A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 43
Capitulo 40 - Barganha com a Morte. O juramento pelo Rio Estige.


Notas iniciais do capítulo

A batalha entre Ikki e Ares continua. Longe dali, na Alemanha, Shina e Anatole lutam, mas a batalha é interrompida com a morte de um cavaleiro. Em Munique, na Gliptoteca, a barganha começa e a vida de Seiya pode ser o preço para abrir as Portas do Tártaro. O juramento é feito e a Morte dá a sua profecia.



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Capitulo 40: Barganha com a Morte. O juramento pelo Rio Estige.


Santuário - Coliseu

O céu estava quase completamente mergulhado na noite. O que agora iluminava o Coliseu eram chamas. Chamas altas e agressivas. As chamas do cosmo de Ikki se agitaram e se espalharam formando um círculo de chamas, isolando Ares e ele no centro do círculo.

— E mais uma vez é só eu e você, Ares!

— Você quer mesmo morrer, não é Fênix? A poucos minutos atrás você estava prestes a ser despedaçado, mas foi salvo graças ao jovem tolo Cavaleiro de Ouro, e agora você cria esse círculo de fogo me mantendo restrito aqui? — Ares gargalhou. — Você deve estar louco. — o deus apontou a lança para Ikki e esboçou um fino sorriso. — Vou transpassar o seu coração com essa lança.

Ikki sorriu.

— É exatamente isso o que eu quero.

Ares ergueu uma sobrancelha. Ikki não parecia estar blefando. Ele realmente queria morrer e com certeza isso não seria em vão.

— Esse homem... por acaso ele pretende morrer na tentativa de me matar?! Não! Com certeza não! Ele já deixou claro que a intenção dos Cavaleiros é promover uma batalha final entre mim e Atena, então o que ele pretende fazer?! O que será que ele ganha com a própria morte?! — pensou Ares

— O que foi Ares?! — perguntou Ikki, com um tom provocativo. — Vai ficar ai parado ao invés de me atacar? — ele ficou em posição de ataque. — Tudo bem então. Eu começo!

Ikki cerrou o punho com seu cosmo em chamas e avançou contra Ares. O deus fez as lanças desaparecerem e em seguida desviou do ataque de Ikki. Antes que Ikki pudesse se recompor Ares avançou, pegando impulso e atacando. O deus aplicou dois socos no rosto de Ikki e acertou um chute no peito, lançando-o para o alto. Ainda no ar Ikki estava recebendo uma sequência de socos, mas o Fênix elevou o cosmo e repeliu os golpes de Ares, que ficou espantado ao ver a armadura de Ikki. Agora havia asas douradas abertas na costa de Ikki. Asas de uma armadura divina. Até os deuses esboçaram uma expressão de surpresa e a plateia não parou de murmurar. As chamas do círculo cresceram e ficaram ainda mais quente. Estavam sendo alimentadas pelo cosmo de Ikki que agora estava muito mais poderoso.

— Asas divinas? — disse Ares, com um tom de surpresa. — Então é mesmo verdade. Você e os outros quatro despertaram as armaduras divinas quando enfrentaram Hades nos Campos Elíseos. Pretende usa-la para me enfrentar, Fênix?

— Não acho necessário. Agora vamos deixar de conversa! — gritou Ikki. — Ao ataque, Ares!

As asas se abriram e seu cosmo se expandiu abrindo fendas e fazendo o chão se desprender. Ares saltou contra Ikki no momento em que o chão se desprendeu debaixo dele. Ainda no ar ambos se encontraram entre socos e chutes velozes. Rápidos demais até mesmo para os deuses acompanharem.

Em um momento de descuido Ikki abaixou a guarda e Ares pressionou a palma da mão contra o peito de Ikki, disparando um golpe logo em seguida. O peito da armadura explodiu e Ikki caiu abrindo uma pequena cratera.

— Não me subestime só porque está vestindo uma peça da armadura divina. Suas asas divinas não são o bastante. — uma lança de cabo prata e lamina vermelho sangue com adorno dourados se materializou ao lado de Ares, emanando o cosmo do deus. — Nem mesmo com uma armadura divina completa você seria páreo para mim. Desapareça!

A lança foi disparada e em um piscar de olhos ela atingiu o chão, provocando uma explosão seguida por uma coluna de chamas que subiu aos céus como se fosse um pilar. Ares arregalou os olhos. Em pé, no meio da coluna de fogo, estava Ikki segurando a lança de Ares e com o peito da armadura de fênix restaurado.

— Foi por pouco. Admito. — disse Ikki, sorrindo e jogando a lança no chão.

Ares cerrou o punho irritado e pousou no chão com força abrindo uma cratera, elevando o cosmo e avançando contra Ikki. O Fênix respondeu ao ataque e também avançou. O punho de ambos se chocaram e os repeliram, fazendo eles serem arrastados para trás rasgando o solo, mas isso não os parou e eles avançaram novamente. Ikki aplicou um soco e Ares bloqueou, atacando em seguida com socos seguidos de chute e uma rajada de cosmo que lançou o Fênix para trás. Ikki porem se equilibrou com o auxílio de suas asas e retornou para o confronto pegando Ares, que não esperava por uma reação tão rápida, e encurralou o deus com uma sequência de socos poderosos, forçando Ares a cruzar os braços diante do rosto. Ikki então girou e chutou Ares pela lateral, fazendo o deus da guerra ir de encontro a uma coluna.

— Ele conseguiu acertar um golpe forte em Ares! — comentou Ápis, surpreso, que estava do outro lado do círculo de fogo observando a luta.

— Senhor Ares! — gritou Draco, preocupado. — Mas porque ele não mata logo o Fênix de uma vez? Eu vou lá!

Dionísio sentou no trono e relaxou o corpo.

— Você não vai a lugar algum, Draco. Não notou ainda? Ele está brincando. Não é todo dia que Ares encontra um humano que possua tanta resistência. — disse Dionísio. — Mas... — o deus olhou para a arena e viu que Ares estava se levantando com uma expressão mais raivosa. — Acho que a brincadeira já está perto de terminar.

— Fênix! — gritou Ares, elevando o cosmo.

— Venha logo. — disse Ikki 

— Prepare-se! — gritou o deus e saltou com o braço erguido. Centenas de lanças se materializaram e Ares estendeu a mão pra frente, direcionando as lanças contra Ikki. 

Ikki elevou o cosmo e sorriu.

— Agora fudeu. 

—...—


Alemanha – Castelo de Hades

Anatole inclinou a mão para frente e disparou uma poderosa rajada de cosmo que tomou a forma de uma serpente negra de presas afiadas e olhos vermelhos. O golpe acertou Shina em cheio e a arremessou para o alto, finalizando quando a gigante serpente abocanhou Shina e explodiu. A armadura de prata se despedaçou e a amazona caiu.

— Shina! — gritou Jabu, que enfrentava um berserker. — Não!

Jake e os outros olharam rapidamente para a companheira, mas não podiam ajudar. Cada um estava enfrentando seu oponente e a luta de um cavaleiro contra seu adversário deve ser em igualdade. Um contra um.

— Seus amigos olham pra você querendo ajudar, mas não podem. Estão salvando a própria pele neste momento. Você vai morrer só e inutilmente. Será só mais um soldado que receberá uma cova rasa. — desdenhou Anatole, caminhando até Shina.

Shina tentou se levantar e as peças despedaçadas de sua armadura, que ainda insistiam em cobrir o seu corpo, caíram. A sua máscara, símbolo de que abandonou a feminilidade para servir Atena igualmente como os cavaleiros, partiu-se ao meio.

— Não levante mais, mulher. Poupe pelo menos a sua vida. Abandone essa vontade suicida de continuar em frente e jure lealdade ao Senhor Ares. Sirva a ele como uma amazona berserker do exército da deusa Ênio.

Anatole pisou nas costas de Shina, forçando o corpo dela contra o chão.

— Não diga bobagens! Desistir de lutar e me aliar a Ares? Como eu poderia desistir de lutar em um momento como esse?! Como tem a ousadia de falar isso para mim?! Jamais abandonarei o exército de Atena. Muito menos para me aliar a um deus perverso. — o cosmo de Shina se elevou. — Seiya e os outros estão indo enfrentar a Morte e o Tártaro para resgatarem Atena, enquanto isso outros companheiros meus estão lutando até o fim em suas missões. Como eu poderia desistir enquanto os outros lutam arriscando suas vidas?! — o cosmo de Shina explodiu e Anatole se afastou dando alguns passos para trás. Ele não se afastou com medo. Pelo contrário. Ele se afastou porque estava surpreso. A determinação dos cavaleiros consegue fazer com que eles se ergam do pó e isso é algo que não se vê nos demais exércitos dos deuses. Os berserkers se erguem pela vontade de matar, mas os cavaleiros é se levantam pelo desejo de viver e proteger. — Eu sou orgulhosa demais para ficar no chão e desistir. Ainda mais agora que você viu o meu rosto.

— O seu rosto? Ah, é verdade. — disse ele sorrindo. — Quando uma amazona de Atena mostra seu rosto ao oponente, ela só tem duas escolhas. Matar ou amar. Que estimulante. Presumo que vá me atacar com tudo o que você tem.

Shina ficou em posição de ataque.

— Com certeza! — disse ela.

Essa mulher... o cosmo dela continua a crescer e ela não esmorece. E também... — Anatole olhou para o cosmo de Shina e viu uma aura poderosa. — Sinto um cosmo poderoso... será que... Não pode ser! — o berserker arregalou os olhos. — Atena?! Mesmo estando no Tártaro ela guia os seus Cavaleiros?!

— Prepare-se Anatole, pois esse será o seu fim! — o cosmo de Shina girou ao seu redor como um turbilhão e tomou a forma de uma serpente. — Vou cravar as minhas garras em você! Nem que esse seja o meu último feito!

Anatole sorriu.

— Então está pronta para morrer, não é? Venha! Vou lhe mostrar a diferença entre nós. Se você não conseguir me matar, farei com que se arrependa da sua fraqueza!

Shina não perdeu tempo e atacou. Com as unhas afiadas e seu cosmo bastante elevado, ela atacou Anatole com suas garras, mas facilmente o berserker desviava e ainda esboçava um sorriso de desdém. Aquele sorriso no rosto e o olhar de despreocupado só deixava Shina ainda mais irada. Ele estava zombando dela, mas isso estava para mudar. Shina fingiu que ia ataca-lo, mas terminou cravando suas garras no chão e propagou sua onda de choque que acertou Anatole e o arremessou para trás.

— É agora! — gritou Shina. Aproveitando o desequilíbrio de Anatole, Shina atacou.  Garras Trovão!

Ela ergueu sua mão e disparou suas garras afiadas como se fossem raios púrpuros cortantes. Pegando o berserker de surpresa, o golpe acertou Anatole em cheio e explodiu levantando uma nuvem de poeira.

Shina respirou fundo e ficou preparada para um contra-ataque de Anatole, mas o berserker não se levantou. Ela tinha dúvidas se o golpe o tinha derrotado. Ela não sentia o cosmo de Anatole, mas sabia que ele estava ali. A sensação era como se estivesse prestes a receber um bote surpresa de uma serpente peçonhenta e traiçoeira que apenas estava esperando um momento oportuno. Ela estava em total estado de alerta.

Próximo dali Jake lutava com Hugo e sentiu uma aura traiçoeira crescendo diante de Shina. Mesmo sem ver ele notou o que estava prestes a acontecer, mas tudo o que aconteceu em seguida foi extremamente rápido demais para dar tempo dele avisar ou agir. A poeira se dissipou no momento em que Anatole saltou mostrando as garras como se fosse uma cobra. As escleras dos seus olhos estavam negras, sua íris era amarela e a pupila estava no formato de uma fenda. Sua pele agora era negra, lisa e escamosa igual ao de uma serpente.

Ao ver que ele ia atacar, Shina avançou. Quando estavam prestes a colidirem, o berserker desviou ardilosamente e de forma traiçoeira ele atacou Plancius que estava desprevenido, cravando sua mão no peito do jovem cavaleiro, que se entender o que estava acontecendo, olhou assustado para o seu peito e depois para Anatole. Foi tudo muito rápido. Rápido até mesmo para Jake. Até os berserkers e os cavaleiros pararam. Incrédulos. 

Com os olhos arregalados e com sangue escorrendo de sua boca, Plancius tentou puxar o braço de Anatole do seu peito, mas a força havia sumido dos seus braços. O rosto de Anatole esboçava o sorriso de um demônio. Um sorriso largo com dentes afiados. Seus olhos eram olhos de serpente. Olhos traiçoeiros e impiedosos. E seus cabelos longos azul acinzentado estavam esvoaçantes.

— Plancius!! — gritou Shina, apavorada. Um grito forte e desesperador que saiu rasgando a garganta. Ela arregalou os olhos e ficou de boca aberta. Totalmente sem reação.

— Qual o problema, cavaleiro de bronze? Parece tão assustado. — Anatole cravou ainda mais a mão no peito de Plancius, quase rompendo nas costas do cavaleiro. Engasgado com o próprio sangue, Plancius arregalou os olhos e lagrimas escorreram. — Você por acaso esqueceu do nosso acerto de contas? Você deveria ter permanecido no Santuário ao invés de nos trair e se aliar a Seiya. Veja só o quanto você perdeu com isso. Teve seus pais mortos e agora você está morrendo como um inútil. É isso o que você é. Um inútil.

— Não! Plancius! — gritou Nachi.

— Anatole! — gritou Jabu.

O cavaleiro de unicórnio cerrou o punho para atacar, mas Ortros o impediu e acertou um soco em seu abdômen, fazendo Jabu se curvar e cuspir sangue. 

— Que desgraçado! — pensou Jake, cerrando os dentes de raiva, enquanto lutava contra Hugo.

— A sua vida de cavaleiro termina aqui. — disse Anatole, apertando o coração de Plancius. — Antes que você morra, saiba que você não serviu para nada nessa guerra santa.

Plancius abriu a boca para falar algo, talvez fosse dizer que o berserker estava errado, mas Anatole arrancou o coração do jovem de bronze e em seguida chutou o seu corpo. Plancius caiu morto e uma poça de sangue se formou. O cosmo de Plancius se apagou e as lagrimas que escorreram dos seus olhos, congelaram.

Com o coração na mão, ainda dando alguns espasmos, Anatole virou-se para Shina e sorriu.

— Eu lhe avisei, mulher cobra. Eu disse que faria você se arrepender por ser tão fraca. — Anatole jogou o coração de Plancius nos pés de Shina. — O sangue dele foi derramado porque você não conseguiu me matar. Vítima da sua incapacidade. É isso o que acontece quando um soldado fraco vai pra guerra. Ele não só luta em vão e perde a vida, mas também faz com que seus companheiros que também são fracos morram. Então... quem eu devo matar em seguida? — Anatole olhou para Jabu e Nachi. — Será vocês dois, cavaleiros de bronze? — Anatole sorriu e olhou para Jake. — Ou será que devo atacar o Leão dourado enquanto ele está distraído lutando contra Hugo? Bem... ainda não decidi, Shina. — ele olhou para ela com os olhos vidrados e com um sorrido largo assustador. — Só sei que pretendo matar seus amigos de um por um até reste apenas você.

Shina cerrou o punho cravando suas unhas na palma da mão e fazendo-a sangrar. Era tanto ódio que ela sentia, que seu cosmo cresceu de forma descontrolada fazendo o chão em sua voltar rachar.

— Anatole... Eu nunca, em toda minha vida, senti tanto ódio quanto estou sentido agora. Nunca! — O cosmo de Shina cresceu poderosamente, deixando seu cabelo esvoaçante. — VOCÊ PASSOU DOS LIMITES!

— Ora, ora... está ficando desequilibrada, amazona?

— Shina! — chamou Jake. — Não caia nas provocações desse desgraçado! O que ele quer é deixar você cega de raiva, fazendo com que você o ataque sem pensar!

Anatole gargalhou.

— Tarde demais, Leão. Ela já está cega e surda também. A única coisa que ela pensa agora... — Anatole preparou suas garras — É me matar! Venha Shina! O próximo coração que eu vou arrancar será o do Leão tagarela! Pecado da Serpente!

— Garras trovão!

Inconsciente de suas próprias ações e agindo simplesmente pelo impulso da ira, Shina atacou. Os golpes de ambos colidiram e momentaneamente se equilibraram, mas logo o golpe de Anatole começou a superar o de Shina. Não importava o quanto o cosmo dela crescesse, o cosmo de Anatole ainda era superior ao dela.

— Como vocês humanos são frágeis e sentimentais. Tão tolos. — desdenhou o berserker, sorrindo.

— Droga, Shina! Reaja! — disse Jake, falando através do cosmo. — Você tem que reagir ou morrerá em vão. Morrerá sem acertar um golpe nesse desgraçado e com isso a morte de Plancius também será em vão. Não serviu nem mesmo para impulsionar você. Vamos Shina! Reaja! Pensa na determinação de Retsu! Reaja, Shina! Agora!

O cosmo de Jake se elevou e rugiu, despertando Shina que estava presa na sua própria consciência. Surpreso, Anatole oscilou com seu cosmo e Shina avançou. As garras de Shina atravessaram o golpe de Anatole e cravaram no peito do berserker, fazendo o milagre de perfurar a onyx de Quimera. A imagem do cosmo de ambos era da serpente de Shina rasgando ao meio a serpente negra de Anatole.

— Eu consegui! — exclamou Shina! — Consegui acertar um golpe em Anatole! Eu... — Shina tirou as garras do peito do berserker e deu alguns passos para trás. Mas... — As garras perfuraram a onyx apenas superficialmente. — Não pode ser!

Anatole ergueu o braço e elevou o cosmo.

 Achou que suas patéticas garras fosse uma ameaça contra a minha onyx? Isso é o máximo que você é capaz de fazer! — os olhos de Anatole brilharam. — Caia diante de mim! Impacto Imperial!

A pressão esmagadora do seu cosmo forçou Shina contra o chão.

— Meu corpo... — com muita dificuldade ela conseguia respirar. A pressão estava esmagando seu corpo.

— Mudei de ideia. Te mandarei para o inferno! — gritou o berserker.

— Shina! — gritaram os cavaleiros.

— Esse é o seu fim! Pecado da... — Anatole interrompeu seu golpe quando um floco de neve passou flutuando diante do seu rosto. — Isso é... Neve?

Flocos de neve começaram a cair e o chão logo ficou coberto. Os berserkers e os cavaleiros pararam de lutar para observar o fenômeno. A temperatura caiu drasticamente a ponto de ser possível ver a respiração sair em forma de vapor.

Livre da pressão do golpe de Anatole, que agora atônito olhava para a neve que caia, Shina se levantou.

— Esse frio... Esse sucinto cosmo gélido... — Shina levantou o rosto sorrindo e com lagrimas nos olhos. — É você...

—...—


Alemanha – Munique — Gliptoteca

Eros finalmente removeu o selo de Atena. A caixa então se abriu emitindo uma luz purpura e dentro da caixa saiu dois espíritos em espiral que em seguida tomaram forma. Aparentemente eles pareciam anjos imponentemente belos. Fisicamente eram iguais, exceto que as cores de seus olhos e cabelos eram diferentes. Um tinha cabelos e olhos prateados e outro tinha cabelos e olhos dourados. Ambos vestindo um manto branco, ombreiras e elmo. Curiosamente cada elmo possuía apenas uma asa oposta a outra. Na testa de cada um brilhava um pentagrama e o cosmo que emanava deles preenchia o salão e intimidava os cavaleiros.

— E novamente estou diante de vocês... — Seiya ergueu a cabeça e olhou para os deuses. — Deuses da Morte e do Sono. Thanatos e Hypnos!

— Pégasos?! — disseram os deuses, surpresos, em conjunto.

O clima ficou um pouco mais tenso. Seiya não sabia que tipo de reação os deuses gêmeos teriam em seguida e os demais esperavam sempre o pior. A sensação de estarem diante dos dois deuses era meio perturbadora. Era absurda a vontade que eles tinham de fechar os olhos e se entregar nos braços da Morte e descansar no colo do Sono. Seiya, que esteve por anos na beira da morte sentia-se ainda mais atraído. Asclépio praticamente ressuscitou Seiya livrando ele da maldição de Hades. Seiya se sentia em dívida com a Morte.

 Thanatos e Hypnos fitaram Seiya e Shun com repudio.

— Vocês romperam o selo? — perguntou Thanatos. A voz grave do deus ecoava através do seu cosmo.

— Sim. Precisamos da ajuda de vocês. — disse Seiya.

— O que?! — Thanatou franziu a testa, com raiva.

— O que foi que você disse? — perguntou Hypnos, com sua doce e calma voz.

Seiya respirou fundo.

— Exatamente o que os senhores escutaram. — seu tom de voz estava sereno, mas também sério. — Precisamos da ajuda de vocês. — Seiya olhou para Thanatos. — Principalmente do senhor.

— Isso só pode ser uma piada! — Thanatos cerrou o punho e elevou o seu cosmo. — Você, o humano que me humilhou, vem até mim e me pede ajuda com esse falso respeito?! — Thanatos estendeu a mão e preparou um golpe. — Vou aproveitar essa segunda chance e matarei você aqui mesmo. Pensei que eu tivesse que esperar o selo perder o efeito nos próximos duzentos anos para poder me libertar e procurar o jovem que fosse a sua reencarnação, mas vejo que não será mais necessário. Vou fazer aquilo que deveria ter feito nos Elíseos! Vou matar você!

— Espere! — gritou Alkes, se aproximando de Seiya. — Por favor! Eu imploro ao senhor que pelo menos nos escute.

Hypnos cerrou os olhos e segurou no braço de Thanatos.

— Hypnos?! O que está fazendo?

— Espere, Thanatos. Não seja tão impulsivo. Vamos pelo menos ouvir o que eles têm a dizer. — disse Hypnos

— Não! Foi por causa de toda essa sua paciência que fomos derrotados. Se você não tivesse me impedido de matar o pégasos e os outros nos Elíseos, nós não teríamos sido humilhados daquela forma e o Imperador Hades teria vencido a Guerra Santa. — Rebateu Thanatos, com ódio.

Hypnos respirou fundo.

— Thanatos...

Seiya cerrou o punho. O tempo estava passando.

— Viemos pedir ao senhor que abra a Porta da Morte Eterna. — disse Seiya, apressando a conversa. Os deuses pararam de discutir e voltaram suas atenções para ele.

— Abrir a Porte da Morte? — perguntou Hypnos, sem entender. — Vocês querem ir ao Tártaro?

— Exatamente. — confirmou Seiya.

Thanatos gargalhou.

— Pégasos, o Tártaro é um lugar primordial. Humanos não podem ir para lá. Mesmo que despertem o oitavo sentido e usem armaduras divinas. — explicou Hypnos. — O Tártaro iria repelir vocês assim que entrassem.

— Sabemos disso e por isso estamos aqui. Atualmente apenas o deus da Morte pode nos dar autorização para entrar sem sofrermos as consequências que o Tártaro impõe. — disse Seiya.

Thanatos se aproximou de Seiya e ficou frente a frente com ele. Shun ficou inquieto preocupado com a vida do amigo. Thanatos estava perto demais. Ele poderia matar Seiya facilmente com até mesmo um toque e Seiya estava ciente disso. Mais uma vez, ainda que seu espirito estivesse determinado, ele se sentia impotente diante de Thanatos.

— E você realmente acha que eu vou ajudar você? Afinal, porque quer tanto ir ao Tártaro? — perguntou o deus da morte.

Seiya olhou nos olhos prateados de Thanatos.

— Atena está lá e precisamos salva-la.

Hypnos arregalou os olhos assim como Thanatos.

— Atena está no Tártaro?! — perguntou Hypnos, surpreso. — Mas como?

Thanatos sorriu.

— Não me diga que... ela foi morta?! — o deus da morte gargalhou e Seiya estava se contendo para não ataca-lo.

— Se Atena morreu e sua alma foi para o Tártaro, ela não pode ser salva. — explicou Hypnos. — A alma dela estaria fraca demais para sair de lá. Quando um deus morre a sua alma fica no Tártaro até que se recupere totalmente e possa voltar ao mundo dos vivos.

— Ela não está morta. Não completamente. — respondeu Seiya. — A Guerra Santa contra Ares começou e o Santuário foi invadido. Ainda estávamos nos recuperando das baixas que tivemos da batalha contra Hades... — Seiya cerrou o punho. — Não tínhamos condições de vencer. O oraculo de Atena revelou ao Grande Mestre que Atena iria ser morta e que Ares iria ocupar o trono do Santuário. Foi ai que... Foi ai que o Grande Mestre montou um plano. Ele fingiu ser um aliado de Ares e arquitetou uma falsa morte para Atena. — Seiya olhou para Thanatos. — Phobos, o deus do Medo, atingiu Atena mortalmente no coração... — Thanatos fez uma expressão de repulsa ao escutar o nome de Phobos. — Mas o Grande Mestre selou a alma dela e assim Atena foi para o Tártaro de corpo e alma e está nos esperando para voltar ao mundo dos vivos e deter as ambições de Ares que não só pretender governar a Terra, mas também Asgard e provavelmente o Reino de Poseidon e o Reino de Hades. Atualmente Ares está governando a Terra e espalhando guerras, levando a humanidade ao caos. Por isso precisamos ir ao Tártaro para resgatarmos Atena e deter Ares. — concluiu Seiya.

Thanatos sorriu.

— E você espera que após ouvir tudo isso eu vá cooperar? — o deus gargalhou. — Quanta inocência. Eu não gosto de Atena e muito menos de Ares. Por mim ambos poderiam se matar. E é de muita irresponsabilidade o Grande Mestre criar um plano como esse apostando tudo na minha resposta. O meu “não” sentencia vocês a derrota do mesmo jeito!

— Então vai conceder a vitória para Ares? — perguntou Seiya.

— Salvando Atena ou não, um dos dois irá vencer. E se for para escolher entre Atena e Ares, eu escolho Ares. Pelo menos ele irá lavar a face da Terra com o sangue dos malditos humanos.

— E assim ele vai governar a Terra que Hades tanto desejou nos últimos séculos.

Thanatos estendeu a mão preparou uma esfera de cosmo de cor purpura.

— A única coisa que o Imperador Hades desejava com a Terra era purifica-la da praga chamada humanos. Então presumo que a próxima Guerra Santa será entre Hades e Ares!

Seiya cerrou os dentes.

— Thanatos... não viemos aqui para lutar.

O deus da morte sorriu e estava prestes a disparar uma rajada de cosmo quando correntes negras brotaram do piso e acorrentaram os punhos e pulsos de Seiya e dos outros. Thanatos enrugou o cenho e recuou o seu cosmo.

— Realmente, não viemos aqui para lutar. Viemos para barganhar, mas não é isso o que você está fazendo.

Hypnos e Thanatos olharam surpresos para os cavaleiros.

— Quem disse isso? — perguntou Hypnos.

— Eu. — respondeu Henry, caminhando até passar por Seiya e ficar frente a frente com os deuses.

— Henry?! — disse Seiya, surpreso.

— O que você está fazendo, Henry? — questionou Alkes.

— Em uma barganha a gente dá algo em troca de valor equivalente. Não ficamos implorando por algo. — respondeu Henry.

Thanatos olhou para Henry com um olhar curioso.

— E quem é você? — perguntou Hypnos.

— Meu nome é Henry. Sou o Cavaleiro de Ouro de Câncer e tenho uma oferta para fazer a vocês. Ou melhor... — Henry olhou para Thanatos. — Para você.

Thanatos sorriu.

— E o que um mortal poderia me oferecer?

— Ora, aquilo que é a única coisa que a Morte cobiça. A vida.

— Henry... — Eros o chamou baixinho com um tom de preocupação.

— Está me oferecendo a sua vida, rapaz? — perguntou Thanatos.

— Não. Ainda não, mas sei que cedo ou tarde o senhor a terá. Estou lhe oferecendo a vida de alguém que o senhor cobice. Uma morte por vingança. Sei que não gosta de Seiya porque ele o derrotou, mas sei que não gosta muito mais de Phobos porque ele o enganou e o acorrentou como se fosse um cachorro de estimação. Isso é uma humilhação bem maior. Vai mesmo proporcionar uma vitória a ele e a Ares? Vai deixar que ele mate Seiya e saia como um superior ao senhor? — Henry ergueu uma sobrancelha e esboçou um sorriso largo. — Ora, sei que os senhores ajudaram Atena a deter Ares em uma das Guerras Santas anteriores e naquela época os senhores também não gostavam nem de Ares e muito menos de Atena. Então nada mudou. Podemos fazer um acordo em troca da passagem de ida e volta ao Tártaro.

— Que tipo de acordo? — perguntou o deus, interessado.

Henry sorriu.

— Eu posso lhe oferecer a vida de Seiya, que cedo ou tarde vai morrer mesmo, ou então a humilhação de Phobos acompanhado pela derrota e o selamento dele.

— Não faça isso Henry! — pediu Alkes. — Seiya não pode morrer! O pégasos é importante para o desfecho da Guerra Santa!

Henry olhou para Alkes por cima do ombro.

— Você quer poupar a vida de Seiya em troca da vida de milhares de pessoas que estão morrendo? Se for para salvar a Terra em troca da vida de um único homem, eu mataria sem pestanejar. — Henry voltou sua atenção para Thanatos. — Mas não cabe a mim ou a você, Alkes, decidir isso. Cabe a Morte.

Thanatou fitou Henry por um instante. Naquele momento Henry era o único humano que ficava diante dele sem hesitar. Nos olhos dos demais dava para ver o profundo desespero de estarem diante da Morte. Diante daquele que sentencia a vida dos mortais e os arrastam ao sono eterno. Henry não tratava a Morte com indiferença ou repudio. Era como se a Morte fosse algo familiar para ele. Thanatos podia ver ao redor de Henry, envolta de seu cosmo, espíritos presos a ele. Espíritos de pessoas que ele matou e desde então carrega com ele privando esses espíritos de descansarem após a morte.  

— Quantas pessoas esse homem já matou?! — pensou Thanatos. — Quantas vezes ele agiu como a própria foice da morte?! Ele carrega os mortos ao seu redor e consegue manter a consciência sã. Outros mortais enlouqueceriam se passassem algumas horas escutando os lamentos dos mortos raivosos.

— Não tem medo da morte, rapaz? — quem perguntou foi Hypnos. — Está diante de deuses e mesmo assim não se contém.

Thanatos olhou para o irmão e em seguida olhou para Henry, esperando a resposta.

— Sinceramente? Não tenho medo. Literalmente. A morte é a única certeza que temos desde o nosso nascimento e será dela a última voz que iremos ouvir. É a única que chega a todos de forma justa. Seja rico ou pobre, honestou ou desonesto, bom ou ruim. Algumas pessoas veem a morte como algo ruim, mas desde criança encaro a morte como a última fase de um ciclo natural. A única justiça. — respondeu Henry. — Por muitos anos a Morte foi minha única companhia. Não tenho motivo para temer.

— Você me acha justo? Geralmente os mortais diriam que eu sou insensível e calculista, e não estão errados nessa definição, mas você consegue ver justiça na morte? — Thanatos esboçou um sorriso no canto da boca. — Você é interessante, humano. Você diz não temer a Morte porque pelo visto não é apegado a alguém em vida, mas não teme para onde possa ser enviado de acordo com os seus pecados?

Henry colocou a mão no bolso e pensou antes de responder.

Talvez. — disse Henry. — As pessoas têm medo da Morte por três motivos. O primeiro motivo é como vão morrer. O segundo motivo é o apego pela vida, seja dela própria ou de alguém que ela ame e não quer perder. O terceiro motivo é por desconhecerem para onde vão após morrerem e é justamente por isso que os humanos se apegam as suas religiões e dizem que amam seus respectivos “deuses”, obedecendo aquilo que “eles” orientam. Fazem de tudo para se livrarem daquilo que chamam de inferno e alcançarem o Paraíso. Mesmo que tenham que fingir amar alguém que eles nem conseguem ver ou ouvir. Bem... — Henry voltou a encarar Thanatos olhando nos olhos do deus firmemente. — Não sou apegado a nada, não tenho medo de como vou morrer e muito menos me apego a uma religião ou divindade só porque temo qual será meu destino após a morte. Diria apenas que sou curioso e que estou disposto a viver intensamente.

Thanatos estreitou os olhos

 — Compreendo. Você disse que vê a Morte como um ciclo natural, então por que quer deter a morte de milhares de humanos nessa Guerra Santa? — perguntou Thanatos.

— E por acaso seriam essas mortes naturais? Não seriam elas consequência da ganância de um “deus”? Sei que vocês olham para os humanos como sendo criaturas podres, entendo isso perfeitamente, mas nem todos são assim. — Henry olhou para Shun e depois olhou para os deuses. — Não foi o Andrômeda escolhido para ser o corpo do Imperador Hades justamente por ser o humano mais puro? Existe outros como ele. Ainda dá tempo de salvar a humanidade e estou disposto a barganhar por ela.

— Talvez esteja certo. — disse Hypnos. Thanatou olhou surpreso para o irmão. — Ele me fez lembrar de uma coisa, Thanatos. Na era mitológica, quando a humanidade ainda era pura, o inferno não existia. O submundo era apenas os Campos Elíseos criado para os humanos descansarem após a morte. Com o passar do tempo a maldade corrompeu os homens e foi então que o Imperador Hades criou o inferno com leis rígidas. Era um meio de alertar os humanos que se eles continuassem a cometer seus crimes, iriam sofrer eternamente no inferno. Quando o Imperador Hades julgou que os humanos não tinham mais salvação, ele decidiu que a humanidade deveria ser extinta. Atena então tentou impedi-lo e desde então temos a Guerra Santa entre eles. — Hypnos olhou para Henry. — E você está certo no que disse, humano.  Se não existisse um provável inferno após a morte, os humanos não teriam motivo para se apegarem as suas religiões e assim viveriam intensamente. 

— O que você quer dizer com isso, Hypnos? — perguntou Thanatos.

— Que não cabe a Ares julgar e extinguir a humanidade. A extinção da humanidade foi declarada pelo Imperador Hades e apenas ele pode executa-la. Apenas um ser de bom coração como o Imperador Hades tem posição para isso.

— Então está aconselhando que eu devo ajuda-los?

— Estou. — respondeu Hypnos. — Apoiamos Atena a vencer Ares quando ela libertou você das correntes de Phobos. Podemos apoia-la novamente em troca da sua vingança, meu irmão. Ares deve ser detido. Ele é ambicioso e não vai querer apenas tomar o controle da Terra.

Thanatos olhou pensativo para Hypnos e depois virou-se para Henry.

— Dizem que na barganha um lado sempre perde. Vou aceitar uma de suas ofertas. — disse Thanatos, e tocou na testa de Henry, que arregalou os olhos e pareceu entrar em transe.  

Um pentagrama surgiu na testa de Henry e seu corpo levitou. Thanatos moveu uma das mãos e fez as correntes negras que prendiam Seiya e os outros se soltarem e se enroscaram no corpo de Henry, mantendo-o preso enquanto levitava.

— O que está acontecendo, Thanatos? — perguntou Seiya, preocupado. — O que você está fazendo?

Thanatos olhou com repudio para Seiya e moveu a mão, arremessando Seiya contra a parede.

— Um pacto. Ele me fez uma oferta e eu aceitei. — Thanatos voltou sua atenção para o Cavaleiro de Câncer. — Henry, você vai derrotar Phobos por mim, mas também irá acorrentar ele e o irmão no Tártaro. No meu Templo para ser mais exato. Essa será a oferta que você me fará. Para que esse pacto seja selado... — o chão abaixo de Henry se transformou em uma poça de água. Uma água tão cristalina que fazia a poça ser confundida com um espelho. A água então deslizou até as correntes e subiu deixando um rastro dourado por onde passava. Ao encostar em Henry a água foi absorvida pela sua pele e o cosmo de Henry se elevou reagindo. — Você deve jurar pelo Rio Estige que cumprirá com a sua oferta, mas saiba que uma vez feito o juramento você não pode quebra-lo. Ninguém pode. Nem um deus e nem mesmo um mortal. Caso o juramente seja quebrado, o indivíduo sofrerá uma punição, podendo ser a própria morte.

— Eu juro... Juro pelo Rio Estige. — respondeu Henry, como se estivesse sentido dor. — Mas você... Você também deve jurar com a sua parte no acordo.

Thanato sorriu.

— Não confia nos deuses, rapaz?

 Particularmente... Eu não acredito em deuses. A definição de “divindade” que eu tenho é muito diferente dos deuses que eu conheci até agora e dos deuses que eu já ouvi falar. — respondeu Henry.

— Interessante. — disse Thanatos, com um sorrio no canto da boca. Ele estendeu a mão e fez com que uma das correntes soltasse Henry e prendesse em seu pulso. A água do Rio Estige então subiu pela corrente e reagiu com a alma de Thanatos. — Eu juro pelo Rio Estige que cumprirei minha parte do acordo. — As correntes então moveram o corpo de Henry deixando ele frente a frente com Thanatos. — Você vê a imortalidade com uma maldição não é? — disse Thanatos, sorrindo e cochichando de modo que apenas Henry escutasse. — Logo você descobrirá qual é a outra habilidade que o Rio Estige possui. Antigo servo de Hera.

A poça de água sumiu e as correntes se desfizeram derrubando Henry no chão. Suado e com a camisa grudada em seu corpo, Henry sentia que algo se mexia dentro dele. Através de suas veias.

— O que... O que está acontecendo comigo? — perguntou ele. — Sinto meu corpo formigar.

— É a água do Rio Estige circulando em você. — respondeu Hypnos. — Lembre-se do que Thanatos disse. Ninguém pode quebrar a promessa. Desse jeito, se você não cumprir com a sua promessa, a água irá se tornar ácida e vai corroer você até os ossos. No final do dia você estará morto. Contudo, antes que o galo cante pela manhã, seu corpo irá se reconstruir para que assim você possa sofrer novamente por cem anos. Vai desejar a Morte todos os dias, mas ela fugirá de você.

Arfando, Henry olhou para os deuses e sorriu. Um sorriso assassino.

— Uau, que maldição legal.

O cosmo de Thanatos se elevou e seus olhos brilharam como faróis. Do seu cosmo surgiu letras gregas de cor purpura que se espalharam pelo salão e depois se organizaram formando um pequeno texto.

Para nas trevas andar, a luz deve guiar. Para que cinco guerreiros sobrevivam, cinco ovelhas se sacrificam. Para no sofrimento eterno não cair, de cinco puros devem a vida possuir.

Seiya e os outros olharam surpresos.

— Isso é... uma profecia? — perguntou Alkes.

— Exatamente. — respondeu Thanatos, com uma voz grave que ecoava pelo salão e pelos corredores. — Esse é o único meio para vocês irem ao Tártaro e saírem com vida. — Thanatos olhou ara Henry. — Esse pentagrama em sua testa é um símbolo de que uma parte do meu poder habita em você. Você poderá invocar a Porta da Morte assim que fizer o sacrifício. Porém, deixo vocês advertidos, que desde o início dos tempos o Tártaro foi um local intocado pelos humanos. Divindades primordiais habitam lá, mas acima de tudo, o Tártaro em si é o próprio deus.

O cosmo de Thanatos recuou e a imagem do deus oscilou.

— Descanse, Thanatos. — disse Hypnos. — Você se esforçou demais.

— Pessoal, conseguimos o que queríamos. Agora temos que ir. — disse Alkes.

— Tem razão. — disse Eros.

Seiya virou-se para os deuses e acenou com a cabeça.

— Eu agradeço pelo o que fizeram hoje.

— Não precisa. — disse Hypnos. — Na verdade vocês vão se arrepender do pedido que fizeram. Barganhar com a Morte é uma atitude de desesperados. — Hypnos olhou para Shun. — Andrômeda... Faça logo o que deve ser feito.

Shun acenou com a cabeça dizendo que estava pronto e estendeu a mão para os deuses. Os selos de Atena, que estavam presos nas paredes, se soltaram e voaram em direção aos deuses gêmeos.

— Shun... Essa quantidade de cosmo... — Seiya virou-se preocupado para Shun.

 O cosmo de Shun formou um turbilhão que envolveu as divindades desfazendo suas imagens e os levando para dentro da caixa que em seguida se fechou e foi lacrada pelos selos.

— Consegui. — disse Shun, sorrindo, e em seguida desmaiou.

Antes que ele caísse no chão Eros correu e o segurou.

— Ele está bem. — disse o cavaleiro de peixes. — Apenas exausto.

Seiya soltou o ar, aliviado.

— E agora? O que vamos fazer? — perguntou Alkes, olhando para Seiya. — A profecia...

Henry virou-se para a saída do salão e caminhou elevando o cosmo. Seus como agora estava diferente. Parecia ainda mais obscuro. Sua expressão estava séria e seus punhos estavam cerrados. O seu cosmo se materializou vestindo ele com a armadura de ouro de câncer e uma longa capa preta presa nas ombreiras.

Eros olhou preocupado para ele.

— Henry?! Você está bem?

— O que temos que fazer agora... — Henry sumiu na escuridão do corredor. — É matar.  

—...—

 


Alemanha - Castelo de Hades

Anatole sentiu uma presença atrás dele e arregalou os olhos virando-se e ficando frente a frente com o jovem cavaleiro de bronze vivo, em pé e sem nenhum dano em sua armadura.

— Mas... isso é... impossível! Eu matei você! — Questionou o espectro. — Arranquei o seu coração com minhas próprias mãos! Como é que você pode estar vivo?!

— Você estava cego demais achando que estava vencendo, mas na verdade você perdeu! — Plancius concentrou cosmo em seu punho e disparou o seu golpe. — Encantamento boreal!

Uma sequência de socos gélidos foram disparados contra Anatole e ele os recebeu em cheio, sendo arremessado para trás e caindo de costas no chão. Furioso, ele se levantou preparado para atacar Plancius.

— Desgraçado! Como teve a ousadia de me enganar! Como um Cavaleiro de Bronze teria essa capacidade?

Hugo estreitou os olhos e notou que havia uma leve distorção dimensional próximo a Plancius.

— Não acredito! — disse ele, arregalando os olhos. — Espere, Anatole! Isso não é obra de um Cavaleiro de Bronze! Isso é...

Tomado pela raiva, Anatole não ouviu a advertência de Hugo e saltou contra Plancius, mostrando suas garras afiadas. O berserker atacou, mas suas garras foram paradas por um vitral circular. No vitral havia a imagem de um anjo de expressão séria emergindo de um lago cristalino. Na mão direita ele carregava uma espada e na mão esquerda um cálice¹.

O som de um coral ecoou no céu e as nuvens de tempestade se tornaram nuvens alvas como a neve.

— Um... anjo? Mas o que é isso?! — perguntou Anatole. — O que está acontecendo?

— Angeli Specularibus! — a voz era masculina e as palavras foram ditas em latim ecoado com o coral. — O único cego e surdo aqui era você, berserker. Está na hora de você pagar pelos seus pecados. — a voz era serena e ecoava com o evento. Atrás do vitral surgiu um homem emanando um cosmo dourado poderoso, trajando uma armadura de ouro e uma longa capa branca presa em seu ombro. O seu cabelo liso e escuro caiam em seu ombro com as pontas onduladas. Seus olhos castanhos emanavam uma pureza igual à do seu cosmo. — Shina, pode descansar. Eu assumirei a batalha daqui pra frente.

— Um Cavaleiro de Ouro?! — disse Anatole, espantado. — Você é... O homem que residia na casa de Virgem!

— Shalom. Meu nome é Shalom de Virgem. — Shalom estendeu a mão e o vitral brilhou e explodiu em forma de rajada que lançou Anatole para o alto.

— O Cavaleiro de Virgem veio para o campo de batalha? — pensou Hugo, preocupado.  O cosmo que esse homem emana...

Hugo olhou para Jake e viu que o Leão também tinha notado. O cosmo de Shalom era extremamente poderoso.

— Esse cosmo... Essa imponência...  — pensou Jake. — É tão poderoso quanto o cosmo de Seiya e o de Kastor. Como esse homem pode ser tão poderoso e eu nunca ter sentido uma faisa do seu cosmo mesmo estando na casa vizinha a dele?! Espere... — Jake arregalou os olhos. — Aquilo... Aquilo foi uma ilusão criada por você?

Shalom consentiu.

— Escondeu a sua presença e ainda me fez de idiota com aquela ilusão? — Anatole sorriu mostrando seus dentes afiados. — Ah Virgem, você vai pagar por isso. — Anatole elevou seu cosmo e avançou em ziguezague. — Vou rasgar você ao meio. Morra miserável! Pecado da Serpente!

Calmamente Shalom elevou o cosmo e estendeu a palma da mão, parando o golpe e os movimentos de Anatole.

O que está acontecendo?! Eu não consigo me mexer

— Você é realmente uma serpente ardilosa que usa de métodos sujos para conseguir seus objetivos. — disse Shalom.

— É incrível. Ele se quer fez esforço para deter o golpe de Anatole. — comentou Nachi.

Anatole abriu um largo sorriso.

— Que comentário perspicaz, Virgem. — os olhos de Anatole brilharam e uma pressão esmagadora caiu sobre Shalom. Jake sentiu que a pressão estava mais poderosa do que as anteriores que Anatole havia aplicado, mas a pressão nem parecia atingi Shalom. — Você pode tentar se esforçar o quanto quiser, mas logo suas pernas irão ceder diante da pressão do meu cosmo. Vou esmagar os seus ossos! Impacto Imperial!

— Não adianta! — disse Shalom elevando o cosmo.

— O que?! — Anatole reagiu surpreso.

 Irei expurgar você da Terra. — da palma da mão de Shalom surgiu uma aparentemente inofensiva chama, mas em seguida essa chama cresceu e explodiu em um turbilhão que envolveu Anatole e o encurralou. — Seja julgado pelos seus crimes e desapareça! Ignis iudicio!

Anatole arregalou os olhos e o fogo se agitou e explodiu em uma coluna de chamas que subiu ao céu. Em meio as chamas Anatole gritava até ser reduzido a pó e restar apenas a sua onyx.

— Ele derrotou um berserker com apenas um golpe?! — disse Jabu, surpreso.

Shalom removeu sua capa e caminhou até Shina, cobrindo-a.

— Você está bem, Shina?

— Não precisa se preocupar comigo, Shalom. — um tremor fez Shina e os outros olharem para a floresta próxima ao mausoléu. — Kastor e o deus Polemos ainda estão lutando.

— Entendi. Talvez eu dava ir auxiliar Kastor. — disse Shalom, se levantando.

Hugou olhou ainda mais surpreso para Shalom e deu alguns passos se afastando de Jake.

— Espere Virgem! Responda-me uma coisa... O Cavaleiro de Gêmeos criou um labirinto dimensional envolvendo e restringindo esse local. Como você atravessou a dimensão livremente? — perguntou o berserker

— Eu estava indo me encontrar com Seiya, mas fui atraído pelo cosmo de vocês, cruzei o espaço dimensional e cheguei a tempo de salvar o jovem cavaleiro de bronze. — explicou Shalom.

Hugo sorriu e olhou para o céu.

— Então quer dizer que você foi atraído por uma fenda na dimensão?! — as asas negras de Hugo se materializaram. Gêmeos deve ter perdido a concentração e sua barreira falhou. Essa é a minha oportunidade! — pensou Hugo e expandiu seu cosmo, afastando os cavaleiros e berserker que estavam próximos a ele. — Saiam da minha frente!

Hugo bateu as asas e fez impulso voando contra a barreira, mas antes que ele se aproximasse e atravessasse a fenda, nuvens negras de tempestade surgiram disparando raios dourados e ecoando trovões ensurdecedores. Hugo parou sua trajetória e cerrou seu punho. Estava determinado a atravessar quando sentiu que algo se aproximava dele vindo por trás. Ao virar-se viu um leão dourado feito de cosmo subindo em sua direção e mostrando suas presas afiadas. Em um contra-ataque Hugo disparou uma rajada de raios que colidiu e explodiu com o golpe de Jake.

Hugo pousou com força e seu pouso abriu uma pequena cratera.

— Está mesmo disposto a lutar comigo, Leão. — raios coloridos dançavam em volta de Hugo.

Não vou permitir que saia vivo daqui. — respondeu Jake.

Hugo olhou para a fenda e sorriu.

Tudo bem então. — disse Hugo.

O cosmo de ambos se elevaram e em forma de raios avançaram e colidiram sem que eles dessem um único passo.

Assim como o Leão, Hugo também manipula raios. — pensou Ortros, que os observava. — O nível do cosmo deles é praticamente idêntico. Provavelmente eles vão entrar naquilo que os cavaleiros chamam de “Guerra dos Mil dias”. Da mesma forma que aconteceu quando Hugo enfrentou o Cavaleiro de Câncer na Espanha. — Ortros cerrou o punho e elevou o cosmo. — Agora o Leão apenas enxerga Hugo, e Hugo apenas enxerga o Leão. Esse é o momento oportuno para matarmos o Cavaleiro de Ouro. Berserkers!!

Ortros avançou junto com os outros berserkers para atacar Jake covardemente, mas Shalom se teletransportou e surgiu diante deles interceptando o avanço.

— Jake, concentre-se na luta. — disse Shalom. — Eu cuidarei deles.

— Obrigado. — agradeceu Jake.

— Saia da nossa frente, Virgem! — gritou Ortros.

— “Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos...”¹ — sussurrou Shalom.

O cosmo de Shalom se elevou e anjos surgiram flutuando com imponentes asas brancas abertas, trajando armaduras douradas e com espadas na mão.

— Não posso acreditar... Anjos? — Ortros parecia tremer. — Eu, um berserker do exército do senhor Phobos, estou com... Medo?!

— Angeli impetum! — Os olhos de Shalom brilharam e os anjos foram tomados pelo cosmo do Cavaleiro de Virgem.

 Os guerreiros celestiais ergueram suas espadas concentradas com cosmo e avançaram contra os berserkers retalhando suas almas. Os anjos se desfizeram em cosmo e Ortros e os demais berserkers caíram mortos.

— Agora é apenas você e eu, Leão. — disse Hugo.

— Vamos acabar logo com isso. — disse Jake.

Ambos concentraram seus raios em seus punhos e saltaram contra o outro. Em seu cosmos, a imagem era de um Leão dourado contra um demoníaco Corvo negro de olhos vermelhos.

—...—


Referências:
¹-
O anjo que aparece no vitral de defesa de Shalom é o Anjo Raziel na forma que ele é descrito na Saga "Instrumentos Mortais - Cidade dos Ossos" da autora Cassandra Clare. 
²- A citação bíblica feita por Shalom é um versículo encontrado no livro de Salmos 91:11


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Próximo capítulo: sinopse indefinida.

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