Estamos perdidos. Decidi isso por mim mesma, todos estavamos fadigados e com os pés implorando para que parassemos de pisar no chão e sentassemos em qualquer lugar. O salão era enorme, Joe guiava todos, virando constantemente de corredor pra corredor.

Mas, definitivamente estamos perdidos.

–Estamos perdidos. – Confirmou Joe parando de correr.

–Você disse que decorou a droga do mapa! – Gritou Colin apontando seu dedo ossudo no nariz de Joe.

A garota punk, ficou da cor de sua única mecha de cabelo cumprida.

–Por que você não decorou o mapa também?! – Perguntou Amy defendendo Joe.

–Ela disse que daria conta. – Disse o garoto panda, intrometendo-se.

Olhei pro garoto ao meu lado e percebi que ele estava me olhando.

–Garoto-da-nuca, vamos nos sentar? – Perguntei tentando ser gentil.

–É Pow pra você. – Disse o garoto estranhando o apelido. Sentou onde estava e encostou sua cabeça na estante de livros.

Os outros três continuaram a troca de idéias, e eu me juntei a Pow.

Pow tinha espinhas por todo o rosto, e suas bochechas eram avermelhadas, os cabelos pretos eram ondulados. Por um instante não pronunciamos uma única palavra, olhei pra ele e soube como se sentia, sem a necessidade de perguntar algo eu pude entendê-lo. Como tudo aquilo parecia uma grande loucura, sendo pego por ondas de fatos inaceitáveis que tentava afoga-lo a cada instante. O primeiro deles era nada mais que uma louca, chamada srta. Clary, segundo aos quatro veteranos dos Irrecuperáveis que afirmavam, srta. Clary faz lavagem celebral em seus alunos durante todo o verão. De forma misteriosa todos os alunos do Verão - Para Alunos Recuperáveis voltavam extremamente disciplinados no ano seguinte, e isso explicava o fato.

O segundo deles era que estava se metendo em mais uma encrenca, qualquer que seja o erro que Pow executou para vir a V-Par, ele estava executando mais um nesse exato momento, se juntanto aos Irrecuperáveis.

Havia trilhões de perguntas que queria fazer a respeito da escola, alunos, superiores dos alunos e o que diabos eles pretendiam fugindo da srta. Clary. Mas, não havia outra escolha ao não ser aceitar tudo aquilo e tentar sobreviver.

Depois de um bom tempo os quatro veteranos pararam de discutir. Joe, que estava com os olhos irritados contendo lágrimas de frustração, sentou-se ao meu lado, encolhida.

Os outros sentaram-se em volta do local, encostando seu corpo cansado nas estantes sujas de poeira. Todos estávamos cientes de que a garota pálida que encontramos na sala da bibliotecária, já deve ter avisado algum superior, e eles devem estar correndo em nossa direção.

A lanterna estava no meio de nós, apontada para uma instante onde não havia ninguém encostado.

–O que é exatamente a passagem que Joe estava procurando? – Perguntei tomando cuidado com as palavras para não causar uma nova discussão.

Pow levantou o rosto para prestar atenção na conversa.

–Roubamos os arquivos noite passada, antes da chegada dos Recuperáveis. – Disse Leo. – E bolamos um plano pra sequestrar alguns de vocês. Nos arquivos contia algumas fichas de alunos vermelhos recém mandados pra V-PAR, inclusive a sua ficha. Junto tinha mapas de algumas salas e informações sobre elas. Entre os mapas, o mapa dessa biblioteca.

–Srta. Clary deve ter ficado furiosa quando descobriu que roubamos os arquivos. – Disse o garoto panda sorrindo.

–Essa biblioteca não era pra ser do conhecimento de ninguém, apenas dela. – Acrescentou Amy.

Leo explicou que o plano era perfeito, e que passaram a noite bolando ele. Os três tentariam se misturar aos alunos, usando malas vazias e ficando nos cantos do extenso saguão, e convenceriam os recuperáveis que fossem com eles até a biblioteca. Lá andariam até a sala da bibliotecária e subiriam de algum modo que o mapa não informava até aqui, passariamos pela passagem secreta e correríamos até a sala próxima desabitada, uma de nossas bases.

Mas, tudo deu errado, o primeiro erro foi o de não conseguir convencer os Irrecuperáveis de virem conosco.

–De certo modo não escutavam quando a srta.Clary abria aquele bocão dela pra falar alguma chatisse. Ficaram apenas sorrindo e ouvindo ela. Nem conseguimos fazer com que sentissem nossa presença, tentando até sacudir vocês. Então voltamos pra biblioteca com um sinal de Amy. Mas Joe conseguiu trazer você.

Todos olharam pra Joe, curiosos.

–Eu não sei o que eu fiz, Molly só virou na hora que eu já havia desistido e estava prestes a sair. Então eu a trouxe, e ele veio junto. – Disse Joe inclinando a cabeça em direção a Pow.

–Vocês tem bases? – Disse Pow com os olhos brilhando de curiosidade, trocando de assunto.

–Sim, tínhamos muitas antes. – Respondeu Joe em tom baixo. – Mas elas se tornaram do conhecimento da srt. Clary, então temos poucas agora.

–Foi horrível. – Completou Amy. – A mulher rasgou e destruiu tudo o que tinha.

–Inclusive alguns dos nossos Irrecuperáveis. – Comentou a garota punk com um nó na garganta.

–Sobre o nosso grupo, o que exatamente nos define como Irrecuperáveis? – Perguntou Molly.

Antes que alguém dissesse algo mais, da escuridão ouvimos passos lentos. Todos nós levantamos, com as pernas tomadas pelo medo, recuando. Por fim ouvimos uma voz fraca e desencorajadora.

–Vocês não deveriam estar aqui. – Disse uma garota.

E do escuro surgiu a mesma garota que estava na sala da bibliotecária.

Ela tinha cabelos extremamente pretos, lisos atá os ombros com cachos levemente ondulados até a altura do busto. A garota usava um suéter grande e tinha uma pele pálida, com a impressão de ser delicada, no rosto óculos redondos e gozava de olhos extremamente negros.

–Vão embora. – Disse a garota, tentando mais uma vez inutilmente expulsar a gente.

–Se pudessemos, já teriamos feito. – Respondeu Leo.

–Por que estão aqui? – Ela perguntou. – Quer dizer, não importa, vou mostrar a porta pra que possam ir embora, e não causar mais problemas pra mim. – Disse a garota mudando de idéia rapidamente.

–Espera. – Eu disse agindo por impulsos, fazendo a garota dar um passo pra trás. – Devíamos acorda-la.

Todos os alunos que estavam na escola esse verão, exceto os Irrecuperáveis estavam de certa forma enfeitiçados. Eu estive, por um breve momento, assim como Pow, ouvindo a voz agradável da srt. Clary no discurso.

Leo olhou incrédulo pra mim.

–Isso nunca acaba bem! – Ele disse, como se já tivesse tentando a muito tempo.

–Tem que haver um jeito. – Apoiou Pow.

A garota parecia ter ficado intrigada com aquele assunto. Como se estivéssemos falando de pôneis que visitariam a escola semana que vem.

–Joe me acordou! E eu, acordei Pow. – Disse.

–Vocês estavam em transe por pouco tempo, ainda havia jeito de acorda-los. Ela, parece estar assim a anos. – Disse Joe, deixando claro que era impossível. Pow cerrou o punho, frustrado.

–Você tem conhecimento dessa biblioteca não é? – Perguntou Joe á garota.

Ela olhou hesitante para a punk, e afirmou com a cabeça.

–Levemos até a passagem secreta daqui.

A garota sorriu torto e disse.

–Eu recebo ordens apenas da srta. Clary – Como se estivesse programada para dizer isso.

Leo e Joe trocaram olhares. Então tive uma idéia. Seria o momento ideal? Talvez não, mas algo me dizia que precisava ser feito.

–Oh, querida, leve-me até minha passagem secreta. – Eu disse inclinando a cabeça, com as bochechas corando violentamente e o cabelo caindo sobre um dos meus olhos.

Os olhos da garota pálida faíscaram, fazendo-a abrir um sorriso inocente com o som da voz.

–E qual das passagens você deseja seguir srta. Clary? – Perguntou a garota com os olhos começando a brilhar de alegria.