Nora Fulkert - Um conto de amor na Terra Média escrita por Norha Wood


Capítulo 20
Uma carta




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_ Senhora Nora! Por que Nimarie não tentou contar apenas a verdade? - A voz de Jane parecia extrair Nora do fundo do mar, ou como se a acordasse de um sono que havia durado anos. Ela não gostava de ser interrompida, isso Jane já havia percebido, porém quando a história lhe parecia mais excitante, não conseguia segurar vibrações de alegria ou lágrimas de tristeza, bem como as perguntas que lhe saiam automáticas da boca. Ela não se poupava em expressar o que estava sentindo por meio de gestos ou caretas, ainda mais por que a velha senhora, na maioria das vezes contava a história com os olhos fechados, o que dava a impressão de que Jane era uma psiquiatra fazendo terapia de regressão em uma velha paciente.

Nora abriu lentamente os olhos azuis, tirou a sua cabeça branca do encosto da poltrona, olhou demoradamente para Jane. Ela sentia simpatia por aquela jovem, ela lhe lembrava a sua própria juventude, sua inocência, sua curiosidade em saber como o mundo funcionava! Demonstrando bom humor Nora respondeu:

_ És curiosa como um hobbit!– Olhando Jane com os olhos atentos e lúcidos continuou em um tom confidente: _ Não pense que foi fácil para Nimarie essa decisão! Ela sabia que isso afetaria muito o orgulho do jovem príncipe, e poderia afastá-lo para sempre. Mas, o que ela diria para ele? Não poderia dizer simplesmente que ela iria se esconder por séculos, ou milênios e que somente depois que tudo estaria calmo eles poderiam se ver novamente. Ele não resistiria em procurá-la, e nem ela mesmo resistiria... Mas, mesmo que eles conseguissem viver juntos escondidos, Legolas possuía uma missão muito importante para a história da Terra Média. Nimarie não poderia afastá-lo, não tinha permissão para isso! Ele precisava ficar e cumprir a incumbência do seu destino, e ela precisava ir e cumprir o seu, e entre eles ficaria apenas a esperança de que um dia eles pudessem unir-se para sempre.

Então, após tomar essa decisão, Nimarie tomou o caminho para sua casa. A fim de driblar a tristeza, decidiu não pensar na partida como um fim, mas em um novo começo para sua vida. Isso não a animou, mas a deixou mais calma, enquanto caminhava Nimarie pensava no que levar, e como levar. Lembrou-se que Gandalf lhe avisara para não levar nada de excessos pois a jornada seria longa. Quando passou o portal que dava acesso à sua casa, viu que tudo estava como a mãe havia deixado. O seu perfume ainda estava no ar, suas roupas, seus pertences tudo estava intocável, e assim deveria permanecer, até que um dia pudessem novamente terem utilidade. Nimarie emocionou-se ao lembrar da mãe, mas procurou ocupar-se com a separação das roupas para a viajem, não tardaria amanhecer, era necessário apressar-se! Ajeitou uma pequena bolsa, realmente só separou o necessário. Preparava-se para sair quando lembrou-se de algo. Voltou com passos lentos para o seu quarto, parou na frente da cômoda e abrindo uma pequena caixa retirou de seu interior o paninho que já conhecemos. Depositou-o sob uma das mãos e delicadamente afastou as camadas do tecido revelando uma graciosa florzinha já um tanto ressequida pela ação do tempo. Ao fitar a plantinha não pode evitar uma lágrima que lhe saltou dos olhos. Fechou rapidamente o paninho, apertando-o de encontro ao peito. Era seu tesouro! Como podia ter esquecido?! Deixaria todas suas roupas, suprimentos, agasalhos, mas levaria por onde fosse o seu tesouro...

Nimarie despedindo-se de sua casa

Saiu de sua casa em direção ao castelo, agora, como hospede do rei, ela possuía livre acesso a ele. Porém antes mesmo de entrar na ponte que dava para a porta de entrada ouviu Ofhimos que a chamava enquanto corria em sua direção:

_ Nimarie! Ou melhor Senhora Nimarie... - Por certo Ofhimos sabendo da sua relação com Legolas, preferiu lhe tratar com mais deferência. - _ Possuo algo que preciso lhe entregar urgentemente! São cartas que o meu Senhor lhe escreveu pelo caminho, e mandou lhe entregar pessoalmente...

_ Não as aceitarei! Diga ao seu Senhor que não quis recebê-las! - Nimarie falava isso demonstrando muita frieza. Frente ao desprezo inesperado da moça o elfo ficou atônito. Seu sorriso foi substituído por uma expressão séria ao mesmo tempo que ele falou preocupado:

_ Nimarie, são as cartas de Legolas! Desprezarás as cartas de um príncipe apaixonado? Ele acreditava que estavas a espera dessas cartas! ele ficará arrasado... aceite-as! - Ofhimos estendeu na direção de Nimarie um pacote volumoso onde ela reconheceu com um rápido olhar a letra de Legolas. Não conseguia olhar para Ofhimos, ou para o pacote que ele lhe estendia, por isso fechou os olhos, dizendo simplesmente:

_ Não!

Foi o "não" mais difícil que Nimarie falou em toda a sua vida. O elfo decepcionado deixou o braço estendido pender sobre o corpo. Nesse gesto uma carta solitária se desprendeu do monte comum vindo a cair no solo. Ofhimos não havia percebido, e por pouco isso não passou despercebido por Nimarie também. O elfo lhe deu as costas com todas as cartas da mão, pelo menos assim ele acreditava.

Nimarie, então, voltou a sua atenção para o pedaço do papel que o vento da noite encarregava-se de tocar a diante. Parecia que o destino brincava! a carta ficara por que tinha que ficar, fora caprichosamente separada do monte por algum motivo que ninguém compreendia. Era o que Eru desejava, talvez aquele pedaço de papel fosse como uma luz no meio de uma tormenta, um prêmio de consolação para o seu coração ferido. Com esses pensamentos Nimarie caminhou na direção do vento, tateando a relva a procura do valioso papel. Encontrou-a tão rápido quanto a guardou junto ao peito, por baixo do vestido. Correu como um raio para o quarto onde estava hospedada, causando estranheza aos serviçais do castelo. Fechou a porta do quarto, ficando em pé junto dela, a fim de recuperar o fôlego perdido pela emoção que aqueles instantes lhe causara. Precisava ler, precisava ler imediatamente, seu coração batia descompassado, precisava acalmar-se... riu de si mesma... a quanto tempo não sentia isso? a quanto tempo não sentia uma emoção assim? ...desde que Legolas partira sua vida só havia sido tristeza. Agora um pedaço de papel havia lhe trazido uma alegria. Uma alegria em fim! pensava ela ao olhar o papel como se fosse uma raridade.

_ Estás pronta Nimarie?

Nimarie tomou um tremendo susto ao ouvir a voz de Gandalf que caminhava em sua direção. Estava tão encantada que quando entrou no quarto não havia percebido o velho mago sentado em um canto, oculto pela sobra da noite. _ Vim apenas lhe recomendar uma boa noite de sono pois a partir de amanhã não terás o mesmo conforto em teus pousos! - Ainda assustada Nimarie apenas balançou a cabeça afirmativamente. E para o seu alívio, o mago deixou o quarto sem lhe questionar o motivo de tamanha alegria, ao fitá-lo pelas costas, ela percebeu algumas teias de aranha em seu cabelo.

Na verdade ele não perguntou pois sabia de tudo, ele mesmo fora bastante responsável por tal alegria! Agora, realmente sozinha no quarto Nimarie pegou novamente o envelope. Descansaria sim, como Gandalf recomendou, mas antes precisava ler o que o elfo havia lhe escrito. Abriu apressadamente o envelope. E sentada na cama leu enternecida:

Como estás minha doce flor da manhã? Espero que bem!

Já faz dois dias que não lhe escrevo pois houve uma certa agitação com minha chegada ao Reino de Aranir.Não é bem um reino, por assim dizer, mas é como ele gosta que seja chamado, então assim devemos proceder. A final não há nada mais triste que um rei que não é obedecido pelos seus súditos! Refiro-me que não é bem um reino, tratando-se da quantidade de habitantes daqui. O Vale do Anduin possui precisamente 260 elfos silvestres. É uma região muito rica e de solo fértil, mas se o outono for chuvoso, a água que escorre pelas montanhas alaga a cidade, e aos poucos força o recuo das terras de Aranir para o leste.

Hoje, mesmo sendo alertado pelo meu tio Wilferin dos perigos, eu subi na montanha mais alta para te escrever essa carta daqui de cima. Se você estivesse aqui comigo por certo diria: "Isso é inconcebível Legolas! ". Pude até ouvir a sua voz quando olhava o horizonte sobre a montanha mais alta. Mas eu subi rapidamente e não encontrei problemas, e se recebeste essa carta é porque eu não tive maiores problemas na decida!

Certamente é a última carta que lhe escrevo minha querida, pois hoje mesmo Ofhimos tomará o caminho de volta para Mirkwood. Sabes que daqui de cima posso de até avistar Mirkwood ao longe? A nossa grande floresta torna-se pequena em meio a tanta terra. É tudo tão pequeno visto cá de cima, mas essa posição trás as mais surpreendentes visões, revelando as mais belas paisagens, belas assim como você minha querida Nimarie! Posso ver também ao longo um lago azul, ele é da cor dos teus olhos, olhos que por certo não verei mais belos.

Meu coração anseia em te rever! Nosso amor é bem maior do que as léguas que nos separam. Nada será maior Nimarie!

Nai anar caluva tielyanna

Legolas


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