À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 18
Insolente Jack


Notas iniciais do capítulo

Então, preparados para saber quem é o Jack?
Espero que o caso que fiz nessa fanfic esteja coerente e com algum sentido. E que eu tenha sido generosa para deixar pistas (acho que fui sim, porque com certeza pouca gente vai ficar surpresa com essa revelação)
No final tem uma bomba... Vai ficar para o próximo cap.
Enjoy.



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Era madrugada alta quando Holmes fumava seu segundo cachimbo. Embora aquele problema estivesse longe de ser um de três cachimbos, Esther o estava afligindo. Havia o perigo diante de si, mas ela, sempre tão orgulhosa e confiante, não queria reconhece-lo. Claro, se ela não agisse diferente, dificilmente ambos estariam casados.

Mrs. Hudson já tinha sido enxotada de seu apartamento três vezes naquele dia, e desde que Holmes encontrou o apartamento de Stewart há dois dias, ele não encontrava sossego. Parecia que algo estava faltando. Algo muito essencial.

O diário de Stewart estava sob sua mesa. Holmes já perdera a conta de quantas vezes o tinha relido. Havia algumas coisas nele que não estavam muito claras. Como uma referência a “Vermelho”. Deveria ser o tal líder comunista, oculto como uma sombra? Se fosse, seria espantoso um homem do tipo de Stewart conhecer alguém deste tipo.

“Conversei com M. C. K. e está tudo certo que a vaga será minha. Vermelho estará fora, pois qualquer um pode ver que um cargo desses a alguém como ele não fará bem ao Império”, assim dizia.

De repente, surgiu-lhe um estalo e ele voltou mais uma vez à carta que entregava o cargo de assistente à Stewart.

Com os cumprimentos de Mr. Cunnigan Kent.

Elementar. Ele estava se referindo à vaga de assistente em Moscou. Certamente, por meios escusos, Stewart roubou a vaga do dito Vermelho. O tal líder comunista que ele ouvira falar nos becos sujos, com grandes chances de ser ligado à segunda vítima.

Para terminar, o Diário terminava com a seguinte frase.

“Ele também joga sujo. Vermelho sabe de meus pecados. Preciso limpar minha sujeira.”

Ali, ele poderia estar se referindo ao irmão drogado, internado às pressas e de maneira discretíssima. Ou mesmo... Algum interesse amoroso que poderia difamá-lo! E se Stewart conhecia alguma das mulheres assassinadas? Ou mesmo: será que ele conhecia todas as meninas mortas?

Holmes notou, no entanto, que o diário estava com uma folha arrancada, seguinte à esta revelação. Talvez Stewart tivesse sido mais detalhista e, em um rompante de Inteligência, decidira rasgar o papel. Ainda assim, o rapaz parecia astuto demais para escrever maiores detalhes sobre isso.

“Preciso limpar minha sujeira”...

Ao colocar o pequeno caderno de anotações de Stewart sobre a poltrona, acidentalmente o caderno caiu, virado para o chão. Ao trazê-lo de volta ao seu poder, Holmes percebe um pedaço de papel, preso a uma das páginas, cair. Era um boleto, de passagens de trem compradas em Charing Cross.

Um estalo veio à mente de Holmes. Junto a Catherine Bryant, a primeira vítima, ele tinha encontrado uma passagem de trem. Coincidência? Pouco provável. Talvez Stewart tivesse algum tipo de relacionamento com Catherine, e estando perto de conseguir uma posição de destaque, ele tenha decidido “livrar-se” da jovem. De qualquer modo, ele poderia conseguir informações quanto á isso rapidamente.

Angustiado com a possível pista diante de seus olhos, Holmes levantou-se bruscamente de sua poltrona, vestiu seu terno e encarou mais uma vez as ruas de Londres, em busca da verdade.

Cerca de duas horas depois, ele já tinha obtido a resposta.

A conferente confirmou. O código do bilhete referia-se à uma passagem de trem para a Escócia, agendada, de acordo com as anotações de Holmes, no mesmo dia que Catherine Bryant foi morta. Sem dúvida, Stewart comprou a passagem para a moça.

Holmes passou sua mão pela superfície da folha em branco, que outrora estava no verso da folha rasgada. Ele podia sentir ali a pressão da grafia firme de Stewart contra o papel. Sabendo disso, Holmes tomou um grafite e pressionou, até que o conteúdo da folha rasgada reaparecesse, marcado pelo grafite.


Minha Cath,

Eu sei que o nosso último encontro foi um desastre. Posso entender sua reação, ao saber do fim de nossa história. Saiba que não a estou trocando por nenhuma outra mulher. Simplesmente, preciso que a situação esteja mais branda, para que eu consiga alcançar meus objetivos profissionais. Ainda há muito preconceito na sociedade britânica, e reconheço a minha fraqueza, pois sou incapaz de lutar contra isso. Mas eu quero continuar a vê-la, a fazê-la feliz, ainda que não possa dizer ao mundo inteiro sobre nós dois.

Possuo residência de verão na Escócia, de modo que posso mantê-la com uma vida confortável por lá, fazer de ti uma mulher honrada e respeitada, que terá direito ao que quiser, a hora que bem entender. Por isso, peço que reconsidere o pedido que lhe fiz, de seguir viagem à Escócia, e prometo que em breve, estaremos juntos outra vez.

Do seu,

Jim


Claro! James Stewart só poderia estar se referindo à Catherine, a primeira vítima. Mas porquê ele iria mata-la? Talvez a moça estivesse chantageando-o, mas ainda assim, pouco provável. Seria a palavra dela, uma empregada escocesa, contra de um rapaz rico. Se ele comprou a passagem, certamente mata-la seria arriscado e estúpido. E quanto aos outros assassinatos? Já estava provado que as vítimas não tinham qualquer relação ou sequer qualquer amizade em comum, além de estarem no mesmo bairro por motivos bem diferentes.

Holmes caminhava de um lado para outro em Baker Street. Já era madrugada alta, e a névoa emitida pelo seu cachimbo empesteava todo o ambiente. Alguma coisa ali não se encaixava.

Primeiro lugar, o apartamento do East End que Holmes encontrou. Estava uma bagunça, como se alguém tivesse feito uma fuga às pressas. Entretanto, quem em sã consciência deixaria seus pertences pessoais, com a identificação do seu nome, em uma gaveta? E o que dizer de um diário dizendo “preciso limpar minha sujeira”? Será que havia alguém tão estúpido assim, para se lançar na linha de fogo?

As facas. Sempre chamou a atenção de Holmes a maneira atrapalhada do assassino em esquecer a arma do crime na cena. Nem nervosismo explicava tal comportamento, não duas vezes. Duas vezes, e sempre que era surpreendido...

Como se fosse de propósito.

E a procedência das facas... Sem dúvida, o irmão viciado de Stewart penhorou os objetos. E em um penhor, qualquer pessoa pode pegá-lo...

E se todos estes assassinatos não passaram de um subterfúgio?

Alguém queria acreditar que o assassino era Stewart. Alguém que sabia de seus segredos, de seus pecados, e queria vê-lo prejudicado.

Vermelho.


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O dia mal tinha amanhecido e Holmes estava no Ministério das Relações Exteriores, próximo á Pall Mall. Ele precisou ainda esperar por um tempo, até a chegada do Sir. Roger Levine, um dos responsáveis pela seleção dos novos diplomatas.

Com paciência, Sir. Roger escutou toda a argumentação de Holmes a respeito do caso, e do quão vital era saber com quem Stewart estava concorrendo na vaga para diplomata.

A vagarez de Sir Roger irritava Holmes. Até mesmo o seu jeito delicado de passar as páginas do livro de processos, como se a prisão de um potencial assassino não estivesse justamente passando por aqueles dedos lentos e olhos imprecisos.

–Ah, aqui está... Mr. Stewart e... Mr. Carlston Holmes.

Claro, lembrou-se Holmes. Mr. Carlston era um dos vários rapazes londrinos com tendências marxistas, que dentre outras coisas gostava de exaltar a Comuna de Paris e organizar grupos políticos. Ele lembrou-se de ter escutado a respeito desse rapaz em algum caso envolvendo uma ameaça de atentado à um Ministro. Certamente, este era o líder do Partido secreto.

E ainda tem o mesmo sobrenome que eu.

–O que o senhor pode dizer a respeito deste Mr. Carlston Holmes?

–Bem, ele mostrava-se muito disposto a ter a vaga na Embaixada da Rússia. Era eloquente, ademais o que dizem a seu respeito, quanto às suas convicções políticas. Bem, talvez seja apenas boato, basta saber que ele é filho de um banqueiro e jamais tocou no patrimônio de seu pai.

–Então, acredita que ele está apto ao cargo?

–Tanto quanto Stewart, mas Mr. Willians preferiu Stewart.

–Se algo acontecesse a Stewart, Mr. Carlston Holmes seria o próximo?

–Com toda a certeza.

–Obrigado, Sir. – disse Holmes, apertando a mão do cavalheiro com pressa.

–Não há de quê, Mr. Holmes. É uma honra ajuda-lo.

Antes que saísse, Holmes fez-lhe mais uma pergunta.

–Seria inconveniente se o senhor me confirmasse se esse jovem, o Mr. Carslton, ainda mora em Abbey Mansion?

–De fato, ele ainda mora lá, Mr. Holmes.

–Obrigado.


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Holmes precisou de menos de uma hora para convencer o Inspetor Reid quanto à culpabilidade de Mr. Carlston Holmes. De fato, sua teoria era bastante convincente, mas ele sabia que precisaria da polícia para colocá-lo atrás das grades. Aquele era um caso de interesse nacional.

–Vingança... Parece plausível. – disse Reid, sentado em seu gabinete, enquanto fumava um cigarro. – Dois rapazes, uma vaga importante. Um perde, resolve incriminar o outro utilizando-se do assassino mais odiado e temido da Inglaterra, cuja identidade sempre foi um mistério para tomar a vaga. Coerente.

–Por isso, nenhum órgão foi retirado desta vez. Era uma farsa. Creio também que Mr. Carlston não tinha perícia para isto. Ele é um estudante de Direito, não um Médico.

Ainda assim, Reid parecia encafifado com algo. – Mas por que escolher Jack? Poderia ser uma série de homicídios qualquer, mas por que escolher justamente Jack?

–Talvez para coloca-lo como um criminoso macabro. Não haveria qualquer chance de defesa para Stewart, e sua carreira, qualquer uma que optasse, estaria acabada. Certamente iria para a forca.

Reid levou a mão à cabeça. – E eu tinha esperanças de que... Bem, de que essas mortes me levariam a algo maior... A final detenção deste monstro, mas pelo que vejo, não passou de molecagem de um mimado qualquer...

O inspetor detestava rapazes como Jeffrey Carlston Holmes, e seria um prazer coloca-lo na prisão sob uma acusação tão grave.

–Contatarei um juiz imediatamente para conseguirmos um mandato de busca, Mr. Holmes. Esse homem está indo longe demais. – disse Reid, levantando-se, sendo acompanhado por Holmes.

Quando terminavam de cruzar a delegacia, quase foram esbarrados por um jovem oficial, esbaforido.

–Spence? O que houve?

–Mr. Reid, acabou de chegar pelo Correio...

O guarda entregou a Reid um envelope. Ao abrir, o inspetor teve uma surpresa.

–Maldição... – balbuciou Reid, entregando a Holmes depois que leu.

Uma carta, escrita a sangue, ainda fresco.



Cara chefia,



Estou desapontado com vocês, cãezinhos da Rainha. Muito.

Quatro corpos e nada na imprensa... Será que as moças que eu levei não eram boas o bastante para uma mísera nota? Será que o útero da Princesa Elisabeth seria de alguma valia?

Tinha belos planos para aquela Flora... Abrir-lhe o ventre, levar seu fígado, desta vez. Sim, o fígado, seria uma novidade. Mas estou me poupando para algo glorioso, seus incompetentes.

Eu levarei uma mulher digna e de reputação, e farei com ela tudo que não fiz com as outras. Cada órgão que não retirei, cada corte que não fiz, cada entranha que não degustei, será com esta.

O que acham disto? Acho que merece uma capa...

Ainda mais quando cada dedo dela for enviado à cada jornal.

O tempo está se esgotando.



Seu estimado,

Jack


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Notas finais do capítulo

O-OH... Isso não ta me cheirando bem....
Sinto que a batata de certa personagem tá assando...
Holmes, Holmes, o tempo tá se esgotando, cara... FAZ ALGUMA COISA, PELOAMORDEDEUS!!!
Obrigada por terem me aturado por tanto tempo, galerinha... Os próximos caps terão ainda mais revelação, vocês vão ver. Até o próximo!
PS: Algo me diz que essa fanfic não passa do feriado... Hmm....
Ah, e eu tenho uma idéia diferente depois dessa fanfic. Depois vcs saberão.



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