O diário de Mari escrita por Filha da Sabedoria


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Para meus leitores ou leitoras que ainda não se pronunciaram! Beijos!



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“Segunda-feira

Meu querido diário...

Não, não sou dessas pessoas que ficam escrevendo “Meu querido diário”. Afinal, você é só um monte de pedaços de papel, nos quais eu vou escrever um pouco dos meus dias nesse inferno que as pessoas chamam de “vida”. Você vai apenas abrigar os meus segredos e as coisas mais profundas do meu ser, que eu me recuso a revelar a qualquer pessoa existente na face da terra.” - O diário de Mari.

Bem, vamos começar pelo início. É assim que se começa tudo, não é? Tudo tem um começo, um meio e um fim. E é pelo início que eu pretendo começar.

Minha mãe conheceu meu pai numa festa. Os dois ficaram. Aí você já sabe, né? Depois de alguns dias, minha mãe fez um teste pra ver se ela estava ou não grávida. E o teste deu positivo.

A primeira coisa que ela fez quando soube, foi desmaiar. Quando ela acordou, meu pai estava do lado dela, falando ao telefone com alguém. Ele reparou que ela estava retornando à sua consciência, murmurou algo para a pessoa com que ele falava e desligou o aparelho.

“O que nós vamos fazer?”, foram as primeiras palavras da minha mãe.

Na época, ela tinha 18 anos e ele, 22.

“Aborta! A gente não vai conseguir lidar com isso!”, ele disse, em seu desespero, apontando pra barriga da minha mãe, o que a fez chorar.

“Não! Eu me recuso a abortar essa criança. E nunca mais chame o nosso filhou ou filha de isso novamente.”, ela disse, desesperadamente, chorando e soluçando.

Meu pai sentou-se ao lado dela, na cama, e a abraçou.

“Eu sei, meu amor. Me desculpa. Só estava nervoso. Seus pais estão a caminho.”, ele falou, calmamente.

E foi assim, dessa forma, que meus pais decidiram que seriam pais.

Eles se mudaram para um apartamento do meu vô e ficaram lá.

Alguns meses depois nasceu uma menina de cabelos cacheados loiros escuros e olhos azuis. Eu.

Com o passar dos meses, meu vô, que é médico, descobriu que eu tinha um problema de saúde. Era um tipo de diabetes. E eu tinha que tomar um remédio todas as noites, pro resto da minha vida.

E um ano e meio depois, minha mãe e meu pai se divorciaram. É. E eu fique com a minha mãe.

Aí eu fui crescendo, meu cabelo foi ficando mais dourado e liso. Meus olhos ficaram mais azuis. Eu fui mudando. Mas a minha alegria de criança também mudou.

Mas será que mudou pra melhor?

Acho que não.

Agora, vou começar pelo começo da história que eu quero contar. E foda-se o resto da minha infância.

Com quatorze anos, na minha escola, teve uma viajem. Nossa, puta que o pariu, tava todo mundo super feliz, já que a viajem seria para fora do país, na Argentina.

“Wow, que foda!”, eu pensei. Deem um desconto, eu tinha quatorze anos.

Enfim, eu tinha esse amigo, o George. Porra, como a gente era grudado. Fazíamos tudo juntos, estávamos sempre conversando. Era uma puta duma amizade verdadeira.

E tinha o Tel. Tel era um dos melhores amigos dele, e eu não sei por que, mas todas as meninas gostavam dele. Eu, até antão, não via nada demais nele.

Até antes dessa viagem, estava tudo ótimo.

Na terça, dois dias antes da viagem, a gente foi até uma sorveteria. Ficamos conversando sobre como nós achávamos que ia ser a viagem. Foi um diálogo mais ou menos assim:

“A viagem é depois de amanhã, já fez as malas?”, eu comecei.

“Não.”, ele respondeu, encarando a cereja no topo de seu sorvete.

“Porra, George!”, falei, perplexa.

“Porra o que?”, ele perguntou, com uma bochecha maior que a outra por conta da cereja inteira que ele havia colocado ali. Isso me fez rir.

“Você sabe que não é tão rápido assim pra arrumar a mala!”, comentei.

“Ah, isso é fricote de meninas. Eu posso arrumar a minha mala duas horas antes de a gente sair. Não vou ficar levando sapatos e blá, blá blá...”, ele começou.

“Ah, vai cagar!”, falei e tomei um gole do meu milk-shake.

“Olha a boca, Dercy Gonçalves!”, ele falou em tom brincalhão.

“Foda-se. Enfim, você não está nem um pouco preocupado com essa viagem?”, perguntei, mexendo meu milk-shake com o canudinho, para espalhar o Ovomaltine.

“Não. A menos que você esteja pensando se um cara vai aparecer, do nada, no nosso ônibus e te estuprar. Acho pouco provável.”, ele falou, comendo a outra cereja de seu sorvete.

“Ah, seu puto. Você me entendeu. Tava falando dos energéticos e das bebidas.”, falei, ironicamente.

“Sobre isso, hum, eu e o Nat já temos um esquema. O Tel também vai ajudar.”, ele falou como se fosse a coisa mais normal do mundo levar bebidas em uma viagem escolar.

Ah, e Nat era um outro amigo dele. Se nome, mesmo, era Nataniel, mas ele não gostava, então a gente chamava ele de Nat, apesar de parecer um pouco feminino sem o “o” na frente. Poderia muito bem ser a Nat. Enfim, continuando:

Caralho. Vocês têm um esquema. Grande merda. Ainda acho que os professores vão descobrir.”, arregalei os olhos. Aquela era uma ideia estúpida. Mas ainda assim, eu sabia que daria certo. Os esquemas dele sempre davam certo.

“Ah, gata, como se você já tivesse visto um esquema meu dar errado.”, ele leu meus pensamentos. Eu odiava quando ele estava certo.

Não me chama de gata.”, falei, o mais irritada o possível.

E sabe o que ele fez? Ele riu. E a risada dele era encantadora. E ele era muito, muito, gato, por sinal. Moreno, alto, de olhos verdes e sarado. Mas não, eu não tinha qualquer intenção de namorar com ele. A gente já era melhor amigo desde uns dois anos, quando eu descobri que ele não era compatível comigo. Não mesmo. Apesar de nós dois sermos um pé no saco, ele e eu nunca daríamos certo. Então a gente decidiu deixar qualquer história de namoro pra lá e ser melhores amigos. Mas ele sempre me zoava. Porque, há dois anos atrás, quando eu não tinha um bom, hum, desconfiômetro, eu pedi pra namorar com ele. Nós tentamos por uma semana. Depois disso, jogamos as mão para o alto e falamos um foda-se gigante pra qualquer relação além do “melhores amigos” e continuamos amigos. Mas ele ainda me zoava. Dois anos depois. Ele era um porre mesmo.

“Ah, vem cá, loira gata. Vem me beijar. Namora comigo! Casa comigo.”, ele começou a me abraçar, o que fez com que muitas pessoas que estavam na sorveteria nos olhassem e soltassem alguns “awn, que meigo” e algumas meninas que estavam com seus namorados falassem coisas do tipo “por que você não é assim comigo?”, porque eles nenhum deles podia ouvir o que George estava falando. No meio da zombaria dele saiu um “me engravida”, do qual eu não pude conter o riso.

“Seu gay! Me larga!”, elevei um pouco a voz, empurrando a cara dele.

“O que? Repete isso pra você ver.”, ele me ameaçou.

“Gay. Bixa. Viado. É. Um dia tinha um concursos de gayzices aqui na cidade e quando você foi se inscrever o cara falou “profissional não vale!”. Feliz agora?”, falei, mostrando a língua e não contendo uma risada que a cara de indignado dele estava me proporcionando.

“Ora, sua... sua...”, ele começou, mas eu o calei com uma de minhas mãos, enquanto ria.

“"Ora ,sua", o que? Vai ir chorar com as amiguinhas?”, perguntei, ainda mantendo o tom zombeteiro na voz.

“Af, gata, assim você não me deixa outra escolha.”, ele se levantou, puxou minha cadeira, me pegou no colo e me colocou com a barriga apoiada em seu ombro e me levou embora daquele jeito, entre gritos e berros meus e risadas dele. Como a gente já tinha pagado, não foi problema nenhum. E ele já tinha terminado o sorvete dele, enquanto eu estava na metade do meu milk-shake, que tinha ficado na mesa.

“Imbecil! Meu milk-shake!”, gritei e ele me colocou no chão.

“Que gorda. É só um pouco de sorvete.”, ele disse, fingindo indiferença e tentando, sem conseguir, esconder o riso.

“Era só um pouco de sorvete que me custou quatro reais!”, dei um tapa de leve em seu braço.

“Falei pra você não pegar o milk-shake, mas a Dercy Gonçalves aqui não me ouve.”, falou, mostrando a língua.

“Ah, foda-se. Vamos. Vou te ajudar a arrumar a mala.”, falei e puxei ele pelo braço. E fomos embora fazendo brincadeiras que você geralmente vê as crianças fazendo. Mas era o que me deixava feliz.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. Estou escrevendo com muito carinho pra vocês! Beijos!



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