O frio era uma coisa que ainda incomodava e ela jamais pensou em ter uma lareira em casa. Mas ela gostava do conforto e do charme que dava ao seu lugar e ela gostava principalmente de esquentar seus pés de manha tomando seu café em frente a ela com um cobertor jogado sobre as pernas.

Jogando o casaco por cima dos ombros ela pegou suas chaves sobre o balcão que separava a sala da cozinha. Ela caminhou até seu carro, o vento era forte trazido pela nevasca que se aproximava.

Ela seguiu para o aeroporto que ficava a mais ou menos meia hora da sua casa. Ela dirigiu pelas ruas limpas e muito bem sinalizadas. Uma entre as varias coisas que ela gostava naquela cidade era que ela nunca se estressava com o transito. Mesmo quando havia congestionamento, ninguém buzinava ou gritava palavrões pela janela.

Ao chegar ao aeroporto central ela se dirigiu até a área de desembarque, não demorou muito para que pessoas começassem a entrar vindas da pista de pouso. Ela percorreu seus olhos pelos variados rostos que cruzavam as portas de vidro. Rostos de todas as cores e formatos, vindas de todos os cantos do mundo, a maioria à negócios.

Poucos segundos se passaram até que ela viu seu rosto olhando para os lados procurando por ela. Assim que a viu seu sorriso aumentou e ele andou a passos rápidos até ela. Sem hesitar ele envolveu seus braços em sua cintura, levemente tirando seus pés do chão e ela se agarrou a seus ombros. Sentir seu perfume novamente causou uma descarga de memórias que foi parada rapidamente pelo som de sua voz próxima ao seu ouvido.

– é bom ver você. – sua voz soou quase em um sussurro. Ele estava a apertando em seus braços. Eles estavam mais próximos do que nunca estiveram a vida toda, seus corpos estavam grudados e ela podia sentir cada músculo do seu peito. Nenhum deles realmente esperava por essa reação. Quando os segundos começaram a escorregar lentamente ela achou que esse abraço estava durando mais do que o necessário.

– você está se aproveitando! – ela brincou o empurrou levemente, voltando seus pés ao chão. Ele sorriu, seu sorriso atingindo seus olhos gentis e confiáveis e ela percebeu que tinha perdido isso.

– você está muito bem. – ele disse dando uma olhada completa nela. Ela não tinha mudado muito nesses meses, exceto pelo cabelo que estava mais cumprido para baixo do ombro e por suas roupas. Isso era de se esperar já que Washington faz mais frio do que Vegas, principalmente no mês de janeiro e ele agradeceu mentalmente a ligação de Catherine avisando para ele colocar os casacos na mala.

Ela estava usando um casaco preto por cima de uma blusa de seda rosa salmão e uma saia na altura do joelho. Ela estava muito bonita e ele se permitiu admirá-la por um momento enquanto eles caminhavam para o estacionamento.

– como foi de viagem? – ela perguntou por cima do ombro enquanto era seguida por Nick atrás dela.

– foi bem. – ele respondeu e entrou no carro do lado do passageiro. Ela havia trocado de carro de um SUV para um esportivo prata. O carro ainda cheirava a novo.

– a que horas é o treinamento? – Nick perguntou. O FBI estava oferecendo um curso de investigação para casos de sequestro para policiais e investigadores da região e Catherine o indicara. Ela ligou para Ecklie e comentou sobre a oportunidade, então ele pediu para que ela escolhesse alguém e agora Nick estava no seu carro indo para sua casa.

Nick aceitou participar do treinamento sem pensar duas vezes. As coisas em Vegas não eram mais as mesmas. Os casos vinham mexendo agora com seu consciente e não só com seu inconsciente. Ele se pegava varias vezes sonhando com as vitimas, tendo sonhos onde ele se via na cena do crime no momento em que ele ocorria imaginando varias versões e desfechos diferentes. Tudo isso depois que seu turno acabava.

Poucas, mais assustadoras vezes ele se viu dentro de um caixão de vidro, ou até mesmo sendo levado para um quarto escuro por sua baba de ultima hora, fatos que ele pensava terem sido enterrados no passado. Mas seu ultimo comportamento de beber e querer arrumar briga com policiais dizia o contrario. Ele achou que deixar Vegas era uma boa ideia, mesmo que por pouco tempo.

– pelo que sei será na parte da tarde assim você ainda pode descansar um pouco. – ela sorriu antes de voltar sua atenção para a pista. Nick ficou impressionado com o fluxo do trânsito, que mesmo tendo várias ruas onde era proibido estacionar por motivos de segurança, era bem sinalizado e organizado. Além de as ruas serem bem limpas e os motoristas educados, parando para pedestres mesmo onde não havia sinais ou faixas.

– Washington é uma boa cidade, gosto daqui. – ela respondeu ao seu elogio a organização da cidade. Eles entraram em seu bairro que era quase deserto em comparação ao centro agitado do qual eles haviam saído a pouco, com executivos e suas maletas e mulheres bem vestidas em sua maioria funcionários públicos correndo de uma lado para outro em frente a centros administrativos e órgãos do governo.

Onde ela morava, porém, era muito tranquilo e bem arborizado com tulipas de todas as cores em quase todos os jardins da maioria das casas. Algumas eram em estilo vitoriano construídas com tijolos bem vermelhos grudadas umas nas outras. Cerejeiras se espalhavam por todo o caminho até aqui.

Ela parou em frente a sua casa e eles entraram passando pelo jardim de grama tão verde que ele jamais havia visto em Vegas. Num canto ele viu tulipas roxas e sorriu sabendo que era sua cor favorita. Eles entraram, sua casa era grande, mas não tão grande como a que ela vivia em Vegas, já que agora não tinha Lindsay para dividir o teto.

– o que achou? – ela perguntou. Nick olhou sua sala, simples e bem decorada. As paredes tinham um tom pastel, seu sofá era tão branco que Nick fez uma nota mental para não colocar os pés neles. Em frente ao sofá havia um painel onde se fixava uma teve de plasma enorme. Sua casa era aconchegante e requintada. Abaixo da TV havia uma miniatura da casa branca em vidro que dava um toque de luxo ao ambiente.

– parece que você achou um pedacinho do céu no meio do inferno. – ele disse fazendo-a sorriu. Nick se animou ao notar que ela tinha uma lareira, não sabia se ele podia se acostumar aquele frio. Não que fosse mais frio do que a ultima vez que ele esteve em NY no inverno, mas ventava muito e a sensação térmica dava a impressão de ser mais frio do que realmente era.

– vem, vou te mostrar seu quarto. – ele a seguiu para o corredor passando pela porta de um quarto, mais a frente a porta de um banheiro do lado oposto e mais um quarto bem ao fundo, onde ela entrou.

– pode guardar as coisas naquela cômoda. – Nick imaginou que o quarto fosse para quando Lindsay a visitasse.

– vou buscar uma toalha para você.

– obrigado. – ele sorriu para ela que desapareceu no corredor.