A reunião havia acabado, e Thomas não fazia ideia do que havia acontecido dentro daquela sala. Algo naquele menino novato tinha feito o cristal de seu cordão esquentar. E aquilo não era algo normal.

Todos saíram do casarão azul e alguns se dirigiram as suas casas.

Thomas ficou conversando com outro homem, esperando o novato sair. O que aconteceu depois de um bom tempo.

Esperou ele dobrar o canto e se despediu de seus colegas, indo em direção ao canto onde o garoto havia dobrado. Entrou na rua meio escura que se estendia por uns cinco quarteirões, e ficou surpreso ao saber que não tinha ninguém andando pela rua. Nem sinal de que alguém passou por ali a pouco tempo. Ele continuou andando por algum tempo, até se dar conta de que ainda não havia tirado a capa de DeMolay. Tirou de seus ombros e a colocou em seu braço, como um enfermeiro faz com o seu jaleco.

O cristal em seu pescoço voltou a lhe queimar e ele não teve escolha a não ser tirar o cordão.

"Droga! Zelena, o que você esta tentando me dizer?!"

Um baque forte na calçada atrás de Thomas fez ele ficar imóvel.

–É feio ficar seguindo os outros sabia?! -A voz do garoto estava com um grande tom de ironia

–Sim, eu sei -Thomas se virou para olhar o rosto do DeMolay novato -Mentir para a irmandade também!

–É o sujo falando do mal lavado! -Ele gargalhou alto -Você também não é humano garoto! Estou errado? E a alma dentro deste cristal é mais esperta que você.

Ele tentou pegar o cordão da mão de Thomas, que foi mais rápido em guarda-lo no bolso.

–Prazer, meu nome é Carmona -Ele aproveitou a mão suspensa no ar que iria segurar o cordão -Sou um Nefilim. E você?

–Não sei por que deveria confiar em você! -Thomas estava se segurando para não tirar o cordão que queimava sua perna.

Algo se moveu na escuridão indo em direção aos dois. Uma criatura de dois metros de altura que lembrava um lobo, mais tinha uma forma mais humanoide que animal.

–Lobisomem! -Carmona rasgou sua camisa e abraçou Thomas com uma velocidade inumana.

O ar ficou pesado, e tudo começou a se contorcer na visão de Thomas, até uma luz dourada aparecer, saindo do corpo de carmona, e de repente, asas os envolveram e tudo ficou muito mais escuro que aquela rua sombria.

Quando a cabeça de Thomas parou de girar ele abriu os olhos, e viu que estava perto de algumas arvores, em uma montanha pequena. O garoto chamado Carmona estava encostado em uma arvore bem a sua frente, olhando para ele como se esperasse alguma resposta. O sol já nascia e tudo estava claro.

–Onde estamos?

–Acho que primeiro você deveria me agradecer e dizer que confia em mim agora que salvei sua vida!

–Desculpa. Obrigado -Disse Thomas se levantando do chão -Meu nome é Thomas, e estou indo para minha casa.

–Ok, se quiser ajuda para cruzar o pais, é só me chamar.

Thomas ficou paralisado novamente e se virou para pedir explicações sobre o comentário de mau gosto. Mas Carmona não estava mais ali.

***

Carmona se sentou no galho de uma arvore próxima do garoto chamado Thomas. Olhou para seu peito nu, e sentiu um frio na barriga.

Já estava acostumado com essa reação, sempre que olhava para seu peito e via aquele cristal azul e gelado que pendia em um cordão. Sua mente tentou voltar ao passado. Mas ele fechou os olhos com força e forçou a pensar em outra coisa.

Não queria vivenciar novamente os momentos de agonia em que se separou de seu amor.

Mas o que mais o intrigava era que, aquele garoto que ele acabara de salvar, também tinha um cristal com alma dentro. E ele iria saber como ela fora parar lá.

"Podemos até ser iguais afinal. Seria bom, encontrar alguém que tenha tido a mesma experiência que eu... Bom... Não passo de um idiota! Isso sim! Dessa vez estou sozinho nesse mundo! E estou sonhando acordado novamente! Onde eu penso que estou? Em um desenho da Disney?!"

Ele desceu da árvore e foi andando silenciosamente atrás de Thomas, que se afastava indo em direção as casas que ficavam no pé da montanha. O cristal azul voltou a ficar gelado, e Carmona não teve outra escolha a não ser tirar o cordão e meter ele em seu bolso.

***

"Droga! Como eles conseguiram me encontrar tão rápido?!"

Matheus corria pelo meio das grandes arvores, e as folhas secas sob seus pés congelavam cada vez mais rápido enquanto ele tentava se esconder em algum canto daquele grande parque.

Correu por mais alguns minutos, até uma figura encapuzada pulou na sua frente. "Não aqui! E não agora!" Rapidamente ele tocou no chão e os cristais de gelo subiram, formando uma grande parede entre a pessoa e ele.

Começou a nevar no parque e ele continuou criando estacas de gelo em todas as direções, formando uma barreira realmente grande o bastante para ele ter tempo pra pensar em como fugir desses cavaleiros, antes que eles o alcancem dentro daquela muralha congelada.

–Isso não é bom! -Uma voz de mulher sussurrou atrás dele, o assustando -Vai atrair mais deles! O que pensa que está fazendo idiota?!

Matheus ainda não sabia o que falar, estava assustado demais, não pelo fato de não estar sozinho, mas pelo fato de uma garota morena de olhos verdes estar saindo de dentro de uma arvore.

–Por que você tinha que trazer eles até aqui?!

A garota o fitou esperando respostas. Que não vieram.

Depois de um tempo eles escutaram algo se partindo, e se deram conta de que já começaram a quebrar o gelo.

–Fala alguma coisa idiota! -Ela estava gritando agora -O gato comeu sua língua?!

"Não tenho escolha!" Ele se atirou na frente da garota e a beijou, empurrando ela de costas na árvore, como quando namorados se agarram encostados na parede de alguma rua escura.

Sentiu a boca dela ficar gelada e sabia o que viria depois. Seu poder lançou uma leve camada de gelo sobre a pele da garota e se espalhou por dentro de seu corpo. Sentiu o poder dela dentro dele e o dele dentro dela, e alguns segundos depois se deu conta que já estava dentro da árvore com uma menina assustada nos seus braços.

***

Eliza ainda não sabia o que havia dado errado. Sua tese era perfeita. Se do outro lado elas conseguissem manter a passagem aberta, elas conseguiriam atravessar totalmente em segurança, mesmo sendo humanas. Agora, menos da metade de garotas haviam saído do limbo, o mundo inferior. as que não saíram, estavam perdidas para sempre no inferno.

–Vamos! -Gritou a capitã- Não podemos perder tempo!

O grupo se dividiu e Eliza foi com o grupo que ia atrás do garoto que havia passado pelo portal. O outro grupo foi atrás de outra criatura imortal.

Não demorou muito até elas encontrarem a casa onde criaturas brigavam a toda.

A casa estava cheia protegida por uma grande magia antiga. As garotas se posicionaram e pouco a pouco enfiavam a lamina de suas espadas na parede invisível feita de palavras em latim. As espadas zuniam e soltavam faíscas enquanto magia se quebrava pouco a pouco.

Não demorou muito para a barreira se romper com um grande estrondo de vidro se partindo e todas entraram correndo, se deparando com uma batalha incomum.

Um garoto de orelhas pontudas desviou sua atenção da batalha, e em poucos milésimos de segundo a lamina de uma foice estava atravessada em sua costa. O elfo se transformou em fumaça e os garotos que sobraram as olharam perplexos. Dois deles na verdade, o terceiro estava inerte no chão.

***

Tudo aconteceu tão rápido que Khaos não foi capaz de ter reação alguma a não ser atravessar Ycaro com sua foice. Uma hora estava lutando para não ser preso pelas cordas encantadas que queimavam tudo o que tocavam, e num piscar de olhos tinha vencido a batalha e agora estava parado na frente de cavaleiros encapuzados.