À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 17
O Homem que Conheci


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!! Prontos para mais um capítulo?
Espero que sim!
E para quem estava esperando pelo reencontro dos dois, depois de 10 capítulos separados, aí vai... Só não sei se irá corresponder as expectativas.
Enjoy!



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Shagford Street. Londres, Inglaterra. 23 de Abril de 1894.


Havia uma tempestade forte caindo sobre Londres. O vento uivava sobre a janela. Esther já tinha fechado todas elas e agora, estava na cozinha, fazendo o jantar, provavelmente uma comida bem leve. Nos últimos tempos, sentia-se com cada vez mais enjoos, de modo que escolher as refeições estava se tornando cada vez mais complicado. Ela lembrava-se do quão torturante estava se tornando as refeições na Universidade, com aquela comida pouco temperada.

Ela pôs sua mão sobre sua barriga, ainda reta, enquanto sorria para si mesma. Era difícil acreditar que tinha um bebê agora. Ela tentava imaginar um menino ou uma menina a andar por aquela casa, correndo de um lado para o outro. Imaginava se a criança teria os cabelos loiros, como os dela, ou negros, como os de Sherlock Holmes. Curioso, ela nunca se imaginou mãe, e agora a sensação era irresistível.

Esther estava ansiosa para que Holmes voltasse logo para sua casa. Fazia quase um mês que ela não o via e queria contar esta novidade. Ela tentava imaginar como seria sua reação quando soubesse que seria pai. Imagine, o Grande Detetive, a máquina de raciocinar, pai de uma criança!

Ao mesmo tempo, a perspectiva lhe assustava. Ela se lembrava do trabalho de Holmes, que sempre colocava as pessoas que ele amava na frente do perigo, ainda que indiretamente. Ele carregava o filho de Sherlock Holmes, que seria um deleite na mão de muitos criminosos vingativos.

De repente, ela ouviu a porta bater, retirando-a daqueles pensamentos tão incertos sobre seu futuro.

Era Sherlock Holmes.

–Holmes! – ela exclamou, de felicidade, depois de tanto tempo sem vê-lo. Quando foi abraça-lo, Holmes desviou-se dela, deixando-a confusa. Embora ele não fosse o mais afetuoso dos homens, jamais fugiu de seus abraços. Ele deu alguns passos para frente, entrando na sala.

–Holmes, como eu senti sua falta... – ela disse, com ternura, enquanto ele permanecia de costas, sem encará-la frente a frente. Como se a desprezasse.

–Er... Não, Esther... Eu estou todo molhado e não quero molhá-la também. – disse, friamente e com o olhar concentrado.

–Tudo bem. – ela disse, um tanto desconcertada. – Tire este terno molhado, enquanto eu acendo a lareira...

–Não creio que será necessário. – ele a interrompeu. – Minha visita será breve.

Breve?! Depois de tanto tempo sem nos ver, será breve?!

Holmes sentou-se no sofá e pediu que Esther fizesse o mesmo.

–Esther, poderia me dizer o quê está escrito aqui? – disse Holmes, estendendo um pedaço de papel a Esther, que prontamente o reconheceu como sendo hebraico.

–“A devassidão deste mundo impera / Vós, detentores de espada e conhecimento / Cortai-na, feri-na, destroçai-a / Atirai-na às fossas de suas impurezas / Mostrais a este mundo cego / O que é certo e o que é errado.” Adonai, mas que sádico! Terrível!

Os olhos cinzentos de Holmes estavam aterrorizados, assim como os de Esther, ainda descrentes em encontrar isto na língua de sua religião.

–A julgar por sua reação, isto não pertence à Torá...

–Não, de forma alguma! Não há nada semelhante a isto no Judaísmo, exceto por... Bem, não conta, de qualquer forma...

–O quê não conta? – perguntou Holmes, curioso.

–Quando eu vim para Londres, cheguei a frequentar escondida a sinagoga, antes de fazer amizade com Watson. Eu m aproximei do rabino, um senhor muito educado e gentil. Uma vez ele comentou comigo que estava aliviado que uma seita judaica aqui em Londres tinha terminado. O líder da seita tinha morrido em um acidente ferroviário, algo assim... Parece que ele tinha frequentado aquela sinagoga e estava tentando trazer judeus como adeptos.

–Hum... – Holmes analisava a questão. – Mas o que há neste trecho que tenha lhe feito lembrar disso?

–A maneira como diz “Devassidão”... Ele se aproveitava de judeus que viviam nas áreas mais miseráveis e que se indignavam com o comportamento alheio, em especial de mulheres e homens que... Viviam em vida pecaminosa e libidinosa.

Holmes ergueu uma sobrancelha. – Prostitutas?

–Sim.

Nenhuma delas era um prostituta, muito menos você. O que ele poderia quer com elas? Porquê ter o seu retrato entre suas coisas?

–Você chegou a conhece-lo?

–Não... Holmes, em que caso você está metido? Posso ver que está com o ar cansado, de quem não se alimenta direito à dias...

Holmes fez um gesto qualquer com a mão, pedindo que ela parasse. Depois, suspirou fundo.

–Esther, você dá aula para algum rapaz chamado James Stewart?

–Sim. – respondeu, sem entender muito bem o porquê da pergunta.

–Esther, eu sei que o meu pedido pode parecer repentino e deixa-la furiosa, mas... Eu gostaria que você saísse da Universidade de Eton.

Esther imediatamente se levantou, indignada.

–O quê?!

–Eu tenho fortes suspeitas de que James Stewart é um assassino.

O olhar zeloso de Esther deu lugar a uma feição indignada.

–Isso é um absurdo! Aposto que você está usando um caso para me afastar mais uma vez do meu trabalho!

–Escute, Esther! Ele já matou quatro mulheres e tentou raptar outra. Ele possui um apartamento no East End, onde levava suas vítimas inconscientes e depois descartava seus corpos nas ruas, os inquilinos já me confirmaram isso. Todas elas possuem alguma relação com o East End... Stewart tem um histórico de passagens por lá... Frequenta muitos pubs...

–Oh, é mesmo? Então, ele desova os corpos na rua e vai beber uma cervejinha depois?

Holmes detestava deboches, e para sua irritação, Esther parecia perita nisso.

–Ele deixou acidentalmente duas facas no local do crime. Facas que foram levadas a um penhor. Soube que quem deixou as facas foi seu irmão-gêmeo, Lewis. O problema é exatamente este! Lewis é viciado em ópio e está internado em um sanatório na Suíça há anos, mas são poucos que sabem disso, muitos pensam que ele continua nas ruas. Decerto James Stewart estava usando a identidade do irmão para praticar os assassinatos! Eu encontrei a outra faca, idêntica às outras, no apartamento que o assassino mantém no East End, junto com papéis da faculdade!

Esther bufou.

–Certo. Você suspeita de um aluno meu. Tudo bem. Mas explique-me: por que devo sair da Universidade?

–Porque o assassino tem um padrão: mulheres loiras.

Esther soltou uma gargalhada estridente. Holmes sentiu-se incomodado, como se estivesse sendo subestimado.

–Diga a ele que terá muito trabalho. Mulheres loiras não faltam em toda Londres. Minha vez certamente tardará em chegar.

Enfurecido, Holmes levantou-se e voltou para o seu chapéu, que pendia no cabideiro.

–Oh, então você já vai embora? – perguntava Esther, desapontada e aborrecida ao mesmo tempo.

–Vou.

–É apenas isso que se tornou o nosso casamento, não é? Veio aqui, pedir uma tradução, e avisar que o seu suspeito é o meu aluno. Agora que tem a informação e já deu seu recado, certamente passará a investiga-lo e me esquecerá, ate que eu seja útil em outro caso.

Holmes bufou, segurando sua raiva.

–Será que esse seu maldito feminismo pode permitir raciociná-la e ver o perigo eminente? Não é qualquer implicância minha, é um alerta! Há provas suficientes de que Stewart é um assassino, e eu sei que você está no alvo dele! Eu li em seu diário e sei que ele te odeia!

Esther continuou, ignorando-o, e falando em tom alto.

–Eu estou há um mês sem marido! E quando ele volta, faz apenas exigências! Casamento é mesmo algo horrível, ainda mais quando se é casada com o grande e poderoso Sherl...

Holmes correu e, em uma atitude desesperada, tampou a boca de Esther.

–Você está louca?! Quer que nossos vizinhos saibam quem eu sou e que amanhã apareça uma dúzia de marginais batendo nesta porta, sedentos por fazer qualquer coisa que possa atingir-me?

Uma lágrima escorria dos olhos verdes de Esther.

Holmes levou as mãos à cabeça, por entre os fios negros, e desabafou.

–Você está certa. Casar com você foi um erro. Definitivamente, eu não nasci para a vida de casado. Não nasci para aguentar histerismo de mulher, muito menos suas manias e provocações. Bastou uma semana para que nossa vida se tornasse um sacrifício, um fardo insuportável...

–Casamento requer parceria. Que um ceda ao outro. – balbuciou Esther, desapontada.

–E você não quer ceder! – esbravejou Holmes. – Eu estou aqui, a pensar em seu bem, mas você está em verdadeira batalha comigo, querendo provar que pode ser independente e que não precisa de mim!

–Você também está longe de ceder qualquer coisa. Ou o que me diz da semana em que esteve sem casos? Você veio me ver, Mr. Holmes?

Holmes suspirou, em derrota. Certamente, ela estava se referindo à semana em que ele descobriu que ela estava grávida. Watson tinha dito que ele estava desocupado, embora ele estivesse ocupadíssimo com o caso de Jack, mas mesmo assim, se estivesse desocupado, ele não iria vê-la, simplesmente, porque não queria. Estava entristecido, aliás continuava entristecido, com a descoberta de que ela estava esperando um filho de Watson.

–Eu estava ocupado... Watson mentiu para te preservar, porque é um caso sigiloso...

–E eu passei mal, sabia? Com toda a certeza Watson comentou sobre o meu desmaio na rua! E o que você fez? - Esther perguntava, em voz alta. - Me diz, o que você fez? Veio me ver, verificar se eu estava bem? Não... Preferiu se contentar com os relatos de seu amigo...

Depois, um instante de silêncio.

–O homem que eu conheci em um navio, o estranho com quem eu fui forçada a dividir um quarto para sobreviver em uma cidade estranha teria verificado com seus próprios olhos o que estava se passando comigo. Teria estado ao meu lado o tempo todo para me proteger.

–Aquele homem não existe, Esther. Eu sempre deixei isso claro para você desde que voltei a ser o que eu sou.

–Realmente. Pelo que vejo, eu me enganei quando te escolhi. Pensei que a grande invenção fosse Sherlock Holmes, o grande cérebro da Europa, o homem racional, inquebrável, lógico, insensível ao mais ínfimo dos sentimentos. Pensei que fui a única a conhecer sua essência, longe da elegância e do dinheiro que te cerca, longe da fama provocada pelos contos de Watson, longe do poder político do seu irmão, da sua irritante obrigação de ser o que os outros esperam que você seja. Seu jeito livre, despretensioso, zeloso, inteligente, cordial... Não este homem arrogante e frio como um aço, que descarta as pessoas que mais lhe estimam.

–Se eu não fui vê-la, Esther, foi porque eu tive os meus motivos. – ele disse. - Eu lhe avisei como seria a nossa rotina! Você deveria estar preparada para entender que eu sempre terei motivos que me manterá distante.

–Eu também tenho os meus para permanecer na Universidade! Mas pode sossegar, não poderei sustentar aquele emprego por muito tempo, porque... Porque eu estou grávida.

Holmes já sabia disso, mas as palavras lhe doíam. Ele agora ouvia isso de seus próprios lábios. Algo doloroso demais para si.

Para desapontamento de Esther, Holmes permaneceu passivo, sem esboçar qualquer tipo de felicidade. Nem mesmo surpreso ou assustado ele estava. Parecia algo entre a decepção e a tristeza.

–M-Mas o que há com você? A notícia foi tão ruim assim? – ela lhe perguntava, decepcionada.

Holmes permaneceu em silêncio, desviando os olhos dos dela.

–Watson está certo. Você não tem sentimentos. E eu, que pensei que você fosse capaz de amar alguém... Confesso que eu esperava muitas reações, mas nem em meus piores pesadelos eu poderia imaginar esta. Realmente, que tola eu fui... Eu só devo ter sido uma mera diversão. Ajudei-o a se aventurar em uma área que você não conhecia, talvez até tivesse curiosidade, e agora que você aprendeu bem a lição, eu sou descartável.

Holmes ergueu sua cabeça, depois de algum tempo, onde o silêncio era cortado apenas pelo barulho da chuva forte.

–Daqui a alguns meses, eu pedirei ao meu irmão que faça uma Certidão de Óbito para John Sigerson. Assim, você estará livre de mim para sempre, para seguir o caminho que bem entender.

Esther estava tão chocada com a frieza de Holmes que mal pôde esboçar qualquer reação. Holmes saiu da casa, fechando a porta com força.

Ele sequer fez qualquer menção à criança.


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Notas finais do capítulo

OHHHHHH NÃO!!!
Holmes, você fez tudo errado!!! Cara, não é assim!!! Você sabe que Esther precisa de você, e olha a merda que você faz!!! Não, não, não!!! Cara, que mal há de ela estar grávida do Watson? O cara é teu melhor amigo, e agora você está p... com ela... Pô, você toma a mulher do cara e agora quer descartar?! Seja homem e assuma a criança!!!
Então, o que acharam desse capítulo? É, aposto que não foi o reencontro meloso que muita gente tava esperando... Espero que vocês não me trucidam, tá? De qualquer forma, podem tacar suas pedras em mim que eu não ligo, em review ou MP.
Não percam a esperança, o final será legal. Tô reservando um final bacana pra vocês.
Aguardem os próximos caps e obrigado por acompanharem.
BadWolf



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