Tom e eu ficamos acenando para a multidão durante alguns instantes antes de sairmos do trem, e fomos direto para o lugar onde preparavam os tributos para o desfile. Minha equipe de preparação pareciam três clones de Krystal. Perucas coloridas combinando com as roupas e vozes assustadoramente agudas.

– Querida, você tem uma pele incrível, mas seus cabelos estão assustadores! –diz uma delas, Aria, que tinha cabelos e olhos azuis, as duas orelhas cheias de brincos e tatuagens de estrelinhas nas bochechas.

– Não fale assim com a menina, Aria –diz outra, Bettina, com os cabelos de tranças enroscadas, que mais pareciam um ninho, e usava um batom verde - Os cabelos dela são incríveis, você que é invejosa –e vira pra mim- O que você faz para deixa-lo assim tão macio?

– Creme de algas caseiro –digo, ainda meio assustada- Receita de família. E uso um creme parecido na pele, porque passo muito tempo ao sol.

– Nota-se bem –sussurra uma terceira, Rylia, com a pele cheia de tatuagens coloridas e dentes levemente prateados, e começa a falar alto- Certo garotas, vamos transformar esse grão de areia assustador na mais bela pérola de Panem!

Elas dão gritinhos que quase me deixam surda e começam a me arrumar. Tenho que admitir que elas fizeram um excelente trabalho. Depilação, maquiagem, unhas, corte de cabelo, até retocaram minhas mechas. Depois me deixaram numa sala cheia de lâmpadas vestindo apenas um roupão branco. Alguns minutos depois entra uma mulher aparentando ter uns 30 anos, usando um vestido preto com laços prateados, delineador prata, luvas roxas, da cor dos olhos dela, que deixavam os dedos finos com uma estrelinha tatuada em cada um à mostra. Ela usava uma peruca preta com mechas violetas e prateadas, e os saltos de suas botas eram em formato de golfinhos pratas.

– Olá, Danika, prazer em conhecê-la –disse ela, sorrindo- Meu nome é Tasha, e eu sou sua estilista.

– O prazer é meu, Tasha –digo, tentando ser simpática- Então o que planejou pra mim?

– Pensei em algo não relacionado à pescaria, mas ao mar –diz ela. Ela teria que me vestir com algo que representasse a atividade econômica do 4- Mais especificamente, aos peixes.

Quando Tasha falou a palavra “peixe” eu me vi numa carruagem fantasiada de peixe, e toda a Capital rindo de mim. Seria a piada dupla da Capital. Uma pelo desmaio, e outra por ser um peixe gigante numa carruagem. Mas essa imagem se desfez quando ela me mostrou o vestido. Era todo de pastilhas prateadas arredondadas, que davam a impressão de escamas. Era de gola alta e sem mangas, longo e na barra, as pastilhas eram compridas e retas, como uma nadadeira caudal de um peixe. Quando o vesti, ficou bem justo ao meu corpo, mostrando uma face minha que eu tentava esconder. A face de uma garota “bonita, sedutora e que fazia as garotas se suicidarem e os garotos babarem”, como dizia Luke, só pra irritar a mim e a Tom. Meu irmão morria de ciúmes de mim, mais até do que Luke quando começamos a namorar.

– Esse é o vestido mais lindo que eu já vi –disse a Tasha- Obrigada.

– Que bom que você gostou, Marylin –responde ela, terminando de arrumar o vestido no meu corpo- Agora é hora do desfile.

Fomos caminhando até o lugar onde estavam as carruagens. Thomas já estava lá, esperando por mim, e ele usava um blazer igual ao meu vestido. O cabelo estava pra trás, mostrando bem o rosto dele. Meu irmão era bonito, isso é fato, mas nunca se importou muito com a aparência, como eu. Até nisso éramos parecidos: a despreocupação com a aparência externa.

– Você está linda, Sereia –disse ele, com um sorriso bobo. Eu sempre detestei esse apelido.

– E você está o peixinho mais lindo de toda Panem –digo, mostrando a língua pra ele. Ele fez uma careta e subimos na carruagem.

– Um conselho –disse Krystal- Ajam naturalmente. Respirem fundo, sorriam e acenem. Boa sorte.

E foi o que eu fiz. A carruagem começou a andar e fomos saindo. Toda a Capital estava lá, aplaudindo, ovacionando, gritando os nomes dos tributos. Dei um leve aceno para a multidão e eles ficaram enlouquecidos.

– Acene também –sussurrei para Alex- Eles precisam nos amar, certo?

Ele piscou pra mim e começou a acenar, e a multidão vibrou a inda mais quando começamos a acenar juntos. A carruagem passou na sacada onde estava o presidente Snow, e começou a tocar o hino de Panem, então as carruagens voltaram para o local de onde saíram.

– Vocês foram incríveis! A Capital ama vocês! –disse Krystal, entusiasmada, ao voltarmos- Mas por que não sorriram?

– Eu consigo fingir simpatia –respondi- Mas é impossível fingir alegria sabendo que estou correndo risco de vida.

Virei as costas e sumi no meio da multidão, e Tom veio atrás de mim. Tentei pegar um elevador sozinha com ele, mas o garoto do 2 entrou logo depois de mim.

–Vocês são os gêmeos do 4? –disse ele, após nos analisar por alguns segundos.

–Nós mesmos–respondi-Eu sou Danika, e esse é meu irmão Thomas.

– Prazer em conhecer, meu nome é Kyle.

– Talvez possamos treinar juntos amanhã–disse Thomas, e a porta do elevador abriu no segundo andar.

–Talvez. Até amanhã, de qualquer forma–disse Kyle, saindo do elevador. Mas vê-lo amanhã era a última coisa que eu queria.