A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 32
Capitulo 30 - Rosa diabólica e a dança das almas.


Notas iniciais do capítulo

A próxima lua de sangue se aproxima e Seiya e os outros tentam chegar o mais rápido possível ate Thanatos, mas outros inimigos aparecem no caminho para detê-los. Dessa vez um jardim de rosas surge para impedir o avanço, mas é dado um conselho: Nunca subestime uma rosa por causa de sua beleza e delicadeza. O jardim de rosas exala um forte aroma de sangue.



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Capítulo 30 - Rosa diabólica e a dança das almas.


Girona, Espanha

O quarto era pequeno. Tinha apenas dois beliches e um criado mudo encostado na parede entre as camas. A parede era branca e o teto era de gesso, com uma lâmpada pendurada em um lustre simples. Havia uma janela que dava para a rua, deixando-o razoavelmente iluminado.

— O que será que aconteceu com Kastor naquela luta? — perguntou Shina, que estava de braços cruzados olhando para a rua pela janela. Ela estava sem a máscara e estava usando uma calça jeans escura, uma blusa verde e um casaco roxo. — Não sinto o cosmo dele.

— Fora de qualquer barreira, cedo ou tarde, outros vão aparecer e nos encontrar. — disse Shun, que estava deitado em um dos beliches. Ele estava olhando o teto com os braços cruzados atrás da cabeça. — E cada vez mais poderosos.

— Adonis... Eu não lembro dele no Santuário. — disse Retsu que estava sentado na cama de baixo do mesmo beliche em que Shun estava deitado.

A porta do quarto então se abriu e Plancius entrou acompanhado de Alkes, Jabu e Nachi. Todos olharam surpresos, exceto Seiya. O Cavaleiro de Sagitário, que estava sentado na outra cama de frente para Retsu, permaneceu de cabeça baixa olhando para a armadura de Atena em suas mãos. Todos estavam com roupas civis. Suas armaduras permaneciam unidas aos seus cosmos.

— É porque Adonis não fazia parte do grupo de berserkers que tinham ido ao Santuário com Phobos e Deimos. — disse Alkes. Jabu fechou a porta para que ninguém no corredor escutasse a conversa. — Ele faz parte do grupo que ficou em Roma cuidando do corpo de Ares, então presumo que tenha sido Ares quem o enviou.

Shina franziu a testa.

— Como você já sabe do ataque e...

— Plancius me contou tudo. — disse Alkes.

Shina encarou Plancius cerrando os olhos. O jovem cavaleiro colocou as mãos no bolso e olhou de lado de cabeça baixa.

— Ele é persuasivo. Não podem me culpar.

Retsu sorriu.

— Nós sabemos como Alkes é, Plancius. Não se preocupe.

Alkes deu alguns passos e parou entre as camas cruzando os braços.

— Sabem que o que fizeram foi errado, não é? Foi imprudente não terem me avisado. — Alkes olhou para Shun que estava deitado. — Me ligar e ocultar que estavam sendo atacados foi uma atitude imatura. Esperava mais de você, Shun. — Shina olhou para Alkes surpresa com o tom que o Cavaleiro de Prata usou com Shun que, apesar de ser um Cavaleiro de Bronze atualmente, é superior até mesmo aos Cavaleiros de Ouro. Mas Alkes não se importou com a hierarquia de se voltou para Seiya. — Atena precisa ser auxiliada no Tártaro. Lá está infestado de criaturas e deuses que a odeiam. Nesse momento o senhor Delfos deve estar com ela a protegendo o máximo que pode até que cheguemos lá. E essa armadura que está em suas mãos, Seiya, é de extrema importância para garantir a vitória de Atena nessa guerra santa. Devo lembrá-los que ninguém do exército de Ares sabe sobre a armadura de Atena estar com Seiya, mas Seiya sempre vai ser o alvo principal simplesmente por ser o matador de deuses. Devem ser mais cuidadosos. Não queremos aumentar ainda mais o nível de prioridade de Ares em relação a nos matar.

Shina suspirou.

— Alkes....

— Fiquem aqui. — disse ele, interrompendo Shina. — Pedi para que os soldados saíssem pela cidade em missão de reconhecimento. Eles possuem cosmos baixo do mesmo nível que os civis. Vão ser ignorados pelos berserkers. Duvido muito que Adonis tenha vindo sozinho.

— Acha que tem mais? — perguntou Nachi.

— Agora que o exército de Ares sabe que estamos indo para a Alemanha, eles vão enviar berserkers por toda a Europa. Sabiam que não iriamos passar pela Itália por causa da barreira que cobre Roma e devem ter imaginado que iriamos querer pegar o caminho mais rápido possível e esses caminhos só poderia ser pela Espanha ou pela França. Devia ter espiões no porto e nos viram quando desembarcamos. Pelo que Plancius me contou, o berserker estava seguindo vocês, mas sem se revelar. Acredito que ele estivesse querendo saber mais sobre a missão antes de atacar.

— Se você estiver certo sobre ter sido Ares quem enviou o berserker, então parece que Ares está cada vez mais ativo — comentou Retsu.

— E está. Ele já deve estar se curando do veneno. A lua de sangue está cada vez mais próxima e Ares está cada vez mais forte. — disse Alkes. — Temos que tomar mais cuidado.

— Alkes. — chamou Seiya.

Alkes olhou para Seiya, que permanecia de cabeça baixa olhando para a armadura.

— Sim?!

— Já chega. Descanse. Vamos esperar os soldados voltarem e partiremos no final da tarde, como tínhamos combinado.

—...—


Arena do Santuário de Atena, Grécia.

— Vai à algum lugar, Alec? — perguntou Tourmaline, trajando a armadura de bronze de Ave do paraíso. Ela desceu as escadarias da Arena e foi até Alec, que estava sentado na arquibancada.

Alec estava com roupa civis. Uma camisa branca, calça jeans clara e sapato preto. Seu cabelo loiro estava bagunçado. Ao lado dele estava a urna da armadura de prata de lagarto. Ele olhava pensativo para a arena vendo os soldados treinando. Tourmaline se sentou ao lado dele e cruzou as pernas.

— Eu estou pensando em sair do Santuário. — disse Alec.

— Sair do Santuário? Mas por quê?

Alec respirou fundo e liberou o ar em um longo suspiro.

— Vou tomar o lugar de Pavlin nessa guerra santa. — ele cerrou o punho e seus olhos se encheram de lagrimas. Para que as lagrimas não escorressem em seu rosto, Alec levantou a cabeça e olhou para o céu. — Eu tenho que... Tenho que tirar esse peso de cima de mim.

Tourmaline sorriu, mas ao olhar para Alec viu que ele estava falando sério.

— Você não está brincando, não é? Mas você não pode. — disse ela seria. — É o líder dos Cavaleiros de Prata e se sair do Santuário será morto. Será visto como um traidor e será caçado como um desertor.

— Eu não sou mais o líder dos Cavaleiros de Prata. Anatole tomou o meu posto alegando não confiar nos cavaleiros. E agora com Hugo formando grupos para caçar Seiya e os outros, logo eu serei chamado. — Alec se levantou. — Já terei partido antes disso.

— É suicídio. Existem soldados, cavaleiros e berserkers vigiando os arredores do Santuário. — Tourmaline, ainda sentada, cruzou os braços. — Não quero enterrá-lo por causa de uma atitude imprudente como essa.

Alec colocou a urna nas costas e olhou para Tourmaline.

— Eu já tomei a minha decisão.

— Mas Alec...

— Não se preocupe comigo, Tourmaline.

—...—


Girona, Espanha

A cidade estava bastante agitada. Girona é uma das cidades que mais atrai turistas e nos finais de semanas as ruas ficam repletas de pessoas fotografando a arquitetura da cidade.

Os soldados do santuário se disfarçaram de turistas e entraram no meio da multidão procurando qualquer sinal de berserkers ou espiões do Santuário.

— É... aparentemente não tem nenhum por perto. — comentou um soldado, que vestia uma camisa azul de manga curta, uma calça jeans, sapatos escuros e um boné preto com a bandeira da Espanha bordada. — Mas não dá para ter certeza. No meio de tanta gente fica difícil rastrear.

— Vamos dar mais uma volta só para conferir. — disse o outro soldado, que estava com camisa marrom, calça escura e sapato preto. — Já está quase no final da tarde.

O soldado acenou com a cabeça concordando e seguiram em frente. Depois de darem mais uma ronda nos quarteirões, eles se encontraram em um beco entre duas altas casas estilo europeu.

— E então? — perguntou o de boné. — Algo?

— Nada. Está tudo limpo.

Um corvo entrou no beco grasnando. O som era ensurdecedor. Os soldados levaram as mãos aos ouvidos, mas parecia que a cabeça deles ia explodir. O corvo pousou no chão, mas não parava de grasnar. Os soldados então começaram a se curvar de dor. Gritavam dizendo que não estavam mais enxergando e que sentiam dor no corpo.

O corvo parou de grasnar e tomou uma forma humana. Um jovem berserker magro, de cabelo verde claro curto, pele pálida e olhos vermelhos que mudaram para dourado. O beco de repente foi tomado por sombra e das sombras começaram a surgir berserkers com onyx espectrais.

— Se continuarem gritando assim vão acabar chamando a atenção dos civis e mais pessoas vão morrer. — disse Hugo.

Um dos berserkers pisou na cabeça de um dos soldados e forçou contra o chão.

— Responda logo... Onde está Seiya e os outros cavaleiros? — sua voz era roca e profunda. Sua onyx lembrava um bode com longos chifres negros curvados.

— Podem me matar se quiser, mas não vamos dizer uma palavra se quer. — disse o outro soldado, tentando se levantar.

— Vai resistir tanto assim? — Um grande par de asas abriram nas costas de Hugo e o cobriu como se fosse um manto. Seu elmo mudou de forma e se transformou em um crânio negro de um corvo gigante. O crânio cobria todo o seu rosto. Seus olhos voltaram a brilhar em uma cor vermelha sedenta por sangue. — Não estamos em momento de negociações. Baphomet!! — gritou Hugo, chamando o berserker que em sua onyx tinha cifres curvados como um bode. — Pegue um dos soldados e faça com que sirva de exemplo para o outro.

— Sim, senhor. — disse o berserker, estralando os dedos.

Ele agarrou um dos soldados pela cabeça e o lançou para o alto. Quando o soldado voltou a cair Baphomet aplicou uma sequência de socos e em seguida o afundou no chão dando uma cotovelada em suas costas. Antes que o soldado tentasse se levantar, Baphomet pisou com toda a sua força na cabeça do guerreiro esmagando-a. Sangue espirrou para todos os lados. Os berserkers riram diante de tanta crueldade.

— Vamos começar novamente. — disse Hugo dando alguns passos e levantando a cabeça do soldado com o pé. — Onde está Seiya e os outros?

— Me mate da mesma forma se quiser, mas eu não vou responder! — gritou o soldado. — Daremos a nossa vida para salvar a senhorita Atena.

— Escolheu as palavras erradas, jovem. — os olhos de Hugo brilharam em vermelho e penas negras começaram a surgir no beco. — Vamos ver até que ponto você aguenta. — Hugo estendeu as mãos e as penas foram até o soldado, perfurando-o e o prendendo na parede. O jovem cerrava os dentes e mordia os lábios para não gritar de dor. — Você pode prolongar todo esse sofrimento ou pode cooperar.

O rapaz parou de resistir. Hugo pensou que o soldado ia então voltar atrás e dizer onde Seiya estava, mas se enganou.

— Comece logo. — disse o soldado, encarando Hugo com ódio. — Pode arrancar quantos membros quiser. Eu não vou dizer nada. Você me ouviu?!! — gritou ele. — Não vou dizer nada!!!

— Veremos. — disse Hugo, com um tom sádico. Hugo abriu a mão e uma pena envolvida em um cosmo roxo apareceu flutuando. A pena porém era feita de onyx e era bastante afiada. — Vamos começar tirando um pouco do brilho dos seus olhos. — o berserker cravou a pena no olho esquerdo do soldado e rapidamente girou, arrancando o olho. O jovem voltou a morder os lábios para abafar o grito desesperado de dor. De um olho escorria lagrimas, mas do outro apenas sangue. Ele chorava de tanta dor que sentia. Sua boca também começou a sangrar devido as fortes mordidas. — Vai cooperar? Posso dar continuidade a esse desagrado a tarde toda.

— Pare de falar. — disse ele com a voz envolvida por dor, mas repleta de ódio. — Está gastando saliva em vão.

— Ora, seu desgraçado... — violentamente Hugo pisou no braço do soldado contra a parede e cortou uma das mãos. Sangue jorrou em um jato que espirrou nos berserkers, os quais não se incomodaram. Dessa vez o grito de dor quase escapou, mas ele aguentou. Para enganar a dor ele se contorcia, mas isso fazia com que as penas que prendiam seu corpo na parede o machucassem ainda mais. — Bem... vamos ter que cuidar desse seu ferimento. Se perder muito sangue vai acabar morrendo. Ortros! Estanque o sangue!

Do grupo de berserkers saiu um homem de pele pálida e cabelos azuis esbranquiçado. Sua onyx representava um cão bicéfalo com rabo de serpente. Seu sorriso era repleto de dentes afiados. Seus olhos eram vermelhos e da palma de sua mão uma chama se formava. Ortros se aproximou do soldado e começou a queimar o seu ferimento para assim poder estancar o sangue. A dor foi tão insuportável que ele gritava e chorava desesperado. Sua calça ficou molhada de urina e seu corpo tremia. Os berserkers caíram na gargalhada ao ver o estado lamentável.

O grito do jovem chamou a atenção de uma menina que passava próxima ao beco. Com medo e ainda assim curiosa, ela entrou para descobrir de onde estava vindo aquele barulho. Quando ela viu o soldado preso na parede e o grupo de Hugo o torturando, ela deu um grito, mas logo se arrependeu e levou a mão a boca torcendo para que ninguém a tenha escutado, mas escutaram. Todos olharam para ela. Baphomet correu para capturá-la. Ao ver aquela criatura que parecia um humano com cabeça metálica de bode, com olhos vermelhos e melado de sangue correndo para pegá-la, ela sabia que tinha que correr, mas o medo era tanto que as suas pernas não se mexiam. Baphomet a capturou e a levou para Hugo.

— Quanto azar minha jovem. Tenho pena de você. — disse ele, sendo irônico.

— Quem são vocês? — perguntou ela assustada. Era uma menina aparentemente com quatorze anos de idade. Cabelo ruivo, sardas na bochecha e olhos verdes.

— Somos o mais próximo daquilo que vocês chamam de demônios. — respondeu Ortros.

Hugo a segurou e colocou a pena afiada no pescoço da garota.

— Solte-a! Ela é inocente! Não pertence ao nosso mundo! — disse o soldado.

— Quanta honra. Se quer que eu a solte, me dê o que eu quero. Onde está Seiya de Sagitário? — Hugo apertou a pena contra o pescoço da jovem até uma gota de sangue escorrer. Sentindo a lâmina cortar a sua pele, a menina deu grito e começou a chorar. — Vai preferir ver a cabeça dessa jovem sendo arrancada? Será que Atena permitiria isso?

— Droga!! — gritou o soldado. — Eu conto! Eu digo onde eles estão.

— Ótimo! Comece a falar então. — disse Hugo.

— Eles estão hospedados em um hotel na próxima rua. No final do dia, quando começar a anoitecer, eles vão sair do hotel e irão cruzar a fronteira entre Espanha e França. — as palavras saiam em lamentos. — Agora, seu covarde, deixe ela ir.

— Só isso? — Hugo relaxou os ombros em um suspiro. — Muito bem. — ele soltou a menina e fez a pena desaparecer. — Não tenha medo, garota. — disse Hugo com uma voz meiga. Seu elmo se dissolveu em sombras, deixando seu rosto a mostra — Calma. Eu não sou um monstro. Eu disse que não iria matá-la se ele cooperasse. — Ele ajeitou o cabelo bagunçado da menina e sorriu para ela. Ela soluçava com medo. — Você vai embora, mas me promete que não vai falar sobre o que você viu a ninguém? — a menina balançou a cabeça dizendo que sim. — Ótimo! Ótimo! Agora vá.

Se sentindo aliviada, a menina correu em direção a saída do beco. Quanto mais ela se aproximava da saída, mas ela chorava de felicidade, mas ela percebeu que as paredes ao seu lado estavam ficando negras na medida em que ela avançava. Sua esperança se transformou em medo e seu corpo gritava em desespero para que ela saísse o mais rápido possível dali, mas braços negros brotaram da parede e a seguraram. Berserkers com olhos sedentos de sangue e presas afiadas se projetaram das sombras sorrindo como loucos. Ela gritou quando elas cravaram as garras em sua pele e a desmembraram.

Hugo sorriu vendo tudo aquilo. Já o soldado arregalou os olhos e de boca aberta não sabia o que dizer.

— Eu prometi que não iria matá-la. — Hugo sorriu. — Mas eles não prometeram nada. Agora que você não tem nada para me oferecer... — com um rápido movimento Hugo arrancou a cabeça do soldado. — Berserkers, vamos logo! Vamos caçar as gazelas de Atena.

—...—


Hotel em Girona, Espanha

— Eles não voltaram. — comentou Plancius, que estava junto com Seiya e os outros em frente ao hotel. — Será que eles se perderam?

— Ou fugiram. — disse Jabu. Seiya olhou de lado para Jabu o repreendendo. — O que foi? Eles podem ter ficado com medo.

— Medo não é um sentimento bom para sentirmos nesse momento. — comentou Alkes. — Vocês estão sentindo esse aroma de rosas?

— Não podemos ficar aqui esperando. — disse Shina, ignorando a pergunta de Alkes. Ela se virou e viu o jovem que auxilia a senhora na hospedagem. — Deixe um recado na recepção mandando que eles voltem para as suas famílias. Pelo menos eles devem ter um final feliz nisso tudo.

— Pode deixar. — disse o garoto, com um sorriso largo.

— Vamos de carro? — perguntou Nachi

— Não. Temos que deixá-los aqui. Seguiremos correndo até a fronteira e de lá pegaremos pela floresta até a Alemanha. — disse Alkes.

— Ótimo. Do luxo para a antiguidade. — disse Jabu. — Vamos. Estão esperando o quê?

Jabu começou a correr na frente e em seguida os demais começaram a correr também. Teriam que cruzar a noite correndo até chegar na França.

— Só não entendo por que temos que fazer isso de noite. — disse Plancius

— Além de ter menos civis nas ruas, também diminui a quantidade de espiões ativos pelo Santuário. Também ajuda para que o cansaço demore mais para nos afetar. — respondeu Seiya.

Eles seguiam correndo pelas ruas evitando as mais movimentadas. Horas se passaram e era quase meia noite quando entraram em uma rua totalmente deserta. Tudo estava normal até que sussurros começaram a soar com o vento. O ar ficou mais gélido e uma neblina começou a se formar. No meio da neblina luzes fosforescentes azuladas pairavam com movimento lentos.

— Pessoal! — chamou Jabu. — Acho que temos companhia.

Seiya parou de correr e os outros também. Com um olhar sério e desconfiado, ele olhou de um lado para o outro. Mesmo com a temperatura baixa e seu corpo se arrepiando, suor escorria do rosto de Seiya.

— Seiya! — chamou Shun. — Está sentido o cosmo?

— Estou. Prepare as suas correntes, Shun.

Uma risada sinistra e sádica ecoou.

Um buraco negro girando em espiral surgiu no céu, e a sua força de sucção sugava as luzes fosforescentes e a neblina.

— Mas o que é aquilo?! — disse Nachi, espantando.

Uma silhueta apareceu em meio a neblina. Um homem vestindo uma armadura de ouro.

— Não pode ser! — Seiya arregalou os olhos e deu alguns passos à frente. — Essa armadura de ouro é...

— Cavaleiros de Atena, eu lhes convido ao mundo onde vocês não passam de vermes inúteis. — a neblina se dissipou e revelou o cavaleiro.

— Outro cavaleiro de ouro!! — disse Plancius, surpreso.

— Câncer!! — gritou Seiya, fervendo em ódio.

— O Cavaleio de Câncer que matou Shiryu? — perguntou Jabu.

— O próprio. — disse Seiya cerrando o punho. — Eu vou vinga-lo!! — Seiya correu em direção a Henry concentrando seu cosmo em seu punho. — Morra!!

Henry sorriu.

— Vá para o inferno! — disse ele, com um sorriso sádico. — Sekishiki Meikai Ha!!

 Seiya!! — gritou Shina.

Seiya desviou do golpe com uma velocidade que deixou Henry atônito, e desferiu o soco no rosto do Cavaleiro de Câncer. O soco foi tão forte que lançou a cabeça de Henry para o lado e arrancou o seu elmo.

Mas por estar tão próximo de Henry, Seiya acabou se descuidando. Ele foi tomado pelas ondas do Sekishiki e começou a ser sugado para o buraco que levava para a Colina do Yomotsu. Antes que o buraco se fechasse Shun materializou suas correntes e a jogou em direção ao buraco.

— Vá corrente!!! Onda Relâmpago!! — As correntes de Shun atravessarem o buraco indo em busca de Seiya.

— Você não vai poder salva-lo se sua alma não estiver no seu corpo, Andrômeda!! — gritou como um louco assassino apontando o dedo para Shun. — Vou manda-lo para junto dele. Sekishi...

Shun não podia ser enviado para lá. Caso contrário todos acabariam presos no Yomotsu e a resistência terminaria ali. Ares iria vencer a guerra e os humanos perecerão.

— Eu cuido dele, Shun!! — gritou Alkes, correndo contra Henry.

Alkes abriu os braços com as palmas das mãos abertas e concentrou cosmo em sua volta. O seu cosmo brilhava como cristais de gelo. Reunindo o cosmo necessário, ele estendeu as mãos para baixo, e ao cruzá-los, sua energia se solidificou em várias lanças sólidas de gelo e oricalco que foram disparadas contra Henry.

 Lanças de gelo da lótus branca!!

— O quê?! — Uma das lanças pegou Henry de raspão, mas deixou uma rachadura em sua armadura de ouro.  As lanças podem perfurar uma armadura de ouro?! — Para não ser pego pela lanças em cheio, Henry usou de sua velocidade para desviar delas. — Você é um cavaleiro?

O buraco que levava ao Yomotsu oscilou e se abriu novamente graças as correntes de Shun que trouxeram Seiya.

— Você não morre mesmo, não é?! — disse Henry, com um sorriso no canto da boca. — Antes vou ter que dar um jeito no Andrômeda.

— Como alguém como você pode estar vestindo uma armadura de ouro? — perguntou Seiya, tirando a corrente de Shun do seu braço. Seu cosmo emanava e cobria o seu corpo, se materializando na armadura de Sagitário.

— Oi? — disse Henry, impressionado com a pergunta de Seiya e com o cosmo se materializando.

— Como uma armadura que é destinada a quem luta pela justiça, pode continuar a vestir alguém sem caráter como você?

Henry sorriu e sua expressão assassina mudou para um sádico despreocupado.

— Eu me pergunto a mesma coisa, sabia? — disse sorrindo e com tom de deboche. — Acho que ela também gosta disso tudo. Morte, torturas, atrocidades, sofrimento... Tudo isso tem um sabor sem igual. Se não gostasse teria me abandonado quando eu matei o Cavaleiro de Libra. — Henry sorriu e levou a mão ao rosto, saboreando a expressão de pavor feita por Seiya. — Você tinha que ver, Seiya. Você tinha que ver. — O sorriso largo de Henry podia ser visto mesmo com a sua mão aberta cobrindo o seu rosto. — Você tinha que ver como era poético o sangue dele jorrando enquanto eu arrancava seus membros. Como a carne dele rasgava. Ah... Também não posso deixar de falar... Como era lindo escuta-lo gritar e gritar e gritar. — Henry abriu os braços e gargalhou. — Tinha que ver ele pedindo misericórdia para que eu não matasse a sua família.

Todos estavam espantando com a maldade de Henry e como ele a narrava. Cerrando os punhos Seiya não conseguiu se conter. O seu cosmo explodiu e ele abriu suas asas indo em direção ao Cavaleiro de Câncer.

Henry disparou novamente a sua técnica para enviar Seiya ao Yomotsu, mas Seiya desviou do golpe e aplicou uma sequência de socos em Henry, que foi jogado para o alto e caiu no chão. Henry se levantou, mas Seiya já estava indo pra cima dele e disparou uma rajada de cosmo similar a meteoros.

O Cavaleiro de Câncer conseguiu desviar de alguns e fazia isso sorrindo, mas acabou sendo pego por um ponto cego e foi envolvido novamente pela sequência de socos na velocidade da luz, sendo jogado para o final da rua rasgando o solo.

— Levante-se seu covarde!! — gritou Seiya. — Tente fazer comigo o mesmo que você fez com o Shiryu!!

Henry sorriu ao cuspir sangue. Ele se levantou com a boca ainda melada de sangue e nem se deu ao trabalho de limpar.

— Continue gritando feito um louco e elevando o seu cosmo descontroladamente. Chame mais a atenção dos outros berserkers.

Seiya então percebeu que seu cosmo realmente estava muito elevado e isso seria o suficiente para atrair os espiões de Ares.

Henry, aproveitando da distração de Seiya, o atacou com uma sequência de soco também. Deixando Seiya para trás, Henry avançou contra o restante do grupo. Plancius correu para atacar, mas Henry repeliu o golpe do garoto e o lançou contra Seiya que o segurou. Jabu e Nachi também atacaram, mas foram repelidos apenas com a expansão do cosmo do Cavaleiro de Ouro.

— Mas o que é isso? — perguntou ele zombando dos cavaleiros. — Um mais fraco que o outro.

Retsu estava prestes a atacar, mas um cosmo poderoso explodiu e envolveu o ambiente.

— Interessante. — disse Henry, ficando serio novamente e olhando de lado para Shun. — Essa é a sua maior técnica não é? Dizem que você não gosta de matar seus oponentes, mas vejo que essa opção não consta nas suas intenções nesse momento.

— Isso é verdade. Não gosto de lutar e muito menos de matar. — disse Shun. — Mas nesse momento você não tem esse benefício. Sua conduta como cavaleiro está reprovada. 

— Então vamos, Andrômeda. Me mostre tudo o que tem. — disse Henry. — Mostre que não é apenas um fracote com rostinho de menina. Nesse momento temos uma coisa em comum sabia? Eu não vou te dar o benefício de permanecer vivo. Eu vou te queimar até a alma. — Henry ergueu um dos braços e na palma da sua mão surgiu chamas azuis esbranquiçada.  Explosão demoníaca!!

Uma rajada de fogo foi lançada contra Shun, mas durante o percurso a a técnica se multiplicou. Diante do ataque o cosmo de Shun explodiu.

— Esse é o seu fim!! Peça desculpas ao Shiryu no outro mundo!! — Os jatos de ar se transformaram em uma poderosa tempestade que dissipou a técnica de Henry e o lançou para o alto deixando-o imobilizado em meio ao turbilhão. — Tempestade Nebulosa!!

Quando o golpe explodiu e Henry ia sendo lançado pela técnica, tudo parou. Um outro cosmo poderoso surgiu e parou o corpo de Henry em meio a Tempestade Nebulosa de Shun, mantendo Henry imóvel pairando no ar. Os outros permaneceram sem entender o que estava acontecendo, mas Henry mostrou saber de algo quando começou a sorrir.

— Querem um conselho meu? — perguntou ele. — Corram enquanto podem. — disse ele caindo em uma gargalhada sádica.

O cosmo misterioso se transformou em uma neblina vermelha que exalava um doce aroma.

— Que perfume é esse? Vocês estão sentindo? — perguntou Retsu.

— Tem mais alguém aqui. — disse Shina. — Na verdade... Parece que sempre teve, mas estava ocultando sua presença. Esse perfume...

— Eu lembro de ter sentido essa fragrância antes. — comentou Seiya.

— Eu também. Essa... — Shun arregalou os olhos e seu corpo vibrou em estado de alerta. — Fragrância?!

— Percebeu não foi Andrômeda? — perguntou Henry sorrindo. — Eu disse que eram pra ter fugido.

Plancius caiu de joelhos, colocando a mão na cabeça.

— Estou me sentido um pouco tonto. — disse ele.

— Eu também. — disse Nachi.

Em seguida Nachi também se curvou. E depois Alkes e Seiya.

— Não! Não respirem esse perfume!! — gritou Shun, nervoso e assustado.

— Shun, o que está acontecendo? — perguntou Jabu. — Por que você, Shina e eu não estamos sendo afetados?

A neblina se dissipou e o caminho começou a ser coberto por rosas vermelhas, formando um imenso jardim.

— Rosas vermelhas?! — perguntou Jabu.

— Eu disse a você, Henry, que não era para subestima-los durante a luta. Principalmente o Andrômeda. — disse um homem de cabelos azul claro, pele clara e trajando uma armadura de ouro com uma capa branca presa na ombreira. — É um homem que deve ser tratado com cuidado em uma batalha.

— E você tinha que me interromper justamente agora? Estava tudo sob controle. — disse Henry.

— Eu vi. — disse o homem, irônico.

Shun ficou espantando quando avistou o cavaleiro. Ele deixou seus dois braços relaxarem e recuou seu cosmo. Henry pousou e se levantou sorrindo vendo o espanto estampado no rosto de Shun.

— Você... deveria... estar morto. — disse Shun, pausadamente.

— De quem você está falando, Shun? — perguntou Seiya, enquanto tentava se levantar, mas ao olhar o homem, Seiya pôde estender o porquê do espanto de Shun. — Afrodite?!

Diante deles, no meio do jardim de rosas e com uma rosa vermelha na mão, o homem parecia com Afrodite, o antigo cavaleiro de peixes que morreu diante do Muro das Lamentações sacrificando a sua vida para deter Hades. Um homem de beleza admirável semelhante as rosas as quais ele fazia de tapete para andar gloriosamente. Seu cosmo dourado brilhava em meio a tanta beleza.

Shina deu um passo à frente e parou diante de Shun.

— Esse homem, Seiya, não é o Afrodite, mas é alguém que carrega o mesmo sangue que ele. Alguém que o Santuário deve temer. Se esse homem está a serviço de Ares, devíamos mesmo ter seguido o conselho de Henry. — disse Shina. — Devíamos ter fugido.

— Mas quem é ele, Shina? — perguntou Shun.

— Você o conhece? — perguntou Retsu.

— O nome dele é...

O homem sorriu.

— Permita-me que eu me apresente. — disse ele, com uma voz serena e sendo cordial. — Meu nome é Eros, o Cavaleiro de Ouro de Peixes.

— E-Eros?!! — disse Jabu. — Não pode ser!

— Jabu, você o conhece? — perguntou Shun.

Jabu não respondeu. Ele estava tomado pelo medo.

— Claro que ele me conhece. — disse Eros. A rosa vermelha em sua mão se transformou em uma rosa branca. — Ele tentou me matar há quinze anos atrás. — disse Eros lançando a rosa branca.

— Não!! — gritou Shun, lançando a sua corrente para deter o avanço da rosa. A rosa se desfez quando a corrente lhe atingiu, mas logo suas pétalas e o caule se uniram novamente dando forma a rosa branca que seguiu seu percurso até atingir o coração de Jabu. — O quê?? Mas... como....

Jabu se curvou de dor ao receber a Rosa Branca. Shina correu para segura-lo antes que ele caísse no chão.

— Você melhor do que qualquer um deveria saber que a Rosa Branca não pode ter seu percurso detido. Ela sempre atinge o seu alvo e ninguém pode impedir isso. — disse Eros. — Ninguém tem a capacidade de se esquivar desse golpe. — Jabu se levantou com a ajuda de Shina que o segurava em seus ombros. — Essa é a Rosa Sangrenta!! Quando a rosa branca tiver tirado todo o sangue e se tornado vermelha, você morrerá!!

Jabu sorriu.

— O que quer de mim? Quer que eu me desculpe, é isso? — Jabu olhou com cara de deboche para Eros. — Está perdendo seu tempo. — ele levou a mão ao coração. — Basta eu arrancar essa rosa branca e...

— Arranque e morrerá. — disse Eros.

— O quê?! — disse Jabu espantado. — Está blefando.

— Ele está certo, Jabu. Se você tirar a rosa branca morrerá de qualquer forma. — disse Shun, que se virou para Eros. — Qual o motivo de tudo isso?

— O motivo? Deixe eu te contar uma história, Shun. — disse Eros. 


(1986) Salão do Grande Mestre - Santuário - Grécia - 

Foi há quinze anos atrás. Alguns dias depois da batalha das doze casas. Logo após Saga ter sido derrotado e Atena ter voltado ao Santuário. Milo do Escorpião, o arrogante das doze casas, foi escolhido por Atena e pelo conselho dos cavaleiros de ouro para julgar todos aqueles que estavam envolvidos no plano de Saga. Todos aqueles que foram seus cúmplices. Muitos dos servos que faziam a guarda do Templo de Atena foram julgados. Eles sabiam que Atena não estava lá como o falso Mestre dizia, mas iludidos pela oferta de Saga em transforma-los em cavaleiros, eles ficaram calados assegurando que Atena estava lá. E eu, que era irmão de um dos cúmplices de Saga, também fui julgado. O salão estava lotado naquele dia e Jabu e Shina estavam lá.

O salão estava muito lotado. No trono, sentado, estava Milo, o cavaleiro de ouro de Escorpião. Do seu lado direito estava Aiolia de Leão, Shina de Cobra, Marin de Águia e June de Camaleão. Do seu lado esquerdo estavam Jabu de Unicórnio, Ban de Leão Menor, Ichi de Hidra, Nachi de Lobo e Geki de Urso. Eles estavam ali para auxiliar Milo durante o julgamento. Na grande área do salão os soldados traziam um a um os homens e mulheres que iriam ser julgados. Do lado esquerdo se amontoava alguns homens e mulheres do vilarejo que vieram testemunhar o julgamento, e entre eles estava o ancião do vilarejo, que sentado em uma cadeira no canto do salão observava tudo silenciosamente.

— Tragam o próximo. — gritou Milo.

Um soldado se afastou da multidão trazendo com ele um jovem com as mãos amarradas nas costas e de cabeça baixa. Diante de Milo o soldado jogou o jovem no chão. O seu punho sangrava por causa das correntes que o prendia. Seu rosto estava inchado de um lado e com escoriações. Seu braço tinha finos cortes e marcas de chibatadas.

O soldado retirou um pergaminho do seu cinto e o abriu.

— O nome dele é Eros. Ele é... — o soldado foi interrompido quando Milo estendeu a mão mandando que ele parasse.

— Esse eu conheço. O nome dele é Eros. É o irmão mais novo de Afrodite e também é seu discípulo. — alguns soldados zombaram e xingaram Eros e Afrodite. — Tem algo a dizer em sua defesa, Eros?

— Vocês são podres. — disse Eros, ainda de cabeça baixa com os cabelos cobrindo uma parte do seu rosto.

Todo o salão ficou em silêncio.

— O que foi que você disse?! — perguntou Milo.

— Todos vocês são podres. — Eros levantou a cabeça e o encarou. — São tão cruéis e sádicos quanto Mascara da Morte e chamam essa tortura de “justiça”.

Um dos soldados se alterou e deu um chicotada no rosto de Eros, fazendo um corte que logo sangrou.

— Tenha mais respeito, traidor! — gritou o soldado. — Você está diante de um Cavaleiro de Ouro. A autoridade máxima desse Santuário. 

Eros sorriu.

— Viu? — perguntou ele para Milo. — Chamam essa tortura de justiça e você não faz nada. Antes de virmos para o Salão fomos espancados pelos soldados, então o que vai acontecer depois do julgamento? Seremos jogados para os leões ou enforcados ao sul do Santuário?

Ninguém respondeu. Milo cerrou o punho.

— Você é o irmão de um traidor! — gritou um dos aspirantes a cavaleiro que estava no meio da multidão. Logo a multidão começou a repetir a mesma coisa.

— Vermes! Há treze anos atrás algo parecido aconteceu não foi? — Eros olhou para Aiolia. — Meu irmão me contou que você quase foi julgado como cúmplice do episódio ocorrido com o seu irmão Aiolos. Que lhe chamavam de irmão do traidor e de traidor.

— Não me compare a você e nem o meu irmão ao seu. — disse Aiolia com um tom ríspido. — Meu irmão foi vítima de uma farsa. Ninguém entendeu o que meu irmão tinha feito naquela noite.

— Pois é. Temos algo em comum, você querendo ou não. — disse Eros. — Ninguém também entendeu o ideal que o meu irmão defendeu durante esses treze anos.

— O seu irmão é uma desonra para os cavaleiros de ouro! — gritou Milo. — Soube durante todo esse tempo que Atena não estava no Santuário e defendia que os fracos deveriam se submeter aos fortes.

— E tem mais... — disse Eros. — Ele acreditava que Atena era fraca e incompetente para proteger a Terra! E ele estava certo! E após conhecerem aquela jovem chamada 'Saori', vocês tiveram a certeza disso, mas são covardes o suficiente para falar isso.

Jabu deu um passo à frente, mas foi detido por Geki que o segurou.

— O que foi que você disse?! — disse Jabu. — Repita isso mais uma vez e eu acabo com você!

Eros sorriu.

— Meu irmão apoiou Saga, mesmo sabendo que ele matou o Grande Mestre Shion e que tentou matar Atena, porque acreditava que apenas os fortes poderiam e tinham o dever de manter a paz na Terra e a justiça entre os humanos, e assim proteger os mais fracos. Meu irmão defendia que os mais fracos deveriam se submeter aos fortes porque os mais fortes tem o dever de cuidar dos pobres infelizes que não podem se proteger sozinho!! — Eros aumentou a voz e lagrimas escorreram dos seus olhos, mas ele não perdeu a firmeza de sua voz. — Meu irmão jamais defendeu abuso de poder em cima dos mais fracos!! Meu irmão acreditava que Saori seria uma incompetente como Atena e que não poderia garantir a proteção da Terra!! Ele estava errado por acaso? Ele não foi uma desonra! Nunca foi! Mesmo ele agindo dessa forma, mesmo sua atitude não sendo a mais exemplar para um cavaleiro, o seu propósito de manter a paz na Terra é igual ao de qualquer outro Cavaleiro!! Meu irmão honrou a armadura de ouro que nunca lhe abandonou mesmo ele tendo esse ideal e que sempre o apoiou!! Se nem mesmo a armadura o julgou, quem vocês pensam que são para isso?

— Eros... — disse Aiolia.

— O meu irmão foi um herói que lutou até o fim pelo que acreditava ser o certo!! Em momento algum ele duvidou ou deu um passo para trás mesmo sabendo que ele era o último das doze casas! — Eros encarou Milo. — Quer me julgar? Então me julgue por ter sido cúmplice de um homem que lutou pela justiça até o ultimo suspiro!! — o salão ficou em silencio. Eros estreitou os olhos para Milo. — Mas Milo, quem vai julgar você por ter sido um covarde que permaneceu na Casa de Escorpião deixando tudo nas costas dos Cavaleiros de Bronze? — a pergunta foi como um soco no rosto de Milo — Me responda!! Mu, Aldebaran, Aiolia, Shaka e você... Todos os cinco ficaram nas doze casas enquanto um grupo de Cavaleiros de Bronze subiam até o Templo do Grande Mestre beirando a morte. Vocês é que são covardes!! Tiveram medo do Grande Mestre e por isso ficaram de braços cruzados em suas casas dizendo que Atena estava passando por uma provação divina, e que os Cavaleiros de Bronze iriam vencer o mal se estivessem corretos. Como podem ter a cara sínica para olhar nos olhos de Atena depois de tamanha covardia?! Vocês é que são uma desonra!!

— Basta!! — gritou Milo, se levantando. — Não queira jogar para nós a culpa!! Você será julgado sim! E sua condenação vai ser passar a eternidade em Oubliette!! Na prisão do Santuário! Guardas!! Levem-no para a cela mais profunda da prisão. Aquela que o Sol nunca ilumina. Deixem ele mofar lá.

— Você é um monstro!

O salão ficou em silêncio.

— Quem disse isso? — perguntou Milo, disparando um olhar furioso.

— Eu disse isso. — um homem jovem de longos cabelos castanhos e trajando uma armadura de prata saiu do meio da multidão e foi para o centro do salão. — Eu sou Nikol, o Cavaleiro de Prata de Altar, e dentro de algumas semanas serei também o novo Grande Mestre.

Nikol era o cavaleiro de Altar e estava para se tornar o Grande Mestre, já que os únicos homens que o Mestre anterior tinha escolhido para substitui-lo morreram. No momento era o Mestre Ancião que estava liderando os Cavaleiros de Ouro, mesmo estando em Rozan.

— Depois de toda a explicação dele, você vai mata-lo? — perguntou Nikol

— Eu não vou...

— Cale-se Milo! A maioria dos soldados e muitos cavaleiros sabem que é isso o que acontece com quem é enviado para as celas profundas de Oubliette. São deixados para morrer. — Nikol caminhou até ficar ao lado de Eros. Ele se ajoelhou e quebrou as correntes que prendiam os pulsos do garoto. — Levante-se Eros. Estou começando a achar que Afrodite tinha razão em relação a Atena. — Nikol olhou para Milo e cerrou os olhos. — Atena deixar um arrogante como você no posto de juiz é um erro. Você é impulsivo e seu senso de justiça muitas vezes o cega. O Mestre Ancião e os demais Cavaleiros de Ouro deveriam ter sido mais sábios na hora de escolher o juiz.

— Tome cuidado como você fala, Nikol. Você não é o Grande Mestre ainda. — advertiu Milo. — O você quer que seja feito com esse garoto?

Nikol colocou a mão nas costas de Eros lhe passando segurança.

— Ele ainda tem uma família. Seus pais moravam na Suíça, mas agora possuem uma mansão na França. Envie ele para lá como banimento. É o mais justo a ser feito. Eros sabia de toda a verdade por ser irmão de Afrodite, mas não participou da traição. 

Milo cerrou o punho. Não concordava com Nikol, mas mesmo sem ser Grande Mestre Nikol já era visto como tal e suas palavras tinham peso e autoridade. Não podia desobedece-lo ou ignorar seu conselho diante de todos.

— Pois bem, será banido! Partirá do Santuário hoje a tarde no navio que vai levá-lo para a França, mas também está proibido de voltar ao Santuário. — concluiu Milo no julgamento. — Levem-no.

O velho ancião da vila chamou Shina e cochichou algo em seu ouvido.

Naquele momento eu abracei Nikol com todas as minhas forças. Ele que sempre foi meu amigo de treino enquanto estive no Santuário, não me abandonou quando eu mais precisei. Não virou as costas ou ficou só me olhando quando a minha cabeça estava prestes a ser entregue aos tiranos de Oubliette. Do Grande Salão eu fui levado pelos soldados até o porto, mas durante o percurso, quando saímos das terras do Santuários, fomos atacados. Soldados desceram dos penhascos e encurralaram a mim e aos outros soldados. Os soldados disseram para eles me entregarem, mas os soldados que me levavam recusaram e disseram que eu deveria ser levado vivo ao porto. Por causa do pedido negado os soldados atacaram. Alguns dos homens que me escoltavam chegaram a quase serem mortos, já outros foram rendidos.

— O que pensam que estão fazendo? — perguntou Eros.

— Recebemos ordens para levar você ou então só a sua cabeça. — respondeu o soldado. — Bem, estou pensando em levar a cabeça.

— Vão morrer se tentarem algo. — disse Eros, sério.

— O que um moleque que parece mais uma menininha pode fazer contra nós, aspirantes a cavaleiros?! — gritou um dos soldados que avançou contra Eros.

— Aspirantes a cavaleiros? E já estão fazendo trabalhos sujos? O Santuário está realmente podre. — disse Eros com repudio. — Venham!!

Mas ai Shina apareceu impedindo o ataque dos soldados.

 O que pensam que estão fazendo? O ancião da vila me contou que iriam querer matar Eros, mas custei a acreditar nisso. — disse Shina. — Quem foi que enviou vocês aqui?

— Fui eu Shina!! — gritou um homem no alto do penhasco. Ele pulou e aterrissou diante deles.

— Jabu?! — disse Shina, incrédula. — Você ouviu a sentença. Ele foi banido! Não foi pena de morte!

Jabu sorriu.

— Ora, Shina. Esse desgraçado ofendeu Atena na frente de todos e vocês ficaram calados! Ele merece a morte para servir de exemplo. Saori é Atena e deve ser respeitada e...

— Você continua sendo um cavalo da Saori não é, Jabu? — perguntou Shina. — Você por acaso quer morrer? Quer matar esses pobres coitados aspirantes?

Jabu sorriu novamente.

— E quem iria nos matar, Shina? Ele? — perguntou Jabu, apontando para Eros. — Não diga bobagens, Shina. O que esse garoto poderia fazer contra mim, que sou um cavaleiro, ou contra os aspirantes? Agora saia do caminho, Shina, e deixe que os aspirantes cuidem dele.

Ignorando Shina, os aspirantes vieram contra mim. Eu não podia deixar que eles me matassem. Eu não pensei duas vezes. Pulei na frente de Shina e disparei minhas rosas vermelhas contra os soldados. Um a um foram caindo cuspindo sangue e morrendo pelo veneno.

 Eros... — Shina estava impressionada com a agilidade dele. Por um curto momento ela teve a impressão de que Eros tinha se movimentado na velocidade da luz.

Jabu ficou assustado e deu dois passos para trás. A beleza de Eros e o seu cosmo gerava um sentimento que assolava no peito de Jabu. Medo.

— A próxima rosa não vai te dar a mesma morte que os seus capangas tiveram. — Eros fez surgir uma rosa negra.

— Se a rosa vermelha é a rosa que mata lentamente com veneno. A rosa negra é a rosa que devora a pessoa até que não lhe reste mais nada. — pensou Shina. — Essa rosa é...

— Essa Rosa piranha vai te despedaçar!! — gritou Eros.

Shina o segurou e tomou a rosa de sua mão.

— Já basta, Eros. — disse Shina. — Eu vou levar você até o porto! Deixe Jabu para lá! — Shina olhou para Jabu. — Volte ao Santuário calado. Caso contrário eu mesma mato você.

Jabu se virou e correu.

— Vamos! — disse Shina. — Só tenho uma coisa a lhe dizer. Se voltar ao Santuário, vão querer matar você.

...

— Além de banido fiquei jurado de morte caso voltasse a pisar no Santuário, mas o destino me fez virar o cavaleiro de ouro que iria substituir o meu irmão. — disse Eros. — Não existe momento melhor para ter acertos de contas do que esse.

— Irmão... de Afrodite?! — disse Shun, impressionado.

— Realmente. Ele não só tem a beleza, mas também tem a imponência do irmão. — comentou Seiya ainda caído no chão.

— Eros, vingança não vai adiantar de nada. — disse Shina.

— Shina, irei poupar a sua vida como forma de agradecimento. Portanto, afaste-se! Caso contrário você também morrerá. — advertiu Eros. — O veneno não lhe atingiu justamente por esse motivo.

As correntes de Shun se agitaram. Ele deu um passo à frente, se colocando entre Eros e Shina.

— Eu lutarei contra você. Se eu derrota-lo, você irá tirar a rosa branca do peito de Jabu. — disse Shun.

Eros deu um sorriso irônico.

— Está propondo um acordo. Eu não disse que estava sujeito a um, mas aceito que lute comigo. — disse Eros. — Porém, vai conseguir ficar em pé por quanto tempo?

Shun logo cedeu de joelhos. Seu corpo estava se arrepiando e ele já estava ficando com a visão turva.

— Acho que a luta acabou por aqui, Shun. O veneno das rosas diabólicas está tirando todos os sentidos e logo você morrerá. Não vai acontecer o mesmo que aconteceu na casa de peixes contra o meu irmão. — Eros começou a caminhar em direção a Jabu. — Não sei como você conseguiu ficar de pé naquele dia após inalar tanto veneno, mas comigo isso será diferente.

Passando por Shun, Seiya e Shina, ele ficou diante de Jabu que estava agora de joelhos e com a mão no peito. A rosa que antes era branca agora estava com a sua metade tingida de vermelho.

— Que ironia do destino, não é mesmo, Jabu? — Eros olhou para o lado e viu Nachi e Plancius caídos sem forças atrás de Jabu, e Retsu e Alkes ao lado de Eros ajoelhados e arfando sem forças. — Que grupo deprimente está indo salvar Atena. Um Cavaleiro de Ouro já foi o suficiente para detê-los. Não sei se sou forte demais ou vocês são miseráveis.

— Eu fico com a segunda opção. Sem ofensas. — disse Henry, que observava tudo.

— Calado, Henry. —  disse Eros. Henry revirou os olhos e fez cara de tédio. Eros fez surgir uma rosa negra em sua mão e logo as pétalas vermelhas que flutuavam junto com a neblina de veneno se transformaram em pétalas negras — Até onde vocês pensam que podem chegar? Respondam!

— Está... Está falando com a gente? — perguntou Jabu. Nachi e Plancius tentaram se levantar, mas o máximo que conseguiram foi ficar de joelhos.

— Três cavaleiros de bronze que nem se quer conseguem evoluir o cosmo. Pensam que vão salvar Atena assim?! Com esses cosmos tão fracos?! Tem berserkers a serviço de Ares que não demorariam trinta segundos para matar vocês três, mesmo se atacassem juntos. — disse Eros. — Estão sendo peso morto para Seiya e os outros. Vão servir de iscas no final de tudo. São os que vão morrer para servir de degrau para os demais seguirem em frente.

— Dar a minha vida... para que eles salvem Atena... eu faria isso com orgulho. — disse Nachi.

Eros deu um chute no rosto de Nachi, fazendo com que fosse jogado contra o chão.

— Belas palavras, mas é só isso que são. Palavras. Devem ficar fortes para que possam juntos auxiliar um ao outro. Manter um equilíbrio de forças. — disse Eros. — Se não podem fazer isso, abandonem as armaduras. Vocês não servem como cavaleiros.

— Assim como eu e você, não é Eros?! — disse Henry zombando. — Um equilíbrio de forças.

— Pessoas fracas que não evoluem e não se tornam fortes não podem receber a confiança de salvar a Terra. — disse Eros. — E vocês são assim. Estipulam um limite rápido demais. Estão fadados a morrerem cedo. Bem, vou adiantar isso para todos vocês. A resistência dos cavaleiros acaba aqui.

— Não vou permitir! — disse Alkes, que se levantou e aplicou um soco em Eros, mas Eros parou o punho usando a rosa negra. O punho da armadura de Alkes trincou ao tocar nas pétalas. — Seu veneno não funciona comigo, Eros! Não mais.

Eros olhou para a armadura que Alkes vestia e então sorriu.

— Eu entendi, Cavaleiro de Prata de Taça. — disse Eros. — Dizem que aquele que usa a armadura de Taça tem a habilidade de curar qualquer ferimento ou enfermidade. É um habilidade curiosa que nenhuma outra armadura fornece com tanto hesito. Mas comigo não adianta. Se você não vai morrer pelo meu veneno, eu posso devora-lo com as rosas negras ou mata-lo com a minha rosa branca, mas...

— Mas? — perguntou Alkes.

— Não temos tempo para isso. — Eros arrancou a rosa branca do coração de Jabu e fez a neblina de veneno desaparecer. — Alkes, cure os demais com a água sagrada da armadura de Taça. Temos companhia.

Todos se viraram para ver do que Eros estava falando. No final da rua, onde apenas a escuridão da noite predominava, uma criatura surgiu. Era um homem magro coberto por um par de asas negras que lhe cobria os ombros, os braços e grande parte do corpo. Pela brecha entre as asas em seu abdômen podia ser notado uma onyx negra. Seu rosto era coberto pelo seu elmo, que era um crânio negro de corvo. Entre o buraco onde deveria estar os grandes olhos, brilhava os olhos do berserker. Um olho vermelho intenso. Ao lado dele, saindo das trevas da noite como se fossem espectros e demônios, os demais berserkers apareceram.

Henry se espreguiçou e sorriu.

— Finalmente uma diversão. — disse indo para frente do grupo. Ele levantou o braço e concentrou seu cosmo na ponta do seu dedo.

— Não fique brincando. — disse Eros, se posicionando ao lado do Cavaleiro de Câncer. Ele apontou a rosa negra para o grupo de berserkers. As pétalas negras começaram a formar um turbilhão no céu. — Prestem atenção! Não deixem que nenhum berserker saia daqui vivo.

—...—


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Notas finais do capítulo

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Nesse grupo você acompanha o lançamento dos capítulos e ainda tem acesso ao perfil e histórico de alguns cavaleiros.

Também temos o grupo no Whatsapp. Caso queira entrar basta me mandar um recado: 81 97553813

Próximo capítulo: Henry inicia uma batalha contra Hugo, mas o cavaleiro de câncer descobre ter uma certa desvantagem contra berserkers e isso pode colocar sua vida em risco. No campo de batalha Eros mostra que suas rosas realmente não devem ser subestimadas. Enquanto isso, na America do Norte, Enyalios invade a Casa Branca e inicia a 3º Guerra Mundial, mas nos corredores da mansão o rugido de um leão dourado ecoa. Diante da divindade e do questionamento dos seus atos, Jake descobre o peso das suas garras.

Capítulo 31: O peso das garras do Leão dourado.



Uau... fiquei satisfeito com esse capítulo. É legal quando você cria algo e fica contente com o trabalho. É um prazer sem medidas. Bem, agora falta saber o que vocês acharam. Uma boa leitura a todos.



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