Undisclosed Desires escrita por MarieClaire


Capítulo 2
II - A doença do sangue "contaminado"


Notas iniciais do capítulo

Ok, vou pirar agora, já que ninguém lê as notas finais mesmo. HEHEHE' MUITO OBRIGADA POR TEREM FAVORITADO, ME AMADO, AMADO A FIC, E COMENTADO, PRINCIPALMENTE.
Sério, eu amo mt tudo isso >.< Vocês são uns fofos, e me senti beeeem inspirada pra esse próximo, que não tinha nem título quando postei o primeiro. Comigo é na base do "vai na fé", entón ... aqui vamos. Na fé, a propósito.
Boa leitura !



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Verão de 2013, Casa dos Potter.

As primeiras gotas de chuva escorriam pelo vidro da janela semi-aberta, quando o menino ouviu os gritos de sua mãe, ao longe.

–James Sirius e Lily Luna , voltem pra dentro agora ! Antes que peguem um resfriado !

O garoto permanecia sentado no chão, atirando uma bolinha vermelha contra a parede oposta, entediado. A esfera fazia o mesmo caminho em todos os lances. Ia, colidia, e retornava, com a mesma intensidade.

–Mamãe, só mais uns minutos ! - choramingava Lily, no andar de baixo. Albus conseguia imaginar perfeitamente seus lábios alinhados num bico meigo. Assim como James, que provavelmente devia estar de braços cruzados, e a face emburrada.

–Nem pensar, Lily. Da última vez foi a mesma coisa. A chuva só está piorando, e seu pai não vai chegar cedo hoje.

–Por isso mesmo que íamos treinar - garantiu James, no seu tom desafiador habitual - Qual é, Ginny. Só -

–Não me chame pelo nome, James - ameaçou-o, num tom irritado - Pra você é mamãe, ouviu bem ?! Ma-mãe.

Tum. Tum.

E a esfera continuava, conforme os olhos do garoto passavam a pesar. Agarrou a bolinha no último instante, mas as mãos subitamente falharam, fazendo-a rolar para debaixo da cama.

Ele engoliu em seco, nervoso.

Estava acontecendo, mais uma vez.

Levantou-se com dificuldade, apoiando a mão esquerda na parede branca, enquanto arrastava-se pelo quarto, na direção das estantes. Tateou os papéis um tanto zonzo, até encontrar um dos remédios para resfriado, que a Senhora Potter mantinha guardado numa caixa escura no alto da geladeira, na cozinha.

Tivera muito trabalho para conseguir uma cartela inteira de comprimidos sem ser notado. E mais trabalho ainda para se acostumar com o tamanho dos mesmos. Mas precisava conseguir. Não era como se precisasse de ajuda em algo tão frívolo quanto uma virose. Afinal, seus irmãos nunca davam esse tipo de trabalho para os pais.

–Mãe, por favor ... - choramingava um deles, sem que o moreno pudesse reconhecer a voz.

–Por que não param de reclamar e me ajudam a colocar isso no fogo?

Ouviu a voz da matriarca tornar-se distante, e as pernas perderem força, enquanto engolia com as últimas forças um dos comprimidos, bebendo um gole da água no copo próximo a si, já preparado para a situação.

Trépido, chegou até a cama, deixando-se cair na mesma, iniciando mais uma de suas tremedeiras.

"-Eu não entendo, realmente não entendo - murmurava Harry, fitando o Profeta Diário com puro desinteresse - Como ele pode passar tanto tempo sozinho?

–Harry, por favor, não vamos retornar a essa discussão - pediu Ginny, sua esposa, enquanto tomava uma xícara de chá. Ambos sentados na sala de estar, durante a madrugada. Entretidos demais para notarem o menino que chorava assustado escondido atrás da parede - Albus está numa fase difícil... e ele não gosta de socializar tanto quanto os irmãos. É assim que ele é, e não podemos mudar isso.

–Mas ! - engoliu em seco, nervoso - James ... e até Lily ! Ele passa metade do dia no quarto, e a outra metade, não para quieto! Nunca está onde os primos, nós, ou os irmãos estão.

–É só uma fase, meu amor. Vai passar - incentivou ela, levantando-se e afagando os cabelos negros do Senhor Potter - Ele só é tímido. Não há nada de errado com ele.

–Eu nunca achei que tivesse. Só ...

–Pai ? - a voz sonolenta fez-se presente, e Harry virou a cabeça rapidamente na direção do menino de moletom recostado a porta, com os olhos úmidos.

–Albus - Harry analisou-o por cima dos óculos, levantando-se - Está tudo bem, filho ?

Os dois encararam-se por longos instantes, enquanto o menino mordia o interior da bochecha, hesitante. Queria contar a ele que achou ter desmaiado, mas tinha medo. Não queria que tivesse algo de errado consigo.

–Eu ... tive um pesadelo."

E então, entregou-se ao escuro.

000

Durante aquela aula de Transfiguração, minha pena corria sobre o papel com velocidade. O bloco de anotações pessoais estava lotado de tudo, menos informações sobre a aula. Que, a propósito, estava num nível cada vez mais medíocre.

–Mas, professora, pode repetir a parte da troca ? Ainda não consegui fazer um líquido virar o outro - pediu Rose Weasley, no seu tom irritante e nerd habitual.

–É claro, Senhorita Weasley. Como pode ver ...

Albus era um garoto muito estranho. Desde que entrara na sala, já havia anotado diversos de seus movimentos mais inusitados. Primeiro, ele tremia uma das pernas freneticamente. Ás vezes alternava, da esquerda para a direita, mas nunca quieto.

Na metade da aula, sua cabeça tombou pra frente, e seus olhos fecharam. Quase como se desligassem-no da tomada, e durou apenas 50 segundos. Tempo suficiente para seu amigo, Lorcan Scamander, reparar.

Os dois trocaram algumas palavras, e o Potter apoiou a cabeça na mesa, parecendo exausto. E então, dormiu. Por apenas alguns minutos, mas suas pálpebras abriam e fechavam, incomodadas com algo. Era um sono meio ... perturbado.

E tudo isso fora devidamente anotado em meu bloco. Era mais que obvio que ele tinha um problema de saúde. Mas não algo comum, como uma virose. Até porque, ele parecia saber perfeitamente o que estava acontecendo. Depois que deitou a cabeça, e "dormiu" um pouco, acordou prestando atenção nos mínimos detalhes da sala.

Foi quando notou a minha presença, mais atrás de si, e na diagonal. Seus olhos desviaram-se assim que deduziu estar sendo encarado, um tanto intimidado.

Era um babaca como qualquer outro. Mas talvez um pouco menos burro que o normal.

Ele me olhou de canto, e permaneci a encará-lo, apoiando o queixo no punho, de forma debochada.

–Estão vendo isso, Senhores ? Um feitiço perfeitamente aplicado ! De fato, magnifico. Dez pontos para a Grifinória !

Desviei os olhos dele, focando na afirmação da mulher. Nem pensar que cederia pontos a Grifinória, assim, de graça. Muito menos a um Weasley.

–Eu terminei o meu já faz tempo, será que podia me liberar ? - pedi, alto o bastante para chamar a atenção de todos. Os olhos da professora pairaram sobre meu caldeirão, e ela aproximou-se, sem jeito. Meus olhos fuzilavam-na com divertimento.

–Eu perguntei há poucos minutos atrás quem havia - não ouvi metade - Se tivesse terminado o trabalho, deveria ter levantado a -

–Eu não sei se notou, e provavelmente não notou, que a maioria dos alunos da Sonserina levantou a mão, mas talvez o fato da Senhora ter sido membro e, atualmente, Diretora da Grifinória, te faça dar uma preferência a eles.

–Mas o que - os alunos da Grifinória resmungaram.

A mulher engoliu em seco, nervosa.

–Eu jamais -

–Então como explica o fato de só a Grifinória ter ganhado pontos nessa aula, sendo que só um aluna conseguiu realizar a transfiguração, enquanto dois dos alunos sonserinos realizaram, e você os ignorou ?

–Ela não os ignorou, Malfoy - rebateu Rose, e a ignorei solenemente, encarando a mulher como se pudesse queimá-la com os olhos.

–Deixe-me ver seu caldeirão, Senhor Malfoy - ela pediu, aproximando-se incomodada. Não retirei os olhos dos dela em nenhum momento. Era regra básica para intimidação.

–Oh, Senhor Malfoy ... isso é ... - engoliu em seco, sorrindo forçado de lado - Quinze pontos para Sonserina, e está liberado, Senhor. Seu caldeirão está intacto, sem vestígios de mais de uma tentativa. Certamente incrível.

Os alunos da Sonserina riram, murmurando animados uns com os outros, enquanto os da Grifinória roíam-se de ódio.

Ignorei-a, pegando a mochila e o Guia de Transfiguração, enquanto andava devagar para fora da sala. Rumei em direção a biblioteca, distraído com meu bloco, enquanto cogitava possibilidades de livros.

Doenças crônicas trouxas, era um bom começo. Só eram constatáveis, caso o indivíduo tivesse sangue mestiço. E apesar de Albus ser filho de dois bruxos, sua avó era sangue-ruim.

Suficiente para contaminar toda uma família.

–Não aceitamos a entrada de alunos no horário de aulas - murmurou o bibliotecário mal-humorado, sem nem olhar em minha direção, enquanto carimbava os livros.

–Bom-dia - rebati, com irritação. Ele ergueu uma sobrancelha, olhando finalmente em minha direção.

–Ah, o Senhor, Senhor Malfoy - reconheceu-me, com puro desgosto - A que devo honra da sua adorável visita ?

–Achei que estavam realizando o seu velório nesse horário - expliquei, com ironia - Mas vejo que driblou a morte mais uma vez. Como consegue enganá-la assim ? Duvido que te ache inteiro para a idade.

–Sua idade é tão curta quanto sua educação, criança - afirmou ele, passando a mão por cima de uma xícara, onde olhou dentro durante alguns instantes.

–Vai adivinhar o meu futuro ?

O sorriso debochado permanecia no canto de meus lábios. Mas ele apenas fechou a cara, com uma expressão sinistra.

–Eu prefiro não estragar suas surpresas, Jovem. Quer saber, pode ir procurar o que quer aqui. Seja lá o que for. Não sou eu quem vai impedir esse seu destino grandioso.

O tom altamente irônico me deixou curioso. Por apenas alguns segundos. Haviam coisas bem mais importantes que uma profecia de quinta qualquer. Se havia uma matéria da qual eu não abria se quer um caderno, era Adivinhação.

Agora precisava de foco. Os gêneros iam espalhando-se feito pragas, de forma aleatória através das prateleiras. Feitiços. Transfiguração. Poções. História da Magia. Adivinhação. Tudo menos "Estudo dos Trouxas". Que, na minha opinião, devia estar ao lado de Criaturas Mágicas.

Perdi a paciência e levei a mão ao bolso onde guardava o purificador de almas, e peguei um objeto redondo ao seu lado.

Fora o único presente que Narcisa me dera em toda a minha vida. Quando fiz exatamente quinze anos. E também fora o mais significativo. Era engraçado o quão prestativa ela conseguia ser, vez ou outra. Quase irônico, se comparado com o restante da família falsidade.

A propósito, era uma bússola. Uma bússola enfeitiçada por ela, para me ajudar a "encontrar o que quiser, no momento em que precisar disso". Nem sempre funcionava, ela havia avisado. "Pessoas são confusas, então pode te levar a outro objetivo, se estiver pensando nele incondicionalmente". Mas a mim, esse erro não era considerável. Nada me confundia. Nunca.

Retirei a tampa, enquanto observava o ponteiro em forma de flecha apontar a norte, e segui suas instruções, que me guiaram até próximo da sessão reservada, onde eram armazenados livros de Arte das Trevas. Somente alunos com autorização podiam entrar ali, o que seria uma droga para conseguir, levando em conta que o bibliotecário me odiava.

Assim como metade dos professores. Que sempre acabavam sendo induzidos a me dar boas notas, ou me liberarem das aulas.

Felizmente, a direção mudou no último corredor. Leste.

Caminhei por ele lentamente, ciente de que a aula de Feitiços ficaria em segundo plano, enquanto me aproximava das estantes, erguendo os olhos para os títulos. Haviam muitos com o título de estudos de comportamento trouxa.

Provavelmente uma sessão de curiosidades sobre o "Outro mundo". E então, finalmente encontrei. "Doenças mestiças : Parte 3 ".

A bússola apontava diretamente para o exemplar.

ooo

–É uma gripe - garanti a eles, dando de ombros - Mas ... mudando de assunto, o que estavam fazendo nas m-

–Não mude de assunto, Albus Severus ! - cortou-me Alice, impaciente. Rolei os olhos - E não faça essa cara debochada ! Estamos preocupados com você, e já faz duas semanas que as coisas estão ficando graves. Viu suas notas em Adivinhação e História da Magia ? Foram as piores da sala.

–Alguém tem que tirar a menor nota, não é ? - suspirei cansado - Olha, eu não vou entrar nessa discussão de novo. Eu só me descuidei, Alice.

–Você não é assim, Al - explicou Lorcan, apoiando a mão em meu ombro afetuosamente - Suas notas nunca são ruins.

–As pessoas mudam.

Os dois se entreolharam, com expressões irritadas.

–Ninguém vai te forçar a dizer o que está acontecendo, mas é sua obrigação - pressionou a morena, vermelha de raiva - Ok, já entendi. Só tenho uma coisa pra te dizer antes, Senhor-Que-Se-Dane : Se está nos tratando assim só por causa daquele maldito teste de Quadribol, saiba que ninguém se importa com isso ! Só porque o idiota do seu irmão é bom nisso, não quer dizer que seja -

–Por que todo mundo fica querendo me consolar por isso ?! - cortei-a, igualmente irritado - Eu não dou a mínima pro Quadribol, nem pra ser igual ao James ! Parem de me consolar - engoli em seco, notando o estado dos olhos dela. Vermelhos, e lacrimejando - Estou sendo um idiota.

Lorcan assentiu, e me joguei no sofá do Salão Comunal, acabado.

–Foi mal - murmurei apenas, abaixando a cabeça.

–É sério, Al - ele sentou-se ao meu lado, um tanto afastado no enorme móvel de couro negro - Precisa dar atenção aos estudos de novo. Eu sei que suas notas já são boas, mas não dá pra chutar tudo assim.

–Eu sei.

Fitei o lustre de cristal preso ao teto, que balançava minimamente, devido ao vento que entrava pelas duas enormes portas de madeira que ocupavam quase toda a parede. O Salão Comunal da Sonserina havia sido reformado, após a Guerra, e agora possuía um visual mais rústico. Os móveis todos de couro e madeira escura, um carpete ocupando o centro dos corredores, de um verde musgo opaco. Além das colunas brancas ornamentadas com serpentes metálicas, que subiam até o teto.

Um soluço se fez presente, e levantei os olhos a tempo de ver as primeiras lágrimas escorrerem do canto dos olhos de Alice.

Foi como levar uma facada.

–Alice ... - me levantei, e abracei-a firme, enquanto ela recostava a cabeça em meu peito - Eu sinto muito. Não quis ser rude com você.

–Pare de agir assim... - pediu ela, me envolvendo de volta - Está nos deixando muito chateados. Eu me preocupo com sua saúde e seus estudos, Al. E não finja que não é importante.

–Pessoal ... será que podem não me excluir ?

Sorri de canto, abrindo um dos braços na direção do Scamander, que torceu a boca, negando o chamado com a cabeça.

–Nem pensar que vamos ter essa cena decadente.

–Só chamei por educação - garanti, e ele riu.

–Meninos ... - Alice sorriu fraco, limpando as bochechas molhadas com as costas da mão - Vão dormir logo, está tarde.

–Tá bom, mamãe - caçoou o loiro, bufando - E eu achando que ia ter liberdade aqui.

–Nem nos seus sonhos, gato - rebateu ela, fazendo-o corar levemente. Quase joguei Lorcan de encontro a Alice, pra agilizar aquele vai-não-vai irritante em que se encontravam. Acabei optando por simplesmente deixá-los ali, porque Lorcan certamente iniciaria alguma conversa sobre constelações, que sempre a deixavam entretida.

Caminhei até a escada, retirando a capa e o casaco, e subindo-a com o passo arrastado, de tão sonolento. Depois das refeições era sempre ruim me manter acordado.

Abri a porta do quarto devagar, verificando que estava vazio. Felizmente.

Os dormitórios foram os cômodos com maiores mudanças, depois das reformas. Situados no andar superior, agora abrigavam os cinco alunos - homens - de cada ano num único quarto, para incentivar a confraternização.

Não que isso acontecesse. Luke Zabini e Will Storm eram os únicos falantes ali. Lorcan passava grande parte do tempo estudando as estrelas, e escrevendo palavras aleatórias, enquanto sussurrava coisas em outra língua. E , por fim, havia Scorpius Malfoy. Não falava com ninguém, e quase sempre estava estudando algo que eu apostava não ter nada a ver com as matérias.

Parecia estar sempre planejando coisas. Como hoje na aula de Transfiguração, onde tenho certeza absoluta que estava me observando. Não só me observando, como também fazendo isso de propósito. Parecia uma cena ensaiada.

Aproveitei o momento sozinho pra tomar um comprimido e pegar um dos livros de suspense debaixo da cama, abrindo-o na página marcada. Retirei os óculos da mesa de cabeceira, pondo-os no rosto.

Minha leitura seguiu por apenas dois capítulos e meio, e bem no momento em que o investigador ia descobrir o mestiço assassino de puro-sangues, a porta se abriu.

E lá estava a pessoa que eu menos queria ver naquela noite.

Olhei-o de relance por apenas uns instantes, retornando o foco ao livro, mesmo que não estivesse entendendo absolutamente nada do que estava escrito.

Notei que minha perna direita estava tremendo freneticamente, e travei-a, irritado. Que reação imbecil era aquela ?

Ouvi o som das molas da cama do canto - que, a propósito, era a dele - e me senti ainda menos confortável. O que aquele idiota estava fazendo tão cedo no quarto ?

Ergui os olhos discretamente em sua direção, e o vi com as costas recostadas na parede. Olhando diretamente na minha direção.

Ele estava jogando. Visível. Mas qual a finalidade ? Quer saber, dane-se. Melhor se jogar na armadilha de vez, do que ficar esperando cair nela desprevenido.

–Está tentando me pressionar a te perguntar "Qual é a sua?", ou é só impressão mesmo ? - perguntei, perdendo a paciência. Retirei os óculos do rosto, colocando-os de volta na mesinha de cabeceira, ao lado do livro, enquanto cruzava os braços, aguardando uma resposta.

Ele sorriu de canto, de forma sádica.

–Pensei que não iria se dar ao trabalho - explicou-se, levantando em seguida e caminhando em minha direção. O primeiro reflexo fora um repentino e arrebatador desejo de ir mais pra trás. Mas não era a coisa certa a fazer. Nunca se deve recuar fisicamente de alguém intimidante.

A não ser que ele esteja com a varinha apontada pra sua cara.

Que, felizmente, não era o caso.

–Narcolepsia - citou, olhando-me direto nos olhos - Te diz alguma coisa ?

Senti meu corpo travar.

–Como ... foi q- engoli em seco, compreendendo tudo - Ah, isso explica.

–Explica o quê ? - perguntou, interessado, enquanto sentava-se na cama em frente a minha, bem na beirada. Apoiou as mãos nos próprios joelhos, parecendo divertir-se internamente.

–A aula de Transfiguração - respondi, a contra-gosto - O que me denunciou ... ?

Seus olhos azuis assumiram um tom mais escuro, e as sobrancelhas franziram-se numa expressão prepotente.

–Síndrome das pernas inquietas - mencionou, fitando a tremedeira contínua de minha perna direita. Travei o movimento mais uma vez, indignado - Apagões pequenos ... mas frequentes. Na verdade, frequentes até demais. Não sei como foi que ninguém notou antes.

–Vem piorando atualmente - garanti, me arrependendo em seguida. Mas que merda. Ele não tinha que saber disso.

–Na adolescência se agrava - concordou, analisando-me de cima a baixo - Sua família sabe ?

–Sabe - menti, fazendo a cara mais séria possível. Uma de suas sobrancelhas ergueu-se, em descrença.

Maldito seja. Ele estava estudando cada palavra e reação minha. E se fosse bom em ler expressões corporais, talvez descobrisse que -

–Duvido - rebateu, apoiando o queixo no punho, debochado - Mente mal, Potter.

–Albus Severus - corrigi, com irritação - Qual é a sua, Malfoy ?

–Scorpius Hyperion - corrigiu-me de volta, sacana. Abriu um sorriso assustadoramente falso, e encantador, exibindo os dentes sem falhas e as covinhas na bochecha - Só estou interessado na sua história triste, Albus Severus.

O tom ao pronunciar meu nome saíra altamente sombrio, e me perguntei se havia riscos de ser morto num dos dormitórios por um bruxo sádico diabólico.

–Eles não sabem - contei a ele, dando de ombros.

–É recente ?

–Desde os sete anos.

–Seja mais detalhista.

–Só se me disser o motivo pelo qual está perguntando.

–Curiosidade.

–Minha vez de duvidar.

Ele riu seco, e franzi o cenho, instigando-o a continuar com a mentira. Era impressionante quantas vezes ele já havia mentido desde que começamos a conversar. Parecia incondicional, e automático. Ou era pura desconfiança minha.

Ainda assim, havia um certo diferencial na forma como ele falava. Algo que me fizera pensar que talvez manter a defensiva não fosse tão vantajoso assim.

Só atrasaria o que quer que estivesse por vir.

–Eu só descobri que era grave, quando apaguei durante um voo de vassoura. O primeiro, na verdade. Tinha oito anos, e meu pai ia nos ensinar a voar. Sabe, filhos prodígio do casal Quadribol - acrescentei, com puro sarcasmo. Sua expressão, antes séria, tornou-se divertida novamente. Divertidamente debochada - Simplesmente apaguei em pleno ar, e durou segundos. O suficiente pra cair direto na cerca.

–Consigo imaginar seu irmão te apoiando - murmurou com ironia, e tive que rir pelo nariz, concordando com a cabeça - Deve ter sido muito incentivador.

–É, tanto que nunca mais voltei a subir numa vassoura na infância - garanti num tom amargo, e ele sorriu de canto. De uma forma muito, muito, "estranha". Sua sobrancelha direita estava arqueada, tal como o canto de seus lábios, formando o sorriso mais sem-vergonha que já vira em toda a minha vida. Mas não o encarei por muito tempo, pois ele tornou a me interrogar.

–E quanto aos seus pais ? Que desculpa deu a eles ... digo, eles suspeitaram em algum momento, não é ?

Olhei-o com atenção.

–Deixa eu adivinhar, chegamos ao ponto em que você caçoa da minha família "perfeita " - carreguei o adjetivo de ironia - ou do fato de eu fazer parte dela, e ser problemático.

Ele cruzou os braços, a coluna inclinada para trás.

–É você quem está dizendo isso, Albus Severus.

–Eu não sou idiota, Scorpius Hyperion.

Nos entreolhamos durante alguns instantes, até que a porta novamente se abriu, e Lorcan e Luke entraram por ela, comentando qualquer coisa, até nos avistarem, próximos.

–Scorpius ? - Luke franziu a testa, curioso - Resolveu ser sociável ?

–Negócios são negócios - garantiu o loiro, sorrindo de lado. Falso.

–Cara, você não sabe o que aconteceu - Lorcan sentou-se ao meu lado na cama, desatando a contar sobre ele e Alice, enquanto meus olhos permaneciam fixos no Malfoy. Ele sustentou meu olhar por alguns instantes, levantando-se da cama de Lorcan em seguida, e andando em direção a sua. Luke e ele conversaram por alguns minutos, até que o Zabini sugeriu que apagássemos as luzes.

E assim fizemos.

Não tardou e as ilusões me tomaram. Até que finalmente apaguei.


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Notas finais do capítulo

Agora lá vou eu, mendigar. Sério gente, custa tanto assim comentar, cara ? Eu sei que devia estar super hiper grata pelos que já tenho - e olha que eu realmente estou - mas seria mt bom que mais pessoas dessem as caras. Sabe, só pra manter contato KKKKKK' Fim de semana ? Ruim, mais ou menos ? Érr, ok, vou nessa. Até o próximo ! Previsão : Uma semana.



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