O diário de Mari escrita por Filha da Sabedoria


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

HAHAHA AGORA QUE O CALDEIRÃO FERVE!
Só pra dar um gostinho de surpresa!



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Acordei confusa. Sonhei com coisas que eu não sabia explicar. Muito sangue e cortes. E um rosto. Muito embaçado, mas era um garoto.

Achei que já seria de manhã, mas eram duas e meia da madrugada. Bom, não deixava de ser “de manhã”.

Desci as escadas cuidadosamente, sem fazer um ruído. Fiz um café com leite, subi as escadas e fui ler. Meus pulsos latejavam. Puxei as pulseiras e vi o estrago. Meus pulsos estavam vermelhos e inflamados.

Coloquei o livro de lado e peguei “O diário de Mari”.

Sou fraca. Meus pulsos doem. E sinto meu estilete gritando, me chamando, de dentro da gaveta. Acho que ser fraca não é tão ruim assim. Minha mãe está dormindo e eu, tentando ler. Mas a dor está agoniante. É impossível me concentrar com isso. Quem sabe se eu passar água oxigenada, melhore. Ou piore. Não sei.

Vou ver o que fazer.”

Coloquei o diário de lado e abri meu notebook.

53 notificações no Facebook.

13 mensagens.

20 pedidos de amizade.

Porra! O que foi que eu fiz?

Abri a barra de notificações e comecei a olhar.

A maioria delas eram solicitações de joguinhos ou coisas do tipo.

Ignorei. Agora, as mensagens.

Lisa, me pedindo a tarefa.

George, me pedindo a tarefa.

E assim sucessivamente, até eu reparar que tinha uma mensagem do Tel.

Mas... O que?”, pensei.

Aquilo deveria estar errado. Ainda assim, abri o chat e vi a mensagem. Não tinha nada a ver com a tarefa.

Mari, oi...

É, eu queria saber se você queria sair comigo amanhã.

Responde quando puder.

Beijos!

Ele estava online.

Oi, Tel...

Pode ser. Que horas e em que lugar?

Tel está digitando.

Meu coração está batendo mais rápido.

Tá, mas por que? Coração estúpido. O Tel não tinha nada demais.

Umas duas horas.

Pode ser no parque?

Respondi:

Claro! Passa pra me buscar?

Tel está digitando.

Ok.

Passo aí, então!

Beijos!

Aí ele ficou off-line.

“Beijos...”, pensei.

Fui me deitar mais confusa do que acordei. O que o Tel queria comigo? Eu não queria nada com ele. Adormeci com esses pensamentos e acordei com minha mãe gritando.

“MARI! ACORDA! SÃO SEIS E MEIA! LEVANTA! SE ARRUMA! VAI, VAI, ANDA, ANDA!”

“Já vou, já vou. A aula começa só daqui a uma hora e dez minutos. Pra que tudo isso? Eu demoro quinze minutos pra me arrumar, não uma eternidade!”, retruquei, com sono.

“NÃO IMPORTA! VOCÊ VAI ANDANDO HOJE! TRATE DE SE LEVANTAR!”, ela era um pé no saco quando queria.

Levantei-me, meio zonza. As pulseiras cobriam meus braços, então não tive de escondê-los para que ela não os visse. Fui até o banheiro, me despi e entrei no chuveiro. Dava tempo de sobra pra tomar um banho rápido. Lá pelas 06:45 saí do banho, me vesti, sequei os cabelos e escovei os dentes. 07:00. Desci, tomei café com leite, comi uma fatia de pão com margarina, peguei minhas coisas e saí. Mandei uma mensagem pra George:

“Estou chegando na sua casa. Fique pronto.”

A casa dele era umas cinco quadras da escola, então ele sempre ia andando até lá.

Cheguei lá e ele me esperava.

“Oi, gata!”, falou, com um sorriso torto.

“Sai pra lá, George!”, ri.

“Nossa, que bom humor!”, retrucou.

“Falou o cara que só solta grunhidos!”, dei um tapinha no braço dele, que reparou nas minhas pulseiras.

“Mari... O que é isso?”, a expressão dele mudou de alegre pra preocupado em segundos.

“Pulseiras! Não posso usar pulseiras?”, me defendi, envergonhada.

“Não pra isso!”, ele pegou meu braço e moveu as pulseiras, deixando os cortes à mostra.

Ficamos lá parados, em um silêncio desconfortável, por alguns segundos, que pareciam eternos.

“Desculpa.”, eu murmurei.

“Não é a primeira vez que você faz isso! A gente tinha combinado de você falar comigo quando tivesse vontade de se cortar! Foi a sua mãe?”, ele me abraçou.

Eu assenti.

“Por minha causa, certo?”, seu tom de voz era triste.

“Eu não sei o que ela tem conta você, Gê! Sério!”, lágrimas queriam se libertar de meus olhos, mas eu as mantive presas.

“Eu também não, pequena!”, ele consolou. Às vezes, ele me chamava de pequena, porque eu era baixinha.

“Vamos, senão vamos nos atrasar!”, mudei de assunto.

Então caminhamos juntos até a escola, rindo, conversando e esquecendo qualquer problema.

Chegando lá, fomos falar com o resto da turma. Lisa, Tel, o Nat, Maria, Martha, Camila, Armando, Gustavo, Mário, Laís, Laura, Lucas, Marcela, Anelise, Cláudio, Kelvin, Reinaldo, Anne, eu e o George. Nossa turma era bem pequena.

Ficamos sentados em uns bancos perto da sala, conversando, até que Lisa, minha melhor amiga veio falar comigo. Ela me puxou pra um canto e perguntou:

“Se cortou de novo?”

Assenti. Ela e George me conheciam mais do que ninguém. Eu nunca usaria pulseiras sem a finalidade de esconder cortes.

“Sua mãe?”

Assenti novamente. Mas antes que ela pudesse falar qualquer coisa, avistei o professor indo pra sala e puxei-a comigo antes que ele chegasse e fechasse a porta.

Entramos, escolhemos nossos lugares e ajeitamos nossos materiais. Olhei o horário.

“PUTA MERDA!”, pensei. Iríamos ter duas aulas de matemática seguidas depois do intervalo.

O professor de matemática era um tijolo. Sério. Até eu sabia mais matemática que ele.

A manhã foi passando.

Aula de física.

Aula de literatura.

Aula de história.

Intervalo (aleluia).

Aula de matemática (2x).

Saí da escola com vontade de gritar. Eu não aguentava o professor de matemática nem por uma aula, então, como aguentaria duas inteiras?

Fui almoçar na casa de Lisa, que magicamente convenceu minha mãe a me deixar ir.

Não vou contar os detalhes do almoço, porque é só comida e comida não é interessante!

Saí da casa de Lisa com um grande aperto no coração. Queria ficar lá. Mas ainda assim, tive que voltar pra casa. Quando cheguei, minha mãe já tinha saído pro trabalho. Eu estava sozinha em casa. Então lembrei-me que havia dias que eu não tocava a minha guitarra.

Tirei-a do estojo e afinei as cordas. Pensei em uma música. Qualquer uma. Mas elas não me vinham à mente. Guardei-a novamente, decepcionada por não ter tocado nada e fui checar meu Facebook. Mas havia me esquecido do... encontro não... da tarde que passaria com Tel. Já era 13:00 quando lembrei que sairia com ele. Deixei o notebook de lado e fui me arrumar um pouco. Troquei de roupa, arrumei os cabelos e passei uma maquiagem básica, tipo, um pouco de base, rímel e gloss. Quando eu estava pronta, ainda faltava meia hora para que Tel chegasse, então peguei novamente o notebook e abri a minha rede social. Nada de especial. Solicitações de joguinhos, uma marcação numa foto aqui, outra ali... mensagens? Apenas pedindo respostas de tarefas ou quais eram os livros que a professora de literatura tinha indicado para nós esse ano. Pedidos de amizade? 99,9% de pessoas que eu não conhecia. Não iria adicioná-las.

13:45.

Fechei a casa e dei uma última olhada no meu visual. Nada mal pra ir ao parque. Tinha colocado um shorts jeans e uma blusinha com um degrade de cores azuis com uma mistura de branco. Nos pés, calçava uma sapatilha dourada e pendurada ao ombro, estava a minha bolsa favorita, que deixava o meu look um pouco menos simples. Peguei um pouco de dinheiro e fui até a frente da casa, onde Tel já me esperava.

Agora a dúvida era: O que diabos ele queria comigo?

Andei até ele.

“Oi, tudo bem?”, começou ele.

“Sim e você?”, menti.

“Tudo ótimo! Vamos?”

Assenti. Então ele entrelaçou um braço em minha cintura. Olha a intimidade! Nós nunca nos falávamos. Acho que ele pensava que tinha o direito de fazer isso por ser um dos melhores amigos do Gê. Apesar de ser estranho, deixei que ele o fizesse, para não parecer chata. Então nós andamos até o parque, que era apenas algumas quadras da minha casa. Quando chegamos lá, meu queixo caiu.

A visão que eu tive foi avassaladora. Fiquei perplexa.

Lisa estava encostada no portão de entrada do parque, beijando um cara. Pra ser mais exata, beijando George.

Meus dois melhores amigos. E nem haviam me contado nada. Tel viu minha expressão e disse:

“Ignore. Venha.”

E eu, novamente, apenas assenti. Nós entramos no parque e sentamos num banco qualquer. Tel me encarou.

“Hum, Tel, é... Por que você me chamou aqui hoje?”, perguntei, encarando o chão.

Ele pegou uma de minhas mãos e virou meu rosto, para que eu visse seus olhos.

“Porque eu te amo.”, ele disse e me beijou. Não um beijo qualquer, na bochecha. Um beijo de verdade. O meu primeiro beijo. Com um cara que eu não gostava.

Então eu entendi tudo. Ele apenas estava o fazendo porque eu não lhe dava atenção como as outras meninas. Eu não gostava dele, não via nada demais nele, eu não pagava pau pra ele.

Minha mente rodopiava, assim como a roda gigante atrás de nós. Tudo o que eu me lembro é de ter retribuído o beijo e, alguns segundo depois, ser arrancada dos braços de Tel por um garoto. George. Ele me olhava, decepcionado, enquanto Tel o ameaçava.

Lisa, que estava mais atrás, também vira tudo. Ela estava chorando. Tel, seu canalha. Ele me usou pra fazer ciúmes em Lisa, que estava ficando com George, que gostava de mim, mas nunca me contou. PUTA MERDA! Isso daria um puta dum trabalho pra consertar.

Saí correndo do parque o mais rápido que pude e, quando estava longe o suficiente, senti uma mão agarrando meu pulso. Era George, novamente. Ele me puxou pelo braço pra algum lugar que eu não sabia. E tudo o que eu conseguia pensar era em como eu tinha sido patética.


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Notas finais do capítulo

*suspense* hahaha reviews?



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