Fragilidade violenta. escrita por RedSenpai


Capítulo 7
VII- Desumanização.feat. Special Luke's POV


Notas iniciais do capítulo

Então, oizinho =3
Andei meio ocupada com as minhas provas, perdão se demorei :c
Bom capítulo~



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Enquanto voltava para a sala, resolvi passar no laboratório para checar se Rafa estava lá, queria conversar com ele.

Sabe, de alguma maneira, eu precisava desabafar. Eu ter que manter segredo do mundo não significava que eu não poderia contar para alguém que tivesse minha confiança, e Rafael era o mais apto a esse dever glorioso. E também foi o primeiro a vir em minha mente.

Já se sentiu como se estivesse no lugar errado? Como se fosse um gato no meio de vários cachorros? Como se fosse um grego em volta de troianos ou capitalistas num mundo de socialistas? Era isso que eu estava passando nesse exato momento. Obviamente eu havia me adaptado aos padrões humanos mas aquilo não era o meu lugar. Eu me sentia sufocada por pessoas que me olhavam como se eu fosse uma estranha, sem saber que elas me eram tão estranhas quanto. Sim, eu tinha uma fisionomia totalmente humana - tirando a ausência de pelos no corpo, elfos não precisam disso -, mas minha mente não era. Eu gostava de criar, de fazer trabalhos manuais, de aprender, não de apertar botões. Esse era um dos meus principais desafios em me adaptar, por isso minha curiosidade em saber do que tudo era feito e como funcionava.

Suspirei. Era isso que eu queria falar com ele, mas será que ele me ouviria ou me acharia uma louca? Ele era um aluno exemplar e poderia contar tudo isso para o diretor. Esses pensamentos me fizeram ficar receosa.

Parei na frente do laboratório e percebi que tinha mais de uma pessoa lá. Curiosa, fiquei ouvindo a conversa para descobrir quem era.

Luna é minha amiga, acha que eu teria algo com ela? – A voz de Rafael entrou cortante em meus ouvidos. Eu sabia que não tínhamos nada, mas ouvir com tanta clareza havia me deixado decepcionada.

Não sei, vocês andam bastante juntos. – Dessa vez ouvi o tom irritante de Yuui, e houve silencio por alguns minutos. – Ela é estranha. – Comentou com uma voz bem baixa agora, que eu tive dificuldade em ouvir com nitidez.

Que ela tem algo que esconde de nós, é obvio. Mas... É incrível, inteligente, é perfeita. Isso que mais me assusta. – Arregalei os olhos quando ouvi o loiro falar aquilo. Mesmo não o vendo sabia que estava com a cabeça baixa e com seu típico olhar pensativo. Mas não nego que aquele simples comentário havia me deixado bem alegrinha.

Ela pisca cinco vezes menos que nós, de uma forma que é angustiante. A pele dela é branca demais e... – Ela pausou por uns segundos, suspirou e logo continuou. – AQUELE CABELO. Aquilo não tem explicação científica. E também tem o fato de ela ter dominado Português em três meses, é impossível. – Ouvi outro suspiro. – Outra coisa: pessoas normais ficariam em estado de loucura se mudassem de um lugar para outro assim. Aqui tem muito barulho pra uma pessoa que morava na floresta e adorava Deuses. Ela-não-é-normal. – Concluiu convencida, e novamente um silencio se instalara. Eu engoli em seco em pensar em tantas coisas que me faziam ser uma “não humana”.

Lembra de quando descobriram aquela ilhazinha na Islândia, há uns dois anos? – Depois de algum tempo de silencio ouvi um “uhum” vindo dela, e continuei prestando muita atenção. – “Uma nova biodiversidade e um estranho povo nativo” chamou a atenção de todos os cientistas, e depois simplesmente sumiu de todas as manchetes. Percebe a lacuna nisso? – Coloquei a mão na boca para não soltar um suspiro muito alto, eles estavam indo longe demais naquela conversa e eu estava ficando curiosa demais. – Vou conversar com a Luna, talvez ela me conte alguma coisa... Por que essa história realmente é estranha. Demais.

Em passos quietos me afastei do laboratório, estava com medo. Será que Rafael seria capaz de me usar só para descobrir meus segredos? Estava profundamente decepcionada com aquilo.

~~~~~*~~~~~~*~

— Com licença, professora. – Falei e entrei na sala. Mas ao invés de me dirigir à minha carteira, caminhei até a de Luke, vendo-o me olhar confuso. Então, quando cheguei à mesa dele, me abaixei e sussurrei para que só ele ouvisse. – Luke, posso ir na sua casa depois da escola? – Meu tom era inocentemente tímido, pois sabia que ele poderia pensar alguma besteira.

—Por quê? O que aconteceu? – Ele perguntou no mesmo tom que eu, como se fosse uma conversa super confidencial. Estavamos muito próximos e eu sentia sua respiração em meu rosto, o que me fez corar.

—Preciso te contar uma coisa e, principalmente, sair da escola o mais rápido que eu conseguir. Posso? – Falei meio rápido de uma forma envergonhada. Ele assentiu ainda meio confuso, e eu me levantei e fui caminhando até minha carteira.

Suspirei ouvindo umas risadinhas e conversinhas na sala, coisas do tipo “tá pegando, hein” e revirei os olhos, mas depois senti meu rosto queimar. Eu iria sozinha para a casa dele – não que já não tivéssemos ido embora da escola juntos, morávamos na mesma rua –, e me senti trêmula ao imaginar as coisas absurdas e malucas que eu contaria. Já se pegou imaginando em contar para o seu melhor amigo bonitão e popular que você é um elfo e precisa de ajuda urgentemente? Pois é.

Mas sim, eu precisava de ajuda. Precisava saber o que tinha acontecido com meu povo, precisava saber o porquê de manterem tanto segredo, precisava descobrir tudo que eu pudesse. Eu estava ciente de que minha terra poderia estar correndo grandes riscos, e isso me assustava.

POV Luke Laurent- Special.

Luna estava estranha. Ela mantinha o olhar baixo – o que pra falar a verdade era normal, ela era bem tímida, mas não desse jeito comigo – e andava meio rápido demais para que eu pudesse acompanhá-la. Alguma coisa tinha acontecido e eu precisava saber rápido, aquilo estava me deixando maluco de curiosidade.

Foi quando me veio à mente o Rafael. Será que aquele filho de uma puta tinha feito alguma merda pra ela? Ele era famoso por magoar menininhas indefesas, mas com certeza eu não me seguraria e acabaria espancando aquele nerd lazarento se tivesse feito algum mau à Luna. Não que eu gostasse dela ou algo do tipo, ela só tinha se tornado uma espécie de irmã mais nova pra mim, pelo fato de parecer tão... Inocente.

Tá, pra falar a verdade eu sentia algo por ela sim. Era um desejo tão carnal quanto sentimental que me fazia ter uma vontade louca de agarrá-la no meio de todo mundo, ou de pelo menos pedir pra ficar com ela – no mínimo –, mas eu me segurava. Me segurava por que me importava com nossa amizade. Amizade que de uns tempos pra cá andava bem estranha, pelo fato de que quase sempre acabávamos sozinho em algum lugar ou então ficávamos muito próximos. Isso quase me fazia perder o controle.

—Chegamos. – Eu a tirei dos devaneios e ela ergueu o olhar, com um sorriso fraco. Segurei sua mão enquanto passamos pelos portões da minha casa - modéstia a parte, mansão - e entramos.

— Woah, você é mesmo um playboy riquinho. – Ela comentou enquanto avaliava os móveis, as paredes e tudo que podia enxergar. – Onde estão seus pais? – Se virou para mim com um olhar preocupado, e eu caminhei até as escadas me espreguiçando.

—Hm, devem estar pra algum canto aí, elas não ficam muito em casa. – Me sentei em um dos degraus e dei batidinhas para que ela se sentasse também, mas ela ainda parecia preocupada. – Prefere ir pro meu quarto?

—Por mais estranho que possa parecer... Sim, prefiro. – Meu rosto se contorceu num sorriso malicioso e ela colocou as mãos na cintura como se me olhasse numa bronca. – E se tentar qualquer gracinha, mocinho, eu chamo a polícia. – Eu ri de canto.

— Sem estupros, prometo. – Me levantei e fui subindo as escadas, vendo ela me seguir. – Até por que, só é estupro se a outra não quiser, não é? – Ela parou por um momento e eu dei uma gargalhada, tinha certeza que ela estava corada.

—Idiota, retardado. – Ri mais um pouco até que chegamos ao meu quarto e abri a porta.

A porta era grande e de madeira, com desenho de uma fênix e uns riscos em sentido aleatórios. Já por dentro, eu tinha posters de Týr, SOAD, Linkin Park, Korpklaani, Alestorm e algumas outras bandas que eu curtia. Minha cama era de casal com vários travesseiros e meu notbook era embutido em uma mesa digital que possibilitava acesso 3D. A ruiva parecia encantada com tudo, o que me fez se sentir satisfeito.

— Então... – Eu tranquei a porta para que não corresse o risco da minha irmãzinha vir nos perturbar. – O que aconteceu? Foi o Rafael? Pode falar que eu quebro ele hoje mesmo. – Falei enquanto me sentava na poltrona e via ela se sentar na cama.

—Também, mas ele não fez nada, ainda. – Ela fez uma pausa e eu continuei prestando atenção. – Preciso te contar várias coisas, mas você não pode me interromper e nem fazer perguntas antes de eu terminar de explicar. E tem que jurar levar tudo muito a sério. – Ela tinha uma expressão dura e eu me deixei tenso, ela me assustava quando ficava assim. Assenti para que ela prosseguisse. – Você acredita em Deuses? Dragões? Trolls? – Ela fez uns gestos exagerados e eu arqueei a sobrancelha quando ela me perguntou aquilo.

— Tenho cara de criança, por acaso? – Revirei os olhos. Tudo bem que eu tinha perguntado se ela já tinha visto um Dragão, mas isso não me fazia acreditar que um existia.

Ela se levantou meio irritada e me encarou de braços cruzados, me fazendo ficar confuso. Em questão de segundos seus olhos mudaram daquele verde para um tom azul meio amarelado, o que me vez enrijecer na poltrona e a olhar procurando respostas: Aquilo não era normal. EU ESTAVA PRESENCIANDO UMA ABDUÇÃO OU TAVA FICANDO MALUCO?

A vi caminhando até mim e se abaixando no nível do meu ouvido, me fazendo sentir arrepios involuntários. Aquilo estava me excitando. Oh Luke Jr... Se segura ai em baixo.

—O que você sente quando eu me aproximo? – Seu tom de voz era bem mais sedutor que o normal. Ela tinha enlouquecido do nada ou estava tentando me provocar? Não conhecia esse lado pervertido dela.

— Desejo. – Arregalei os olhos, eu não tinha falado aquilo. Realmente, era como se meu subconsciente tivesse dito sem meu consentimento, e aquilo foi uma das coisas mais estranhas que já me aconteceu. Mas acho que ela não esperava essa resposta, já que se afastou bruscamente e me olhou totalmente vermelha. – D-Desculpa, eu não...

—N-N-Não, f-fui eu quem te fez falar isso. – Ela se recompôs e se sentou na cama novamente ainda corada. – Isso se chama Heiðarleiki, te obriga a ser honesto. Uma espécie de feitiço élfico. – Pera. ... ÉLFICO? QUÊ??! FEITIÇO?

— Hã? Como assim? – Eu nunca tinha me sentido tão confuso na vida, e a confusão se misturava com a vontade absurda que eu tinha de beijá-la ali, e agora. Mas a questão era: Luna, feitiço, élfico. Eu só podia estar sonhando com aquela conversa doida.

— Sim, eu sou metade elfo. – Eu arregalei os olhos e me levantei, aquilo era demais para processar e eu estava rezando pra ser brincadeira. Eu não podia estar me apaixonando por uma elfa. E DESDE QUANDO ELFOS EXISTEM, PORRA? – Era isso que eu queria te contar... – O tom de voz dela abaixou envergonhado e ela olhava para o chão, o que me fez sentir culpado.

O que porras eu estava fazendo? Se aquilo fosse verdade, ela havia confiado a mim um segredo e eu estava levando na zoeira.

—Então, você não veio da Islândia... – Tentei disfarçar minha desconfiança, era meio difícil acreditar que ela era um ser mitológico. Ou não, ela tinha cabelo azul natural, então não me impressionava tanto assim ela não ser humana.

— Não da que vocês conhecem, pelo menos. – Ela olhou para a janela meio distraída e eu fiquei a observando, acho que estava tentando achar as palavras certas. – Onde eu morava se chamava Islândia. Minha língua é islandesa, embora eu saiba o básico do nórdico antigo e o vocabulário de feitiços élficos. – Ela gesticulava em formas estranhas e de maneira afobada, e eu apenas olhava tentando raciocinar. Puta que pariu, eu vou me matar.

—Tá, por que metade? –Eu juro que estava tentando carregar o máximo que meu cérebro suportava, mas aquilo tava parecendo um daqueles RPG’s sem lógica.

— Mamãe é uma elfa artesã. Foi dela que herdei os cabelos ruivos. – Ela parecia vidrada no que falava e ao mesmo tempo com medo. Assenti para que ela continuasse. – Meu pai é humano. Vou te contar uma história.

Ela se levantou e me ergueu da poltrona, um gesto que me surpreendeu. Por uma fração de segundos achei que ela fosse me beijar – o que seria ótimo –, mas ela apenas segurou minha mão bem forte. Confesso que o contato com a pele gelada das mãos dela foi incrível.

E depois tudo em minha volta ficou com um tom de branco forte, com algumas luzes brilhantes.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Preciso muito do comentário de vocês ;w;
Dependendo da quantidade de comentários eu posto o próximo sexta. =3 E bom, espero que tenham gostado de saber um pouquinho do que o Luke pensa, realmente a fic deu uma pulada monstra, né? Bom, agora entenderam. Obrigada por lerem =3