A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 16
Capítulo 16 - O Manipulador de deuses. Dance Excalibur.


Notas iniciais do capítulo

O bacanal só acaba quando o sol nascer, mas antes que a festa encerre uma explosão chama a atenção dos deuses e de todos os convidados. Um plano audacioso começa a ser posto em prática.



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Capítulo 16 - O Manipulador de deuses. Dance Excalibur


Santuário - Anfiteatro

O Bacanal se estendeu por toda a madrugada fria da Grécia, mas o ar gélido cortante não foi incomodo para aqueles que desfrutavam da festa do deus do vinho. As pessoas dançaram ao redor de uma grande fogueira construída no local onde Atena havia sido cremada. Homens e mulheres embriagados desabaram no chão, suados, cansados, mas sempre com um cálice de bebida na mão.

Vozes ofegantes de mulheres e homens em seus delírios podiam ser ouvidos vindo dos lugares escuros e afastados da multidão. Podia ser até questionável o fato daquelas pessoas estarem festando poucos dias depois da morte de Atena, mas todo aquele frenesi era justificado pela presença de Dionísio, o deus do vinho, dos delírios e da bebedeira influenciando nos desejos mais carnais.

Faltava poucos minutos para os primeiros raios de sol iluminarem o céu escuro e estrelado, mas parecia que a festa estava longe de terminar. Novas caixas de garrafas de vinhos foram postas nas mesas e a música seguia animada. O bacanal de Dionísio e Afrodite costuma durar dias ou semanas, mas a festa foi interrompida por uma forte explosão.

Uma nuvem de fumaça cinzenta subiu saindo de trás do Templo do Grande Mestre. A música cessou e gritos de surpresa foram ouvidos. Todos voltaram sua atenção para o topo da montanha do Santuário. O Templo de Atena.

— O que foi isso?! — perguntou um dos soldados.

— Aquela fumaça... Está vindo do Templo de Atena! — disse uma mulher.

A deusa Afrodite largou o cálice de vinho e se levantou do trono, olhando curiosa para a grande nuvem de poeira.

Um dos berserkers responsáveis por fazer a guarda dos deuses abriu as asas de sua Onyx e saltou, pairando no ar observando as doze casas com os olhos vidrados. Sua pupila diminui e então ele gritou:

— Tem alguém descendo as escadarias das doze casas! — gritou Nyctea, o berserker de Coruja que acompanhou Éris na invasão e enfrentou Johan, o discípulo de Shun. Nycta tinha aparência jovem, cabelos curtos e brancos como neve e olhos dourados. Ele estava curado de suas feridas e com uma cosmo energia mais poderosa que antes. — Alguns soldados estão perseguindo o indivíduo encapuzado. — Nyctea olhou para Deimos. — Seja lá quem for, deve ser o responsável pela explosão, senhor.

— Devemos ir? — perguntou o Cavaleiro de Ouro de Touro para os deuses. Era um homem alto e forte, pele clara, cabelos negros longos com mechas brancas na ponta e olhos verdes.

— Não. — disse o deus com indiferença. — Hayato! — Chamou Deimos, olhando para um dos berserkers posicionado na guarda dos deuses. Era um homem de longos cabelos negros e pele clara. Seus olhos eram tenebrosos. Sua íris era vermelha, mas a esclera, a parte branca dos olhos, era negra como as trevas. Ele era alto e esguio, trajava uma Onyx negra com detalhes dourados e possuía um enorme par de asas. — Vá até lá e traga o intruso até aqui.

— Sim, senhor! — disse o berserker.

Hayato abriu as asas e fez impulso. O bater de asas gerou um forte descolamento de ar e em um piscar de olhos o berserker já estava no perímetro das doze casas. Sua velocidade era idêntica a dos cavaleiros de ouro.

— A estátua de Atena sumiu! — gritou Nyctea, olhando para a fumaça.

— A estátua de Atena... sumiu?! — disse a deusa Afrodite incrédula.

—...—


Doze casas - Santuário, Grécia

Hayato sobrevoou as doze casas e observou o suspeito descendo as escadarias em uma velocidade absurda. O esforço dos soldados que o perseguiam era inútil. O sujeito foi surpreendido por Hayato enquanto saia da casa de câncer. O berserker desceu em uma poderosa investida para golpear o invasor.

Mesmo parecendo impossível, ele conseguiu desviar do ataque de Hayato. O suspeito pulou para o lado e lançou um golpe. O golpe foi repelido pelas asas do berserker, que em seguida disparou um ataque e lançou o suspeito contra a parede da casa de câncer. Enquanto ele caia em direção ao chão, Hayato se moveu na velocidade da luz e o pressionou contra o chão, pondo seu pé na garganta do invasor prendendo-o com as garras afiadas fincadas no solo.

— Mova só mais um músculo e minhas garras vão cortar a sua garganta. Direi ao Senhor Deimos que foi uma fatalidade. Ele não vai se importar. Agora tire esse capuz e me mostre o seu rosto, rebelde. — Hayato estendeu a mão e abaixou o manto. Seus olhos se arregalaram ao reconhecer o invasor. — Im... impossível. Você é... — O berserker afastou o sentimento de surpresa e pressionou o pescoço do inimigo. — Posso lhe garantir que seu fim não será nada agradável.

— Não deixem ele fugir! — gritou o Cavaleiro de Prata de Baleia, que estava acompanhado do Cavaleiro de Prata de Mosca e alguns soldados equipados com lanças e espadas. Ao avistar Hayato, o Cavaleiro de Baleia ergueu a mão, sinalizando para que todos parassem. — Cuidaremos dele agora, senhor. Não precisa se incomodar com isso. — disse ele. Era um jovem alto e forte, de pele clara, cabelos curtos azul claro e olhos azuis.

— Ele estava prestes a fugir e você me diz que está no controle de tudo? — perguntou Hayato, com os olhos estreitos. — Desapareça da minha frente.

O cosmo do berserker se elevou e seus olhos brilharam em um vermelho mais intenso, se expandindo e envolvendo o Cavaleiro de Baleia. O corpo do Cavaleiro de Prata foi erguido do chão e ele se contorceu gritando de dor.

— Cavaleiro fraco e inútil. Alguém tão medíocre não pode servir ao Senhor Ares. Não entendo a insistência dos deuses em manter vocês como servos do meu Senhor.

— Pe-Perdão, senhor! — gritou o Cavaleiro de Prata. Sangue começou a escorrer de seus olhos, nariz, boca, ouvidos e poros. 

— Perdão?! — Hayato fez expressão de desgosto e estendeu a mão intensificando seu cosmo.  Fraco. Não peça misericórdia ao seu inimigo. Desapareça!

Controlando o corpo do Cavaleiro de Prata, Hayato moveu os dedos torcendo os membros do cavaleiro e em seguida fechou a mão, quebrando o pescoço do Cavaleiro de Atena. O corpo sem vida desabou no chão em uma poça de sangue.

— Cavaleiros... Que inúteis.

Hayato voltou sua atenção para o rebelde. Suas mãos se fecharam no pescoço do suspeito, prendendo-o, e então Hayato abriu as asas e fez impulso. Era como uma grande ave carregando sua presa para o ninho prestes a devorá-lo. Do alto, Hayato avistou o anfiteatro lotado aguardando sua volta. Nyctea permanecia parado no ar com as asas abertas observando e relatando os acontecimentos para os deuses.

O berserker desceu em uma velocidade extrema para o centro do anfiteatro e então arremessou o rebelde contra o chão violentamente. O impacto formou uma pequena cratera e levantou uma forte nuvem de poeira.

— Trouxe o traidor, senhorita Afrodite. — disse Hayato, se curvando.

Nyceta pousou ao seu lado e ficou de frente para a nuvem de poeira. Ele estalou os dedos e a poeira cedeu, revelando o traidor. Todos ficaram de boca aberta incrédulos. Afrodite se levantou com um sibilo, estava nervosa. Dionísio, que ainda estava no meio dos cidadãos de Rodorio, deixou o cálice de vinho cair no chão e ficou em uma postura ereta olhando para Afrodite.

Draco, o deus dragão, se posicionou ao lado do trono de Afrodite, sustentando em sua mão direita uma espada de lâmina negra. Phobos e Deimos deram alguns passos à frente se inclinando para ver melhor o homem que estava caído no centro do anfiteatro. Anteros apenas levantou uma sobrancelha.

O homem, a quem Hayato havia chamado de traidor, era alto e magro, com cabelos e olhos cinza claro. Vestia um manto marrom, rasgado e manchado com sangue, principalmente na parte do colarinho devido aos cortes provocados pelas garras de Hayato.

— De... Delfos? — disse Tourmaline, surpresa.

A amazona de bronze deu alguns passos à frente, sendo segurada no ombro por Alec de Lagarto. Os cavaleiros de ouro e berserkes que faziam a guarda dos deuses ficaram em alerta.

— Foi você quem destruiu a estátua de Atena? — perguntou Phobos.

— Sim, fui eu. — respondeu Delfos. — Não vão colocar as mãos na armadura de Atena!! Não vão invocar Nike através da armadura!!

—...—

De longe duas figuras acompanhavam a movimentação no anfiteatro.

— Shina, aquele é o Delfos?! O Grande Mestre?! — perguntou um jovem alto, de cabelo preto, pele clara, olhos verde-escuro e que trajava a armadura de prata de Triangulo.

Shina ficou em silencio por um momento antes de responder. Ela estava tão surpresa quanto ele.

— Sim, Retsu. É o Grande Mestre, mas eu não compreendo o que está acontecendo. — respondeu Shina, que trajava sua armadura de prata de Cobra. — Há pouco tempo ele revelou ser um traidor de Atena, mas agora se põe contra os deuses. O que ele está arquitetando?! 

—...—

— Você está blefando. — disse a deusa Afrodite. — Uma armadura divina como a de Atena não é destruída assim tão facilmente. É impossível!! — insistiu a deusa.

— Eu tive meus meios. — rebateu Delfos

— Se entregou a loucura, rapaz?! — gritou Deimos. — Mesmo diante dos deuses continua a insistir em contar mentiras?!

— O que você está fazendo, Delfos?! — perguntou Anteros, o novo "Grande Mestre", dando alguns passos à frente e se posicionando diante dos outros deuses. — Essas suas atitudes podem ser vistas como uma traição. Por acaso você se arrependeu do que fez até agora e essa sua atitude é algum tipo de remorso?! Você traiu Atena, traiu os cavaleiros, arquitetou a invasão e tirou o último folego de vida de Atena com as próprias mãos. Então o que justifica essa sua mudança repentina?

Ainda de cabeça baixa, Delfos sorriu. Ele então ergueu a cabeça e semicerrou os olhos, olhando para os deuses. Lagrimas começaram a derramar.

— Vocês jamais irão entender! Vocês não teriam essa capacidade. Decisões difíceis tiveram que ser tomadas no caminhar dos últimos anos. Tudo teve que ser escolhido de forma bem pensada para que eu pudesse alcançar o meu objetivo. — O antigo Mestre do Santuário olhou para o céu e avistou o brilho fraco da constelação de Pégaso sendo ofuscada pelos primeiros raios de sol.  Não podemos mudar o destino, mas se formos sábios o suficiente, somos capazes de manipulá-lo ao nosso favor. Eu... — Delfos tirou de dentro da manga uma adaga dourada. — Eu sou aquele que vocês tanto procuram! Eu sou aquele tem nas mãos as Moiras e vocês! Mas gostaria que vocês me apresentassem para todos aqui reunidos. — Delfos apontou a adaga dourada para Afrodite. — Diga quem eu sou, Afrodite! Diga em alto e bom tom.

Afrodite arregalou os olhos. Estava pálida, mas também furiosa.

— Desgraçado. Então era você. Esse tempo todo, sempre foi você! Você é o manipulador de deuses! — gritou Afrodite. 

O coliseu ficou agitado e houve burburinhos entre as pessoas presentes. Os deuses ficaram inquietos. 

— O quê?! O que está dizendo? — perguntou Phobos, para Afrodite. — A senhora está dizendo que Delfos é o homem que esteva esse tempo todo manipulando a Guerra Santa?! Então é esse o homem que as Moiras temiam por estar agindo nas sombras do destino?! Não posso acreditar. Se ele realmente for o manipulador, como um reles mortal poderia nos ludibriar dessa forma?

Mas não houve respostas. Apenas um silêncio afiado entre o olhar furioso de Afrodite e Delfos, que ainda apontava a adaga dourada em direção a deusa olimpiana.

— Já chega, Phobos! Não temos tempo para questionamentos — disse Deimos. — Vocês ouviram! Matem esse desgraçado!

Um dos berserkes se moveu rapidamente em direção a Delfos. Era Alceu de Pantera, o berserker do exército de Phobos e o mais fiel a Afrodite. Dessa vez ele usava seu elmo, que lembrava a cabeça de uma pantera negra. Seus grandes músculos estavam rígidos e suas unhas tinham crescido e se transformado em grandes garras prateadas.

Delfos desviou da investida com uma impecável agilidade. O pouso do berserker revirou o solo e lançou um forte deslocamento de ar. Alceu parecia ser mais pesado devido ao seu porte físico, mas sua agilidade também era admirável, podendo se movimentar na velocidade da luz. Partindo para o ataque novamente, ambos elevaram seus cosmos e deram início a trocas de socos e chutes. Se movendo em uma velocidade absurda vista apenas pelos cavaleiros de ouro, alguns berserkers e pelos deuses.

Delfos girou para o lado e por pouco as garras de Alceu não o atingiram. Ele arrancou o manto que o cobria, revelando a armadura de prata de Altar, e retornou com um golpe no queixo que jogou a cabeça de Alceu para trás, mas o berserker revidou a tempo e atacou com um chute no abdome do Cavaleiro de Atena. Delfos foi lançado para trás, mas se equilibrou e pousou com força, levando sua mão para a barriga fazendo expressão de dor.

De braços abertos e com as garras afiadas prontas para rasgar a carne de Delfos, Alceu permaneceu em pé apenas observando. Delfos partiu para cima do berserker, que estreitou os olhos observando os movimentos do antigo Grande Mestre. Ele conseguia ver cada passo e cada movimento do cavaleiro indo em sua direção. Em uma rápida investida, Delfos deu um soco no peito de Alceu, mas no mesmo instante o berserker girou e aplicou um golpe com a mão esquerda nas costas de Delfos, lançando o cavaleiro de prata no chão.

Alceu pisou nas costas de Delfos, prendendo-o cada vez mais contra o chão seco. Suas garras estavam totalmente estendidas, reluzindo sob a luz do sol. No momento em que ele ia enterrar as garras nas costas de Delfos, o cavaleiro de Altar se teletransportou. Percebendo onde o inimigo iria se materializar graças a distorção no espaço, Alceu se moveu e passou as garras como se estivesse cortando o ar no exato momento em que Delfos surgiu. As garras cravaram no peito da armadura e a rasgou, perfurando também o peito de Delfos. Uma dor aguda percorreu o seu corpo, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio e caísse nas mãos de Alceu, que agora o segurava pelo pescoço.

Alceu sorriu. Seus olhos mudaram de cor, de um branco igual a neve para um vermelho reluzente, e sua íris afinou como a de um felino. Alceu estava manifestando seu espírito de luta, o qual é representado pela onyx que veste. Com Delfos preso em sua mão, Alceu correu na velocidade da luz em direção a parede do anfiteatro e com uma agressividade monstruosa chocou o corpo o Cavaleiro de Atena, afundando-o na parede. O impacto deixou Delfos um pouco zonzo, mas ele não poderia perder a consciência naquele momento, caso contrário Alceu o rasgaria ao meio. Ele poderia tentar se teletransportar, mas não estava com o sentido de direção pleno, então poderia acabar se perdendo na dobra do espaço.

Na tentativa de se livrar das mãos do berserker, Delfos elevou o cosmo e disparou um golpe no peito de Alceu. No momento em que as garras soltaram o seu pescoço, Delfos usou de sua velocidade para sair da mira de berserker e então avançou contra o servo de Ares aplicando diversos socos e em seguida um chute. Alceu, porém, bloqueou os punhos do cavaleiro e segurou na perna de Delfos, lançando-o contra a arquibancada.

A plateia gritou apavorados quando Delfos foi arremessado e desabou. Os deuses olharam curiosos desejando que o cavaleiro estivesse morto, mas a frustração veio logo em seguida quando o Cavaleiro de Prata se levantou cambaleando.

— Ele é muito forte. Sem dúvidas é um dos berserkers mais poderosos de Ares. — pensou Delfos. — A partir de agora eu não posso cometer um erro se quer na luta, caso contrário na primeira oportunidade ele irá arrancar a minha cabeça.

— O que foi, Delfos? — perguntou Alceu, caminhando em direção a arquibancada. — Por acaso perdeu a vontade de lutar? Não tem problema. Antes que eu arranque a sua cabeça, responda à pergunta da minha senhora. Onde está a armadura de Atena? Um humano como você jamais destruiria uma armadura divina como aquela.

Delfos sorriu.

— Eu já respondi. Tenho meus meios. — Delfos elevou o cosmo e se lançou em direção a Alceu, concentrado sua cosmo energia em seu punho.

Alceu parou observando o avanço de Delfos.

— Interessante! Vejamos quais são então seus meios.

Enquanto Delfos avançava em direção à Alceu, do seu cosmo surgiu a imagem de Atena trazendo em sua mão direita uma espada apontada para o berserker e na mão esquerda a balança da justiça.

— Receba o julgamento divino! — gritou Delfos. — Prólogo de Atena! — o golpe foi disparando como um soco direto, tomando a forma da espada de Atena e indo precisamente em direção ao peito de Alceu.

Antes que o golpe acertasse o berserker, surgiu diante dele um símbolo vermelho no formato de uma rosa e então o golpe foi anulado, a imagem de Atena sumiu e um poderoso deslocamento de cosmo atingiu Delfos e o arremessou contra a parede do Anfiteatro.

Afrodite sorriu.

— Acabou. — disse a deusa.

— Acho que não. — disse Anteros, observando Delfos se erguer dos escombros.

— Não deveria ser possível. — disse Afrodite espantada. — Como ele...

Aquele símbolo...? perguntou Delfos, se esforçando para se levantar. Ele sentia seu corpo pesado. Aquele símbolo pertence a ela. pensou encarando Afrodite. A deusa o fitou furiosa, mas também curiosa. Aparentemente não era para Delfos estar vivo depois daquela colisão. — Eu reconheço esse símbolo! — disse Delfos se levantando. — É seu, não é?! A rosa divina.

— É uma benção divina. — respondeu Alceu. — Sou um guerreiro escolhido e agraciado por um deus. Sobre mim está uma marca de fidelidade e proteção, a qual me garante não ser ferido mortalmente. Qualquer tentativa vai gerar a morte do meu adversário se for um humano, ou um ferimento grave se for um deus. — Alceu sorriu mais uma vez. — A partir do momento em que eu entrei no campo de batalha, a sua morte já estava certa.

—...—

— Se continuar assim, ele vai morrer. — comentou Retsu, que observava sorrateiramente com Shina os eventos no anfiteatro.

— Eu vou pará-lo. Isso é suicídio. — disse Shina. — Se Alceu não o matar, aquela benção divina fará isso.

Retsu segurou o braço de Shina.

— Não faça isso! Os berserkes e os cavaleiros de ouro estão lá. Não faça virar algo pessoal. Não demonstre que se importa, caso contrário virão atrás de nós. Nós dois não estamos sob o controle de Anteros iguais os demais Cavaleiros de Prata. Podemos ser presos ou mortos.

—...—

— Afrodite! — chamou Dionísio, se materializando ao lado da deusa, e todos os deuses olharam para ele. — Se o que Alceu falou estiver correto em relação a descrição da benção divina, a qual foi dada a ele por você, qualquer tentativa de matá-lo vai gerar a morte do seu adversário se for um humano, ou um ferimento grave se for um deus... Então me diga, não é interessante que Delfos esteja apenas com leves ferimentos?!

— E você acha que eu não já percebi isso?! Não faz o menor sentido ele ainda estar vivo.

Todos os deuses ficaram tensos.

— O que estão querendo insinuar? — perguntou Phobos. — Que ele é um deus?! É isso que você está querendo dizer?! Impossível! Sinto a mortalidade fluindo dele. Frágil como um boneco de barro.

— Tem certeza? — perguntou Dionísio. — Não está sentindo, com uma intensidade bem sucinta, um poder divino fluindo dele?

Alceu estreitou as sobrancelhas ao sentir um gosto de ferro na boca. Ele virou a cabeça para o lado e cuspiu sangue.

 Ele me feriu? pensou o berserker. Mas em que momento isso aconteceu? A benção divina deveria ter me protegido e matado o desgraçado!

— Sinto o meu corpo um pouco pesado. — disse Delfos, se levantando. — Mas acho que ainda consigo disparar mais um golpe.

— Você deveria estar morto! — disse Alceu, rangendo os dentes. — Como pode estar vivo?

Delfos elevou o cosmo.

— Venha, berserker!

—...—

— Basta! — disse Shina, e correu em direção ao centro do Anfiteatro, se soltando das mãos firmes de Retsu.

— Shina! Não! — gritou Retsu, mas era tarde demais.

—...—

Alceu saltou e desceu com um chute, mas Delfos se movimentou na velocidade da luz, segurou a perna do berserker e a torceu, arremessando Alceu contra o chão. No mesmo instante o céu ficou nublado e um trovão explodiu no céu. Um raio de cosmo purpura desceu em direção a Delfos, que apenas desviou.

— Pare já com isso, Delfos! — gritou Shina, a alguns metros de Delfos.

— Foi você quem interrompeu a luta?!  — perguntou ele, olhando para trás por cima dos ombros. — Não se intrometa Shina! Saia já daqui!

 Eu não vou deixar você lutar até a morte! Se continuar assim, vai acabar morrendo!

— Desde quando você é sentimental? — Delfos sorriu e voltou sua atenção para Alceu. — Saia daqui, Shina! Me obedeça! O símbolo da esperança sumiu da terra. — Shina arregalou os olhos espantada e deu alguns passos para trás. — Agora saia daqui! Você não é uma traidora como eu! Traí os deuses e pretendo matá-los!

Shina não questionou. Abaixou a cabeça e saiu correndo em direção a floresta que fica ao fundo do anfiteatro. Retsu a viu indo em direção a floresta e então a seguiu.

— Quem era aquela mulher? — perguntou Afrodite.

— Uma amazona, provavelmente. — respondeu Anteros. — Achei que todos os Cavaleiros de Prata estivessem sob o meu domínio.

— Envie soldados! Ordene que sigam aquela mulher e descubram para onde ela foi. — ordenou Afrodite.

— Sim, senhora. — disse Anteros se afastando.

Alceu tentou dar um paço a frente e cambaleou. Ele sentiu um queimor em seu peito e voltou a cuspir sangue. O golpe de Delfos o atingiu mesmo com a proteção da benção divina. Alceu ignorou a dor e avançou novamente com as garras estendidas.

— Isso de fato é muito interessante. O seu golpe de alguma maneira surtiu efeito em mim, mesmo com a benção divina em meu corpo. — Alceu sorriu. — Parece ser um oponente a minha altura. Isso chega a fazer meu sangue ferver! Prepare-se Delfos! Garras demoníacas!

A imagem cósmica de uma pantera negra gigante se formou e foi em direção a Delfos na velocidade da luz, rasgando o solo na medida em que avançava. A pantera tinha dois grandes chifres em sua cabeça, sua calda era uma cobra naja negra de olhos vermelhos e de sua boca escorria sangue. Antes de atingir Delfos a imagem se dissolveu em milhares de garras afiadas, rasgando a armadura de prata e o corpo de Delfos. O antigo Mestre do Santuário desabou gravemente ferido.

— Está morto. — disse Deimos.

— Ainda não. — disse Dionísio, calmamente levando o cálice de vinho até a boca.

No mesmo instante Delfos se levantou, pálido, cambaleando. Alceu sorriu, mas ao mesmo tempo ficou tenso ao ver que nem mesmo seu golpe tinha derrubado aquele homem que parecia ser apenas um cavaleiro de prata qualquer. Delfos estava perdendo muito sangue, mas ainda encontrava forças para se levantar.

Aproveitando que Delfos estava um pouco tonto, Alceu avançou novamente, mas o antigo Grande Mestre sorriu e desapareceu. Alceu parou, procurando-o, até que ele sentiu a presença de Delfos atrás dele. Ele girou com as garras afiadas para atingir o Cavaleiro de Altar, mas Delfos se teletransportou novamente. Quando Alceu voltou a girar procurando por Delfos, ele sentiu algo rasgando seu peito. Era o Cavaleiro de Atena segurando a adaga dourada. Alceu saltou para trás. O ataque de Delfos não gerou reação na benção divina, mas provocou um corte na onyx. Afrodite ficou tensa.

Delfos aproveitou a brecha e saltou em direção a Alceu, se aproximando do berserker e encostando a mão no peito ferido, paralisando-o.

— Acha que eu sou alguma criança, rapaz? — perguntou Delfos, sorrindo na cara de Alceu. Frente a frente. — Eu sou o verdadeiro Grande Mestre e conheço de longe uma "benção divina" em alguém! Enquanto você está aprendendo a engatinhar no mundo dos deuses, eu já estou procurando uma bengala porque já estou com os pés calejados. Não subestime a minha obstinação. Tirei a sua benção divina!

Alceu arregalou os olhos.

— Impossível! — rosnou ele. — Apenas um... — seus olhos ficaram ainda mais arregalados. — Você não é um! Não pode ser! Você é mortal! Eu sinto isso!

— Não me julgue tão facilmente. — disse Delfos, e então sua mão emitiu um brilho dourado e uma onda de choque rompeu no peito de Alceu, fazendo o peito da Onyx explodir. Alceu foi lançado contra a escadaria que dá acesso a plataforma e desabou diante dos deuses.

— Alceu! — disse Afrodite.

Tourmaline foi até o berserker e colocou a mão no pulso dele, conferindo sua pulsação.

— Ele está vivo. — disse a sacerdotisa.

Dionísio olhou para Afrodite com um olhar curioso.

— Afrodite! A benção divina foi...

— Arrancada a força! — disse a deusa. — Ele usou a adaga divina para quebrar a defesa da proteção, mas como pode ser capaz de anulá-la completamente dessa forma?!

— Afrodite! — gritou Delfos, apontando para a deusa. — Eu vim aqui para matar você! Pretendia matar Ares na verdade, mas como ele não está aqui no momento, ceifarei a sua vida!

Delfos lançou algo em direção a deusa. A adaga. A mesma adaga dourada usada por Saga para tentar matar Atena quando ela era um bebê, e também usada por Delfos para tirar a vida da própria Atena. Draco se lançou na frente de Afrodite, mas alguém interviu e parou a trajetória da adaga com apenas uma mão, prendendo-a entre os dedos.

— Capricórnio?! — disse Delfos, serrando os dentes.

O cavaleiro de ouro segurou a adaga. O elmo escondia seu rosto. Era um cavaleiro de estatura média e magro. Ele lançou a adaga contra Delfos que a segurou com facilidade.

— Não sei o que deu em você para agir assim, já que estava aliado com os deuses que servem a Ares, mas não posso ficar parado enquanto continua a avançar contra a senhorita Afrodite e os demais deuses. — disse o cavaleiro de ouro.

— Vai me enfrentar, Capricórnio? — perguntou Delfos. — Já se vendeu a eles?

— Não me resta escolha. Jurei fidelidade ao Senhor Ares. — o cavaleiro de ouro ergueu o braço direito. Seu cosmo se elevou em um nível muito alto, trazendo uma forte pressão dentro do anfiteatro. Várias lâminas douradas surgiram flutuando ao redor do cavaleiro, e em poucos instantes todo o céu em cima do anfiteatro estava coberto por espadas douradas flutuando. — Dança das espadas... Dance Excalibur!

Todas as lâminas viraram em direção a Delfos. Todas apontadas para o cavaleiro de prata. No momento em que o cavaleiro de capricórnio desceu o braço como um corte de espada, as lâminas douradas desceram em direção ao antigo Grande Mestre afim de retalhá-lo. Sangue explodiu e uma enorme poça foi formada. O cavaleiro de ouro deu as costas, convencido de que tinha matado Delfos, mas ao olhar para os deuses viu que Dionísio sorria e apontava o dedo para o centro do anfiteatro. Ao virar ele se deparou com Delfos equilibrado em cima de uma das lâminas de cosmo que estava fincada no solo. Ele sorria de braços abertos com a adaga dourada na mão.

— Miragem! — disse Delfos. — Tolo se pensou que um golpe ridículo como esse fosse me matar. Mataria se seu adversário fosse inferior a você. Abra bem seus olhos no campo de batalha, Capricórnio. Uma simples ilusão minha enganou até mesmo você, um cavaleiro de ouro.

— Desgraçado! Não abuse da sorte, Delfos. — Capricórnio elevou o cosmo. — Irei retalhá-lo!

— Já chega! — gritou Deimos, impaciente. — Já não suporto suas ironias e deboches, Cavaleiro de Altar! Existe algo de diferente em você! Sua perda de sangue não parece lhe afetar! Vejo que alguns ferimentos estão cicatrizando! E a benção divina não lhe causou uma morte certa, mesmo sendo um mortal! — Deimos estendeu a mão e a sua espada surgiu, segurando firme no cabo. — Se acha que um berserker ou um cavaleiro de ouro não é o suficiente para matar você, lhe darei a honra de ser morto por um deus. Eu mesmo irei tirar a sua vida.

Delfos sorriu.

Deimos se teletransportou e se materializou diante de Delfos, avançando com sua espada divina. Delfos se desvencilhou do temor de ter diante de si um deus como oponente, mas não conseguiu desviar a tempo. O corte da espada rasgou o peito da sua armadura, arrancando gritos de dor. O antigo Grande Mestre cambaleou com a mão no peito e encarou Deimos.

— A espada divina amaldiçoada... — disse Delfos. — Será que consegue me matar com ela?

Os olhos vermelhos de Deimos acenderam com cosmo.

— Veremos. — disse o deus, atacando Delfos, mas o Cavaleiro de Prata se esquivou e avançou, ferindo a mão de Deimos com a adaga dourada. O ferimento forçou o deus a soltar a espada, mas antes que a arma caísse no chão, Deimos a recuperou com a outra mão e girou desferindo um novo ataque.

Delfos saltou tomando distância de Deimos, mas antes que o deus pudesse se mover, Delfos girou a adaga e a enfiou no próprio peito.

— Nenhum de vocês irá me matar.

A ponta da lâmina afundou, rasgando a armadura e depois a pele. Delfos sangrou em vermelho, sangue humano, escuro como rubi. Era evidente que sentia dor: os dentes expostos num riso de escárnio, a respiração ficando irregular, mas a adaga continuou a avançar, com a mão firme. Lagrimas escorreram dos seus olhos. As costas da armadura incharam e se despedaçou quando a ponta da adaga irrompeu através dela, em uma bolha de sangue.

O cabo chegou ao peito de Delfos, a lâmina se projetava das costas, pingando em escarlate. Os deuses, cavaleiros e berserkes ficaram parados, chocados e imóveis.

— Atena... Atena, você jamais irá me perdoar pelo o que eu fiz. — Delfos desabou de joelhos no chão e com a cabeça jogada para trás, chorando. — Mas eu posso lhe garantir, que nenhum desses deuses malignos irá vencer essa Guerra Santa. — Delfos ergueu a cabeça e fitou os deuses com os olhos semicerrados. — Voltaremos! Vida longa para a deusa da guerra.

O resto foi tudo um borrão. Delfos foi tomado por uma coluna de chamas prateadas. Era fogo divino. Ele não gritava, não se debatia, não reagia. Os deuses tremeram. Aquele era o mesmo fogo que tinha consumido Atena. O fogo eterno. O fogo que queima apenas os deuses e os seres imortais, e os leva ao mundo dos mortos dos imortais. O tártaro.

Afrodite gritou.

—...—


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Notas finais do capítulo

Próximo Capitulo: Os deuses entram em alerta. Um conselho de urgência é formado com todos os deuses aliados, incluindo as Moiras. Afrodite está buscando explicações, enquanto isso a prisão de Oubliette, a prisão do Santuário aonde está Seiya e outros cavaleiros presos, é atacada por uma pessoa misteriosa.


Capitulo 17: Oubliette em chamas. A caixa da esperança.


Depois de 16 capítulos e eu presenteio vocês com uma morte dramática de Delfos (risos) acho que estou ficando sanguinário de mais. Acho que tem um espirito da guerra em mim também.

Boa leitura sempre ^^
E então, o que ta te agradando na historia? Deixa sua opinião ae ;)



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