Paulina narrando:

Quando decidi ir até aquela árvore, minha intenção era ficar sozinha para arejar a cabeça. Mas quando sentei-me e comecei a repassar mentalmente a discussão com Carlos Daniel, involuntariamente comecei a chorar, por medo de que uma coisa tão pequena se tornasse definitiva para nossa amizade. A verdade é que acho que não saberia mais viver sem sua companhia.

Como pude me apegar tanto em tão pouco tempo? Tentando entender meus sentimentos, lembrei-me das palavras de Célia no dia em que fomos ao shopping. Será que ela tinha razão ao dizer que estou apaixonada por ele?

Não consegui encontrar uma resposta na hora, pois fui surpreendida. Carlos Daniel chegou e pediu para conversarmos, porém estava tão confusa que tentei ignorá-lo. Mas minha tentativa foi para os ares quando ouvi seu pedido de desculpa.

Não sei explicar como, mas a aproximação foi mais forte que eu. Era errado, eu sabia, mas foi impossível evitar. Quando nossos lábios se tocaram, meu corpo inteiro estremeceu. Em instantes o beijo se intensificou, e milhões de borboletas levantaram voo em meu estômago. Sensações tão novas para mim...

Desfrutei cada segundo, tentando esquecer qualquer consequência, mas no fundo desejava tanto que o tempo parasse ali, pois sabia que assim que nos separássemos, nada mais seria igual.

Fomos nos afastando lentamente quando o ar se tornou vital aos nossos pulmões, e sem pensar muito, tomei uma decisão um pouco drástica.

– Acho que você está confundindo as coisas, Carlos Daniel. - disse enquanto me levantava, tentando me manter o mais firme possível

– Paulina, eu pensei que... - ele também se levantou, mas não deixei que terminasse a frase

– O que eu sinto por você é só amizade. - tentei olhar em seus olhos para que ele acreditasse, mas não consegui sustentar a mirada e desviei meus olhar em direção ao chão

Nunca pensei que fosse tão difícil mentir para esconder um sentimento, mas era melhor que se convencesse do que eu dizia. Não me preocupava por mim, e sim por ele, não poderia permitir que Carlos Daniel largasse tudo para ficar comigo, e muito menos que vivesse em pecado.

Ele andava de um lado para outro. Parecia confuso, ou não encontrava as palavras certas para me falar.

Ainda mirando o chão, percebi que Carlos Daniel aproximou-se. Estremeci quando ele tocou meu queixo e levantou-o suavemente, fazendo com que nossos olhares se encontrassem.

– Desculpa. - disse-me, e então percebi que seus olhos estavam marejados

– É melhor que nos afastemos por um tempo. - fiz a afirmação mais dolorosa de minha vida. Outra vez desviei, porém agora não podia mais segurar as lágrimas.

Não consegui permanecer ali, saí correndo. Talvez estivesse sendo covarde, querendo simplesmente fingir que nada tinha acontecido. No entanto, não consegui agir de outro jeito.

Dirigi em alta velocidade até minha casa, as lágrimas embaçavam minha visão.

Assim que cheguei, fui direto para o chuveiro, deixei a água bem quente e ali passei um longo tempo... controlei meu choro e enquanto a água relaxava meus ombros, tentei pensar com clareza. Relembrei o gosto de seus lábios, a forma como nos beijamos... só então percebi que embora tenha tentado negar por muito tempo, estou perdidamente apaixonada por Carlos Daniel, desde o dia em que o conheci.

Saí do banho, me vesti e liguei meu notebook, para tentar me concentrar em umas planilhas que tinha pendentes. Que ilusão a minha, lógico que não consegui.

Telefonei para Célia e contei tudo. Ao contrário do que imaginava, ela não ficou nem um pouco surpresa, mas não me deu nenhum conselho e disse que eu mesma deveria pensar e fazer o que achasse prudente.

Muitas perguntas e poucas respostas, isso era o que eu tinha. Depois do beijo, tive a certeza de que o amo, como jamais pensei que pudesse amar alguém. Não sei muito sobre o amor, mas o que eu sinto quando estou ao seu lado é mais do que suficiente para que eu possa afirmar isso.

No entanto, não tinha coragem suficiente para dizer essa verdade a ele. Mesmo que Carlos Daniel sinta algo por mim, não pode ser mais forte que o amor por sua vocação religiosa. Por isso, ainda que não tenha certeza se é o correto, decidi que em nome da felicidade e bem estar dele, o melhor seria que não nos víssemos mais.

Sim, o que eu tanto temia desde que nos tornamos amigos, estava se concretizando. Realmente, acho que não sei mais viver sem ele. Mas vou aprender, preciso aprender.

Enquanto chegava à essa conclusão, olhei para a tela do notebook e vi, no canto superior direito, um anúncio de um pacote de viagens, que ofertava sete dias em Acapulco.

Comecei a analisar a possibilidade... será? Estar um pouco longe seria uma boa maneira de tentar tirar esse amor de dentro meu peito, ainda que isso doa, e muito.

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Carlos Daniel narrando:

Quando encerramos o beijo, por um momento estava me sentindo a pior pessoa do mundo, pois além de falhar com o juramento que fiz ao escolher ser padre, magoei a Paulina.

Não posso me enganar, o que senti foi... inexplicável. Agora estava claro aquilo que tentei negar de todas as formas possíveis: Sim, estou apaixonado.

Talvez eu devesse ficar tranquilo ao ouvi-la afirmar que só sente amizade, assim poderia tentar esquecer esse amor e seguir minha vida de sempre. Mas não, isso é impossível. Paulina mentiu para mim, ela queria aquele beijo tanto quanto eu e sei que não pode ser indiferente em seus sentimentos como disse. Não a julgo, sua intenção deve ter sido fazer com que não sofrêssemos, mas foi em vão, porque no breve momento em que mirei sua íris verde, pude notar a tristeza estampada ali. E claro, comigo não era diferente, pedi que me desculpasse como se tivesse cometido algum crime, quando minha vontade era dizer que enfrentaria qualquer coisa para ficarmos juntos.

Entendo que estou pecando e que nunca deveria ter permitido que chegássemos a esse ponto, e isso me abala. Sim, falhei, mas aconteceu.

Não posso continuar assim, a partir de agora, minha vida vai tomar um novo rumo.