Nora Fulkert - Um conto de amor na Terra Média escrita por Norha Wood


Capítulo 39
Das jornadas e dos destinos


Notas iniciais do capítulo

Infelizmente não posso escrever uma história sem fim pois não sou imortal... graças a Eru!
Então ela se aproxima do fim.
Este é o penúltimo capítulo. Leiam com amor e entrega...



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Havia tanto para ser dito, tantas coisas para serem explicadas, mas os dois calaram-se emocionados com o momento. Então, ele beijou seu rosto, seus cabelos, seus olhos, seus lábios, até que finalmente falou:

_ Melinyel, melinyel...(eu amo você) amo desda primeira vez que a vi, e amo cada dia mais...

_ Melinyel Legolas! Eu não deixei de pensar em você um dia se quer.

_ Eu prometi que iria te encontrar, disse que se me amasse nada seria impossível...

_ Você demorou tanto...

_ Você disse que me esperaria por toda a eternidade

_ E eu esperei... e esperaria ainda mais se fosse preciso...

Thak se aproximou com as crianças.

Legolas assim que os viu não precisou de explicação alguma, logo os reconheceu como as crianças das suas visões. Olhou para Nimarie e sorriu antes de caminhar ao encontro dos pequenos que igualmente o abraçaram, e assim como a visão que ela teve anos atrás, pai e filhos carinhosamente se reencontravam. E a paz e o amor reinou entre eles por muitos e longos anos.

–---

Nora levantou-se e vagarosamente caminhou até a janela. A história parecia ter terminado. Um silêncio se fez na sala extensa. Jane precisaria partir em breve, mas a curiosidade lhe perturbava. O que teria acontecido com Tauriel, Thak e os pequenos e quanto ao destino de Nimarie, como as coisas ficaram? Já que ela não poderia entrar em Valinor?...

_ Não se preocupe... tenho respostas para todas as suas perguntas. - Disse Nora lhe olhando com os olhos bondosos, surpreendo-a mais uma vez com a adivinhação dos seus pensamentos. _ Quanto a Tauriel, a abdicada amiga de Legolas... – Continuo ela ainda olhando pela janela - ...conta-se que após a renúncia do casamento com elfo, ela teve dias difíceis, cheios de tristeza e solidão até que decida e esquecer e a superar os sentimentos que a atormentavam, ela partiu para o leste em busca de paz interior. Dizem que mais tarde ela veio a casar-se com um meio elfo construtor de pontes e que partiram juntos quando ouviram o chamado.

Já Thak, assim como Nimarie havia previsto, também teve um reencontro emocionante com a família que vieram ao seu encontro através do mar. Foi com muito carinho que ela se despediu de Nimarie, Legolas e os pequenos, e partiu radiante de alegria para sua distante terra, que ficava do outro lado do oceano.

Mais tarde junto com sua família, Legolas foi para Ithilien. Alguns elfos da floresta (agora verde novamente) foram pra lá também, e a terra que havia caído em negligência sob a sombra de Mordor floriu novamente sob seus cuidados. Lá criou os seus filhos e fez de Nimarie a sua rainha. Mais tarde Larniel uniu-se a um jovem e bondoso elfo silvestre. E todos viviam em constante paz e alegria, mas Legolas sempre ouvia o chamado do Mar subindo o Grande Rio. E no ano 120 da Quarta Era, após a morte de Aragorn, Legolas decidiu mais uma vez seguir seu coração. Ele construiu um grande barco cinzento e foi com Nimarie, navegando Anduin abaixo, deixando o bondoso Leagos como seu sucessor.O seu grande amigo Gimli os acompanhou por um tempo, e foi assim que osdois últimos membros da Sociedade do Anel deixaram a Terra Média e navegaram através do Mar em direção ao Oeste.

Por um longo, longo tempo desbravaram os oceanos desconhecidos de Arda. Atracaram em portos amigos, conheceram povos, costumes e crenças que não existiam em suas lendas e antigas canções. Permanecendo sempre juntos, até o dia que Legolas ouviu o último chamado para Valinor. Chegara o dia da sua morte, mas não a morte como muitos acreditam que ela é hoje. Era o dia que o seu corpo mortal se entregaria ao solo, para que houvesse a libertação do espírito imortal. Ele persistiu por tanto tempo, mas agora precisava fazer a irrevogável viajem para Valinor. Ao contrário do que você pode imaginar Jane, não houve choro ou tristeza nessa despedida.

Eles sabiam que o amor transcendia o tempo, e que ele não apagaria da memória e permaneceria sempre vivo e imaculada em seus corações. Ele não se apagaria e nem envelheceria, não se dobraria aos ventos tempestuosos e nem o fogo, não se perderia no escuro e nem temeria o bater dos ponteiros do relógio.

Agora, Jane, pense em ver tudo aquilo que você ama, tudo que você cultivou, que criou durante a vida, se definhar e sumir aos poucos, sobre seus olhos de mero espectador. A vida-longa é um castigo cruel, e mortalidade humana é uma dádiva, um balsamo aos corações já cansados de tantas perdas. E foi por isso que os anéis élficos foram forjados. Eles continham o poder de manter as coisas como eram e retardar a ação do tempo e que as coisas se perdessem na sua imensidão.

Ao final da 6º e última era de que se tem notícia de Arda, Nimarie era a última criatura com sangue elfíco e por isso o anel de Galabriel lhe foi deixado como recompensa pelas renúncias feitas em prol do amor e pela bravura de nunca ter se entregado por completo ao mal, mesmo quando ele lhe parecia o único caminho a ser seguido, além do mais ele a protegeria da ação do tempo, fazendo com que as eras lhe parecessem dias. Mas, ela precisava ainda cumprir o seu destino até que chegasse o dia em que ela pudesse também partir para Valinor: o lugar onde as coisas nunca mudam...

Nora finalmente moveu-se, caminhou até a velha poltrona e sentou-se olhando para Jane com os olhos profundos e brilhantes, falou com seriedade:

A lenda contava que a vida “imortal” dos elfos duram apenas enquanto o mundo existir. Mas, existem forças ocultas que ultrapassam os limites do mundo. Pairam sob o silêncio do universo, antigas histórias, caladas para sempre na memória daqueles que já se foram. Conhecimentos secretos e crenças antigas, histórias reais que hoje se chamam lendas. Seres estranhos aos olhos acostumados com as normais estranhezas de hoje. Criaturas, histórias e destinos... O mal que nunca dorme e o bem que nunca termina... A eterna espera por algo ou por alguém... Os sábios não sabem tudo e nem tudo tem resposta e ninguém foge do seu destino e há escolhas irrevogáveis... Há jornadas que duram dias ou atravessam milênios. Aquele velho e desconhecido mundo não existe mais, mas, se eu fechar os meus olhos, se eu ficar quieta, bem quietinha dentro de mim, ainda posso ouvir os sussurros,posso ouvir a música, posso sentir a Terra, e posso te dizer: até onde sei a mundo ainda existe Jane, ainda existe vivo na minha memória! E para Tolkien também...

Jane levantou-se, com uma expressão de surpresa falou:

_ Oh Senhora Nora, então a Senhora que contava as histórias para Tolkien? As histórias são todas suas? Da sua cabeça, da sua imaginação?

_ Bem, não exatamente Jane, as histórias eram de Tolkien, da cabeça dele, da imaginação dele. O que posso lhe dizer é que pude contribuir para que essas ideias nascessem...

_ … ah Meu Deus... isso é... nossa! - Disse Jane empolgada com a revelação._Essa história foi criada por você e não por Tolkien... - ela concluiu.

_ Como havia lhe dito lhe contaria o que você precisava ouvir e não exatamente o que queria... Mas com essa história em mãos, acredito que surpreenderá o professor James, e atingirá o seu objetivo.

_ Mas se a história é sua... como direi que é uma história perdida de Tolkien?

_ Não precisa dizer a quem ela pertence... os contos não precisam de donos, precisam de ouvintes e leitores para que se tornem reais e imortais. Agora essa história foi dada a você para que faça o que bem entender com ela... cabe a você mantê-la guardada na memória ou viva eternamente em outros corações, para que saibam que o amor é a única coisa que pode sobreviver a tudo, nada pode ser maior...

Jane, ficou fitando Nora por alguns segundos, em seus olhos haviam um brilho estranho de emoção. Era um olhar bondoso e enigmático de uma senhora sábia e lúcida. Nela não haviam traços que sugestionavam a loucura ou a idiotice, não aparentava ser alguém capaz de mentir ou manipular, não parecia ser depressiva e tão pouco parecia se divertir com aquilo. Parecia satisfeita como alguém que se sente aliviado por lançar ao solo uma carga pesada, levada nas costas por inúmeros anos...

_ Bem era isso Jane, era isso que eu tinha para contar... Um conto de amor que aconteceu na Terra Média...

Jane, saiu da casa de Nora já noite. Sentia-se como se tivesse sob o efeito de alguma droga dopadora, pois ficou por muito tempo ainda imersa na história de Nimarie e Legolas, distraída com as coisas que lhe circundavam. Que estranha fascinação aquele conto lhe causara! Que mulher misteriosa, pensava ela. Agora trancada em seu quarto ela passou a noite ouvindo inúmeras vezes trechos da gravação que havia feito da história que a Senhora havia lhe contado:

...conhecimentos secretos e crenças antigas, histórias reais que hoje se chamam lendas....

...a lenda contava que a vida “imortal” dos elfos duram apenas enquanto o mundo existir...

até onde sei a mundo ainda existe Jane, ainda existe vivo na minha memória...

… a vida longa é um castigo cruel... Eles sabiam que o amor transcendia o tempo

… esse lugar me lembra um lugar pra onde não posso voltar, por isso o escolhi

… nada pode ser maior – dizia a carta de Legolas

… nada pode ser maior – dizia Nora..

…perdoe as pausas na história que essa velha faz querida Jane! eu paro para lembrar ao mundo que pertenço hoje, a fim de que não me perca nas lembranças do passado...

... na memória o amor vive para sempre!O verdadeiro amor não deixa dúvidas, quando ele existe você tem certeza de que ele está lá, já não restam mais dúvidas, e a sua felicidade já não depende mais só de você. É como se o mundo fosse feito apenas para que vocês possam se amar...

… A eterna espera por algo ou por alguém... ninguém foge do seu destino e há escolhas irrevogáveis... Há jornadas que duram dias ou atravessam milênios. Aquele velho e desconhecido mundo não existe mais, mas, se eu fechar os meus olhos, se eu ficar quieta, bem quietinha dentro de mim, ainda posso ouvir os sussurros,posso ouvir a música, posso sentir a Terra....

...ela precisava ainda cumprir o seu destino até que chegasse o dia em que ela pudesse também partir para Valinor

Ao termino desse trecho o coração de Jane sobressaltou-se, então ela repetiu mais algumas oito ou nove vezes:

… A eterna espera por algo ou por alguém... ninguém foge do seu destino e há escolhas irrevogáveis... Há jornadas que duram dias ou atravessam milênios.

...ela precisava ainda cumprir o seu destino até que chegasse o dia em que ela pudesse também partir para Valinor

_ Não pode ser... - Pensou ela num misto de empolgação e receio. _ Devo estar ficando louca!

Saltou da cama, já eram seis da manhã e ela passou a noite acordada ouvindo a gravação, relembrando a história que a velha senhora havia lhe contado. Pegou sua mochila e jogou o gravador dentro. Saiu sem tomar café, pegou o carro pois tinha pressa em chegar. Sua empolgação parecia infantil, mas ela precisava de algumas respostas que só Nora poderia lhe dar. Com o coração aos saltos chegou até o seu destino. A casa de Nora.

Olhou no relógio: já passava de sete minutos das oito horas.

Nora tinha o costume de levantar cedo e caminhar beira mar lembrou-se, e por isso foi até o término da rua para ver se a via. Mas, a senhora não estava lá. Voltou e resolveu entrar portão a dentro. Caminhou até a porta, bateu uma, duas vezes, chamou por Nora e nada. Forçou a maçaneta: a porta estava aberta. Entrou. Nunca o local lhe parecera tão escuro e cinzento. Chamou mais algumas vezes por Nora, mas a casa parecia estar vazia. Alguns objetos colocados sobre uma bancada lhe chamaram a atenção. Aproximou-se deles. Eram estranhos. Procurou o celular para bater algumas fotos... mas, na ansiedade de sair de casa, acabara o deixando pra trás. De repente o gélido vento marítimo entrou pela casa fazendo com que Jane procurasse o local por onde ele entrava. Deu alguns passos e viu que Nora esquecera aberta a porta que dava para os fundos da casa. Caminhou vagarosamente até lá na intenção de fechá-la, enquanto aproximava-se via o mar, e podia ver o quintal. Mas algo fez com que o seu coração parasse de susto por alguns segundos: Nora estava caída lá fora sem sentidos, imediatamente ela correu em seu auxílio.

_ Ah Meu Deus... Senhora Nora... - Jane apavorou-se quando viu que a mulher estava gelada e aparentemente morta. Ao tocar em Nora, Jane teve uma nova surpresa, em suas mãos depositadas sobre o peito, ela trazia uma estranha flor branca que parecia brilhar com os poucos raios de sol que haviam no céu aquele dia. Não sabia o que pensar, por alguns momentos ficou olhando a flor, um tanto confusa.

_A flor de Elanor... balbuciou tocando a delicada plantinha. No mesmo momento pode ver também um lindo anel de prata em sua mão direita. _ Nora... Nora é Nimarie... - Disse para si mesmo. Tomada pela surpresa ela ficou alguns momentos tentando achar algo que contrariasse a sua suposição. Mas os fatos estavam lá... não havia dúvida: Nora era Nimarie. Ela desconfiou disso enquanto ouvia a gravação. Lembrou-se do que Nora havia lhe dito no dia anterior:

“...a lenda contava que a vida imortal dos elfos duram apenas enquanto o mundo existir...

até onde sei a mundo ainda existe Jane, ainda existe vivo na minha memória...”

_ Agora existe vivo na minha memória... oh! - Jane estava boquiaberta, então o que Nora precisava era passar adiante a sua história, para que seu mundo pudesse continuar vivo... para que sua história não se perdesse... De repente uma brisa diferente cortou o ar, fazendo com que ela se levantasse subitamente. O ar não era gélido, era uma brisa quente com perfume de flores que vinha do mar. Olhou para Nora que jazia aos seus pés. Sua expressão aparentava calma e paz. Ela precisava chamar ajuda, mas algo novamente prendeu a sua atenção. Com estranheza viu uma pequena luz de brilho amarelado que nascia e crescia em espiral vindo do anel de Nora. A luz lhe tomou o corpo inteiro e este desapareceu em segundos sobre os olhos atônitos de Jane.

Estupefata com o acontecido Jane, deu alguns passos cambaleantes para trás. O que estava acontecendo? Onde foi parar o corpo de Nora? Olhou para os lados... será que mais alguém tinha visto aquilo? Com receio tocou o solo... poderia haver alguma explicação ali... mas não havia nada.

Caminhou até a porta, olhou desconfiada ao seu redor novamente. Aquilo havia sido real? quando entrou na casa, mais uma surpresa lhe aguardava: A casa estava totalmente diferente. Agora parecia abandonada por séculos. Os móveis, as coisas, tudo se modificou e se tornou velho. A poeira corroía as madeiras, o chão rangia sob o mínimo toque. Num misto de medo e estupefação saiu correndo da casa e entrou em seu carro.

Antes de dar partida no carro, um pouco mais calma, olhou a casa que parecia em estar em completo abandono. Não havia ninguém na rua. Então, Jane partiu para sua casa e para o seu destino, levando vivo na memória o Conto de Amor da Terra Média contado por Nora.


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