A reunião da companhia da luz havia sido adiantada, a informação que Sky e Bloom haviam recebido de Oritel e Marion os perturbavam intensamente, como se a qualquer momento, tudo fosse desaparecer novamente, mas a verdade, era bem pior do que aquela.

Aos poucos, os membros da companhia da luz foram chegando a Andros, onde decidiram se encontrar para descobrir a quem pertencia as iniciais E.N., afinal, nem Marion e muito menos Oritel haviam dito.

Todos ali pareciam bastante perturbados, enquanto Bloom e Sky contavam tudo que haviam ouvido dos pais de Bloom.

Stella coloca um livro sobre a mesa, ele era menor do que o livro das fadas, ela folheou freneticamente, Clarissa havia compreendido a pressa dela, aquele era o livro de contos que Luna contava para as duas quando Stella era criança. Ela para em uma das folhas, seu olhar estava fixo na imagem ali gravada.

— Stella – Flora chama a atenção da loira que logo dispersa o olhar dos livros para seus amigos, parando sobre Clarissa – estamos ferrados.

A afirmação dela era quase hilaria, se aquele não fosse um momento de tensão, mas era o modo de Stella expressar o quão nervosa estava por confirmar suas suspeitas.

— Que livro é esse? – Tecna pergunta olhando com uma cara feia para o livro, ele tinha uma aparência esquisita, com uma capa pingando gotas de ouro.

— É o livro dos Douros, nele tem as histórias de todas as criaturas mágicas do nosso mundo – Stella explica e aponta para Clarissa – nossa mãe lia para nós.

— Está me dizendo que o nosso inimigo está em uma história de ninar? – Aisha debocha incrédula, não sabia se ria ou se brigava com Stella.

— Eu sei, é ridículo – a loira revira os olhos e suspira – olha, os elfos da floresta de Tarmar são conhecidos por possuírem a forma dos seus inimigos, nas histórias eles conquistam impérios e destroem todos aqueles que são leais a magia do bem.

— Isso parece mais uma história de terror, do que um conto de ninar – Charlotte ri.

— O conto não era assim, era sobre um lorde que segura a espada do poder e derrota os elfos, mandando os para longe – Clarissa bate na amiga que ri alto.

— O que acontece se o herdeiro das trevas tiver a espada do poder? – Sky pergunta para Stella, que franze o cenho.

— Mamãe dizia que eles passariam a eternidade torturando e sendo donos de tudo – Stella fala meio confusa, na verdade, não tinha total certeza de que aquilo era verdade, sempre questionava sua mãe sobre aquela parte da história.

Eles ficam em silencio, apenas absorvendo tudo que haviam escutado naquelas vinte e quatro horas, estavam em um território irreconhecível.

— Quem vocês acham que é o príncipe das trevas? – Nabu pergunta.

— Segundo a história, ele nunca apareceu, pois ainda não havia sido escolhido – Stella conta – mas a cada cinquenta anos eles retornariam e na terceira era, os elfos teriam um herdeiro.

Clarissa vira para Caleb com os olhos arregalados, aquilo não deveria estar acontecendo, não agora, não enquanto ela for a dama da noite.

— Clarissa – Violetta chama percebendo a agitação da morena.

— Damon – Clarissa fala fazendo todos encarar ela, pareciam chocados – não, não, Caleb, meu filho não.

Lagrimas caem dos seus olhos, parecia sentir a dor, antes mesmo de perder, ela já havia perdido tanto e agora que tinha tudo, estava prestes a perder mais ainda.

Caleb segura a esposa e põe a mão sobre sua cabeça.

— Caleb – Clarissa chama ainda chorando.

— Eles estão juntos, se acalme – Caleb fala e por um instante, o mundo para.

Naquele instante, todos mantinham sua atenção sobre os dois, estavam tão entretidos sentindo a dor de Clarissa, que mal perceberam o que estava acontecendo, foi quando a flecha passou diante do olho deles que finalmente o tempo voltou a correr, com tanta velocidade que em questão de segundos a ruiva segurou seu amado que despencava ao chão.

Ninguém teve reação alguma, ninguém se mexeu, apenas ela encarava o corpo do homem morto nos seus braços, enquanto suas mãos tremiam tanto que ela mal podia conte-las, e nem queria, naquele momento ela não queria nada, só que ele pudesse acordar.

Suas mãos estavam encharcadas de sangue, sangue fresco, daquele que ela tanto amara. Ela repetia o nome dele varias e varias vezes, desejando que aquilo não estivesse acontecendo, não com ela.

Foi quando o chão começou a pegar fogo que os outros reagiram. Charlotte levanta uma barreira de água entre eles e a ruiva, bem a tempo do grito dela quebrar as barreiras do som, seu poder vare toda Andros, enquanto seu peito doía e sua alma se quebrava em mil partes.

— Sky – ela gritava insistentemente – não.

Seu grito era absurdo, sua dor doía nos outros, as lagrimas dela molhavam o rosto do loiro morto nos braços dela. Ela se recusava a acreditar, não poderia jamais.

A chama do dragão varreu tudo e todos, tudo aquilo que estava no caminho dele deixou de existir, menos seus amigos que eram protegido pela magia de água de Charlotte, no limite de Andros, surgindo do horizonte, os inimigos se levantavam, ela era tudo que precisavam, precisavam quebra-la, precisavam que a chama do dragão os libertassem para que eles pudessem conquistar o mundo.

E eles haviam acertado, eles a quebraram, de milhões de forma inimagináveis, ela não conseguia conter, nem a sua dor, nem o seu poder, estava tudo a solta, agora nada mais importava, nada poderia traze-lo de volta, nada poderia trazê-la de volta.

A chama se apaga, no mesmo instante que Clarissa atravessa a barreira e se agacha em frente a Bloom.

— Nós precisamos ir, deve dar adeus – Clarissa fala para Bloom, que chorava com o rosto colado ao de Sky.

Doía tanto em Clarissa, ela sabia a dor da perda, ela olha para Caleb que se agacha junto a Bloom e toma Sky dos seus braços.

Bloom olha para Clarissa com dor, elas reconheciam aquilo, não havia tempo para sofrer, não agora, a guerra não permitiria, nenhum deles poderiam se dar ao luxo disso. Bloom olha para Brandon que estava grudado em Stella chorando, todos estavam, mas o choro dela era o mais dolorido, suas lagrimas pareciam pesar toneladas.

Bloom olha para Caleb que levanta com o corpo de Sky nos braços.

— Precisamos ir – Charlotte fala apontando para o horizonte.

Bloom acompanha o olhar da morena e vê tudo destruído, reduzido a cinzas, todo o reino de Andros, mas naquele momento ela não se importou, ela apenas se apoiou nas duas e deu passos pesados até o portal que Ice havia aberto.

Caleb pula em um e logo se fecha. Ele levaria o corpo de Sky para outro lugar. Ice abre outro portal e todos passam por ele, restando apenas as quatro.

— Adeus meu amor – Bloom sussurra com pesar, antes de passar pelo portal com as meninas ainda lhe sustentando.

Ice passa pelo portal e ali, eles desaparecem.

…

Cada reino possuía ao menos trezentos guerreiros, prontos para morrer na batalha, mas para cada trezentos, havia setecentos elfos invadindo cada canto de cada reino.

Caleb surge diante da gruta, onde os gêmeos passavam a maior parte do tempo, os dois se assustam ao verem o pai com o corpo em seus braços. O caixão de vidro de Clarissa ainda estava lá, Caleb põe Sky do mesmo jeito que Bloom o havia segurado, com uma flecha no coração, com o símbolo dos elfos gravado na base.

— Pai – Aurora chama – parecia assustada.

— Não tenho tempo para explicar – Caleb fecha a tampa de vidro e olha para os filhos, juntando os dois em sua frente – ouçam com atenção, sua mãe criou essa gruta para proteger vocês dois, lançarei um feitiço de proteção muito forte, que só pode ser quebrado por mim ou se eu morrer, vocês ficarão presos aqui dentro, podem fazer magia, mas nunca se teletransportar, e ninguém pode adentrar.

Damon olha de Sky para Caleb e assente, sem fazer perguntas.

— Eu irei encontrar a mãe de vocês, e vocês precisam aguardar, até que eu retorne com ela, estão me entendendo? – Caleb pergunta e os dois afirmam veementemente – eu amo vocês.

— Te amamos pai – os gêmeos falam juntos com lagrimas nos olhos.

— Cuidem do corpo dele, até que encontremos uma forma de acabar com tudo isso – Caleb fala e os dois continuam apenas assentindo.

Ele dá um beijo na cabeça dos dois e sai da gruta, logo criando um feitiço de proteção e invisibilidade. Ninguém jamais poderia entrar, ele era a única chave para aquilo. Ali estava quatro coisas muito importante que alguma hora, ajudaria a salvar o mundo, os gêmeos, Sky e o livro das fadas.

Caleb abre um portal e adentra, desaparecendo da vista dos gêmeos, Lunar também havia sido invadida e muitos haviam sido feito prisioneiros. Aqueles que desapareceram no portal precisavam fugir, pois sem a espada e agora sem Sky, seriam mortos ou torturados.

Os gêmeos olham pela janela, a tempo de ver a bandeira dos elfos ser estendida sobre o castelo de Lunar.

— Acha que eles ficarão bem? – Damon pergunta para Aurora, não parecia tão assustado e nem amedrontado.

Aurora dá de ombros indicando que ela sabia tanto quanto ele.

— Acha que deveríamos ter impedido? – Aurora pergunta para o irmão com dúvida.

— Tudo começa com ela e termina com ela – Damon afirma pensando – a visão dos deuses não ajudaria, se contássemos, eles interfeririam e as coisas seriam diferentes.

Aurora pensa um pouco e afirma.

— Espero que eles fiquem bem – Aurora fala olhando para Damon que assente igualmente.

Eles sabiam o que estava acontecendo, havia tido uma visão horas atrás, mas de acordo com a visão, o curso deveria ser mantido, ou o futuro teria serias quebras.

— Agora entendo o que a mamãe sentiu – Damon fala para Aurora que examinava com cuidado a flecha no peito de Sky.

— Mal tiveram tempo de se despedir, ela apenas quebrou, como todos nós – Aurora fala e se senta em sua cama – ninguém compreendia a dor da nossa mãe, Bloom agora sabe como é se sentir sozinha no mundo.

— Isso parece vingança – Damon debocha e se senta de frente para Aurora.

— Isso é o preço que pagamos por prever o futuro Damon, aguentar a dor de todos eles e esperar que as coisas sejam naturalmente resolvidas.

Damon parece pensar um instante e afirma, Aurora estava certa, não falar sobre a visão faria tudo desencadear da forma certa e mesmo sendo doloroso, eles tinham uma missão naquele mundo, os gêmeos do destino precisavam escolher com sabedoria, a informação que dariam e que retirariam, esse era o preço.

— Acha que ela descobrirá o caminho que precisa percorrer? – Aurora pergunta e recebe uma afirmação do irmão, ela tinha serias duvidas sobre o futuro de Bloom, ainda mais agora que a visão havia sido cumprida, agora que Sky estava em um mundo tão distante quanto o deles, tão distante quanto o lugar que a companhia da luz encontrou para chamar de casa.

Eu gostaria que pudéssemos fazer tudo de novo, cada sorriso, cada lagrima, cada parte, porque eu sei que nada vai acabar, se é seguro dentro de nossos corações, então, vamos seguir em frente, mas nunca deixar de ir, como vamos dar estes passos em seu próprio tempo, o que será, eu vou lembrar de você, por isso lembre-me...

A companhia da luz vagava em direção ao seu novo futuro, um futuro desconhecido e agora, mais ainda, sem Sky eles sentiam que haviam perdido um pedaço deles próprios, como se tudo que fizessem fossem completarem uns aos outros.

Lembre-se de mim e eu estarei lá, lembre-se de mim quando você se sentir perdido em algum lugar, e eu sei que com apenas um toque mágico, tudo pode reaparecer, sempre que você precisar, uma boa memória, lembre-se de mim...

Bloom vira a mão três vezes recitando o feitiço que seu pai havia revelado, mas nada aconteceu, ela não podia sentir sua magia, estava dormente, havia a esgotado durante o momento em que seu mundo caiu sobre sua cabeça. Ela ainda sentia seu peito apertado, havia perdido tudo em um milésimo de segundo.

Tantos novos dias a frente, e eu estou animado para ver todos eles, mas por favor, não se esqueça desta vez, basta fechar os olhos...

Eles olham uns para os outros e se dão as mãos, agora só tinham a eles mesmos, sem títulos, sem realeza, sem vontade, apenas com esperança, para que novos dias surgissem em seus caminhos. Todos haviam perdido algo, uma família, um amor, uma casa, um lugar para chamar de seu, agora pertenciam ao desconhecido.

Lembre-se de mim, e eu estarei lá, lembre-se de mim quando você se sentir perdido em algum lugar, e eu sei que com apenas um toque mágico, tudo pode reaparecer, sempre que você precisar, uma boa memória, lembre-se de mim.

Dariam tudo de si para recuperar seus lugares de direito, encontrariam a espada e achariam uma forma de trazer Sky de volta, afinal, se alguém podia vencer o véu do eterno, esse alguém era Bloom, que assim como Clarissa, possuía tudo e agora não tinha mais nada, além de si própria e seus amigos. Agora, era tudo ou nada, e não deixariam de forma alguma, deixar passar cada oportunidade que tivessem.

…Continua ...