistério. Nunca foi revelado o paradeiro dele e muito menos o que existe lá. Alguns rumores contam que lá é um templo abandonado usado por Poseidon na era mitológica. Antes mesmo dele construir Atlântida. Outros dizem que é onde o velho corpo de Poseidon é mantido, mas acho que seja mentira. Poseidon não é vaidoso como Hades.

— Mas Atlântida não foi destruída na era mitológica na primeira guerra santa entre Atena e Poseidon? — perguntou Phobos. — Segundo os registros, oito Cavaleiros de Ouro desceram até lá e destruíram tudo. A cidade foi completamente tomada pelas águas, matando todas as pessoas que moravam na cidade, e afundou no Oceano. Dai veio a necessidade de Poseidon construir o Templo do Mar Mediterrâneo. 

Dionísio sorriu.

— Não acha isso um pouco incoerente? Os habitantes de Atlântida morrerem afogados? 

Phobos franziu a testa.

— Como?!

— Existe uma parte da história, sobre essa primeira guerra santa, a qual os registros não contam e poucos sabem a respeito. É verdade que os Marinas foram derrotados e a cidade foi tomada pelas águas logo após Poseidon ser selado, mas o que poucos sabem é que o povo de Atlântida possui a benção de Poseidon e jamais morreram afogados. — explicou Dionísio. — Para que a cidade não voltasse a ser alvo de novas invasões, Anfitrite, a esposa de Poseidon, afundou a cidade, escondendo-a entre profundos abismos marinhos e erguendo uma poderosa fortaleza ao redor da cidade.

— E como você sabe de tudo isso? — perguntou Ênio, com desconfiança.

— Sabia que um dos filhos de Poseidon aprecia um bom vinho?! — respondeu ele, piscando um olho. — Crisaor é o filho mais novo do Imperador dos Mares. Ele sempre foi o mais rebelde e sempre saía de Atlântida para se divertir nos bordeis da Grécia. Eu diria que é um garoto que sabe aproveitar a vida. — Dionísio sorriu. — Ele me contou como Atlântida sobreviveu. Quem estava no bordel, sendo a maioria pescadores, também ouviram esse relato, mas quem iria acreditar em histórias de pescadores bêbados? Por isso desde então existe dois rumores. Um é que a cidade ainda existe, viva, mas escondida no Oceano. O outro rumor é que a cidade é apenas ruínas e nada mais. Claro que o segundo rumor é o que o Santuário tenta forçar até hoje. Bem... Como desde então ninguém mais viu qualquer indicio da existência dos Atlantis, a cidade ficou como sendo apenas uma lenda submersa. Não é à toa que essa lenda alimenta a imaginação de muitos humanos.

— E a cidade continua a crescer. Mais evoluída que a própria humanidade. — completou Ares, cruzando os braços e olhando para o mapa.

— O Oceano Atlântico Norte é imenso. As águas banham uma parte do litoral da Europa, África, América do Norte, Central e do Sul. — disse Nyctea de Coruja, líder do exército de Deimos. Ele estava substituindo Hayato, morto na batalha em Asgard. — Precisamos saber a estrutura da cidade, localização exata, a força de combate e o mais importante... como chegaremos lá.

Anteros olhou para Nyctea.

— Tem alguma ideia?

— Não senhor. — respondeu Nyctea. — De acordo com o senhor Dionísio, a cidade está submersa em um profundo abismo marítimo. Como chegaríamos até lá? Será que existe passagens que levam até esse templo de Poseidon?

Éris estreitou os olhos pensativa.

— Provavelmente sim. — Ela olhou para Phobos. — Você disse que na era mitológica oito cavaleiros de ouro foram até Atlântida. Como chegaram até lá?

 Phobos folheou seus relatórios rapidamente e parou em uma página que trazia a imagem de uma pedra marcada com um tridente.

— Eles usaram uma passagem que fica em no Leste da Sibéria. Onde hoje fica... Bluegraad.

Alala franziu a testa.

— Bluegraad? A cidade de Gelo do Norte?

Anteros abriu um livro, um dos livros de registros do Santuário, e passou o dedo nas folhas até achar o que procurava.

— Isso. É uma pequena cidade situada nas terras mais gélidas do leste da Sibéria, próximo ao Polo Norte. — respondeu Anteros. — Após a primeira Guerra Santa contra Poseidon, Atena enviou alguns cavaleiros e amazonas para esta cidade, para que eles vigiassem a alma de Poseidon que havia sido selada. Existe uma passagem que liga Bluegraad ao Templo de Atlântida.

Ares arrodeou a mesa e procurou no mapa a localização de Bluegraad. A cidade estava marcada com um pequeno cristal de gelo azul. Ele pegou uma peça negra que representa os bersekers e pousou em cima da marcação.

— Aqui. Próximo a Asgard.

— Podemos enviar um grupo até lá. — disse Lycaon de Licantropo, o novo líder do exército de Phobos, que estava ocupando o lugar de Hugo. — Um grupo pequeno de reconhecimento. Deve haver alguma informação sobre Atlântida.

— Tem mais uma coisa. — disse Anteros, ainda lendo o livro. — O povo de Atlântida removeu a Ânfora de Atena da cidade e levou até o Templo de Poseidon, situado no mar mediterrâneo. Escondendo a alma do Imperador em meio as Escamas dos sete Generais Marinas. O Santuário foi notificado pelos cavaleiros que estavam em Bluegraad e eles pediram para voltar a Grécia, mas Atena negou o pedido e os puniu mantendo eles em exílio e com a função de vigiar Atlântida. Com o passar dos anos esses cavaleiros e amazonas enviados para Bluegraad acabaram se rebelando contra Atena. Eles abandonaram suas armaduras e forjaram seus próprios trajes. Trajes azuis chamados de “manto de cristal”. Mas eles continuaram a vigiar Atlântida para proteger a cidade, e geração após geração essa função vem sendo mantida. 

Ares sorriu.

— Atena, sempre arrogante. Isso já facilita muito. — disse o deus.

— Ninguém está achando nada disso estranho? — questionou Dionísio, olhando para eles. — Se Atlântida fica no Oceano atlântico norte, o qual por sinal é enorme, porque os vigilantes ficariam no leste da sibéria tão longe assim da localização do templo? 

— Talvez existam passagens, em diferentes locais, que levam ao Templo de Poseidon. — respondeu Ênio. — O leste da Sibéria é banhado por um dos oceanos, então podemos supor que para cada oceano possa existir mais de uma passagem. 

— Temos que colher informações a respeito de Atlântida. — disse Ares. — Se Bluegraad manteve a função de vigiar a cidade por todos esses anos, estão eles devem ter registros.

— O que o senhor quer que façamos? — perguntou Deimos.

Ares estreitou os olhos para o mapa.

— Lycaon está certo. Devemos enviar um grupo de reconhecimento. Deimos... escolha um dos seus homens e alguns soldados. Eles irão acompanhar Anteros até Blugraad. — Ares olhou para Anteros. — Vá até a cidade e tire deles todas as informações necessárias.

— Sim senhor! — respondeu o deus.

A grande porta principal do salão se abriu e Oberon entrou. Ele estava acompanhado de um homem com mais de dois metros de altura, Ápis, que trajava uma surplice semelhante a armadura de ouro de Touro, mas com um aspecto mais sombrio e emitindo um brilho roxo igual a joia do mundo dos mortos. Ao seu lado havia uma berserker oferecida por Deimos para auxiliar Oberon. Os olhos dela eram totalmente negros, sem íris, os cabelos eram brancos como fios de teia de aranha, sua pele era pálida e sua Onyx tinha traços que lembrava uma gigantesca aranha negra com um par de seis patas se projetando das costas.

O deus da escuridão estava vestido fazendo jus ao seu título. Blazer, camisa social, gravata, calça e sapatos negros como ébano. Seus cabelos negros escorriam pelo seu ombro e seus olhos azuis, como os olhos do seu pai, brilhavam como safiras no fundo de um lago. Uma beleza divina, sombria e encantadora.

— Pensei que já tivesse partido. — disse Ares, ao ver Oberon.

— Eu disse que não precisa ter pressa. — respondeu o deus. — Ainda faltam quase oito dias para Seiya e os outros chegarem no Tártaro. — Oberon olhou para a mesa e viu o mapa. — Antes de ir quero deixar um aviso. — ele se aproximou do mapa e pegou uma das pequenas peças negras que representam os berserkers. — Daqui a nove dias envie um grupo de berserkers para este lugar... — ele pousou a peça no mapa. No litoral da Grécia.

Ares olhou para a marcação e franziu a testa.

— O que tem neste lugar?

— Para entrar no Tártaro não existe uma entrada especifica, a Porta da Morte pode ser aberta em qualquer lugar, mas para sair existe um único caminho. Neste lugar, situado no litoral da Grécia, é o onde se encontrar o outro lado da Porta da Morte. Daqui a nove dias aconselho que envie um grupo de berserkers para lá. — disse Oberon. — Atena no Tártaro não pode ser definitivamente morta, mas pode ter sua essência espalhada pela dimensão infernal do Tártaro. Se eu não conseguir fazer isso com Atena, existe a probabilidade dela sair do Tártaro acompanhada com seus cavaleiros.

Um ar de desconfiança tomou conta. Todos olharam para Oberon franzindo a testa. Na noite anterior ele estava confiante sobre deter Atena e os cavaleiros no Tártaro, mas agora parecia estar inseguro.

— Está dizendo que não consegue impedi-los? — perguntou Phobos.

— Ele não disse isso, Phobos. — respondeu Dionísio, esboçando um fino sorrio. — O que Oberon quer dizer é que existe uma pequena probabilidade de Atena conseguir sair do Tártaro. E ele está certo.

— Exatamente. — disse Oberon. — Já falamos sobre isso uma vez. Não tratem as coisas como se tivesse apenas um possível resultado.

— E porque veio falar isso tão repentinamente? — perguntou Kydoimos, líder dos Espíritos da Guerra.

Seus olhos vermelhos miraram em Oberon. Kydoimos desconfiava de Oberon a respeito da fidelidade para com Ares. Por ser filho de Hades, Oberon não era bem visto aos olhos de alguns servos do deus da guerra.

— Estive pensando sobre o Grande Mestre. O homem que está acompanhando Atena. Vocês salientaram várias vezes que ele manipulou a guerra de tal forma que vem atrapalhando os planos de vocês. Ela já nos provou que previu meticulosamente cada passo, mas ele não apenas prevê as coisas, mas sim arrisca. Como se estivesse jogando. — disse Oberon.

Dessa vez foi Dionísio que se viu confuso.

— Onde está querendo chegar?

— Para os cavaleiros chegarem ao Tártaro, eles teriam que convencer Thanatos, não é? Mas me digam, qual seria a probabilidade de Thanatos ajuda-los? Ainda mais os cavaleiros que o derrotaram recentemente.

— A probabilidade seria... baixa.  respondeu Anteros.

 — Seria, muito baixa, mas eles conseguiram. — disse Oberon. — Era algo incerto, mas o Pégasos e os outros avançaram por toda Europa acreditando em uma baixa probabilidade, uma muito improvável. Isso porque o Grande Mestre arriscou. Ele não sabia que iria dar certo, mas arriscou. E ele vem fazendo isso várias e várias vezes. Algumas coisas ele pode até prever com certeza do resultado, mas outras ele apenas arrisca. Ele está no “tudo ou nada”. — Oberon olhou para Ares. O deus apenas o encarava em silêncio. — Eu o vi na prisão do Tártaro. Ele está bastante ferido, mas se mantem vivo graças ao sangue de Atena que corre em suas veias. Em momento algum ele se preocupou pela demora de Seiya e os outros. Ele se preocupou por ele e Atena estarem presos. Agora foi que eu vim perceber que...

— Ele sabe! — disse Dionísio, arregalando os olhos. — Ele sabe que Seiya e os outros só vão chegar nove dias depois que passarem pela Porta da Morte!!

— Isso! — confirmou Oberon. — Antes das minhas harpias captura-lo, ele estava se escondendo nas cavernas. Junto com Atena. Talvez esse fosse o plano dele. Provavelmente iria esperar, escondido, até Seiya chegar lá. Pessoas assim, que arriscam tudo pelo objetivo, não são de poupar esforços. Ares...  Eu reconheço que existe uma pequena probabilidade de falhar no Tártaro. Então reconheça que existe uma pequena necessidade de se precaver. Envie seus homens para o portão de saída daqui a nove dias!

Ares pousou as mãos na mesa e olhou para Oberon.

— Está bem!! Enviarei como você quer, mas faça de tudo para não falhar, Oberon!! Não serei tolerante! Não poupe seus esforços!

Oberon se curvou.

— Como o senhor desejar. Estou de saída.

Após Oberon sair do salão, acompanhado por Ápis e a berserker, os soldados fecharam a porta, deixando os demais deuses a sós.

— Francamente! Eu não confio nele! — disse Kydoimos. — Filho de Hades. Quem garante que ele não vai nos trair?

Ênio cravou as unhas na mesa e mirou o olhar em Kydoimos

— Oberon é um deus fiel ao senhor Ares. Ele jamais o trairia! Poupe seus insultos, ou serei obrigada a parti-lo em pedaços.

— Já chega! — gritou Draco. — Temos outros assuntos para resolver.

— Draco tem razão. — Falou Anteros, se afastando da mesa. — Vou me preparar para ir a Bluegraad Aconselho a deixar esse caso de Atlântida para discutimos depois que eu voltar. Devemos dar prioridade então aos outros templos e deuses que estão fazendo a resistência.

— Lycaon, acompanhe Anteros e escolha alguns berserkers para ir a Bluegraad . — ordenou Deimos.

— Sim senhor. — disse Lycaon.

Enquanto Lycaon e Anteros se retiravam do Salão, Ares continuou a analisar o mapa. Ele batia com as pontas dos dedos na mesa como se estivesse inquieto.

— Algum problema, Ares? — perguntou Dionísio.

— Talvez. — respondeu Ares. — Phobos! Onde está havendo resistência?

— Em alguns países. França, China, Brasil, Asgard e Egito. — disse o deus do medo. — Na França, os guerreiros chamados Jewels, as joias de Vouivre, impedem que o conflito se espalhe pela Europa. Na China, os guerreiros Taonias, liderados pelo Dragão Branco, ergueram uma barreira que diminui a influência dos nossos cosmos nos corações humanos. Isso acabou impedindo a frota marinha que partiria da China para atacar países vizinhos. Os navios voltaram para o país e agora fazem a proteção litorânea. O mesmo se repetiu no Brasil, que é protegido por guerreiros chamados Abaiçados, servos do deus da guerra Abaçai, e no Egito, pelos guerreiros do sol do deus Rá. Os deuses e guardiões desses países insistem em deter o avanço dos nossos cosmos. Já Asgard, bem... Asgard sobreviveu ao nosso primeiro ataque, mas não tem a capacidade de suportar uma segunda investida.

Ares deu as costas aos deuses e caminhou, pensativo, até o trono do Grande Mestre, e então se sentou. De pernas abertas e com um fino sorriso, expressando seu desdém.

— Que tolos. Abaçai, Rá, Vouivre, Dragão Branco, Odin... Todos esses cairão diante de mim. Um a um. Mais cedo ou mais tarde. Não adianta eles resistirem.

— Soube que os Taonias se juntaram a alguns cavaleiros que estão em Jamiel. — disse Phobos.

— E quais são suas ordens, Senhor Ares? — perguntou Ênio.

Uma das criadas de Dionísio saiu da lateral do salão levando vinho para Ares e serviu o deus com um cálice.

— Só a uma resposta para aqueles que se voltam contra nós e se alia ao inimigo. A morte. Ênio! Deusa da carnificina. Seu alvo será Senkyou! — disse Ares. — As minhas ordens são conquistar e matar. Invadir e destruir — ele ergueu o cálice. — Consagrem a cidade ao senhor da guerra, destruindo ao fio da espada todos os homens, mulheres, jovens, velhos e todos os seres vivos que vive na cidade.¹

— Se assim disse o senhor... — Ênio, segurou no cabo de sua espada. — Cumprirei a sua vontade, exatamente como deseja.

— Senkyou é só o início. Fica a seu critério escolher os berserkers e soldados rasos que você quer que lhe acompanhe. Use até os cavaleiros se quiser. — disse, com desprezo.

— Dispenso seus soldados rasos, senhor Ares. — respondeu Ênio. — Posso até levar três ou cinco comigo, mas prefiro trabalhar com as suas amazonas. Me dê a permissão para lidera-las. É um desperdício deixa-las fazendo a guarda da prisão do Santuário.

— Faça como quiser. — disse o deus.

Ênio se curvou, fazendo reverência, e se retirou do salão, acompanhada por dois soldados.

— E os demais da resistência? — perguntou Deimos. — O que o senhor fará? Não vai ataca-los?

— Não posso ordenar um ataque a todos de uma só vez. Preciso equilibrar a força de ataque e defesa. — disse Ares. — Priorizei Senkyou porque está interferindo em um dos países com maior poder de guerra. Os demais, com exceção do Egito, não são problemas para mim. São como formigas debaixo dos meus pés. Mas talvez eu deva deixar claro a minha tolerância para quem fica contra mim. Éris! Você também! — falou Ares. — Tá na hora de agir.

— E o que o senhor quer que eu faça?

— Vá para a França. Seu alvo será o novo Representante de Vouivre. Eu quero que você destrua tudo. Queime tudo. Espalhe o caos e a discórdia pelo país. — Ares dobrou a perna e sorriu, levando o cálice a boca. — O Museu do Louvre, a Catedral de Notre-Dame, o Arco do Triunfo, o Palácio de Versalles, a Sede do senado da França... Reduza tudo a cinzas. Faça isso antes de ir ao Palácio de Vouivre, mas quando chegar lá, traga o representante de Vouivre para mim. Vivo. Cuidarei dele pessoalmente.

— E os Jewels? Os guerreiros que servem a Vouivre. O que faço com eles?

— Já ouvi dizer que alguns são joias poderosas. — comentou Dionísio. — Guerreiros com habilidades formidáveis. Poderia pegar alguns pra você. — aconselhou o deus. — Um espólio.

Ares sorriu.

— Então mate os fracos e escravizaremos os fortes. — disse Ares. — Talvez eles possam servir para alguma coisa futuramente. Nem que seja para me divertir na arena do Coliseu.

Éris esboçou um fino sorriso, satisfeita.

— Irei imediatamente.

— Agora saiam!! — ordenou Ares. — Estão dispensados!!

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Casa de Capricórnio – Santuário

A Casa de Capricórnio é a decima casa do Zodíaco e atualmente é guardada por um Cavaleiro de Ouro misterioso. Nada se sabe ao seu respeito. Muito menos o nome. As pessoas apenas o chamam de “Capricórnio” e somente Ares chegou a ver o seu rosto completamente. Para os demais ele mantem seu rosto oculto pelo elmo.

Dizem que ele é um homem impiedoso e que já matou dezenas de desertores que ousaram tentar fugir do Santuário. Alguns deram a ele o título de “demônio dos olhos vermelhos”, porque juram ter visto debaixo do elmo um par de olhos vermelhos sedentos por sangue brilhando mais do que rubis.

Ênio, que descia as doze casas após a reunião com Ares, estava acompanhada de dois soldados berserkers e três cavaleiros. O Cavaleiro de Prata de Perseu, a saintia de bronze Tourmaline de Ave do Paraiso e o Cavaleiro de prata de Flecha.

Ênio parou diante da Casa de Capricórnio.

— Algum problema, senhorita Ênio? — perguntou um dos soldados.

— Na Casa de Capricórnio... Existe um Cavaleiro de Ouro a protegendo?

— Existe sim, senhorita. Ele e o Cavaleiro de Escorpião são os únicos que restaram e que juraram lealdade ao Senhor Ares.

— Hm... Juraram lealdade?! Não diga isso com tanta certeza. Nós juramos lealdade ao senhor Ares. Qualquer outro devemos desconfiar.

E o que é necessário para dar um fim a essa sua desconfiança? — a voz ecoou vindo de dentro da casa acompanhado de um cosmo dourado que evolveu a casa. — O que preciso fazer para provar minha lealdade ao Senhor Ares, senhorita Ênio?

Ênio estreitou os olhos e segurou no cabo de sua espada.

Na saída da casa surgiu a silhueta de um homem alto emanando um cosmo dourado poderoso. Ele estava trajando a armadura de ouro de capricórnio e uma longa capa branca presa em sua ombreira. Ao sair da casa a luz do sol revelou a sua aparência. De pele clara e longos cabelos negros, o elmo ocultava uma parte do seu rosto, mas em meio a sombra do elmo brilhavam dois olhos vermelhos.

Ênio notou que não apenas os olhos eram de demônio, eram olhos de um assassino. Dele fluía uma sede por sangue como se seu corpo clamasse por um banho de sangue.

— Estou indo para o coliseu reunir um exército para invadir Senkyou, na China. Você pode provar a sua lealdade me acompanhando. — disse Ênio, enquanto subia as escadas. — Mas saiba que lá você não vai encontrar apenas Taonias. — Ela parou diante de Capricórnio. — O mestre de Jamiel, que é o Cavaleiro de Ouro de Áries, estará lá para nos deter. Provavelmente existe outros cavaleiros com ele.

— E qual o problema? — perguntou ele.

— Outros Cavaleiros de Ouro foram enviados para matar os rebeldes, mas acabaram se aliando a eles. Não haverá problema algum desde que esteja ciente de que terá que mata-los. — Ênio passou por ele e parou de costas. — Pois a pena de morte é o julgamento oportuno para rebeldes e traidores. Estou recrutando você para ir comigo até a China, por ordens do Senhor Ares. Mas desde já lhe aviso que se eu notar qualquer hesitação vindo de você... — ela segurou no cabo da espada e desembainhou alguns centímetros, mostrando a lamina afiada. Capricórnio olhou para a lamina por cima do ombro — Eu mesma lhe matarei, lhe cortando em pedaços e pendurarei os seus membros por todo o Santuário para que sirva de exemplo para os outros. Porque esse será o fim dos cavaleiros rebeldes que nos esperam em Jamiel.

Capricórnio se virou.

— Não precisa se preocupar com isso. Eu lhe dou a minha palavra e lhe provarei, com as minhas espadas, a minha fidelidade ao Senhor Ares.

— Se tem tanta certeza do que diz, então me acompanhe. — disse Ênio.

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Jamiel – China – 1º dia após Seiya passar pela Porta da Morte

Os músculos de Johan estavam doendo. Ele e Shiryu estavam treinando antes mesmo do nascer do sol. O treino não era apenas para exercitar. Era um meio de limpar a mente e esquecer por alguns instantes que na noite passada, durante a lua de sangue, Seiya e outros cavaleiros estavam indo ao Tártaro enquanto Ares se apossava da Terra completamente. Shiryu não sabia dizer como se sentia naquele momento. Havia deixado sua esposa e seu filho para trás. Não podia ir ao Santuário. Não podia se juntar ao Seiya e a Shun. E não tinha informações sobre Hyoga. Ele só sabia que não podia sair da China e que deveria guardar a entrada de Senkyou junto com Kiki.

Logo no inicio da manhã eles receberam a visita de um representante enviado por Senkyou. Um Taonia. Kiki reforçou o aviso deixado por Delfos sobre Ares ter a intenção de invadir Senkyou e reforçou a aliança dos Taonias com o exército de Atena.

— Eles ainda estão treinando?! — perguntou Miguel, o Cavaleiro de Prata de Cães de Caça, ao ver Shiryu e Johan. — A intensão é continuar até caírem esgotados?

— Quase seis horas de treino. — disse Marin, que estava sentada na escadaria do palácio. — Não vai treinar também?

Miguel respirou fundo e soltou o ar.

— Não. Não estou com cabeça para treino. Pelo menos não treino físico. Tenho que melhorar minhas habilidades mentais.

— Está doendo? — ela olhou para ele. — A cabeça... dói?

— Um pouco. Em momento de estresse e agitação minha mente trabalha intensamente e acabo capitando o pensamento dos outros ao meu redor. E junto com esses pensamentos vem as emoções. Ontem a noite... — ele passou a mão na testa. — Minha cabeça parecia que ia explodir. — Miguel desceu as escadas e parou, colocando as mãos no bolso. — Se eu tivesse concluído meu treinamento com o meu mestre antes de ir ao Santuário, talvez eu tivesse um domínio melhor na técnica telepática.

Marin levantou a cabeça ao ouvir Miguel falar sobre o mestre dele. Ela sempre achou que Miguel fosse discípulo de Shun, assim como Johan e Alec. Não só ela, mas todos no Santuário achavam isso. Não era atoa que atribuíam aos três o título de serem os mais fortes entre os novos Cavaleiros de Prata. Discípulos de um lendário. Ela lembra que Shun finalizou o treinamento de Miguel, mas só agora ela notou que Miguel não estava no Santuário quando Johan e Alec começaram a treinar. Miguel chegou anos depois. Levado pelo Grande Mestre.

— Miguel... Quem é o seu...

Marin interrompeu a pergunta quando viu que Kiki estava na porta do palácio. Ele estava olhando para o outro lado do penhasco e parecia escutar o vento que soprava forte agitando seus longos cabelos castanhos.

— Kiki?! Tem alguém se aproximando? — perguntou Marin.

Ele acenou confirmando. Imediatamente Miguel e Marin ficaram preocupados.

— Alguém está tentando atravessar o cemitério das armaduras, mas... Não acho que seja um inimigo. — Kiki estreitou os olhos para a ponte que passa por cima do cemitério das armaduras. — Realmente. Não é um inimigo. Miguel! Vá até lá buscar o nosso visitante. Talvez ele precise de ajuda.

— Sim Senhor!!

Miguel usou um curto teletransporte e chegou até a ponte. O visitante parecia ser uma criança com mais ou menos doze anos, mas trajava uma armadura de bronze verde. Tinha cabelos longos negros e esverdeado escorrendo pelos ombros e sua pele era clara. Seu corpo estava repleto de feridas e sua armadura estava suja de sangue seco. Ele cambaleava enquanto dava curtos passos, se esforçando ao máximo.

Miguel nunca tinha visto aquele garoto no Santuário, mas o achou familiar e só entendeu quem era quando olhou novamente para a armadura.

— Dragão!! — disse ele, surpreso.

O garoto olhou para Miguel. As pálpebras pareciam ser pesadas para ele, pois ele não conseguia manter os olhos abertos. Parecia estar com fome e cansado. Ele estendeu a mão para Miguel e tropeçou. Miguel se moveu e o segurou antes que ele caísse no chão.

— Não acredito que você está aqui! Nesse estado!! — disse Miguel, espantado, vendo os ferimentos no corpo do garoto. Cortes finos como se tivessem sido provocados por dezenas de lâminas afiadas. — Vamos garoto. Você está seguro agora.

Miguel o colocou nos braços e se teletransportou novamente para o palácio. Shiryu e Johan pararam o treinamento ao avistar Miguel carregando uma criança nos braços.

— Quem é aquele que Miguel está carregando? — perguntou Johan.

Shiryu arregalou os olhos e correu.

— Ryuho!! — gritou Shiryu.

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Silkeborg – Dinamarca

Uma fenda dimensional se abriu em uma pacata rua da cidade de Silkeborg, região central da Dinamarca. O céu estava nublado, a temperatura estava em torno de 10º C e a rua estava deserta. Shina e os outros cavaleiros que estavam com ela no Castelo de Hades, saíram da fenda dimensional criada por Kastor. Eles haviam tirado as armaduras e agora estavam vestindo trajes civis.

— Onde estamos, Shina? — perguntou Jake, que estava emprestando seu ombro a amazona para ajudá-la a ficar em pé. Ela estava bastante ferida. — Estamos na Alemanha ainda?

Shina balançou a cabeça negando.

— Dinamarca. — respondeu ela.

— O que viemos fazer aqui? — perguntou Kastor, que estava apoiado nos ombros de Shalom.

— Encontrar um antigo companheiro. — disse ela, olhando para as casas.

A rua, estreita e asfaltada, possuía uma fileira de casas semelhantes. Todas tinham um alto teto inclinado e a maioria eram feitas de finos tijolos, com tons de marrom e laranja, colocados em mosaico. Na frente das casas haviam pequenos muros de arbustos que se conectavam e formavam a rua em um longo corredor verde.

— Em qual casa ele mora? — perguntou Jabu, que estava ao lado de Nachi.

Shina parecia estar indecisa. A semelhança das casas era tão grande que chegava a confundi-la.

— Eu vi a imagem da rua e da casa apenas uma vez. — respondeu Shina. — Antes do Grande Mestre ir destruir a falsa estatua de Atena, ele mostrou a mim e a Retsu a imagem dessa rua e de uma casa através das águas da Armadura de Taça. No momento eu não entendi. Eu não sabia do plano. Só vim saber depois que o senhor Asclépio leu a carta deixada pelo Grande Mestre. — ela virou-se para o grupo. — Quando chegamos na França, Alkes me explicou que nem todos poderiam ir ao Tártaro, mas que ele teria que ir com Seiya e após eles passarem pela Porta da Morte seria minha obrigação trazer vocês até aqui.

— E quem estamos procurando, Shina? — perguntou Nachi.

— Estamos procurando o... — ela parou ao avistar a casa que fica quase no final da rua. — Ali! Aquela é a casa dele. — disse ela apontando. — Vamos!!

Eles caminharam alguns metros até chegar na frente da casa. Era baixa comparada as casas vizinhas e tinha um pequeno jardim na frente.

— É essa casa? — perguntou Shalom. Eles estavam parados na entrada do jardim.

Shina acenou confirmando. Nachi se apressou e foi até a larga janela que ficava ao lado da porta. Uma cortina branca de renda tampava a janela por dentro, mas Nachi conseguia ver o interior da casa pelas brechas do tecido. O cômodo era uma pequena sala com dois sofás escuros, uma pequena mesa de madeira rubra no centro com um copo vazio e uma garrafa de whisky pela metade em cima, uma tv, que estava ligada passando um programa de notícias e uma estante com livros e peças de coleção. Também dava para ver a entrada da cozinha e um corredor entre os dois cômodos. Da cozinha surgiu um homem trazendo na mão um prato com carne. Ele vestia uma calça jeans azul e uma camisa xadrez de manga longa retraída até o cotovelo. Para Nachi o homem tinha uma aparência familiar. Ele já tinha visto o rosto daquele homem e foi em um recente livro de registros do Santuário. A pintura daquele rosto. Um homem que todos no Santuário acreditavam estar morto a quinze anos atrás. Vítima da rebelião de Saga.

Nachi ficou espantado.

— Não pode ser! — cochichou para si mesmo.

Jake franziu a testa ao ver a aura de medo crescendo em Nachi.

— Nachi! — chamou Jake. — O que foi que você viu?

O homem dentro da casa pareceu escutar Jake chamando por Nachi. Ele olhou para a janela e Nachi se assustou, dando alguns passos para atrás e caindo sentado no gramado.

Jabu correu para ajudá-lo a levantar.  

— O que foi? Quem está lá dentro? — perguntou ele.

— Aquele homem... — Nachi olhou pra Shina. — Por acaso é...

Shina se afastou de Jake e foi até a porta da casa. Ela hesitou, mas depois bateu duas vezes na porta. Não demorou muito para que ela escutasse o som de passos e da chave destrancando a porta. A porta de madeira foi aberta e o homem apareceu. De pele parda, olhos azul escuro e cabelos longos caindo nos ombros de cor verde azulado.

— Olá Asterion!

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Referências: 

Consagrem a cidade ao senhor da guerra, destruindo ao fio da espada todos os homens, mulheres, jovens, velhos e todos os seres vivos que vive na cidade.¹:

A fala de Ares é um versículo Bíblico, do Antigo Testamento, situado no livro de Josué 6-21

O versículo completo é: Consagraram a cidade ao Senhor, destruindo ao fio da espada homens, mulheres, jovens, velhos, bois, ovelhas e jumentos; todos os seres vivos que nela havia. (Josué 6-21)

Deus ordena que Josué e seus homens entrem na cidade de Jericó e matem todos os seres vivos da cidade. De crianças a idosos. Poupando apenas a prostituta Raabe e seus familiares, porque ela ajudou Josué.
Depois da matança, Josué consagrou a cidade a Deus, seus homens atearam fogo e entregaram ao "Santuário do Senhor" todos os bens valiosos de Jericó. 

 


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Notas finais do capítulo

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Próximo capítulo: Deusa da carnificina.
Sinopse: indefinida.

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